Fundamentos da Educação Cristã

CAPÍTULO 15

A Devida Educação dos Jovens

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O terceiro anjo é representado a voar pelo meio do céu, mostrando que a mensagem deve ir através da extensão e largura da Terra. É a mais solene mensagem que já foi dada a mortais, e todos quantos se propõem a ligar-se com a obra devem sentir primeiro sua necessidade de educação, e do mais completo processo de preparo para o trabalho, com referência a sua utilidade futura; e devem-se fazer planos e fazer esforços para aperfeiçoamento dos que aspiram entrar em qualquer ramo da obra. O trabalho ministerial não pode nem deve ser confiado a rapazes, nem o de instrutoras bíblicas a moças inexperientes, pelo fato de eles oferecerem seus serviços e estarem dispostos a assumir posições de responsabilidade, enquanto carecem de experiência religiosa, e lhes falta completa educação e preparo. Precisam ser provados para ver se resistem à prova; pois, a menos que desenvolvam o firme, consciencioso princípio de ser tudo quanto Deus quer que eles sejam, não hão de representar corretamente nossa causa e obra para este tempo. Nossas irmãs empenhadas na obra em toda missão, devem ter uma profundeza de experiência obtida dos que desfrutaram tal experiência e que compreendem as formas e os métodos de trabalho. Os movimentos missionários estão sendo continuamente embaraçados por falta de obreiros com a devida atitude mental e a devoção e piedade que representem corretamente a nossa fé.

Muitos há que deveriam tornar-se missionários, mas que não ingressam nunca no campo, porque os que estão ao seu lado na igreja ou em nossos colégios não se preocupam de falar com eles, expondo diante de seus olhos as reivindicações de Deus quanto a todas as suas faculdades, e não oram com eles e por eles. O momentoso período que decide os planos e o curso da vida, passa; são reprimidas as suas convicções; outras influências e atrações os arrastam, e as tentações de buscar


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posições mundanas que, pensam eles, hão de trazer-lhes lucros financeiros, levam-nos para a corrente do mundo. Tais jovens poderiam haver sido salvos para o pastorado por meio de planos bem organizados. Se as igrejas em diferentes lugares cumprirem seu dever, Deus cooperará com seus esforços por Seu Espírito, provendo homens fiéis para o pastorado.

Nossas escolas devem ser instituições educativas e de preparo. Se os homens e as mulheres delas saem habilitados, em qualquer sentido, para o campo missionário, sejam impressionados com a grandeza da obra; em sua experiência diária se deve introduzir a piedade prática, a fim de que sejam habilitados para qualquer posição de utilidade em nosso mundo, na igreja ou na grande vinha moral de Deus, que agora requer trabalhadores nas terras estrangeiras.

Devem os jovens ser impressionados com a idéia de que neles se tem confiança. Têm um senso de honra, e desejam ser respeitados, e têm este direito. Se os alunos recebem a impressão de que não podem sair ou entrar, sentar-se à mesa, ou estar em qualquer parte, mesmo em seu quarto, a não ser que sejam vigiados, que um olho crítico esteja sobre eles para criticar e relatar, terá isto uma influência desmoralizadora, e a recreação em si não dará prazer. Esse conhecimento de uma vigilância contínua, é mais do que tutela paterna, e muito pior; pois os pais sábios podem, com tato, discernir freqüentemente sob a superfície e ver, a operação da mente irrequieta nos anelos da juventude, ou debaixo das forças da tentação, e estabelecer seus planos de ação para anular o mal. Mas esse constante desvelo não é natural, e produz os males que está procurando evitar. A saúde dos jovens exige exercício, alegria, e que sejam cercados de uma atmosfera feliz e agradável, para o desenvolvimento da saúde física e de um caráter simétrico.

A Palavra de Deus deve ser exposta aos jovens, mas um jovem não deve ser colocado na posição de fazer isto. Os que constantemente precisam ser vigiados para resguardar sua boa conduta, terão de ser vigiados em qualquer posição


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em que estiverem. Por isso, o molde dado ao caráter na juventude por um tal sistema de preparo é totalmente deletério. Tende em vista a disciplina mental e a formação de corretos sentimentos e hábitos morais.

Os estudos, em geral, devem ser poucos e bem escolhidos, e os que freqüentam nossos colégios têm de receber preparo diverso do que é ministrado nas escolas comuns da atualidade. Se possuem pais sábios e tementes a Deus, eles geralmente receberam o ensino dos princípios do cristianismo. A Palavra de Deus era respeitada em seu lar, sendo seus ensinos considerados a lei da vida. Foram criados na doutrina e admoestação do evangelho. Quando entram na escola, devem continuar esta mesma educação e preparo. As máximas, os costumes e práticas do mundo, não são os ensinos de que eles necessitam. Eles devem ver que os professores na escola cuidam de sua alma, que têm decidido interesse em seu bem-estar espiritual. A religião é o grande princípio a ser incutido; pois o amor e o temor de Deus são o princípio da sabedoria. Se os jovens afastados da atmosfera doméstica, da guia e tutela dos pais, forem entregues a si mesmos para escolher seus companheiros, depararão com uma crise em sua história que geralmente não é favorável à piedade ou aos princípios.

Por conseguinte, onde quer que se estabeleça uma escola, deve haver corações fervorosos para tomar vivo interesse em nossos jovens. Há necessidade de pais e mães que contribuam com profunda simpatia e benévolas admoestações. Deve-se introduzir nos cultos toda aprazibilidade possível. Os que prolongam esses serviços até torná-los cansativos, deixam errôneas impressões na mente dos jovens, levando-os a ligar a religião com o que é árido, anti-social e desinteressante. Tais jovens não adotam para si mesmos o mais alto padrão, mas princípios frouxos e um baixo padrão arruínam aqueles que, se devidamente instruídos, não só estariam em condições de ser uma bênção para a causa, mas também para a igreja e o mundo. É essencial, no professor, piedade


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ardente, ativa. O culto matutino e vespertino, na capela, bem como as reuniões de sábado, sem constante cuidado e se não forem vivificados pelo Espírito de Deus, poderão tornar-se formais e, para os jovens, o mais enfadonho e menos atrativo dos exercícios escolares. As reuniões sociais devem ser dirigidas de maneira a se tornarem não somente ocasiões proveitosas, mas de real prazer.

Estudem os que ensinam os jovens, por sua vez, na escola de Cristo, aprendendo lições para comunicar a seus alunos. É preciso sincera, diligente e íntima devoção. Cumpre evitar toda falta de visão. Que o professor se desligue de sua dignidade ao ponto de ser um com as crianças em seus exercícios religiosos e entretenimentos, sem lhes dar a impressão de serem vigiadas e sem andar de um lado para o outro com aspecto imponente, como se fosse um soldado uniformizado a montar guarda sobre elas. Sua própria presença entre as crianças lhes apresentará um modelo à conduta. Sua harmonia com elas faz-lhe pulsar o coração com novo afeto. Os jovens necessitam de simpatia, afeição e amor, do contrário ficarão desanimados. Um espírito de "Não me importo com ninguém e ninguém se importa comigo" toma posse deles, e se bem que professem ser seguidores de Cristo, têm um diabo tentador em suas pegadas, e estão em risco de ficar desanimados e mornos, e de abandonar a Deus. Então alguém julga que deve censurá-los e tratá-los friamente, como se fossem muito piores do que são em realidade. Poucos, talvez nenhum, sentem o dever de fazer esforços pessoais para reformá-los e remover as lamentáveis impressões neles produzidas.

As obrigações do professor são sérias e sagradas, mas parte alguma de sua obra é mais importante do que a de proteger os jovens com terna e amorável solicitude, de modo que sintam ter nele um amigo. Conquiste uma vez o professor a confiança dos alunos, e poderá facilmente guiá-los, controlá-los e prepará-los. Os santos motivos em que se baseiam


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nossos princípios cristãos devem ser introduzidos na vida. A salvação de seus alunos é o mais elevado interesse confiado ao professor temente a Deus. Ele é colaborador de Cristo, e seu especial e determinado esforço deve ser salvar almas da perdição e ganhá-las para Jesus Cristo. Deus o requererá de suas mãos. Todo professor deve viver uma existência de piedade, pureza, esmerado esforço no desempenho de todo dever. Se o coração arde com o amor de Deus, ver-se-á na vida aquela pura afeição que é essencial; far-se-ão fervorosas orações e dar-se-ão fiéis advertências. Quando estas são negligenciadas, periclitam as almas sob seu cuidado. É melhor gastar menos tempo com longas preleções e estudos absorventes do que deixar de atender a tais deveres negligenciados.

No entanto, depois de todos esses esforços, os mestres verificarão talvez que alguns desenvolvem caráter destituído de princípios. São frouxos na moral, o que é, em muitos casos, resultado de viciosos exemplos e falta de disciplina dos pais. Conquanto os professores façam tudo quanto podem, não conseguirão levar esses jovens a uma vida de pureza e santidade. Após paciente disciplina, afetivo labor e fervorosa oração, ficarão decepcionados com aqueles de quem muito esperaram. Receberão, além disto, a censura dos pais, por não haverem tido poder de contrabalançar a influência de seu exemplo e imprudente educação. O professor experimentará tais desalentos depois de haver cumprido o seu dever. Compete-lhe, porém, prosseguir em sua obra, confiando em que Deus opere com ele, ocupando varonilmente o seu posto e trabalhando com fé. Outros serão salvos para Deus, e sua influência se exercerá em salvar outros ainda. Que os pastores, os professores da Escola Sabatina e de nossos colégios unam alma, coração e propósito na obra de salvar nossa juventude da ruína.

Muitos têm a impressão: "Bem, não importa que não sejamos tão meticulosos para educar-nos devidamente", e tem sido adotado um padrão inferior de conhecimento. E agora que são necessários homens competentes para ocupar diversas posições de responsabilidade, tais indivíduos são


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raros; havendo necessidade de mulheres de mente bem equilibrada e que não tenham uma educação de baixo teor, mas uma educação que as habilite para qualquer posição de responsabilidade, elas não são encontradas com facilidade. O que merece ser feito, precisa ser bem feito. Embora a religião deva ser o elemento predominante em toda escola, isso não levará ao declínio dos conhecimentos nas letras. Embora a atmosfera religiosa deva predominar na escola, difundindo a sua influência, ela fará com que todos os verdadeiros cristãos sintam mais profundamente a necessidade de conhecimento completo, a fim de usarem da melhor maneira as faculdades que lhes foram concedidas por Deus. Enquanto progridem na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, gemerão sob o senso de suas imperfeições e procurarão sem cessar distender as faculdades mentais, de modo a tornarem-se cristãos inteligentes.

O Senhor Jesus é desonrado por idéias ou desígnios baixos de nossa parte. Aquele que não percebe a obrigatoriedade da lei de Deus e negligencia observar cada uma de suas exigências, viola toda a lei. O que se contenta em satisfazer apenas parcialmente a norma da justiça, e que não triunfa de todo inimigo espiritual, não cumpre o desígnio de Cristo. Rebaixa todo o plano de sua vida religiosa, e enfraquece o próprio caráter. Sob a força da tentação, seus defeitos de caráter tomam as rédeas, e o mal triunfa. Para satisfazer a mais elevada norma possível, precisamos ser perseverantes e decididos. Em muitos casos, precisam ser vencidos hábitos e ideais estabelecidos, antes de podermos fazer progresso na vida religiosa. O cristão fiel dará muito fruto; ele é um obreiro; não ficará indolentemente à deriva, mas porá toda a armadura para travar as batalhas do Senhor. A obra essencial é conformar os gostos, os apetites, as paixões, os motivos e desejos com a grande norma de justiça. A obra deve começar no coração. A menos que este seja puro e esteja em perfeita harmonia com a vontade de Cristo, qualquer paixão dominante, qualquer


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hábito ou defeito, tornar-se-á um poder para destruir. Nada menos que o coração inteiro será aceito por Deus.

Deus quer que os professores em nossas escolas sejam eficientes. Se tiverem avançada compreensão espiritual, perceberão que é importante não serem deficientes no conhecimento das ciências. A piedade e a experiência religiosa jazem à própria base da verdadeira educação. Que ninguém julgue, porém, que para tornar-se um educador não é essencial nada mais do que ser fervoroso em assuntos religiosos. Ao passo que os mestres precisam de piedade, necessitam também de um completo conhecimento das ciências. Isto não só fará com que se tornem cristãos bons e práticos, mas os habilitará a educar os jovens, e terão ao mesmo tempo sabedoria celestial para conduzi-los à fonte de água viva. O cristão visa atingir as mais altas realizações com o intuito de beneficiar os outros. O conhecimento harmoniosamente misturado com o caráter cristão, tornará a pessoa realmente uma luz no mundo. Deus opera com os esforços humanos. Os que fazem toda diligência para tornar firme sua vocação e eleição, sentirão que um conhecimento superficial não os habilitará para uma posição de utilidade. A educação equilibrada por sólida experiência religiosa habilita o filho de Deus para executar a obra que lhe é designada, sólida, firme, inteligentemente. Aquele que aprende de Jesus, o maior Educador que o mundo já conheceu, não somente possuirá um simétrico caráter cristão, mas uma mente exercitada para o labor eficaz. A mente que discerne com rapidez irá muito além da superfície.

Deus não quer que nos satisfaçamos com mente preguiçosa, indisciplinada, pensamentos obtusos, e memória fraca. Quer que todo professor seja eficiente, não se contentando, apenas, com certa medida de êxito, mas compreendendo sua necessidade de constante diligência em adquirir conhecimento. Nosso corpo e alma pertencem a Deus, pois Ele os comprou. Deu-nos talentos e tornou-nos possível adquirir mais, a fim de que possamos ser úteis a nós mesmos e a outros no caminho da vida.


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Cumpre a cada um desenvolver e fortalecer os dons que lhe foram emprestados por Deus, para efetuar com eles um trabalho mais diligente e prático, tanto em questões temporais como religiosas. Se todos compreendessem isto, que vasta diferença seria notada em nossas escolas, em nossas igrejas e missões! A maioria contenta-se, porém, com um limitado conhecimento, poucas realizações, satisfazendo-se simplesmente em ser aceitável. A necessidade de ser homens semelhantes a Daniel e Moisés, homens de influência, homens cujo caráter se tornou harmônico mediante o trabalho em benefício da humanidade e para glória de Deus - tal experiência, só uns poucos têm tido, e o resultado é que bem poucos se acham agora habilitados para satisfazer à grande necessidade dos tempos.

Deus não passa por alto os ignorantes; se estes, porém, estiverem ligados com Cristo, se forem santificados por meio da verdade, estarão sempre adquirindo conhecimento. Mediante o exercitarem todas as faculdades para glorificarem a Deus, terão aumentado poder para fazê-lo. Mas os que estão dispostos a permanecer em uma estreita esfera pelo fato de Deus ter condescendido em aceitá-los quando ali se achavam, são muito néscios; há, todavia, centenas e milhares que estão procedendo exatamente assim. Deus lhes deu o mecanismo vivo, e este precisa ser usado diariamente a fim de que a mente atinja realizações cada vez mais elevadas. É uma lástima que muitos confundam ignorância com humildade, e que, a despeito de todos os recursos que Deus nos concedeu para a educação, tantas pessoas estejam dispostas a permanecer na mesma posição inferior em que se encontravam quando lhes foi transmitida a verdade. Não progridem intelectualmente; não se acham melhor habilitadas e preparadas para realizar grandes e boas obras do que na ocasião em que ouviram a verdade pela primeira vez.

Muitos que são mestres da verdade deixam de ser estudantes, cavando sempre mais fundo em busca da verdade, como se estivessem à procura de tesouros escondidos. Seu intelecto atinge um padrão baixo e comum; mas não procuram ser homens de influência - não por ambição egoísta, mas por amor a Cristo, para que revelem o poder da verdade sobre o intelecto. Não é pecado apreciar o talento


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literário, contanto que não seja idolatrado; mas ninguém deve lutar pela vanglória de exaltar o próprio eu. Quando este é o caso, há falta da sabedoria que desce lá do Alto, a qual é primeiramente pura; depois pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos.

Se forem dirigidas por homens que possuem a habilidade de administrá-las cuidadosamente, as missões estabelecidas em nossas cidades serão luzes invariáveis a brilhar entre as trevas morais. A exposição das Escrituras por meio de estudos bíblicos é uma parte essencial da obra relacionada com essas missões; mas os obreiros não podem assumi-la a menos que estejam preparados. Muitos devem adestrar-se na escola antes mesmo que saibam como estudar para submeter a mente e os pensamentos ao controle da vontade, e como empregar sabiamente suas faculdades mentais.

Como um povo, temos muito o que aprender antes de estarmos habilitados para empenhar-nos na grandiosa obra de preparar um povo que permaneça em pé no dia do Senhor. Nossas Escolas Sabatinas, que devem instruir as crianças e os jovens, são muito superficiais. Seus dirigentes precisam cavar mais fundo. Devem dedicar mais atenção e esforço à obra que estão realizando. Precisam estudar a Bíblia com mais afinco e ter uma experiência religiosa mais profunda para que saibam como dirigir Escolas Sabatinas segundo as instruções do Senhor, e como conduzir crianças e jovens ao Salvador. Este é um dos ramos da obra que está definhando por falta de homens e mulheres eficientes e perspicazes que sintam a responsabilidade perante Deus de usar suas faculdades, não para enaltecer o próprio eu, não por vanglória, mas para fazer o bem.

Quão ampla e extensa é a ordem: "Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado; e eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos"! Mat. 28:19 e 20. Que honra é aí conferida ao homem; todavia, quantos procuram cingir-se à costa! Quão poucos estão dispostos a fazer-se ao mar alto e lançar as redes para a pesca! Ora, para que


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isto se faça, para que os homens sejam cooperadores de Deus, para que sejam chamados a labutar nas missões urbanas e para enfrentar mentalidades de toda a espécie, deve haver preparativos especiais para esse tipo de trabalho. Review and Herald, 21 de junho de 1887.

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