Fundamentos da Educação Cristã

CAPÍTULO 3

Um Apelo a Nossos Estudantes

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Temos tido muitos receios de que os estudantes que freqüentam o Colégio de Battle Creek deixem de receber todo o benefício possível, no sentido da cultura religiosa, das famílias que lhes fornecem alojamento. Algumas famílias não desfrutam as agradáveis influências da religião de Cristo, embora sejam cristãos professos. A influência que esta classe de pessoas exerce sobre os estudantes é mais censurável do que a daqueles que não têm pretensões de piedade. Esses formalistas irreligiosos e irresponsáveis podem apresentar-se ao mundo com aparatosa folhagem, enquanto, assim como a figueira estéril, estão inteiramente destituídos daquilo a que nosso Salvador só dá valor - fruto para Sua glória. Nada sabem a respeito da obra realizada no coração pela graça de Deus. Tais pessoas exercem perniciosa influência sobre todos aqueles com quem se associam. Deveria haver comissões para ver se os lares providos para os estudantes não pertencem a meros formalistas, que não sentem responsabilidade pelas almas dos queridos jovens.

Muito se pode fazer pelos que se acham privados das suaves e subjugantes influências do círculo doméstico. O espírito manifestado por muitos revela que a linguagem do coração é: ""sou eu guardador do meu irmão?" Gên. 4:9. Não tenho qualquer encargo ou responsabilidade à parte de minha própria família. Não tenho qualquer encargo ou interesse especial pelos estudantes que ocupam quartos em minha casa." Gostaria de perguntar a estas pessoas se elas têm encargos e sentem responsabilidades para com seus próprios filhos. Lamento ver tão pouca ansiedade da parte de alguns pais, de que todas as influências que circundam os seus filhos sejam favoráveis à formação do caráter cristão; mas os que sentem peso de alma por seus próprios queridos não devem restringir egoistamente seu interesse a sua própria família. Jesus é nosso exemplo em todas as coisas; não nos deu, porém, qualquer exemplo de semelhante egoísmo manifestado por muitos que professam ser Seus seguidores.


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Se permanecemos em Cristo e Seu amor permanece em nós, amaremos aqueles por quem Cristo morreu; pois Ele ordenou que Seus seguidores amassem uns aos outros, assim como Ele os amou. Os que professamos o Seu nome obedecemos a este preceito? Se falharmos neste ponto, também falharemos nos outros. Houvesse Cristo procurado Seu benefício, conveniência e prazer, o mundo teria sido deixado a perecer em seu pecado e corrupção.

Uma estranha indiferença para com a salvação de almas parece ter-se apoderado de muitos cristãos professos. Pecadores podem estar perecendo em toda parte ao seu redor, mas não têm particular interesse na questão. Será que Cristo dirá a estes indiferentes: "Bem está, servo bom e fiel. Entra no gozo do teu Senhor"? Mat. 25:21 A alegria de Cristo consiste em ver almas redimidas pelo sacrifício que Ele fez em seu favor.

Rapazes e moças que não estão sob as influências de um lar, precisam de alguém que cuide deles e que por eles manifeste algum interesse; e os que isso fazem, estão suprindo uma grande falta, e verdadeiramente tanto estão fazendo uma obra para Deus e a salvação de almas, como o pastor no púlpito. Esta obra de desinteressada beneficência em trabalhar para o bem da juventude, não é nada mais do que aquilo que Deus requer de cada um de nós. Com que fervor deve o cristão experiente trabalhar para evitar a formação dos hábitos que mancham indelevelmente o caráter! Tornem os seguidores de Cristo a Palavra de Deus atrativa para os jovens. Seja o vosso próprio caráter, abrandado e subjugado pelas belezas da santidade, um constante sermão diário para os jovens. Não manifesteis um espírito de murmuração; mas conquistai-os para santidade de vida e obediência a Deus. Alguns crentes professos, com seu mau humor, repelem os jovens. O coração dos jovens é agora como cera impressionável, e podeis levá-los a admirar o caráter cristão; dentro de alguns anos, porém, a cera poderá transformar-se em granito.

Solicito aos professos cristãos de Battle Creek como igreja e como indivíduos: Assumi as responsabilidades que Deus vos confiou. Andai pessoalmente com Deus; e exercei uma influência


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sobre os jovens que os preserve de cair sob as múltiplas tentações apresentadas de modo atrativo para seduzir os jovens desta geração. Satanás está levando vantagem sobre o professo povo de Deus. Eles parecem estar inconscientes dos perigos dos jovens e da ruína que os ameaça. Satanás ostenta exultantemente suas vitórias sobre os jovens; e os que professam ser soldados da cruz permitem que ele arrebate suas vítimas debaixo do próprio teto, e se mostram admiravelmente resignados.

Os casos de muitos são considerados irremediáveis pelos que não estenderam uma mão ajudadora para salvá-los. Alguns deles poderiam ter sido salvos; e mesmo agora, se fosse manifestado apropriado interesse por eles, ainda poderiam ser alcançados. O que possuímos nós, que não tenha sido recebido? Somos devedores a Cristo por toda habilidade, toda virtude, todo bom pensamento e toda ação correta. Por nós mesmos não temos nada de que vangloriar-nos. Com submissão e humildade, prostremo-nos aos pés da cruz; e que todas as nossas palavras e atos sejam de molde a conquistar outros para Cristo, e não a impeli-los para mais longe dEle.

Dirijo-me a vós que residis no grande centro da obra. Não podeis ser formalistas descuidosos e irreverentes exclusivamente para vós mesmos. Muitas testemunhas estão olhando para vós, e muitos pautam a sua conduta pela vossa. Uma vida irreligiosa não só sela a vossa própria condenação, mas arruína também a outros. Vós que viveis onde têm de ser mantidos tão grandes interesses, deveis ser homens expeditos, fiéis sentinelas, que nunca deixem de estar de prontidão. Um momento descuidado passado em comodismo egoísta ou em satisfação própria pode conceder ao inimigo uma vantagem que anos de penoso labor não consigam reparar. Os que escolhem Battle Creek como seu lar devem ser homens e mulheres de fé e oração, leais aos interesses dos que os rodeiam. Sua única segurança está em andar com Deus.

Haverá diversidade de caráter entre os jovens que freqüentam o Colégio de Battle Creek. Eles foram educados e disciplinados de maneira diferente. A muitos se permitiu seguir a inclinação de suas próprias mentes inexperientes. Os pais


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pensam que amam a seus filhos, mas se têm demonstrado seus piores inimigos. Têm deixado o mal prosseguir sem restrição. Têm permitido aos filhos acariciar o pecado, o que se assemelha a acariciar e mimar uma víbora, que não somente picará a vítima que a acaricia, mas também a todos aqueles com quem esta se relaciona.

Alguns desses filhos mimados se encontram entre os estudantes que freqüentam nosso colégio. Os professores e todos os que se interessam pelos estudantes e desejam ajudá-los têm a não invejável tarefa de procurar auxiliar a essa classe de jovens insubmissos. Não estiveram sujeitos a seus pais no lar, e não fazem uma idéia do que é ter um dirigente na escola ou nos lares em que se hospedam. Quanta fé, paciência, graça e sabedoria são necessárias para lidar com esses jovens negligenciados e de que se deve ter muita comiseração! Os pais enganados talvez se coloquem até ao lado dos filhos contra a disciplina da escola e do lar. Querem impedir os outros de cumprir o dever que Deus deles requer e que negligenciaram abertamente. Quanta sabedoria divina é necessária para lidar com justiça e amar a misericórdia sob tais circunstâncias difíceis! Quão difícil é equilibrar na direção certa a mentes deturpadas por esse desleixo! Alguns não têm sido reprimidos, ao passo que outros têm sido governados em demasia; e quando estão longe das vigilantes mãos que mantinham rigorosamente as rédeas do controle, deixando o amor e a misericórdia fora de cogitação, decidem não receber ordens de ninguém. Desdenham até da própria idéia de restrição.

Os que têm a difícil tarefa de educar esses jovens e moldar-lhes o caráter acaso não devem ser objeto das constantes orações dos filhos de Deus? Cuidados, encargos e pesadas responsabilidades devem ser o quinhão do professor consciencioso e temente a Deus, bem como dos prestimosos pais e mães em Israel que residem em Battle Creek. Todos os cristãos sinceros, que apreciam as almas pelas quais Cristo morreu, farão grandes esforços a fim de fazer tudo o que estiver ao seu alcance para corrigir até mesmo os erros e as negligências dos pais naturais. Os professores sentirão que recai sobre eles o dever de apresentar os seus


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alunos diante do mundo e de Deus com caráter simétrico e mente bem equilibrada. Mas os professores não podem arcar com todo esse fardo, e não se deve esperar que só eles sejam responsáveis pelas boas maneiras e moral elevada de seus alunos. Toda família que provê alojamento para eles deve ter regras a que precisam sujeitar-se. Não constituirá um ato de bondade para eles ou seus pais permitir que formem hábitos desordenados e que destruam ou danifiquem a mobília. Se têm exuberante vivacidade e excesso de energia, que façam vigoroso trabalho manual até que o cansaço os incentive a apreciar o descanso em seus quartos.

Os quartos de alguns estudantes no ano passado deram uma impressão desfavorável de seus ocupantes. Se os estudantes são grosseiros e rudes, seus quartos com freqüência evidenciam este fato. Brincadeiras arrojadas, gargalhadas ruidosas e ficar acordado até altas horas da noite não deve ser tolerado pelos que alugam quartos. Se relevam tal procedimento da parte dos estudantes, causam-lhes um grave dano, e tornam-se, em grande medida, responsáveis pela má conduta. Os quartos dos estudantes devem ser visitados freqüentemente, para ver se são favoráveis à saúde e ao conforto, e para verificar se todos estão vivendo de acordo com os regulamentos da escola. Deve-se indicar qualquer desleixo, e labutar fielmente em favor dos estudantes. Caso sejam insubordinados e não queiram ser controlados, é melhor que voltem para casa, e a escola estará em melhor situação sem eles. Nosso colégio não deve ficar depravado por causa de alguns estudantes indisciplinados. Muitos colégios em nosso país são lugares em que os jovens correm o perigo de se tornarem imorais e depravados por meio dessas más associações.

As associações de nossos estudantes são uma questão importante, e não devem ser negligenciadas. Muitos que chegam a nosso colégio são cristãos professos. Deve-se manifestar especial interesse por eles e encorajá-los em seus esforços por levar uma vida cristã. Tanto quanto possível, devem ser protegidos contra as tentações que assaltam os jovens


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em todo lugar a que se volvam. Para os que tiveram anos de experiência, as tentações que derrotam esses jovens talvez pareçam tão leves e insignificantes que sejam levados a retirar suas simpatias dos que são tentados e provados. Isto está errado. Sua própria vida e experiência inicial talvez tenham sido até mais instáveis do que as dos jovens a quem censuram por suas debilidades.

Muitos que professam ser seguidores de Cristo são fracos do ponto de vista moral. Jamais foram heróis da cruz, e são desviados com facilidade de sua lealdade a Deus por prazeres ou diversões egoístas. Tais pessoas precisam ser ajudadas. Não devem depender do acaso na escolha de seus companheiros e colegas de quarto. Os que amam e temem a Deus devem levar sobre a alma o peso destes casos e agir discretamente ao modificar associações desfavoráveis. Jovens cristãos que propendem a ser influenciados por parceiros irreligiosos devem ter como companheiros a indivíduos que fortaleçam as boas resoluções e as inclinações religiosas. Um jovem bem disposto e com pendores religiosos, e mesmo aquele que professa religião, pode perder as suas impressões religiosas pela associação com alguém que fala desdenhosamente das coisas sagradas e religiosas, que talvez escarneça delas, e que tem falta de reverência e escrúpulo. Um pouco de fermento leveda toda a massa. Alguns são fracos na fé; se forem colocados, porém, junto com bons colegas de quarto, que exerçam forte influência em favor do que é direito, podem ser impelidos na direção certa, obter uma valiosa experiência religiosa, e ser bem-sucedidos na formação do caráter cristão.

Quisera que nossos irmãos e irmãs velassem pelas almas, como quem deve prestar contas. Minha mente tem estado muito ocupada com este assunto. Insisto com os que professam a Cristo sobre a necessidade de se revestirem de toda a armadura, trabalhando então em favor de nossos jovens que freqüentam o Colégio de Battle Creek. Talvez não precisem tanto de sermões e longas preleções recriminativas, como de genuíno interesse. Mostrai-lhes por vossas obras que os amais e que tendes cuidado por sua alma.


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Se manifestásseis para os tenros jovens que agora estão vindo para Battle Creek, os quais são lançados nos próprios braços da igreja, metade do cuidado que tendes pelos vossos interesses temporais, poderíeis prendê-los a vós pelos mais fortes laços de simpatia; e vossa influência sobre eles seria um poder para o bem. Review and Herald, 21 de fevereiro de 1878.

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