Pensamentos Sobre Educação
Nenhuma obra já empreendida pelo homem requer maior cuidado e habilidade do que o devido ensino e educação dos jovens e das crianças. Não há influências tão poderosas como as que nos cercam em nossos primeiros anos. Diz o sábio: "Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele." Prov. 22:6. A natureza do homem é tríplice, e o ensino recomendado por Salomão abrange o devido desenvolvimento das faculdades físicas, intelectuais e morais. Para poderem realizar corretamente essa obra, pais e professores devem compreender eles mesmos "o caminho em que a criança deve andar". Isso envolve mais do que o conhecimento de livros ou o aprendizado das escolas. Abrange a prática da temperança, da bondade fraternal e da piedade; o desempenho de nossos deveres para com nós mesmos, para com os nossos semelhantes e para com Deus.
Deve o ensino das crianças ser dirigido num princípio diferente do que governa o ensino de animais irracionais. Os animais devem apenas ser acostumados a submeter-se a seu dono, mas a criança deve ser ensinada a dominar-se. A vontade precisa ser ensinada a obedecer aos ditames da razão e da consciência. Pode a criança ser tão disciplinada que, como o animal, não tenha vontade própria, perdendo-se a sua individualidade na do mestre. Tal ensino é insensato, e desastrosos os seus efeitos. As crianças assim educadas, serão deficientes na firmeza e decisão. Não são ensinadas a agir por princípio; a faculdade do raciocínio não é fortalecida pelo exercício. Tanto quanto possível, deve cada criança ser ensinada a ter confiança em si mesma. Pondo em exercício as várias faculdades, aprenderá onde é mais forte e em que é deficiente. O instrutor sábio dará especial atenção ao desenvolvimento dos traços mais fracos, para que a criança possa formar um caráter bem equilibrado e harmonioso.
Em algumas escolas e famílias, as crianças parecem bem
educadas, enquanto se acham sob a disciplina imediata, mas quando o sistema que as manteve apegadas a regras estabelecidas se desfaz, parecem ser incapazes de pensar, agir ou decidir por si mesmas. Se houvessem sido ensinadas a exercer seu juízo prontamente e ao máximo, o mal teria sido evitado. Foram, porém, dominadas por tanto tempo pelos pais ou professores, que dependem inteiramente deles. O que procura fazer com que a individualidade de seus alunos venha a imergir na dele, de modo que a razão, o juízo e a consciência sejam submetidos a seu controle, assume desautorizada e tremenda responsabilidade. Os que ensinam os alunos a sentir que neles está o poder para se tornarem homens e mulheres honrados e úteis, serão os que têm êxito mais permanente. Talvez sua obra não se mostre ao descuidoso observador sob o aspecto mais vantajoso, nem seja tão altamente apreciada como a do mestre que mantém absoluto controle, mas a vida futura dos alunos manifestará os resultados do melhor sistema de educação.
Há perigo de tanto os pais como os professores comandarem e ditarem demasiadamente, ao passo que deixam de se pôr suficientemente em relações sociais com os filhos e alunos. Mantêm-se muito reservados, e exercem sua autoridade de maneira fria, destituída de simpatia, que tende a repelir, ao invés de conquistar a confiança e a afeição. Caso reunissem os filhos com mais freqüência bem junto a si, e manifestassem interesse em suas atividades, e mesmo em suas brincadeiras, conquistariam o amor e a confiança dos pequeninos, e a lição de respeito e obediência seria aprendida com muito mais facilidade; pois o amor é o melhor mestre. Um interesse similar manifestado aos jovens produzirá os mesmos resultados. O coração da juventude é pronto em responder ao toque de simpatia.
Nunca se deve esquecer que o professor tem de ser o que deseja que os seus alunos se tornem. Por conseguinte, seus princípios e hábitos devem ser considerados como tendo até maior importância do que suas habilitações intelectuais. Deve ser um homem que teme a Deus e sinta a responsabilidade de Sua obra. Deve compreender
a importância do preparo físico, mental e moral, e dar a devida atenção a cada um deles. Quem deseja controlar os alunos precisa controlar primeiro a si mesmo. Para granjear-lhes o amor, deve mostrar pela fisionomia, palavras e atos que seu coração se acha repleto de amor por eles. Ao mesmo tempo, porém, firmeza e decisão são indispensáveis na obra de formar hábitos corretos e desenvolver caráter nobre.
O preparo físico deve ocupar um lugar importante em todo sistema de educação. É dever dos pais e professores relacionar-se com o organismo humano e as leis pelas quais é governado, e, tanto quanto possível, assegurar a seus filhos e alunos a maior de todas as bênçãos terrenas: "Mente sã em corpo são." Morrem anualmente milhares de crianças, e muitas outras são deixadas para levar uma vida de infortúnio, talvez de pecado, devido à ignorância ou negligência de pais e professores.
Muitas mães gastam horas e mesmo dias em trabalho desnecessário, meramente para ostentação, e não têm tempo para obter a informação necessária que as habilite a preservar a saúde de seus filhos. Entregam o corpo dos filhos aos cuidados do médico, e a alma aos cuidados do pastor, para que possam continuar tranqüilamente a prestar culto à moda. Familiarizar-se com o maravilhoso mecanismo do corpo humano, compreender a dependência de um órgão para com outro, para salutar atividade de todos, é uma ocupação em que não têm interesse. Pouco sabem acerca da influência recíproca da mente e do corpo. A própria mente, esse maravilhoso dom que une o finito com o infinito, não é compreendida por elas.
Por gerações, o sistema de educação popular, especialmente para as crianças, tem sido prejudicial à saúde e à própria vida. Crianças novas têm passado cinco ou até seis horas por dia em salas mal ventiladas ou sem suficiente largueza para a saudável acomodação dos alunos. O ar dessas salas fica em breve envenenado para os pulmões que o inalam. E ali os pequeninos, com um corpo ativo e
inquieto, e uma mente não menos ativa e inquieta, têm permanecido ociosos durante os longos dias de verão, quando o belo mundo exterior os convidava a colher saúde e felicidade com os pássaros e as flores. Muitas crianças têm, quando muito, uma tênue ligação com a vida. O confinamento na escola torna-as nervosas e doentias. Seu corpo definha por falta de exercício e por exaustão do sistema nervoso. Se a lâmpada da vida se apaga, pais e professores nem sequer suspeitam que tiveram algo que ver com a extinção da centelha vital. Essa dolorosa perda é considerada como especial determinação da Providência, quando a verdade é que inescusável ignorância e negligência das leis naturais destruíram a vida dessas crianças. Era desígnio de Deus que vivessem fruindo saúde e vigor, para desenvolver um caráter puro, nobre e belo, para glorificá-Lo nesta vida e para louvá-Lo eternamente na vida futura.
Quem pode calcular o número de vidas que têm sido arruinadas por cultivar as faculdades intelectuais em detrimento das faculdades físicas? A atitude de pais e mestres imprudentes, estimulando a mente da juventude por meio de lisonja ou temor, tem sido fatal para muitos alunos promissores. Em vez de incitá-los com todos os incentivos possíveis, o mestre sensato reprimirá um pouco a mente demasiado ativa, até que a constituição física se torne suficientemente forte para suportar o esforço mental.
Para que os jovens possam ter saúde e alegria, que dependem do normal desenvolvimento físico e mental, deve-se ter o cuidado de regular devidamente o estudo, o trabalho e a recreação. Os que se aplicam ao estudo em detrimento do exercício físico, prejudicam a saúde ao fazer isso. Há um desequilíbrio na circulação, recebendo o cérebro sangue em demasia, e as extremidades muito pouco. Seus estudos devem ser limitados a um número apropriado de horas, dedicando-se então o tempo a trabalho ativo ao ar livre.
Às crianças deve-se permitir correr e brincar fora de casa, desfrutando o ar fresco e puro, e a vivificante luz solar.
Estabeleça-se no começo da vida o fundamento de uma forte constituição física. Os pais devem ser os únicos professores de seus filhos até atingirem oito ou dez anos de idade. Tenha a mãe menos cuidado pelo que é artificial, recuse dedicar suas faculdades à escravidão do exibicionismo da moda, e reserve tempo para cultivar em si mesma e nos filhos o amor pelas belas coisas da Natureza. Chame a atenção deles para as glórias difundidas nos céus, para os milhares de belas formas que adornam a Terra, e fale então para eles a respeito dAquele que criou tudo isso. Poderá conduzir assim sua tenra mente para o Criador e despertar em seu coração reverência e amor para com o Doador de todas as bênçãos. Os campos e as colinas - a sala de audiências da Natureza - devem ser a sala de aula das crianças; os tesouros naturais, seu livro. As lições assim inculcadas na mente deles não serão esquecidas com facilidade.
As obras de Deus na Natureza encerram lições de sabedoria e dons de cura para todos. As variegadas cenas das estações periódicas apresentam constantemente novos indícios de Sua glória, de Seu poder e amor. Seria bom que os estudantes mais velhos, enquanto se esforçam por adquirir as habilidades e a cultura dos homens, também buscassem mais da sabedoria de Deus - aprender mais acerca das leis divinas, tanto naturais como morais. Na obediência a essas leis há vida e felicidade, neste mundo e no mundo por vir. Review and Herald, 10 de janeiro de 1882.