Fundamentos da Educação Cristã

CAPÍTULO 37

Aos Estudantes do Colégio de Battle Creek

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Tenho mui profundo interesse na instituição educativa de Battle Creek. Durante anos meu esposo e eu estivemos grandemente preocupados com referência a estabelecer uma escola em que nossos jovens e crianças tivessem vantagens de caráter superior às que se encontram nas escolas públicas comuns ou nos colégios do mundo. O Senhor especificou claramente qual deve ser o caráter da influência e instrução que a escola tem, a fim de que seja realizada a importante obra para a qual foi designada a escola. Visto que o conhecimento e o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, era necessário que o estudo da Bíblia ocupasse um lugar proeminente entre os diversos ramos da educação científica. O padrão da escola devia ser de elevada ordem, e os princípios de vital piedade sempre deveriam ser mantidos diante dos estudantes como um aspecto muitíssimo essencial da educação. "E a vida eterna é esta: que conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste." João 17:3. Os jovens deviam ser instruídos acerca dos tempos em que vivemos, e levados a compreender o que sucederá antes do término da história terrestre.

Uma razão por que era necessário estabelecer nossas próprias instituições era o fato de que os pais não conseguiam neutralizar a influência do ensino que seus filhos estavam recebendo nas escolas públicas, e os erros ali ensinados estavam conduzindo os jovens por falsos caminhos. Nenhuma influência poderia exercer mais forte impacto sobre a mente dos jovens e das crianças do que a dos que os estavam educando nos princípios de ciência. Por esta razão era evidente que precisavam ser estabelecidas escolas nas quais nossos filhos fossem instruídos no caminho da verdade. Em nossas escolas foi estipulado que os jovens deviam ser educados nos princípios da temperança bíblica, e


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deveria ser exercida sobre eles toda influência tendente a ajudá-los a evitar as loucuras deste século degenerado, que rapidamente estavam tornando o mundo como uma segunda Sodoma.

Em nossas instituições de ensino deveria ser exercida uma influência que neutralizasse a influência do mundo e não desse incentivo à condescendência com o apetite, com a satisfação egoísta dos sentidos, com o orgulho, a ambição, o amor ao vestuário e à ostentação, o amor ao aplauso e à lisonja, e à disputa por elevadas retribuições e honras como recompensa pelo bom desempenho escolar. Tudo isso deveria ser desaconselhado em nossas escolas. Seria impossível evitar essas coisas enviando-os para as escolas públicas, onde seriam postos diariamente em contato com o que contaminaria sua moral. Através do mundo todo havia tão grande negligência da devida disciplina no lar, que as crianças encontradas nas escolas públicas, na maioria dos casos, eram dissolutas e afundadas no vício.

A obra que nós como um povo devíamos realizar neste sentido era estabelecer uma escola e fazer o trabalho que Jesus Cristo, da coluna de nuvem, indicara ser a obra de Seu povo - ensinar e educar nossas crianças e jovens a respeitar os mandamentos de Deus. O visível desprezo do mundo pela lei de Deus estava contaminando a moral dos que professavam observar a lei de Deus. Somos porém convidados a seguir o exemplo de Abraão. Disse o Senhor a seu respeito: "Porque Eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para agirem com justiça e juízo." Gên. 18:19.

Abraão teve de deixar sua terra natal e a casa de seu pai e peregrinar numa terra estranha, a fim de introduzir com êxito a nova ordem de coisas em sua família. A providência divina sempre divulgaria novos métodos, e deveria ser feito progresso de geração a geração a fim de preservar no mundo o conhecimento do verdadeiro Deus, de Suas leis e mandamentos. Isto só poderia ser realizado cultivando-se a religião no lar. Mas não era possível para Abraão fazê-lo enquanto


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se achava cercado de seus parentes e amigos idólatras. Segundo a ordem de Deus, ele devia partir sozinho e atender à voz de Cristo, o dirigente dos filhos de Israel. Jesus estava na Terra para instruir e educar o povo escolhido de Deus. Abraão decidiu obedecer à lei de Deus, e o Senhor sabia que não haveria de sua parte traição de encargos sagrados, nem submissão a qualquer outro guia senão Àquele ao qual se achava na obrigação de obedecer. Ele reconhecia que era responsável pela instrução de sua casa e de seus filhos, e ordenou-lhes que praticassem juízo e justiça depois dele. Ao ensinar-lhes as leis de Deus, mostrou-lhes que o Senhor é nosso Juiz, nosso Legislador e Rei, e que os pais e os filhos devem ser governados por Ele; não deve haver opressão da parte dos pais, nem desobediência da parte dos filhos.

O Senhor ordenou que Moisés fosse falar com Faraó, dizendo-lhe que deixasse Israel sair do Egito. Haviam estado no Egito durante quatrocentos anos, e tinham estado em servidão aos egípcios. Haviam-se corrompido pela idolatria, e chegou o tempo em que Deus os chamou para fora do Egito, a fim de que pudessem obedecer a Suas leis e guardar o Seu sábado, que Ele instituíra no Éden. Com impressionante grandeza, proferiu para eles os Dez Mandamentos, do Monte Sinai, para que compreendessem o caráter sagrado e duradouro da lei e estabelecessem o fundamento de muitas gerações, ensinando a seus filhos a obrigatoriedade dos santos preceitos divinos.

Esta é a obra que nos compete realizar. Dos púlpitos das igrejas populares é proclamado que o primeiro dia da semana constitui o sábado do Senhor; mas Deus nos deu luz, mostrando-nos que o quarto preceito do Decálogo é realmente tão obrigatório como os outros nove preceitos morais. É nossa obra explicar para nossos filhos que o primeiro dia da semana não é o verdadeiro sábado e que a sua observância depois de nos ter vindo a luz a respeito de qual é o verdadeiro sábado, constitui idolatria e está em franca oposição à lei de


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Deus. A fim de dar-lhes instrução no tocante aos reclamos da lei de Jeová, é necessário que separemos nossos filhos das associações e influências mundanas e conservemos diante deles as Escrituras da verdade, educando-os regra sobre regra, preceito sobre preceito, para que não se mostrem desleais a Deus.

Os protestantes aceitaram o falso sábado, o filho do papado, e o têm exaltado acima do sagrado e santificado dia de Deus; e nossas instituições de ensino foram estabelecidas com a explícita finalidade de neutralizar a influência dos que não seguem a Palavra de Deus. Estas razões são suficientes para mostrar a necessidade de possuirmos nossas próprias instituições educacionais; pois devemos ensinar a verdade, e não ficções e falsidades. A escola deve completar a educação do lar; e, tanto no lar como na escola, precisa ser mantida a simplicidade da alimentação, do vestuário e das diversões. Deve ser criada uma atmosfera que não seja deletéria à natureza moral. Regra sobre regra, preceito sobre preceito, nossos filhos e nossas famílias devem ser educados para seguirem o caminho do Senhor, para colocarem-se firmemente ao lado da verdade e da justiça. Devemos manter uma posição contrária a toda espécie de enganos que confundem as pessoas neste século degenerado, em que o erro está encoberto e tão mesclado com a verdade que quase é impossível, para os que não se acham familiarizados com as distinções que as Escrituras fazem entre as tradições dos homens e a Palavra de Deus, distinguir a verdade do erro. Foi afirmado claramente que neste século "apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios". I Tim. 4:1.

Ao ser introduzida a verdade na vida prática, deve-se elevar a norma cada vez mais, para corresponder aos requisitos da Bíblia. Isto requererá oposição às modas, costumes, práticas e máximas do mundo. Influências mundanas, como as ondas do mar, chocam-se contra os seguidores de Cristo a fim de afastá-los dos verdadeiros princípios da mansidão e da graça de Cristo; mas devem permanecer tão firmes


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aos princípios como uma rocha. Requererá coragem moral fazer isso, e aqueles cuja alma não está firmada à Rocha eterna, serão arrebatados pela corrente mundana. Só podemos permanecer firmes se nossa vida está escondida com Cristo em Deus. A independência moral será totalmente adequada quando se opõe ao mundo. Sujeitando-nos inteiramente à vontade de Deus, seremos colocados em posição vantajosa e veremos a necessidade de decidida separação dos costumes e práticas do mundo. Não devemos elevar a nossa norma só bem pouco acima do mundo; e, sim, tornar a linha demarcatória decididamente manifesta.

Há na igreja muitos cujo coração pertence ao mundo, mas Deus insta com os que pretendem crer na verdade avançada a que se ergam acima da presente atitude das igrejas populares de hoje. Onde está a abnegação, onde está o ato de levar a cruz que Cristo disse deveria caracterizar os Seus seguidores? O motivo por que temos tido tão pouca influência sobre os parentes e amigos descrentes é havermos manifestado em nossas práticas pouca diferença decisiva das práticas do mundo. Os pais precisam despertar e purificar a alma pela prática da verdade em sua vida familiar. Quando atingirmos a norma que o Senhor deseja que atinjamos, as pessoas mundanas considerarão os adventistas do sétimo dia como extremistas esquisitos, singulares e austeros. "Somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens." I Cor. 4:9.

Achamo-nos sob o solene e sagrado compromisso para com Deus de educar nossos filhos, não para o mundo, não para porem suas mãos nas mãos do mundo, mas para amarem e temerem a Deus e para guardarem Seus mandamentos. Devemos instruí-los para trabalharem inteligentemente segundo as normas de Cristo, a fim de apresentarem elevado e nobre caráter cristão àqueles com os quais se associam. Por esta razão foram estabelecidas as nossas escolas, para que os jovens e as crianças sejam educados de tal maneira que exerçam no mundo uma influência para Deus. Por que, então, deveriam nossas escolas converter-se ao mundo e seguir seus costumes e modas? "Rogo-vos, pois,


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irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Rom. 12:1 e 2.

Quando os que atingiram a idade da juventude e da varonilidade não vêem diferença alguma entre nossas escolas e os colégios do mundo, e não têm preferência no tocante a qual deles irão freqüentar, embora o erro seja ensinado por preceito e exemplo nas escolas do mundo, é então necessário examinar acuradamente as razões que conduzem a semelhante conclusão. Nossas instituições de ensino podem pender para a conformidade mundana. Podem avançar passo a passo em direção ao mundo; são, porém, prisioneiros de esperança, e Deus as corrigirá e iluminará, trazendo-as de volta à sua honrada posição de separação do mundo. Estou observando com intenso interesse, esperando ver nossas escolas completamente imbuídas do espírito de religião pura e sem mácula. Quando estiverem assim imbuídos, os estudantes verão que há uma grande obra a ser feita segundo as normas de acordo com as quais Cristo trabalhava, e o tempo que eles têm dedicado às diversões será empregado para a realização de diligente trabalho missionário. Procurarão fazer o bem a todos quantos se acham ao seu redor, erguer almas curvadas em desalento e iluminar os que estão nas trevas do erro. Revestir-se-ão do Senhor Jesus Cristo e nada disporão para a carne, no tocante às suas concupiscências. Review and Herald, 9 de janeiro de 1894.

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