Fundamentos da Educação Cristã

CAPÍTULO 8

A Integridade de Daniel sob a Prova

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O profeta Daniel foi um personagem ilustre. Constituiu um brilhante exemplo do que os homens podem tornar-se quando unidos com o Deus de sabedoria. Um breve relato da vida deste santo homem de Deus ficou registrado para animação dos que mais tarde seriam chamados a suportar provas e tentações.

Quando o povo de Israel, seu rei, seus nobres e sacerdotes foram levados em cativeiro, quatro dentre eles foram escolhidos para servir na corte do rei de Babilônia. Um destes era Daniel, o qual, muito cedo, deu mostras da notável habilidade desenvolvida em anos posteriores. Estes jovens eram todos de nascimento principesco, e são descritos como "jovens em quem não houvesse defeito algum, formosos de aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e sábios em ciência, e entendidos no conhecimento". Dan. 1:4. Notando os talentos superiores destes jovens cativos, o rei Nabucodonosor determinou prepará-los para ocuparem importantes posições em seu reino. A fim de que pudessem tornar-se perfeitamente qualificados para sua vida na corte, de acordo com o costume oriental, eles deviam aprender a língua dos caldeus e submeter-se, durante três anos, a um curso completo de disciplina física e intelectual.

Os jovens nessa escola de preparo não só eram admitidos no palácio real, mas também se tomavam providências para que comessem da comida e bebessem do vinho que vinha da mesa do rei. Em tudo isto o rei considerava que não estava somente conferindo a eles grande honra, mas assegurando-lhes o melhor desenvolvimento físico e mental que poderia ser atingido.

Entre as iguarias colocadas diante do rei havia carne de porco e de outros animais que haviam sido declarados imundos pela lei de Moisés, e que os hebreus tinham sido expressamente proibidos de comer. Neste ponto Daniel deparou com uma severa prova. Aderiria aos ensinos de seus pais concernentes


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a comidas e bebidas, e ofenderia o rei, perdendo, provavelmente, não só sua posição, mas também a própria vida? ou desatenderia o mandamento do Senhor e reteria o favor do rei, assegurando assim grandes vantagens intelectuais e as mais lisonjeiras perspectivas mundanas?

Daniel não hesitou por muito tempo. Decidiu permanecer firme em sua integridade, fosse qual fosse o resultado. Assentou no seu coração "não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia". Dan. 1:8.

Hoje há entre os professos cristãos muitos que haveriam de julgar que Daniel era demasiado escrupuloso, e o sentenciariam como mesquinho e fanático. Eles consideram a questão do comer e beber como de muito pequena importância para exigir tão decidida resistência - tal que poderia envolver o sacrifício de todas as vantagens terrenas. Mas os que assim raciocinam, notarão no dia do juízo que se desviaram das expressas reivindicações de Deus e se apoiaram em sua própria opinião como norma para o que é certo e para o que é errado. Descobrirão que aquilo que lhes parecera sem importância não fora assim considerado por Deus. Suas reivindicações deveriam ter sido sagradamente obedecidas. Os que aceitam e obedecem a um de Seus preceitos porque lhes convém, ao passo que rejeitam a outro porque sua observância haveria de requerer sacrifício, rebaixam a norma do direito e, por seu exemplo, levam outros a considerarem levianamente a santa lei de Deus. "Assim diz o Senhor", deve ser nossa regra em todas as coisas.

Daniel foi submetido às mais severas tentações que podem assaltar os jovens de hoje; contudo, manteve-se leal para com a instrução religiosa recebida na infância. Ele estava cercado por influências que subverteriam os que vacilassem entre o princípio e a inclinação; todavia, a Palavra de Deus o apresenta como um caráter irrepreensível. Daniel não ousava confiar em seu poder moral. A oração era para ele uma necessidade. Fazia de Deus a sua força, e o temor do Senhor estava continuamente diante dele em todos os acontecimentos de sua vida.

Daniel possuía a graça da genuína mansidão. Era verdadeiro,


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firme e nobre. Procurava viver em paz com todos, sendo ao mesmo tempo inflexível como o cedro altaneiro, no que quer que envolvesse princípio. Em tudo que não entrasse em colisão com sua fidelidade a Deus, era respeitoso e obediente para com aqueles que sobre ele tinham autoridade; possuía, porém, tão elevado conceito das exigências de Deus que as de governadores terrenos se lhes subordinavam. Ele não seria induzido por nenhuma consideração egoísta a desviar-se de seu dever.

O caráter de Daniel é apresentado ao mundo como um admirável exemplo do que a graça de Deus pode fazer de homens caídos por natureza e corrompidos pelo pecado. O registro de sua vida nobre, abnegada, é uma animação para a humanidade em geral. Dela podemos reunir força para resistir nobremente à tentação e, firmemente e na graça da mansidão, suster-nos pelo direito sob a mais severa provação.

Daniel poderia haver encontrado uma desculpa plausível para desviar-se de seus estritos hábitos de temperança; mas a aprovação de Deus era para ele mais cara do que o favor do mais poderoso potentado terreno - mais cara mesmo do que a própria vida. Havendo, por sua conduta cortês, obtido o favor de Melzar - o oficial que tinha a seu cargo os jovens hebreus - Daniel pediu que lhes concedesse não precisarem comer as iguarias da mesa do rei, nem beber de seu vinho. Melzar temia que, condescendendo com este pedido, poderia incorrer no desagrado do rei, e assim pôr em perigo sua própria vida. Semelhante a muitos presentemente, ele pensava que um regime moderado faria que esses jovens ficassem pálidos e de aparência doentia, e deficientes na força muscular, ao passo que o abundante alimento da mesa do rei os tornaria corados e belos, e promoveria a atividade física e mental.

Daniel pediu que a questão se decidisse por uma prova de dez dias, sendo permitido aos jovens hebreus, durante esse breve período, comer um alimento simples, enquanto seus companheiros participavam das guloseimas do rei. A petição foi, finalmente, deferida e, então, Daniel sentiu-se seguro de que havia ganho sua causa.


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Conquanto jovem, havia visto os danosos efeitos do vinho e de um viver luxuoso sobre a saúde física e mental.

Ao fim dos dez dias achou-se que o resultado era exatamente o contrário das expectativas de Melzar. Não somente na aparência pessoal, mas em atividade física e vigor mental, os que haviam sido temperantes em seus hábitos exibiram uma notável superioridade sobre seus companheiros que condescenderam com o apetite. Como resultado dessa prova, a Daniel e seus companheiros foi permitido continuarem seu regime simples durante todo o curso de seu preparo para os deveres do reino.

O Senhor recompensou com aprovação a firmeza e renúncia desses jovens hebreus, e Sua bênção os acompanhou. Ele lhes "deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras e sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em toda visão e sonhos". Dan. 1:17. Ao expirarem os três anos de preparo, quando sua habilidade e seus conhecimentos foram examinados pelo rei, "entre todos eles não foram achados outros tais como Daniel, Hananias, Misael e Azarias; por isso permaneceram diante do rei. E em toda matéria de sabedoria e de inteligência, sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos ou astrólogos que havia em todo o seu reino". Dan. 1:19 e 20.

A vida de Daniel é uma inspirada ilustração do que constitui um caráter santificado. Apresenta uma lição para todos e especialmente para os jovens. A estrita submissão aos reclamos de Deus é benéfica à saúde do corpo e da alma. A fim de atingir a mais elevada norma de aquisições morais e intelectuais, é necessário buscar sabedoria e força de Deus e observar estrita temperança em todos os hábitos da vida. Na experiência de Daniel e seus companheiros, temos um exemplo da vitória do princípio sobre a tentação para condescender com o apetite. Ela mostra que, por meio do princípio religioso, os jovens podem triunfar sobre as concupiscências da carne, e permanecer leais aos reclamos de Deus, embora lhes custe grande sacrifício.

Que seria de Daniel e seus companheiros se houvessem transigido com aqueles oficiais pagãos e cedido à pressão


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das circunstâncias, comendo e bebendo como era costume entre os babilônios? Esse único exemplo de desvio dos princípios teria debilitado sua consciência do dever e da aversão ao mal. A condescendência com o apetite teria envolvido o sacrifício do vigor físico, a clareza do intelecto e o poder espiritual. Um passo errado teria, provavelmente, levado a outros, até que, interrompendo sua conexão com o Céu, teriam sido arrastados pela tentação.

Disse Deus: "Aos que Me honram honrarei." I Sam. 2:30. Enquanto Daniel se apegava a Deus com firme confiança, o Espírito de poder profético vinha sobre ele. Enquanto era instruído pelos homens nos deveres da vida na corte, era por Deus ensinado a ler os mistérios dos séculos futuros e a apresentar às gerações vindouras, por meio de figuras e símbolos, as coisas maravilhosas que se dariam nos últimos dias. Signs of the Times, 28 de setembro de 1882.

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