Fundamentos da Educação Cristã

CAPÍTULO 12

As Escolas dos Antigos Hebreus

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As instituições da sociedade humana encontram seus melhores modelos na Palavra de Deus. Para as de ensino, em especial, não há falta de preceito nem de exemplo. Lições de grande proveito, mesmo neste século de progresso educacional, podem ser encontradas na história do antigo povo de Deus.

O Senhor reservou para Si a educação e a instrução de Israel. Seu cuidado não se restringia aos interesses religiosos deles. Tudo que afetasse seu bem-estar mental ou físico, tornava-se também objeto de solicitude divina e incluía-se na esfera da lei divina.

Deus ordenou aos hebreus que ensinassem aos filhos Seus reclamos, e que os tornassem familiarizados com todo o Seu trato com Seu povo. O lar e a escola eram uma coisa só. Em vez de lábios estranhos, devia o coração amoroso dos pais e das mães instruir os filhos. Os pensamentos de Deus eram relacionados com todos os acontecimentos da vida diária no lar. As grandes obras de Deus no libertamento de Seu povo eram referidas com eloqüência e a mais profunda reverência. Gravavam-se no espírito juvenil as grandes verdades da providência de Deus e da vida futura, familiarizando-o assim com o verdadeiro, o bom e o belo.

Mediante o uso de figuras e símbolos, as lições dadas eram assim ilustradas e gravadas mais firmemente na memória. Por meio desse conjunto de imagens animadas, era a criança iniciada, quase desde a infância, nos mistérios, na sabedoria e nas esperanças dos pais e guiada num modo de pensar, sentir e prever que alcançava muito além do visível e transitório: até o invisível e eterno.

Graças a essa educação, surgiram em Israel muitos jovens de corpo e mente vigorosos, prontos para perceber e fortes para agir, de coração preparado como bom terreno para o crescimento da preciosa semente, e de inteligência


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disciplinada para ver a Deus nas palavras da revelação e nas cenas da Natureza. As estrelas do céu, as árvores e flores do campo, as altas montanhas, os regatos murmurantes - tudo lhes falava, e as vozes dos profetas, ouvidas através do país, encontravam eco em seu coração.

Tal foi o preparo de Moisés na humilde cabana que era o seu lar em Gósen; de Samuel, por meio da fiel Ana; de Davi, na sua morada nas colinas de Belém; de Daniel, antes que as cenas do cativeiro o separassem do lar de seus pais. Tal foi, também, o princípio da vida de Cristo no humilde lar de Nazaré; tal o ensino pelo qual o menino Timóteo aprendeu dos lábios de sua mãe Eunice e de sua avó Lóide, as verdades da Sagrada Escritura.

Mais elementos foram providos para o ensino dos jovens pelo estabelecimento da "escola dos profetas". Se um jovem desejava obter melhor conhecimento das Escrituras, aprofundar-se nos mistérios do reino de Deus e buscar sabedoria do alto, para tornar-se um mestre em Israel, tal escola lhe estava aberta.

As escolas dos profetas foram fundadas por Samuel para servirem de barreira contra a espalhada corrupção resultante da conduta iníqua dos filhos de Eli, e para promoverem o bem-estar moral e espiritual do povo. Estas escolas foram uma grande bênção para Israel, fomentando aquela justiça que engrandeceu a uma nação, fornecendo-lhe homens aptos para agir, no temor de Deus, como dirigentes e conselheiros. Na realização deste objetivo, Samuel formou grupos de jovens piedosos, inteligentes e estudiosos. Estes eram chamados filhos dos profetas. Os instrutores eram homens não somente versados na verdade divina, mas que haviam por sua vez desfrutado comunhão com Deus, e recebido a concessão especial de Seu Espírito. Desfrutavam do respeito e da confiança do povo, tanto pelo saber como pela piedade.

No tempo de Samuel havia duas destas escolas: uma em Ramá, residência do profeta, e a outra em Quiriate-Jearim,


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onde a arca então se achava. Duas foram acrescentadas no tempo de Elias, em Jericó e Betel, e outras se estabeleceram mais tarde em Samaria e Gilgal.

Os alunos destas escolas mantinham-se com o próprio trabalho como lavradores e mecânicos. Em Israel isto não era considerado estranho ou degradante; com efeito, considerava-se um crime permitir que as crianças crescessem na ignorância do trabalho útil. Em obediência à ordem de Deus, a toda criança se ensinava algum ofício, mesmo que devesse ser educada para as funções sagradas. Muitos dos ensinadores religiosos mantinham-se pelo trabalho manual. Mesmo até no tempo de Cristo, não se considerava degradante que Paulo e Áquila ganhassem a subsistência pelo seu ofício de fazer tendas.

Os principais assuntos de estudo eram a lei de Deus, juntamente com as instruções dadas a Moisés, história sagrada, música sacra e poesia. O grandioso objetivo de todo estudo era aprender a vontade de Deus e os deveres de Seu povo. Nos registros da história sagrada achavam-se traçadas as pegadas de Jeová. Dos acontecimentos do passado extraíam-se lições instrutivas para o futuro. Referiam-se as grandes verdades apresentadas pelos tipos e sombras da lei mosaica, e a fé apreendia o objeto central de todo aquele sistema: o Cordeiro de Deus que deveria tirar os pecados do mundo.

A língua hebraica era cultivada como o mais sagrado idioma do mundo. Acariciava-se um espírito de devoção. Não somente se ensinava aos estudantes o dever de orar, mas também como orar, como aproximar-se do Criador, como exercer a fé nEle, e como compreender os ensinos de Seu Espírito e obedecer-lhes. Intelectos santificados tiravam do tesouro de Deus coisas novas e velhas.

A arte da melodia sagrada era diligentemente cultivada. Não se ouviam valsas frívolas ou canções petulantes que elogiassem o homem e desviassem de Deus a atenção; ouviam-se, porém, sagrados e solenes salmos de louvor ao Criador, que engrandeciam Seu nome e relatavam Suas obras maravilhosas. Deste modo, fazia-se com que a música


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servisse a um santo propósito: erguer os pensamentos àquilo que é puro, nobre e elevador, e despertar na alma devoção e gratidão para com Deus.

Quão grande é a diferença entre as escolas dos tempos antigos, sob a supervisão do próprio Deus, e nossas modernas instituições de ensino! Até nas escolas de Teologia formam-se muitos alunos com menos conhecimento real de Deus e da verdade religiosa que quando ali ingressaram. Poucas escolas se encontram que não sejam governadas pelas máximas e costumes do mundo. Há bem poucas em que o amor dos pais cristãos pelos filhos não se depare com amarga decepção.

Em que consiste a superior excelência de nossos sistemas de educação? Na literatura clássica com que se abarrotam os nossos filhos? Nas realizações ornamentais, alcançadas por nossas filhas à custa da saúde ou do vigor mental? No fato de o ensino moderno estar tão geralmente separado da Palavra da verdade, o evangelho de nossa salvação? Consiste a suprema excelência da educação popular em tratar os ramos individuais de estudo sem levar em conta aquela pesquisa mais profunda que abrange o esquadrinhamento das Escrituras e o conhecimento de Deus e da vida futura? Consiste em imbuir a mente dos jovens de concepções pagãs acerca da liberdade, moralidade e justiça? É seguro colocar nossos jovens sob a direção desses condutores cegos que estudam os oráculos sagrados com muito menos interesse que o que manifestam nos autores clássicos da Grécia e Roma antigas?

"A educação - comenta um escritor - está-se convertendo num sistema de sedução." Há uma deplorável falta de adequada restrição e judiciosa disciplina. Os sentimentos mais amargos, as paixões mais incontroláveis são estimulados pela atitude de professores imprudentes e ímpios. A mente dos jovens é despertada com facilidade, e sorve a insubordinação como água.

A ignorância da Palavra de Deus, entre as pessoas declaradamente cristãs, é alarmante. Os jovens em nossas escolas públicas têm sido privados das bênçãos das coisas sagradas.


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Conversas superficiais, mero sentimentalismo, passam por instrução moral e religiosa; carecem no entanto das características vitais da verdadeira piedade. A justiça e a misericórdia de Deus, a beleza da santidade, e a segura recompensa da conduta correta, o hediondo caráter do pecado e a certeza do castigo, não são gravados na mente dos jovens.

O ceticismo e a incredulidade, sob agradável disfarce ou como velada insinuação, freqüentemente encontram lugar nos livros escolares. Em alguns casos, os princípios mais perniciosos têm sido inculcados pelos professores. Maus companheiros estão ensinando aos jovens lições de crime, dissipação e licenciosidade, cuja contemplação causa horror. Muitas de nossas escolas públicas são focos do vício.

Como nossos jovens podem ser protegidos contra essas influências contaminadoras? Deve haver escolas estabelecidas sobre os princípios da Palavra de Deus e governadas por seus preceitos. Deve haver outro espírito em nossas escolas, para animar e santificar cada ramo de educação. Deve-se buscar fervorosamente a cooperação divina. E não buscaremos em vão. Pertencem-nos as promessas da Palavra de Deus. Podemos esperar a presença do Mestre celestial. Podemos ver o Espírito do Senhor derramado como nas escolas dos profetas, e cada coisa participar de uma consagração divina. A ciência será então, como foi para Daniel, a serva da religião; e todo esforço, do primeiro ao último, contribuirá para a salvação do homem - alma, corpo e espírito - e para a glória de Deus por meio de Cristo. Signs of the Times, 13 de agosto de 1885.

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