Tenho estado profundamente interessada no relato de uma experiência recente do Pastor Daniells, o qual, no trajeto de Melbourne para Adelaide, deteve-se numa cidade chamada Nhill, a fim de visitar alguns jovens que têm enviado pedidos de nossas revistas e livros ao escritório do Echo. Ele encontrou ali um jovem chamado Hansen - dinamarquês, que deparou casualmente com o Echo numa biblioteca pública, e tornou-se atento leitor da revista. Os assuntos da verdade apresentados nas colunas da revista encontraram guarida em seu coração, e ele começou a falar sobre eles para um amigo no hotel em que trabalhava. Este homem - o Sr. Williams - também ficou interessado, e eles enviaram pedidos de outras publicações, tornando-se assinantes regulares da revista. O Pastor Daniells achou-os ansiosos de obter melhor conhecimento da verdade. Sobre a mesa do Sr. Williams achava-se a obra Thoughts on Daniel and the Revelation e diversos outros livros publicados por nosso povo. Eles tinham visto só um homem que pertencia a nossa fé. Compraram do Pastor Daniells três exemplares do livro Caminho a Cristo - um para cada um deles e outro para ser dado a um ministro. O Pastor Daniells ficou contente com a visita, e animado pela palestra que manteve com esses pesquisadores da verdade.
Esses homens haviam estudado a verdade proveniente da página impressa e da Bíblia, e tinham aceito todos os pontos doutrinários na medida em que conseguiam compreendê-los sem a ajuda do pregador vivo. Uma grande obra prossegue silenciosamente por intermédio da distribuição de nossas publicações; mas quanto bem poderia ser realizado se alguns de nossos irmãos e irmãs da América do Norte viessem para estas colônias, como fruticultores, lavradores ou comerciantes, procurando, no temor e amor de Deus, conquistar almas para a verdade! Se tais famílias fossem consagradas a Deus, Ele as usaria como Seus instrumentos. Os pastores têm seu lugar e sua obra, mas há muitos que
não podem ser alcançados por eles; tais pessoas poderiam ser alcançadas por famílias que lhes fariam visitas, procurando inculcar a verdade para estes últimos dias. Em suas relações domésticas ou comerciais, poderiam pôr-se em contato com uma classe inacessível ao pastor, revelar para eles os tesouros da verdade e transmitir-lhes o conhecimento da salvação. Ao todo, muito pouco se tem feito neste setor da obra missionária, pois o campo é vasto e muitos obreiros poderiam labutar com êxito neste setor de atividade. Se os que receberam o conhecimento da verdade compreendessem a necessidade de estudar as Escrituras por si mesmos, se sentissem o peso da responsabilidade que recai sobre eles, como fiéis mordomos da graça de Deus, teriam comunicado a luz a muitos que se acham em trevas, e quão grande teria sido a colheita de almas para o Mestre! Se cada um avaliasse a responsabilidade que tem diante de Deus por sua influência pessoal, de maneira alguma seria um ocioso, mas cultivaria suas aptidões e exercitaria cada faculdade, a fim de poder servir Àquele que o comprou com o próprio sangue.
Os jovens, especialmente, devem sentir que lhes cumpre exercitar a mente, e aproveitar toda oportunidade de se tornarem inteligentes, para oferecerem serviço aceitável Àquele que por eles deu Sua preciosa vida. E ninguém cometa o erro de se considerar tão bem educado que não tenha mais necessidade de estudar livros ou a Natureza. Aproveite cada um toda ocasião com que, na providência de Deus, ele é favorecido, para adquirir tudo quanto é possível na revelação ou no conhecimento. Devemos aprender a estimar devidamente as faculdades com que Deus nos dotou. Se um jovem tem de começar no primeiro lance da escada, não se deve desanimar, mas assentar subir lance após lance, até ouvir a voz de Cristo dizendo: Filho, vem mais para cima. "Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor." Mat. 25:21.
Temos de comparar nosso caráter com a infalível norma da lei de Deus. A fim de fazer isto, precisamos examinar as Escrituras, avaliando nossas realizações pela Palavra de Deus. Por meio da graça de Cristo são possíveis as mais altas realizações no caráter, pois toda alma que é posta sob a influência modeladora do Espírito de Deus pode ser transformada no intelecto e no coração. Para compreender vossa condição, é necessário estudar a Bíblia e vigiar em oração. Diz o apóstolo: "Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis, quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados." II Cor. 13:5. Não permaneçam os ignorantes no estado em que se encontram. Eles não podem permanecer em ignorância e corresponder ao desígnio de Deus. Devem olhar para a cruz do Calvário e avaliar a alma pelo valor do sacrifício feito ali. Jesus diz a todos os crentes: "Vós sois as Minhas testemunhas." Isa. 43:10. "Nós somos cooperadores de Deus." I Cor. 3:9. Diante deste fato, quão diligentemente cada um deve esforçar-se por utilizar toda faculdade para aproveitar todas as oportunidades de tornar-se eficiente, a fim de que não seja vagaroso no cuidado, mas fervoroso de espírito, servindo ao Senhor!
Todo talento dado aos homens deve ser desenvolvido a fim de que aumente de valor, e todo melhoramento deve ser restituído a Deus. Se sois deficientes nas maneiras, na voz, na educação, não necessitais permanecer sempre nesta condição. Deveis esforçar-vos continuamente por atingir uma norma mais elevada tanto na educação como na experiência religiosa, para que vos torneis mestres de boas coisas. Como servos do grande Rei, deveis compreender individualmente que tendes a obrigação de aperfeiçoar-vos pela observação, pelo estudo e pela comunhão com Deus. A Palavra de Deus é poderosa para vos tornar sábios, para guiar-vos e para tornar-vos perfeitos em Cristo. O bendito Salvador é um modelo irrepreensível a ser imitado por todos os Seus seguidores. É privilégio dos filhos de Deus compreender as coisas espirituais, e serem capazes de administrar sabiamente o que é confiado a seu cuidado. Deus não provê uma maneira
pela qual alguém possa ter uma desculpa para ser descuidado em seu trabalho; e, no entanto, tem sido oferecida a Ele uma grande porção dessa espécie de trabalho pelos que labutam em Sua causa; isto, porém, não Lhe é agradável.
Rapazes e moças, tendes vós, como indivíduos adquiridos a um preço infinito, procurado apresentar-vos a Deus, aprovados, como obreiros que não têm de que se envergonhar? Tendes dedicado a Deus o precioso talento da voz, e feito grandes esforços para falar distinta, clara e fluentemente? Por mais imperfeita que seja vossa elocução, podeis corrigir vossos defeitos e recusar ter um tom nasal ou falar de maneira abafada e indistinta. Se vossa pronúncia é distinta e inteligível, será grandemente aumentada vossa utilidade. Não deixeis, então, que fique sem ser corrigida nenhuma forma defeituosa de falar. Orai a respeito do assunto e cooperai com o Espírito Santo que trabalha para vossa perfeição. O Senhor, que no princípio fez o homem perfeito, ajudar-vos-á a desenvolver as faculdades físicas e mentais, habilitando-vos a assumir encargos e responsabilidades na causa de Deus.
Milhares hoje em dia estão desqualificados para a obra pastoral, não podem assumir uma posição de sagrada responsabilidade e acham-se perdidos para a causa, por haverem deixado de avaliar os talentos que lhes foram dados por Deus e por não cultivarem as faculdades mentais e físicas para que possam ocupar posições de responsabilidade na obra do Mestre. Estamos aqui, individualmente, como aprendizes, e o Senhor está submetendo à prova nossa fidelidade a Ele.
Ele quer usar-nos como instrumentos para comunicar ao mundo a luz de Sua Palavra. Se aproveitarmos a luz que Deus nos deu, difundindo-a para outros, teremos cada vez mais luz; "porque àquele que tem se dará, e terá em abundância; mas aquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado". Mat. 13:12. Compete-nos escolher o que iremos fazer com a luz que Deus nos deu. Podemos andar na luz, ou recusar seguir as pegadas
de Cristo, extinguindo assim a nossa luz.
Considerando a luz que tem sido dada por Deus, é de maravilhar não haver dezenas e dezenas de rapazes e moças indagando: "Senhor, que queres que faça?" Atos 9:6. É um perigoso engano imaginar que, a menos que um jovem se haja decidido a consagrar-se ao pastorado, não se deva fazer nenhum esforço especial a fim de habilitá-lo para a obra de Deus. Seja qual for a vossa vocação, é essencial que desenvolvais, por meio do estudo diligente, as aptidões de que sois dotados. Os jovens de ambos os sexos devem ser estimulados a apreciar as bênçãos enviadas pelo Céu em oportunidades de se tornarem bem disciplinados e inteligentes. Cumpre-lhes aproveitar as escolas estabelecidas para comunicar o melhor dos conhecimentos. É pecado ser indolente e descuidado quanto a obter educação. O tempo é curto e, portanto, visto que o Senhor deverá voltar em breve para pôr termo às cenas da história terrestre, é tanto maior a necessidade de aproveitar as ocasiões e os privilégios atuais.
Os rapazes e as moças devem colocar-se em nossas escolas, onde é possível obter conhecimento e disciplina. Devem consagrar a Deus suas aptidões, tornar-se diligentes estudantes da Bíblia, a fim de se fortalecerem contra doutrinas errôneas, e não serem desencaminhados pelos erros dos ímpios; pois é mediante a diligente pesquisa da Escritura que obtemos o conhecimento do que é a verdade. Pela observância da verdade que já conhecemos, mais luz irradiará sobre nós, vinda da Santa Palavra. Ao submetermos nossa vontade à vontade de Deus, ao humilharmos nosso coração diante dEle, desejaremos ardentemente tornar-nos Seus colaboradores, indo salvar os que perecem. Os que são sinceramente consagrados a Deus, não entrarão na obra levados pelos mesmos motivos que induzem os homens a se empenharem nas empresas mundanas, meramente por amor da subsistência; mas tomarão parte na obra sem permitir que nenhuma consideração mundana os domine, compreendendo a santidade da causa de Deus.
O mundo tem de ser advertido, e nenhuma alma deve ficar satisfeita com um conhecimento superficial da verdade. Não sabeis a que responsabilidade podeis ser chamados. Ignorais aonde vos poderão convidar a ser testemunhas da verdade. Muitos terão de se apresentar nas cortes legislativas; alguns perante reis e diante dos doutos da Terra, para responderem por sua fé. Os que não têm senão um superficial conhecimento da verdade, não serão capazes de expor claramente as Escrituras, e dar razões definidas da fé que possuem. Ficarão confusos, e não serão obreiros que não têm de que se envergonhar. Que ninguém imagine não precisar estudar, visto não ter de pregar do sagrado púlpito. Não sabeis o que Deus pode requerer de vós. É lamentável que o progresso da causa seja estorvado pela falta de obreiros educados, que se hajam habilitado para posições de confiança. O Senhor aceitará milhares para trabalharem em Sua seara, mas muitos têm deixado de se habilitar para a obra. Todo aquele, porém, que esposou a causa de Cristo, que se ofereceu como soldado do exército do Senhor, deve colocar-se onde lhe seja dado exercitar-se fielmente. A religião tem, na verdade, significado bem pouco para os professos seguidores de Cristo; pois não é vontade de Deus que alguém permaneça na ignorância quando ao seu alcance têm sido colocados a sabedoria e o conhecimento.
Quão poucos se têm habilitado na ciência de salvar almas! Quão poucos compreendem a obra que deve ser realizada em edificar a igreja, em comunicar luz aos que se acham em trevas! No entanto, Deus deu a cada homem a sua obra. Devemos desenvolver a nossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade. Na obra de salvação há cooperação dos agentes humanos e divinos. Tem-se declarado muita coisa acerca da ineficácia do esforço humano; no entanto, o Senhor não faz nada pela salvação da alma sem a cooperação do homem. A Palavra de Deus é clara e distinta
neste ponto, e, contudo, embora tanto dependa de nossa cooperação com os seres celestiais, os homens se portam como se pudessem dar-se ao luxo de pôr de lado os reclamos de Deus e deixar que as coisas de conseqüência eterna fiquem à espera de sua boa vontade. Eles agem como se pudessem acomodar as coisas espirituais a si próprios, e colocam os interesses eternos na dependência das questões terrenas e temporais. Mas, quão presunçoso é lidar deste modo com o que é mais essencial e que se perde com mais facilidade!
Onde estão os que pretendem ser sábios cooperadores de Deus? Diz o apóstolo: "Vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus." I Cor. 3:9. Esperarão, porém, os homens, sob a pressão das circunstâncias, conseguir apossar-se de alguma posição importante, se negligenciaram preparar-se e disciplinar-se para a obra? Imaginarão poder tornar-se polidos instrumentos nas mãos de Deus para a salvação de almas pelas quais Cristo morreu, se negligenciaram usar as oportunidades colocadas à sua disposição a fim de se habilitarem para a obra? "Porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes." Efés. 6:12 e 13. Todos necessitam aproveitar as faculdades e oportunidades que lhes são dadas por Deus, para que individualmente se tornem cooperadores de Deus.
Deus está continuamente labutando em nosso favor, de maneira que não nos falte nenhum dom. Concedeu-nos faculdades físicas, mentais e morais, e se as aproveitarmos devidamente, seremos capazes de enfrentar os poderes sobrenaturais das trevas e vencê-los. Jesus tem apontado o caminho da vida, tem manifestado a luz da verdade, tem dado o Espírito Santo e nos dotou ricamente de tudo o que é essencial para nossa perfeição. Tais vantagens não são, porém, avaliadas, e passamos por alto nossos privilégios e oportunidades, não cooperando com os seres celestiais e deixando
assim de tornar-nos nobres, inteligentes obreiros para Deus. Aqueles para os quais seu caminho parece mais atraente do que o caminho do Senhor, não podem ser usados em Seu serviço, pois representariam mal o caráter de Cristo e desviariam as almas do serviço aceitável a Deus.
Os que trabalham para o Mestre devem ser bem disciplinados, para que se portem como fiéis sentinelas. Devem ser homens e mulheres que cumpram os planos de Deus para o judicioso aperfeiçoamento mental dos que são abrangidos por sua influência. Devem unir-se com todas os agentes que procuram cumprir a vontade de Deus quanto a salvar o mundo perdido. Cristo deu-Se a Si mesmo, o Justo pelos injustos; Ele morreu na cruz do Calvário, e confiou aos seres humanos a obra de completar o grande alcance do amor redentor; pois o homem coopera com Deus em Seu esforço para salvar os que perecem. Nos deveres negligenciados pela igreja encontra-se o motivo da demora do cumprimento do propósito de Deus; se, porém, os homens deixam de cumprir sua obra, teria sido melhor que nunca houvessem nascido. Grande mal resultará da negligência de cooperar com Deus; pois perder-se-á a vida eterna. Nosso êxito como candidatos ao Céu dependerá de nossa diligência em cumprir as condições sob as quais é outorgada a vida eterna. Temos de aceitar a Palavra de Deus e obedecer-lhe; não podemos ser ociosos e derivar a esmo com a correnteza. Devemos estudar diligentemente a Palavra de Deus. Devemos preparar-nos e educar-nos como bons soldados de Cristo. Devemos promover a obra, tornando-nos cooperadores de Deus. Review and Herald, 14 de fevereiro de 1893.