Fundamentos da Educação Cristã

CAPÍTULO 14

A Importância do Preparo na Obra de Deus

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O trabalho do obreiro não é pequeno ou insignificante. Se ele se dedica a qualquer ramo da obra, seu primeiro dever é ter cuidado de si mesmo e da doutrina. Deve examinar o seu coração e remover o pecado; deve manter então sempre diante de si o Modelo, Jesus cristo, como seu exemplo. Não deve sentir-se na liberdade de moldar sua conduta como melhor aprouver a sua própria inclinação. Ele é a propriedade de Jesus. Escolheu uma alta vocação, e dela deve proceder o colorido e feição de toda a sua vida futura. Ingressou na escola de Cristo, e poderá obter conhecimento de Cristo e Sua missão, e da obra que lhe compete realizar. Todas as suas faculdades devem ser postas sob o controle do grande Mestre. Toda faculdade mental, todo órgão do corpo deve ser mantido nas melhores condições possíveis, a fim de que a obra de Deus não apresente sinais de seu caráter defeituoso.

Antes de uma pessoa estar preparada para ensinar a verdade aos que se encontram nas trevas, precisa tornar-se discípulo. Deve estar disposta a receber conselhos. Não pode colocar o pé no terceiro, quarto ou quinto degrau da escada do progresso antes de haver começado no primeiro degrau. Muitos julgam estar habilitados para a obra, quando em realidade não sabem quase nada a esse respeito. Se receberem permissão para começar a trabalhar por confiança própria, deixarão de adquirir o conhecimento que é seu privilégio obter, e estarão condenados a lutar contra muitas dificuldades para as quais eles se acham inteiramente desprevenidos.

A cada obreiro é concedido agora o privilégio de aperfeiçoar-se, e ele deve fazer com que tudo concorra para esse objetivo. Quando quer que se faça esforço especial num importante lugar, deve ser estabelecido um sistema de trabalho bem organizado, de maneira que os que desejarem ser colportores, e os que são habilitados a dar estudos bíblicos a famílias possam


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receber as necessárias instruções. Os que são obreiros também devem ser discípulos, e enquanto o pastor labuta na palavra e na doutrina, não devem vaguear ociosamente de um lado para o outro, como se nada houvesse no discurso que necessitassem ouvir. Não devem considerar a pessoa que fala simplesmente como orador, mas como mensageiro de Deus aos homens. Preferências e preconceitos pessoais não devem exercer influência sobre a atenção prestada por eles. Se todos imitassem o exemplo de Cornélio e dissessem: "Agora, pois, estamos todos presentes diante de Deus, para ouvir tudo quanto por Deus te é mandado", (Atos 10:33) tirariam muito mais proveito dos sermões ouvidos por eles.

Deve haver, em ligação com nossas missões, colégios para os que estão prestes a entrar no campo como obreiros. Devem estar certos de que precisam tornar-se como novatos que aprendam o ofício de trabalhar pela conversão de almas. O labor nestas escolas deve ser variado. O estudo da Bíblia deve ocupar o lugar mais importante, e, ao mesmo tempo, deve haver um sistemático treino da mente e das maneiras, para que aprendam a se aproximar do povo da melhor maneira possível. Todos devem aprender a trabalhar com tato, cortesia, bem como com o Espírito de Cristo. Jamais devem parar de aprender, mas sempre continuar cavando em busca da verdade e dos melhores métodos de trabalho, como se estivessem à cata de ouro escondido na terra.

Oxalá todos os que começam a empenhar-se na obra resolvam não ter sossego a menos que se tornem obreiros de primeira classe. A fim de fazer isto, não devem permitir que a mente seja dominada pelas circunstâncias e os impulsos, mas fixar-se ao ponto exato, e ser exercitada ao máximo para compreender a verdade em todos os seus aspectos.

Homens de talento têm labutado com grande desvantagem porque seu espírito não foi disciplinado para a obra. Vendo a necessidade de obreiros, dispuseram-se a preencher a lacuna, e, embora tenham realizado grande bem, este em muitos casos


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não é nem a décima parte do que poderiam ter realizado se houvessem recebido o devido preparo logo no início.

Muitos que pretendem dedicar-se ao serviço de Deus não sentem necessidade de qualquer preparo especial. Mas os que têm essa impressão, são precisamente aqueles que se encontram em maior necessidade de rigoroso preparo. É quando eles têm pouco conhecimento de si mesmos e da obra, que se consideram mais habilitados. Quando esse conhecimento é maior, percebem a ignorância e a ineficiência de que se acham possuídos. Ao submeterem o coração a minucioso exame, notam tanta coisa diferente do caráter de Cristo, que são levados a exclamar: "Quem é idôneo para estas coisas?", e com profunda humildade esforçar-se-ão cada dia por colocar-se em íntima ligação com Cristo. Crucificando o próprio eu, estão pondo os pés no caminho em que Ele pode guiá-los.

Há o perigo de que o obreiro inexperiente, enquanto procura habilitar-se para a obra, julgue ser competente para colocar-se em qualquer posição na qual soprem ao seu redor diversos ventos de doutrinas. Ele não pode fazer isto sem perigo para sua própria alma. Se lhes sobrevierem provações e tentações, o Senhor dará forças para vencê-las; mas quando alguém se coloca no caminho da tentação, sucede com freqüência que Satanás, por meio de seus agentes, estimula os sentimentos dessa pessoa de tal maneira que confundam e perturbem a mente. Por meio de comunhão com Deus e minucioso estudo das Escrituras, o obreiro deve firmar-se cabalmente antes de empreender com regularidade a tarefa de ensinar a outros. João, o discípulo amado, foi banido para a solitária ilha de Patmos, a fim de que pudesse estar separado de toda luta e até mesmo da obra que amava, e a fim de que o Senhor pudesse comunicar-Se com ele e revelar-lhe as cenas finais da história terrestre. Foi no deserto que João Batista aprendeu a mensagem que devia transmitir a fim de preparar o caminho para Aquele que viria.

Acima de tudo o mais, porém, deve-se incutir nos indivíduos que decidiram tornar-se servos de Deus, que precisam ser pessoas convertidas. O coração deve ser puro. A


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piedade é essencial para esta vida e para a vida futura. O homem sem caráter sólido e virtuoso certamente não será uma honra para a causa da verdade. O jovem que pretende cooperar com Deus deve ser puro de coração. Em seus lábios, em sua boca, não deve haver dolo algum. Os pensamentos devem ser puros. Santidade de vida e caráter é uma coisa rara, mas o obreiro precisa tê-la, pois do contrário não poderá jungir-se a Cristo. Jesus declara: "Sem Mim nada podereis fazer." João 15:5. Se os que tencionam trabalhar para o bem dos outros e para a salvação de seus semelhantes confiarem em sua própria sabedoria, eles irão falhar. Se têm humilde conceito de si mesmos, são então suficientemente modestos para crer em Deus e esperar Seu auxílio. "Não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-O em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas." Prov. 3:5 e 6. Temos então o privilégio de ser dirigidos por um sábio conselheiro, e crescente entendimento é dado ao verdadeiro e sincero pesquisador da verdade e do conhecimento.

A razão por que não temos mais homens de grande envergadura e amplo conhecimento, é que eles confiam em sua própria sabedoria finita e procuram imprimir seu cunho à obra, em vez de receber o cunho de Deus. Não oram com fervor e não mantêm aberto o meio de comunicação entre sua alma e Deus, para que possam reconhecer-Lhe a voz. Mensageiros de luz virão em auxílio dos que julgam ser a personificação da fraqueza, sem a tutela divina. A Palavra de Deus deve ser estudada com mais diligência, e introduzida na vida e no caráter, moldados segundo a norma de justiça que Deus estabeleceu em Sua Palavra. Então a mente se expandirá e se fortalecerá, sendo também enobrecida ao apossar-se das verdades que são eternas. Embora o mundo seja desatento e indiferente à mensagem de advertência e misericórdia transmitida na Bíblia, o povo de Deus, que discerne a proximidade do fim, deve ser mais resoluto e dedicado, e trabalhar com mais diligência, a fim de proclamarem as virtudes dAquele que os chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz.


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O conhecimento é um poder, tanto para o bem como para o mal. A religião da Bíblia é a única salvaguarda para os seres humanos. É dispensada muita atenção aos jovens nesta época, para que saibam entrar airosamente numa sala, dançar e tocar instrumentos musicais. Mas esta educação lhes é negada: conhecer a Deus e atender a Seus reclamos. A educação que é tão duradoura como a eternidade, é quase inteiramente negligenciada como sendo antiquada e indesejável. A educação da criança para assumir a obra de edificação do caráter com relação ao seu bem atual, à sua paz e felicidade presentes, e para lhe guiar os pés no caminho levantado para que nele andem os remidos do Senhor, não é considerada da moda, e, portanto, não essencial. A fim de que nossos filhos entrem pelos portais da cidade de Deus como vencedores, devem ser ensinados a temer a Deus e a guardar os Seus mandamentos na vida presente. É a tais que Jesus chama de bem-aventurados: Bem-aventurados aqueles que guardam os Seus mandamentos, "para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas." Apoc. 22:14.

A bênção é proferida sobre os que se acham familiarizados com a vontade de Deus revelada em Sua Palavra. A Bíblia é o grande instrumento nas mãos de seu Autor para fortalecer o intelecto. Ela franqueia o jardim da mente para o cultivo do Lavrador celestial. É porque se dá tão pouca atenção ao que Deus diz e ao que Deus requer, que há tão poucos que sentem o dever de realizar trabalho missionário, tão poucos que se têm submetido a treinamento, incitando para o serviço toda faculdade, a fim de que seja adestrada e fortalecida para prestar melhor serviço a Deus.

Estão sendo feitos esforços demasiado débeis para unir com nossas escolas a pessoas de diferentes nacionalidades que deveriam estar unidas com elas, para que obtenham uma educação e se habilitem para uma obra tão nobre, tão elevada e de tão grande influência. Deus não levou em conta os tempos da ignorância. Mas a luz está brilhando cada vez com maior intensidade; a luz e os privilégios de compreender a verdade bíblica são abundantes, se tão-somente os obreiros


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abrirem os olhos do seu entendimento. A verdade deve ser difusa. As missões nacionais e no estrangeiro requerem íntegros caracteres cristãos para se empenharem em projetos missionários. As missões em nossas cidades neste país e no exterior requerem homens imbuídos do Espírito de Cristo, que trabalhem como Cristo trabalhou. Review and Herald, 14 de junho de 1887.

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