Fundamentos da Educação Cristã

CAPÍTULO 41

Trabalho e Educação

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Nossa mente tem estado muito preocupada, de dia e de noite, com referência a nossas escolas. Como elas devem ser dirigidas? E qual deve ser a educação e o preparo dos jovens? Onde deve localizar-se a nossa Escola Bíblica Australiana? Acordei esta manhã à uma hora da madrugada com um pesado fardo em minha alma. O assunto da educação tem-me sido apresentado em diversos sentidos, em aspectos variados, por meio de muitas ilustrações e com especificações diretas, ora acerca de um ponto, ora de outro. Creio realmente que temos muito que aprender. Somos ignorantes a respeito de muitas coisas.

Ao escrever e falar sobre a vida de João Batista e a vida de Cristo, tenho procurado expor aquilo que me tem sido apresentado acerca da educação de nossos jovens. Temos a obrigação para com Deus de estudar este assunto com sinceridade; pois merece um exame minucioso e crítico em cada um de seus aspectos. Cristo declarou acerca de João Batista: "Entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior." Mat. 11:11. Esse profeta foi conduzido ao deserto pelo Espírito de Deus, longe das influências contaminadoras da cidade, a fim de obter uma educação que o habilitasse para receber instrução da parte de Deus, e não da parte dos doutos escribas. Não devia ligar-se aos rabinos; quanto menos se familiarizasse com seus ensinos, preceitos e tradições, tanto mais facilmente poderia o Senhor impressionar-lhe a mente e o coração e dar-lhe o puro molde da verdade que devia ser dada ao povo a fim de preparar o caminho do Senhor. Os ensinos dos escribas e fariseus eram de tal caráter que desviavam o povo da genuína verdade a ser apresentada pelo Grande Mestre quando iniciasse Sua missão. A única esperança do povo era abrir o coração e a mente à luz enviada do Céu por meio de Seu profeta, o precursor de Cristo.


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Estas lições são para nós. Os que alegam conhecer a verdade e compreender a grande obra a ser efetuada neste tempo devem consagrar-se a Deus de alma, corpo e espírito. No coração, no vestuário, na linguagem, em todo aspecto devem estar separados das modas e práticas do mundo. Devem ser um povo peculiar e santo. Não é o vestuário que os torna singulares; mas, pelo fato de serem um povo peculiar e santo, não podem levar as marcas da semelhança com o mundo.

Como um povo temos de preparar o caminho do Senhor. Cada partícula da capacidade que Deus nos concedeu deve ser posta em uso para preparar as pessoas de acordo com a vontade de Deus, segundo Seu molde espiritual, a fim de que permaneçam firmes neste grande dia da preparação de Deus, e para que sejam suscitadas estas solenes perguntas nos corações amantes do mundo: "Que é a eternidade para nós? Como subsistirá o meu caso no juízo investigativo? Qual será minha sorte e meu destino?" Muitos que supõem estarem indo para o Céu têm os olhos vendados pelo mundo. Suas idéias acerca do que constitui uma educação e disciplina religiosa são vagas e só se apóiam em probabilidades; muitos há que não têm uma esperança bem compreendida, e correm grande risco ao praticar precisamente as coisas que Jesus ensinou que não deveriam fazer no comer, beber e vestir, atando-se assim ao mundo de diversas maneiras. Têm que aprender ainda as solenes lições tão essenciais para crescer em espiritualidade a fim de sair do mundo e separar-se dele. O coração está dividido, a mente carnal anela conformidade, semelhança com o mundo de tantas maneiras que o sinal distintivo no tocante ao mundo quase não é distinguível. O dinheiro, o dinheiro de Deus, é gasto para criar uma aparência em conformidade com os costumes do mundo; a experiência religiosa é contaminada pelo mundanismo, e nem o mundo nem o Universo celestial discerne a evidência do discipulado - a semelhança de Cristo na abnegação e em levar a cruz.

Neste país [Austrália], Satanás se tem entronizado da maneira mais surpreendente para controlar os dirigentes do governo


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nacional. A educação que receberam desde a infância é errônea. Muitas coisas que são consideradas essenciais têm o efeito mais prejudicial sobre as pessoas. O grande número de feriados tem exercido perniciosa influência sobre a mente dos jovens; seu efeito é desmoralizador para o governo, e são inteiramente contrários à vontade de Deus. Têm a tendência de promover uma agitação artificial, um desejo de diversão. As pessoas são induzidas a dissipar o precioso tempo que deveria ser empregado em trabalho útil para sustentar honradamente a suas famílias e manter-se livres de dívidas. A paixão pelas diversões e o desperdício de dinheiro em corridas de cavalos, em apostas e outras coisas semelhantes estão aumentando a pobreza do país e agravando a miséria que constitui o infalível resultado dessa espécie de educação.

Jamais poderá ser dada a devida educação aos jovens deste país, ou de qualquer outro, a menos que estejam separados a uma vasta distância das cidades. Os costumes e práticas das cidades incapacitam a mente dos jovens para a percepção da verdade. A ingestão de bebidas alcoólicas, o fumar e jogar, as corridas de cavalos, o ato de ir ao teatro, a grande importância atribuída aos feriados - tudo isso é uma espécie de idolatria, um sacrifício sobre o altar dos ídolos. Se nos feriados as pessoas cuidam conscienciosamente de seus negócios legítimos, são consideradas como mesquinhas e antipatriotas. O Senhor não pode ser servido dessa maneira. Os que multiplicam os dias de prazer e diversão estão em realidade patrocinando os vendedores de bebidas e tirando dos pobres os próprios recursos com que haveriam de comprar alimento e roupa para seus filhos - recursos que, usados com economia, logo proveriam uma residência para suas famílias. E só podemos tocar de leve nestes males.

Não é correto o plano de situar os edifícios escolares onde os alunos terão constantemente diante dos olhos as práticas errôneas que têm moldado sua educação durante toda a sua existência, quer seja longa ou curta. Esses feriados, com todo o seu conjunto de males, redundam em vinte vezes mais miséria do que bem-estar.


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Em grande parte a observância desses feriados é realmente compulsória. Até pessoas genuinamente convertidas acham difícil romper com esses costumes e práticas. Se as escolas fossem estabelecidas nas cidades ou a poucos quilômetros delas, seria muito difícil neutralizar a influência da educação anterior recebida pelos alunos no tocante a esses feriados e às práticas relacionadas com eles, tais como as corridas de cavalos, as apostas e o oferecimento de prêmios. A própria atmosfera dessas cidades está cheia de miasmas deletérios. Não se respeita a liberdade de ação individual; o tempo de um homem não é considerado como sendo realmente seu; espera-se que proceda como os demais. Se nossa escola se localizasse numa dessas cidades ou a poucos quilômetros dela, estaria em constante operação uma influência oposta a ser enfrentada e vencida. A dedicação às diversões e a observância de tantos feriados proporcionam grande ocupação aos tribunais, aos oficiais e juízes, e aumentam a pobreza e a miséria, que não precisariam estar aumentando.

Tudo isso é falsa educação. Verificaremos ser necessário estabelecer nossas escolas fora e distante das cidades, mas não tão longe que não possam estar em contato com elas, para lhes fazer bem e permitir que a luz resplandeça em meio das trevas morais. Os estudantes têm que ser colocados sob as circunstâncias mais favoráveis para neutralizar em grande parte o efeito da educação que têm recebido.

Famílias inteiras necessitam de completa transformação em seus hábitos e idéias antes que possam ser verdadeiros representantes de Jesus Cristo. E, em grande proporção, as crianças que tenham de receber educação em nossas escolas farão muito maior progresso se estiverem separadas do círculo familiar em que receberam uma educação errônea. Poderá ser necessário que algumas famílias fixem residência onde possam ter a seus filhos consigo, evitando assim certas despesas; mas, em muitos casos, isto demonstraria ser um impedimento, e não uma bênção para seus filhos. O povo deste país dedica tão pouco valor à importância de hábitos


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de laboriosidade, que as crianças não são educadas para efetuar autêntico e diligente trabalho. Isto deve fazer parte da educação ministrada aos jovens.

Deus proporcionou ocupação para Adão e Eva. O Éden foi a escola de nossos primeiros pais, e Deus era seu instrutor. Eles aprenderam a lavrar a terra e a cuidar daquilo que o Senhor havia plantado. Não consideravam o trabalho como algo degradante, mas como uma grande bênção. A atividade era um prazer para Adão e Eva. A queda de Adão modificou a ordem das coisas; a Terra foi amaldiçoada; mas o mandado de que o homem devia ganhar o pão com o suor do rosto não foi dado como uma maldição. Por meio da fé e da esperança, o trabalho deveria ser uma bênção para os descendentes de Adão e Eva. Jamais foi desígnio de Deus que o homem não tivesse nada que fazer. Porém, quanto maior e mais profunda é a maldição do pecado, tanto mais se altera a ordem estabelecida por Deus. A carga da labuta repousa pesadamente sobre determinada classe, mas a maldição da ociosidade se acha sobre muitos que estão de posse do dinheiro de Deus, e tudo isso por causa do falso conceito de que o dinheiro aumenta o valor moral dos homens. O trabalho é para os seres humanos o que fazem dele. Empenhar-se em constante labuta e buscar alívio momentâneo na bebida e nas diversões estimulantes, tornará os homens pouco melhores do que os animais.

Necessitamos neste país de escolas para educar as crianças e os jovens, a fim de que sejam senhores do trabalho, e não escravos dele. A ignorância e a ociosidade não elevarão a nenhum membro da família humana. A ignorância não aliviará a sorte do que trabalha arduamente. Repare o trabalhador no benefício que pode obter na ocupação mais humilde, fazendo uso da capacidade que Deus lhe deu. Deste modo pode tornar-se um educador, ensinando a outros a arte de trabalhar inteligentemente. Pode compreender o que significa amar a Deus com o coração, a alma, a mente e a força. As faculdades físicas devem ser postas em atividade por amor a Deus. O Senhor quer a força física, e podeis revelar vosso amor para com Ele pelo devido emprego de vossas energias físicas, fazendo precisamente o


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trabalho que necessita ser feito. Para com Deus não há acepção de pessoas.

Quando se construiu o tabernáculo no deserto para o serviço de Deus, o trabalho foi realizado sob a direção divina. Deus era o planejador; os operários foram ensinados por Ele, e puseram na obra coração, alma e força. Havia trabalho penoso a ser feito, e o vigoroso artesão punha à prova os músculos e nervos, manifestando seu amor a Deus na labuta realizada em Sua honra.

Há no mundo grande quantidade de trabalho penoso e cansativo a ser efetuado, e aquele que trabalha sem pôr em ação as faculdades da mente, do coração e da alma, dadas por Deus, e que só emprega a força física, torna o trabalho uma carga fatigante. Há homens com mente, coração e alma que consideram o trabalho como algo enfadonho, e se entregam a ele com resignada ignorância, labutando sem pensar, sem pôr à prova as aptidões mentais para fazer melhor o trabalho.

Há ciência na espécie mais humilde de trabalho, e se todos o considerassem desta maneira, veriam nobreza no trabalho. Deve-se pôr o coração e a alma em qualquer espécie de trabalho; então haverá alegria e eficiência. Nas ocupações agrícolas ou mecânicas os homens podem demonstrar a Deus que apreciam o dom das faculdades físicas assim como o das faculdades mentais. Empregue-se a capacidade já educada a idear melhores métodos de trabalho. Isto é o que o Senhor deseja. Há honra em qualquer espécie de trabalho cuja execução seja essencial. Faça-se da lei de Deus a norma de ação, e ela enobrecerá e santificará todo trabalho. A fidelidade no desempenho de todo dever enobrece a obra e revela um caráter que Deus pode aprovar.

"Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento." Mat. 22:37. Deus deseja o amor que se expressa no serviço de coração, no serviço de alma, no serviço das energias físicas. Não devemos ser mesquinhos em qualquer serviço que prestemos a Deus.


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Tudo quanto Ele nos tem emprestado deve ser usado inteligentemente para Ele. O homem que exercita suas faculdades certamente as fortalecerá, mas deve procurar fazer o melhor que pode. É necessário inteligência e esmerada aptidão para idear os melhores métodos na agricultura, na construção ou em qualquer outro ramo, a fim de que o obreiro não trabalhe em vão.

Não é uma virtude que homens ou mulheres tolerem a lentidão e o desleixo no trabalho, seja qual for sua natureza. Os hábitos de morosidade devem ser vencidos. O homem vagaroso e que faz seu trabalho com imperfeição não é obreiro de valor. Sua lentidão é um defeito que tem de ser visto e corrigido. Ele precisa usar a inteligência para idear como empregar o tempo de modo a obter os melhores resultados. Quando alguém está sempre trabalhando e o trabalho nunca é terminado, a causa está em que a mente e o coração não são postos no trabalho. Algumas pessoas levam dez horas para fazer aquilo que outros realizam prazerosamente em cinco horas. Tais obreiros não aplicam tato e método a seu trabalho. Cumpre aprender algo cada dia acerca de como melhorar na maneira de trabalhar, de modo a terminar a tarefa e ter tempo para outra coisa. É dever de todo obreiro dedicar não somente as forças, mas também a mente e o intelecto, àquilo que irá fazer. Alguns dos que se ocupam no trabalho doméstico estão sempre labutando; não porque tenham tanto que fazer, mas porque não fazem planos para dispor de tempo. Devem reservar determinado tempo para cumprir suas tarefas e fazer com que cada um de seus movimentos tenha a sua utilidade. Lentidão e ignorância não são virtudes. Podeis escolher tornar-vos estereotipados num procedimento errôneo pelo fato de não terdes a determinação de reformar-vos, ou podeis cultivar vossas faculdades para prestar o melhor serviço possível, e neste caso sereis requisitados em todas as partes. Sereis apreciados por tudo o que valeis. "Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças." Ecl. 9:10. "Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor." Rom. 12:11.

A Austrália necessita que o fermento de vigoroso e sólido


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senso comum seja abundantemente introduzido em todas as suas cidades e povoações. Há necessidade de educação apropriada. Devem ser estabelecidas escolas com a finalidade de adquirir não somente conhecimento livresco, mas também noções de laboriosidade prática. Em diversas localidades há necessidade de homens que indiquem às pessoas como obter riquezas provenientes do solo. O cultivo da terra trará sua recompensa.

Pela observância dos feriados o povo, tanto do mundo como das igrejas, tem sido educado na crença de que esses dias de indolência são essenciais para a saúde e a felicidade, mas os resultados revelam que se acham repletos de males que estão arruinando o país. Os jovens, em geral, não são educados a formarem hábitos de diligência. As cidades e até as povoações rurais estão tornando-se como Sodoma e Gomorra, e como o mundo nos dias de Noé. A disciplina dos jovens naqueles dias era semelhante à forma em que as crianças estão sendo educadas e disciplinadas nesta época, a saber: amar a agitação, glorificar a si mesmas e seguir após a imaginação de seu perverso coração. Agora, como naquele tempo, a depravação, a crueldade, a violência e o crime são os resultados.

Todas estas coisas constituem lições para nós. Na atualidade, poucos são realmente laboriosos e econômicos. A pobreza e a dor se encontram em toda a parte. Há homens que trabalham arduamente, e obtêm muito pouco por seu trabalho. É necessário muito mais amplo conhecimento acerca da preparação do terreno. Não há suficiente largueza de visão no tocante ao que se pode obter da terra. Segue-se uma rotina estreita e invariável, com resultados desalentadores. O aumento do valor das terras tem sido uma maldição para este país, e são pagos preços exorbitantes por terrenos comprados a prazo; depois então é necessário limpar o terreno, e toma-se mais dinheiro emprestado; a edificação de uma casa requer mais dinheiro ainda, e então os juros, com a boca aberta, absorvem todos os lucros. As dívidas se acumulam, e depois vêem o fechamento e a falência dos bancos e a perda dos bens hipotecados. Milhares têm sido demitidos de seus empregos; há famílias que perdem tudo o que possuem; solicitam empréstimos uma e outra vez, e no fim têm de abandonar sua propriedade, e saem sem um centavo. Muito dinheiro e árduo trabalho


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têm sido aplicados na compra de propriedades agrícolas adquiridas a prazo ou herdadas com algum ônus. Os ocupantes viveram com a esperança de se tornarem os verdadeiros proprietários, o que poderia ter-se realizado, se não fossem as falências dos bancos por todas as partes do país.

O caso de um homem que tenha sua propriedade livre de qualquer ônus é uma feliz exceção à regra. Comerciantes estão falindo, e as famílias sofrem por falta de alimento e vestuário. Nenhum trabalho se apresenta por si mesmo; mas os feriados são tão numerosos como antes, e suas diversões são buscadas com a mesma avidez. Todos os que puderem fazê-lo gastarão seus centavos, xelins e libras ganhos a duras penas por uma sensação de prazer, em bebidas fortes ou nalguma outra condescendência. Os periódicos que informam acerca da pobreza do povo têm anúncios permanentes de corridas de cavalos e dos prêmios apresentados por diferentes espécies de esportes emocionantes. Os espetáculos, os teatros e todas as demais diversões desmoralizantes dessa natureza estão arrebatando o dinheiro do país, e a pobreza aumenta constantemente. Homens pobres investem seu último xelim na loteria, esperando obter um prêmio, e têm então de mendigar o alimento necessário para suster a vida, ou andar famintos. Muitos morrem de fome e muitos outros põem fim a sua existência. Mas a história não termina aqui. Alguns nos levam a suas plantações de laranjas, limões e outras frutas, e dizem que a produção não compensa pelo trabalho nelas aplicado. É quase impossível viver dentro dos rendimentos, e os pais decidem que seus filhos não serão agricultores; eles não têm coragem e esperança para ensiná-los a cultivar a terra.

Há necessidade de escolas para educar e adestrar os jovens de tal maneira que saibam como superar este estado de coisas. Deve haver instrução nas ciências e instrução em planos e métodos de cultivar a terra. Há esperança no solo, mas é preciso aplicar o cérebro, o coração e a força no trabalho de cultivá-lo. O dinheiro empregado em corridas de cavalos, assistência ao teatro, jogos e loterias; o dinheiro gasto nos bares em cerveja e bebidas fortes, seja investido em tornar produtiva a terra, e veremos diferente estado de coisas.


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Este país necessita de lavradores educados. O Senhor dá copiosas chuvas e benéfica luz solar. Dá aos homens todas as suas faculdades; dediquem eles, portanto, o coração, a mente e as forças a realizar Sua vontade em obediência a Seus mandamentos. Removam todo hábito pernicioso, não gastando jamais um centavo sequer com cerveja ou qualquer outra bebida alcoólica, nem com o fumo; nada tenham que ver com corridas de cavalos ou esportes similares; e consagrem-se então a Deus, trabalhando com seus dons de força física, e seu trabalho não será em vão. O Deus que fez o mundo para benefício do homem proverá da terra recursos para sustentar o trabalhador diligente. A semente lançada no solo devidamente preparado produzirá seu resultado. Deus pode preparar uma mesa para Seu povo no deserto.

Têm de ser aprendidos os diversos ofícios e ocupações, os quais requerem a aplicação de grande variedade de aptidões mentais e físicas. As ocupações que exigem uma vida sedentária são as mais perigosas, pois afastam os homens do ar livre e da luz solar, e adestram certo número de faculdades, ao passo que outros órgãos se debilitam pela falta de atividade. Há homens que promovem seu trabalho, aperfeiçoam seus negócios e logo descem à sepultura. Muito mais favorável é a condição daquele cuja ocupação o mantém ao ar livre, onde exercita os músculos, enquanto o cérebro também é obrigado a trabalhar, e todos os órgãos têm o privilégio de efetuar sua obra. Novas cenas se desdobram continuamente perante os que podem viver fora das cidades e trabalhar ao ar livre, contemplando as obras do Artista por excelência. Ao fazerem do livro da Natureza seu objeto de estudo, opera neles uma influência que sensibiliza e subjuga; pois reconhecem que o cuidado de Deus está sobre tudo, desde o glorioso Sol nos céus até o pequeno pardal ou o mais diminuto inseto que tenha vida. A Majestade do Céu nos indicou estas coisas da criação de Deus como evidência de Seu amor. Disse Aquele que formou as flores: "Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que nem ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como


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um deles. E, se Deus assim veste a erva, que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pequena fé?" Luc. 12: 27 e 28. O Senhor é nosso Mestre, e ensinados por Ele poderemos aprender as mais preciosas lições da Natureza.

O mundo está sob a maldição do pecado; e, no entanto, mesmo em seu estado de decadência, é muito belo. Se não fosse poluído pelos atos iníquos e corruptos dos homens que andam sobre a terra, poderíamos com a bênção de Deus apreciar nosso mundo assim como é. Mas a ignorância, o amor aos prazeres e os hábitos pecaminosos, corrompendo alma, corpo e espírito, enchem o mundo de lepra moral; mortífera malária moral está destruindo a milhares e dezenas de milhares. Que se deve fazer para salvar a nossos jovens? Nós podemos fazer pouco, mas Deus vive e reina, e Ele pode fazer muito. Os jovens são nossa esperança para a obra missionária.

Devem ser estabelecidas escolas onde a Natureza ofereça a maior quantidade possível de atrativos que deleitem os sentidos e dêem variedade ao panorama. Embora evitemos o falso e artificial, rejeitando as corridas de cavalos, o jogo de cartas, as loterias, as disputas de prêmios, a ingestão de bebidas alcoólicas e o uso do fumo, devemos proporcionar fontes de prazer que sejam puras e nobres e edificantes. Devemos escolher para nossa escola um local afastado das cidades, onde os olhos não tenham que pousar continuamente sobre as habitações dos homens, e, sim, sobre as obras de Deus; onde os alunos encontrem lugares que lhes interesse visitar e que sejam diferentes do que aquilo que as cidades oferecem. Coloquem-se os nossos estudantes onde a Natureza fale aos sentidos e em sua voz possam ouvir a voz de Deus. Estejam onde possam olhar para Suas obras maravilhosas e contemplar o Criador através da Natureza.

Os jovens deste país necessitam de mais diligente trabalho espiritual do que os de qualquer outro país que tenhamos visitado. As tentações são fortes e numerosas; os muitos feriados e os hábitos de ociosidade são muitíssimo desfavoráveis para eles. Satanás faz do ocioso um participante e colaborador de suas tramas, e o Senhor Jesus não habita em seu coração pela fé. As crianças e os jovens não são ensinados a


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reconhecer que sua influência é um poder para o bem ou para o mal. Sempre se deve manter diante deles o quanto podem realizar; devem ser incentivados a alcançar a mais elevada norma de retidão. Mas, desde a juventude em diante, têm sido educados segundo a idéia popular de que os feriados estabelecidos devem ser tratados com respeito e observados. De acordo com a luz que o Senhor me tem dado, esses dias não têm mais influência para o bem do que a adoração das divindades pagãs; pois em realidade não é nada menos do que isso. Esses dias são os tempos de colheita especiais de Satanás. O dinheiro tirado de homens e mulheres é gasto naquilo que não é pão. Os jovens aprendem a amar o que é desmoralizador, o que a Palavra de Deus condena. A influência é má, e só continuamente má.

A ocupação manual para os jovens é essencial. A mente não deve ser constantemente sobrecarregada, em detrimento das energias físicas. A ignorância da fisiologia e a negligência em observar as leis da saúde têm levado para a sepultura a muitos que poderiam haver vivido para trabalhar e estudar inteligentemente. Adequado exercício da mente e do corpo desenvolverá e fortalecerá todas as faculdades. Serão preservados a mente e o corpo, e poderão realizar uma variedade de trabalho. Os pastores e os professores precisam instruir-se acerca destas coisas e também praticá-las. O devido emprego da força física, bem como o das faculdades mentais, equilibrará a circulação do sangue, e manterá cada órgão do mecanismo vivo em bom funcionamento. Com freqüência se faz mau uso da mente; ela é incitada à loucura ao prosseguir numa só linha de pensamento; a aplicação excessiva da energia cerebral e o descuido dos demais órgãos do corpo conferem ao organismo uma condição doentia. Toda faculdade mental pode ser exercitada com relativa segurança se se utilizam igualmente as faculdades físicas, e se varia o tema do pensamento. Necessitamos de uma mudança de ocupação, e a Natureza é um mestre vivo e saudável.

Quando os alunos ingressam na escola para educar-se, os


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professores devem procurar rodeá-los de objetos do mais agradável e interessante caráter, a fim de que a mente não se restrinja ao monótono estudo dos livros. A escola não deveria estar dentro ou perto de uma cidade, pois as suas dissipações, seus prazeres iníquos, seus perversos costumes e práticas requereriam constante trabalho para neutralizar a iniqüidade reinante, a fim de que não envenene a própria atmosfera respirada pelos alunos. Na medida do possível, todas as escolas deveriam situar-se onde a vista possa repousar sobre as coisas da Natureza, em vez de sobre um grupo de casas. A paisagem sempre variável dará satisfação ao gosto e dominará a imaginação. A Natureza é um mestre vivo que ensina constantemente.

Tenho estado preocupada com muitas coisas referentes a nossa escola. Em seu trabalho os rapazes estão associados com as moças e fazem o trabalho que corresponde às mulheres. Isto é quase tudo que se pode encontrar para eles fazerem na situação em que se acham atualmente; de acordo, porém, com a luz que me tem sido dada, não é esta a espécie de educação que os jovens necessitam. Não lhes proporciona o conhecimento que devem levar consigo para seus lares. Deve haver diferente espécie de trabalho ao seu alcance, que lhes dê a oportunidade de manter ocupadas tanto as faculdades físicas como mentais. Deve haver terra para cultivo. Não está muito longe o tempo em que as leis contrárias ao trabalho dominical serão mais rigorosas, e deve-se fazer um esforço para adquirir terrenos afastados das cidades, onde se possam cultivar frutas e verduras. A agricultura oferecerá recursos para o sustento próprio, e poderiam aprender-se também diversos outros ofícios. Este trabalho real e ativo requer ao mesmo tempo força intelectual e muscular. É necessário método e tato para cultivar com êxito frutas e verduras. Os hábitos de laboriosidade serão importante auxílio para os jovens ao resistirem à tentação.

É esse um campo aberto para dar vazão a suas energias reprimidas, as quais, se não forem empregadas em ocupação útil, serão constante fonte de aflição para eles mesmos e para seus professores.


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Podem ser inventadas muitas espécies de trabalho adaptadas a diferentes pessoas. O cultivo da terra será, porém, uma bênção especial para o obreiro. Há grande falta de homens inteligentes para lavrar a terra de modo cabal. Este conhecimento não será um obstáculo para a educação essencial às atividades comerciais ou à utilidade em qualquer sentido. Dar incremento à capacidade do solo requer pensamento e inteligência. Isto não somente desenvolverá os músculos, mas também as aptidões para o estudo, porque há igualdade de ação da parte do cérebro e dos músculos. Devemos adestrar os jovens de tal maneira que apreciem lidar com a terra e se deleitem em melhorá-la. A esperança quanto a promover a causa de Deus neste país está em criar um novo gosto moral no amor ao trabalho, o qual transformará a mente e o caráter.

Tem sido dado falso testemunho ao condenar a terra, a qual, se fosse devidamente trabalhada, produziria abundante lucro. Os planos acanhados, o pouco vigor empregado e o reduzido estudo quanto aos melhores métodos clamam fortemente por reforma. O povo tem de aprender que o trabalho paciente operará maravilhas. Há muitas queixas acerca da improdutividade do solo; entretanto, se os homens lessem as Escrituras do Antigo Testamento, veriam que o Senhor conhece muito melhor do que eles o que se refere ao apropriado cultivo da terra. Depois de haver cultivado durante vários anos certas porções do terreno e de haver obtido seus tesouros, deve-se-lhes conceder descanso, e modificar então as plantações. Também podemos aprender muita coisa do Antigo Testamento a respeito do problema do trabalho. Se os homens seguissem as instruções de Cristo acerca de lembrar-se dos pobres e suprir suas necessidades, quão diferente seria este mundo!

Tende sempre em vista a glória de Deus; e se a colheita fracassa, não vos desanimeis; fazei uma nova tentativa; lembrai-vos, porém, de que só pode haver colheita se o solo é devidamente preparado para a sementeira; o fracasso pode dever-se inteiramente ao descuido neste ponto.

A escola a ser estabelecida na Austrália deve dar primazia ao assunto das indústrias, revelando o fato de que o trabalho corporal tem o seu lugar no plano de Deus para cada homem, e


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que Sua bênção acompanha esse trabalho. As escolas estabelecidas por aqueles que ensinam e praticam a verdade para este tempo devem ser dirigidas de tal maneira que se acrescentem novos incentivos a todas as espécies de trabalho prático.

Haverá muita coisa para provar os educadores, mas terá sido alcançado um grande e nobre objetivo quando os estudantes sentirem que o amor a Deus deve ser revelado não somente na consagração do coração, da mente e da alma, mas também na hábil e sábia aplicação de suas forças. Suas tentações serão muito menores; e deles, por preceito e exemplo, resplandecerá uma luz entre as teorias errôneas e os costumes que imperam no mundo. Sua influência tenderá a corrigir a falsa idéia de que a ignorância é o distintivo de um homem honrado.

Deus seria glorificado se viessem para este país homens de outras partes, que tenham adquirido inteligente noção da agricultura e que, por preceito e exemplo, ensinem as pessoas a cultivar a terra para que produza abundantes riquezas. Há necessidade de homens que ensinem outros a arar e a fazer uso dos implementos da agricultura. Quem serão os missionários para realizar essa obra e para ensinar métodos adequados aos jovens e a todos os que se sentem dispostos e bastante humildes para aprender? Se alguns não querem que se lhes dêem idéias melhores, sejam as lições dadas silenciosamente, mostrando o que se pode fazer formando pomares e plantando cereais; que a colheita fale com eloqüência em favor de corretos métodos de trabalho. Dirigi uma palavra a vossos vizinhos quando puderdes fazê-lo, prossegui no cultivo de vosso próprio terreno, e isso educará.

Alguns poderão insistir em que nossa escola deve estar na cidade a fim de conceder influência a nossa obra, e em que, se estiver no campo, perde-se a influência sobre as cidades; mas este não é necessariamente o caso.

Os jovens que freqüentam nossa escola pela primeira vez não se acham preparados para exercer uma influência correta em qualquer cidade como luzes que brilham no meio das trevas. Não estarão preparados para refletir a luz até que se dissipem as trevas de sua própria educação errônea. No futuro nossa escola não será a mesma que


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tem sido no passado. Entre os estudantes tem havido homens de são juízo e de experiência que têm tirado proveito da oportunidade de obter mais conhecimento para efetuar uma obra racional na causa de Deus. Estes têm sido uma ajuda na escola, pois contribuem para o seu equilíbrio; mas no futuro a escola se comporá principalmente de alunos cujo caráter tem que ser transformado e aos quais será necessário dedicar muito trabalho paciente; terão que desaprender e aprender de novo. Levará tempo para desenvolver o verdadeiro espírito missionário, e quanto mais estiverem afastados das cidades e das tentações que as inundam, tanto mais fácil será adquirirem o verdadeiro conhecimento e desenvolverem caráter bem equilibrado.

Os agricultores necessitam de muito mais inteligência em seu trabalho. Na maioria dos casos eles mesmos são culpados se não vêem a terra produzir sua colheita. Devem aprender constantemente como obter da terra uma variedade de tesouros. Na medida do possível, as pessoas devem aprender a depender dos produtos que podem ser obtidos do solo. Em cada fase desta espécie de trabalho podem educar a mente a labutar pela salvação de almas, pelas quais Cristo morreu. "Vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus." I Cor. 3:9. Levem os professores de nossas escolas os alunos consigo aos jardins e campos, e ensinem-lhes a cultivar a terra da maneira mais excelente. Seria bom se os pastores que trabalham na palavra ou na doutrina pudessem ir aos campos e passassem parte do dia em exercício físico com os alunos. Poderiam fazer como fez Cristo, dando lições da Natureza para ilustrar a verdade da Bíblia. Tanto os professores como os alunos teriam então muito mais salutar experiência nas coisas espirituais, inteligência mais poderosa e mais puro coração para interpretar os mistérios eternos, do que estudando livros de maneira tão constante e aplicando o cérebro sem exercitar os músculos. Deus concedeu aos homens e às mulheres a faculdade do raciocínio, e quer que empreguem a razão no tocante ao uso de seu mecanismo físico. Pode-se fazer a pergunta:


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Como pode aquele que maneja o arado e dirige os bois adquirir sabedoria? - Buscando-a como a prata e procurando-a como a tesouros escondidos. Assim seu Deus lhe ensina o que é conveniente, e o instrui. (Isa. 28:26.) "Até isto procede do Senhor dos Exércitos, porque é maravilhoso em conselho e grande em obra." Isa. 28: 29.

Aquele que ensinou Adão e Eva no Éden a cuidar do jardim, gostaria de instruir os homens hoje. Há sabedoria para aquele que maneja o arado e planta e semeia a semente. A terra tem seus tesouros escondidos, e o Senhor gostaria de ter trabalhando o solo milhares e dezenas de milhares que estão aglomerados nas cidades à espera de uma oportunidade para ganhar uma bagatela; em muitos casos essa bagatela não se converte em pão, mas é posta na gaveta do dono do bar, em troca do que destrói a razão do homem formado à imagem de Deus. Os que tomam suas famílias e as levam para o campo colocam-nas onde terão menos tentações. Os filhos que se acham em companhia de pais que amam e temem a Deus estão em todo sentido melhor situados para aprender do grande Mestre, o qual é a origem e fonte de sabedoria. Têm eles oportunidade muito mais favorável de se tornarem aptos para o reino do Céu. Enviai os filhos para escolas situadas na cidade onde todo aspecto de tentações está à espera para atraí-los e desmoralizá-los, e a tarefa de edificar o caráter será dez vezes mais árdua para os pais e os filhos.

Deve-se fazer com que a Terra manifeste sua força; mas, sem a bênção de Deus, ela nada pode fazer. No princípio Deus contemplou tudo quanto fizera e disse que era muito bom. A Terra foi amaldiçoada em conseqüência do pecado. Deve-se, porém, multiplicar essa maldição pelo aumento do pecado? A ignorância está realizando sua funesta obra. Servos indolentes estão aumentando o mal por meio de seus hábitos ociosos. Muitos relutam em ganhar o pão com o suor do rosto e recusam cultivar o solo. Mas nas profundezas da Terra há bênçãos ocultas para os que têm coragem, disposição e perseverança para ajuntar seus tesouros. Pais e


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mães que possuem um pedaço de terra e um lar confortável são reis e rainhas.

Muitos agricultores têm falhado em arrancar do solo adequado lucro porque empreendem o trabalho como se ele fosse ocupação degradante; não vêem que há nele uma bênção para si e suas famílias. Tudo que podem discernir é o estigma de servidão. Seus pomares são negligenciados, as colheitas não são guardadas no tempo certo e é feito apenas um trabalho superficial no cultivo do solo. Muitos negligenciam suas plantações a fim de observar dias de festas e assistir a corridas de cavalos e freqüentar clubes de apostas; seu dinheiro é gasto em espetáculos, loterias e ociosidade; e depois alegam que não podem obter dinheiro para cultivar a terra e melhorar suas lavouras; se tivessem, porém, mais dinheiro, o resultado seria o mesmo. Special Testimonies on Education, fevereiro de 1894.

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