O Mundo não Conheceu a Deus por sua Própria Sabedoria
A verdade de Deus é infinita, suscetível a incomensurável expansão, e quanto mais a contemplamos, tanto mais aparecerá a sua glória. A verdade tem sido exposta diante de nós, e, no entanto, aplicam-se a nós as palavras de Paulo aos Gálatas: "Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi já representado como crucificado? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne? Será em vão que tenhais padecido tanto? Se é que isso também foi em vão." Gál. 3:1-4.
"Sem Mim - disse Cristo - nada podereis fazer." João 15:5. Os que procuram levar avante a obra em sua própria força, certamente irão fracassar. Por si mesma, a educação não prepara o homem para ocupar um lugar na obra, nem o habilita para obter conhecimento de Deus. Escutai o que Paulo tem a dizer sobre este assunto: "Porque Cristo enviou-me não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã. Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? onde está o escriba? onde está o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação." I Cor. 1:17-21.
Através de sucessivos séculos de trevas, na meia-noite do paganismo, Deus permitiu que os homens experimentassem encontrá-Lo por sua própria sabedoria, não para demonstrar a Seu contento a incapacidade deles, mas para que os próprios homens vissem que não podem obter conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, Seu Filho, sem a revelação
de Sua Palavra pelo Espírito Santo. Quando Cristo veio ao mundo, a experiência havia sido realizada cabalmente, e o resultado evidenciou que o mundo não conheceu a Deus por sua própria sabedoria. Até mesmo na igreja Deus tem permitido que os homens ponham à prova sua sabedoria nesta questão; mas quando é causada uma crise devido à falibilidade humana, Deus tem defendido poderosamente o Seu povo. Quando a igreja esteve em condições precárias, quando Seu povo passou por provações e opressão, Ele exaltou-os sobremaneira por notáveis livramentos. Quando surgiram entre o povo mestres infiéis, houve debilidade, e a fé do povo de Deus parecia esvaecer-se; mas Deus Se levantou e limpou a Sua eira, e os provados e fiéis foram enaltecidos.
Há ocasiões em que a apostasia penetra nas fileiras, em que a piedade é eliminada do coração pelos que deviam ter acompanhado os passos de seu Guia divino. O povo de Deus separa-se da fonte de sua força, e o resultado é orgulho, vaidade, extravagância e ostentação. Há ídolos no interior e no exterior; mas Deus envia o Consolador como reprovador do pecado, para que Seu povo seja advertido de sua apostasia e censurado por sua deserção da fé. Quando as mais preciosas manifestações de Seu amor forem prazerosamente reconhecidas e apreciadas, o Senhor verterá o bálsamo de conforto e o óleo de alegria.
Quando os homens são levados a compreender que suas estimativas humanas são muito deficientes, e se convencem de que sua sabedoria não passa de loucura, então é que se volvem para o Senhor a fim de O buscarem de todo o coração, para que possam achá-Lo.
Foi-me mostrado que toda igreja entre nós necessita das profundas atuações do Espírito de Deus. Oh! haveríamos de dirigir os homens para a cruz do Calvário. Recomendaríamos que olhassem para Aquele que foi traspassado por seus pecados. Recomendaríamos que contemplassem o Redentor do mundo sofrendo a penalidade da transgressão da lei de Deus por eles. O veredicto é: "A alma que pecar, essa morrerá." Ezeq. 18:4. Mas na cruz o pecador vê o Unigênito do Pai morrendo em seu lugar e dando
vida ao transgressor. Todos os seres na Terra e no Céu são convidados a ver que grande amor nos tem concedido o Pai, ao ponto de sermos chamados filhos de Deus. Todo pecador pode olhar e viver. Não observeis a cena do Calvário de maneira descuidada e irrefletida. Dar-se-á o caso de que os anjos, ao olharem para nós, os recipientes do amor de Deus, notem que somos frios, indiferentes e insensíveis, quando o Céu contempla com assombro a estupenda obra de redenção para salvar um mundo caído, e deseja devassar o mistério do amor e da aflição do Calvário? Os anjos olham com admiração e assombro para aqueles em cujo favor foi provida tão grande salvação, e se admiram de que o amor de Deus não os desperte, incentivando-os a emitir melodiosos acordes de gratidão e adoração. Mas o resultado que todo o Céu almeja contemplar não é visto entre os que professam ser seguidores de Cristo. Com que facilidade proferimos palavras afetuosas acerca de nossos amigos e parentes; e, no entanto, como somos remissos em falar dAquele cujo amor não tem paralelo, manifestado em Cristo crucificado entre vós!
O amor de nosso Pai celestial na dádiva de Seu Filho unigênito ao mundo é suficiente para inspirar toda alma, para abrandar todo coração duro e insensível e para produzir contrição e ternura. Será que os seres celestiais contemplarão, porém, naqueles por quem Cristo morreu, insensibilidade a Seu amor, dureza de coração e nenhuma manifestação de gratidão e afeto ao Doador de todas as boas coisas? Deverão questões de menor importância absorver toda a energia do ser, sem que o amor de Deus receba alguma retribuição? Brilhará o Sol da Justiça inutilmente? Em vista do que Deus tem feito, pode ter menos reivindicações a vosso respeito? Temos um coração que possa ser tocado e sensibilizado pelo amor divino? Estamos dispostos a ser vasos escolhidos? Acaso não somos vigiados por Deus, e não nos ordenou Ele que difundamos Sua mensagem de luz? Necessitamos de um acréscimo de fé. Precisamos esperar, precisamos vigiar, orar e trabalhar, suplicando que
o Espírito Santo seja derramado abundantemente sobre nós, para que sejamos luzes no mundo.
Jesus olhou com infinita compaixão para o mundo em sua condição degradada. Assumiu a forma humana para que pudesse pôr-Se em contato com a humanidade e elevá-la. Veio buscar e salvar o perdido. Atingiu a maior profundeza da miséria e aflição humana, a fim de tomar o homem do modo como o encontrou, um ser manchado pela corrupção, degradado pelo vício, depravado pelo pecado e unido a Satanás na apostasia, e elevá-lo a um lugar no Seu trono. Escreveu-se, porém, a Seu respeito que "não falhará nem será quebrantado", e Ele foi avante na senda da abnegação e da renúncia a Si mesmo, dando-nos o exemplo, para que sigamos as Suas pegadas. Devemos trabalhar como Jesus, renegando a nossa própria vontade, afastando-nos das seduções de Satanás, desprezando a comodidade e aborrecendo o egoísmo, a fim de salvar e buscar o perdido, conduzindo almas das trevas para a luz, para o brilho do amor de Deus. Fomos encarregados de ir e pregar o evangelho a toda criatura. Devemos transmitir aos perdidos as boas novas de que Cristo pode perdoar o pecado, renovar a natureza, revestir a alma das vestes de Sua justiça, pôr o pecador em conformidade com os Seus planos, e ensiná-lo e habilitá-lo a ser cooperador de Deus.
A alma convertida vive em Cristo. Dissipam-se as suas trevas, e brilha nessa alma nova luz celestial. "O que ganha almas sábio é." Prov. 11:30. "Os sábios, pois, resplandecerão como o resplendor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas sempre e eternamente." Dan. 12:3. O que é efetuado mediante a cooperação dos homens com Deus é uma obra que jamais perecerá, mas subsistirá pelos séculos eternos. Aquele que faz de Deus sua sabedoria, que cresce à medida da estatura completa de Cristo Jesus, será posto perante reis e diante dos chamados grandes homens do mundo, e proclamará as virtudes dAquele que o chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. Ciência e literatura não podem introduzir no obscurecido entendimento humano a luz que o glorioso evangelho
do Filho de Deus pode transmitir. Só o Filho de Deus pode realizar a grandiosa obra de iluminar a alma. Não admira que Paulo exclame: "Não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê." Rom. 1:16. O evangelho de Cristo confere personalidade àqueles que crêem, tornando-os epístolas vivas, conhecidas e lidas por todos os homens. Deste modo é comunicado à multidão o fermento da piedade. Os seres celestiais conseguem discernir os verdadeiros elementos de grandeza de caráter; pois somente a bondade é considerada eficiência à vista de Deus.
"Sem Mim - disse Cristo - nada podereis fazer." João 15:5. Nossa fé, nosso exemplo precisam ser considerados mais sagrados do que no passado. A Palavra de Deus deve ser estudada como nunca dantes; pois é a preciosa oferenda que temos de apresentar aos homens a fim de que aprendam o caminho da paz e obtenham a vida que se mede com a vida de Deus. A sabedoria humana, tão exaltada entre os homens, é reduzida à insignificância diante da sabedoria que aponta o caminho preparado para nele andarem os remidos do Senhor. Unicamente a Bíblia proporciona os meios para distinguir o caminho da vida do caminho largo que conduz à perdição e à morte. Review and Herald, 15 de dezembro de 1891.