Fundamentos da Educação Cristã

CAPÍTULO 50

O Mestre Divino

FEC - Pag. 397  

Os que aprendem diariamente de Jesus Cristo estão preparados para ocupar sua posição como cooperadores de Deus, e qualquer que seja o seu ofício ou profissão, podem empregar as faculdades que lhes foram dadas por Deus à semelhança do caráter de Cristo enquanto habitou na carne. Os jovens levarão consigo exatamente a influência que receberam em sua vida doméstica e na educação escolar. Deus considera os professores responsáveis por sua obra como educadores. Precisam aprender diariamente na escola de Cristo, a fim de elevar os jovens que tiveram frouxa disciplina no lar, que não formaram bons hábitos de estudo, que possuem pouco conhecimento da futura vida imortal, pela qual foi pago o mais alto preço pelo Deus do Céu ao dar Seu Filho unigênito para levar uma vida de humilhação e sofrer a morte mais ignominiosa, "para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:15.

Deus nos concede um tempo de graça em que podemos preparar-nos para a escola mais elevada. Os jovens devem ser educados, disciplinados e preparados para essa escola pela formação de um caráter moral e intelectual que seja aprovado por Deus. Não devem receber um preparo nos costumes, diversões e jogos desta corrompida sociedade mundana, e, sim, nas normas de Cristo - um preparo que os habilite a ser cooperadores dos seres celestiais. Que grande farsa é, porém, a educação obtida nos ramos literários, se tiver de ser tirada do estudante para que seja considerado digno de tomar posse daquela vida que se compara com a vida de Deus, sendo ele mesmo salvo como que através do fogo!

No passado, a educação consistia em encher laboriosamente o cérebro dos estudantes com assuntos que não podem ter a menor utilidade para eles e que não serão reconhecidos na escola mais elevada. Os mestres da nação judaica pretendiam ensinar os jovens a compreender a pureza e a excelência das leis daquele reino que permanecerá para todo o sempre,


FEC - Pag. 398  

mas deturparam a verdade e a pureza. Embora dissessem de si mesmos: "Templo do Senhor, templo do Senhor é este" (Jer. 7:4), crucificaram o Originador de todo o sistema judaico, para o qual apontavam todas as suas cerimônias. Deixaram de discernir o velado mistério da piedade; Cristo Jesus permaneceu oculto para eles. A verdade, a vida, o centro de todo o seu ritual, foi rejeitado. Eles mantinham, e ainda mantêm, simplesmente as cascas, as sombras, as figuras que simbolizavam o verdadeiro. Uma figura designada para aquele tempo, a fim de que pudessem discernir o verdadeiro, tornou-se tão deturpada por suas próprias invenções, que se lhes cegaram os olhos. Não compreenderam que o tipo encontrou o antítipo na morte de Jesus Cristo. Quanto maior sua deturpação de figuras e símbolos, tanto mais confusa ficou a sua mente, de modo que não puderam ver o perfeito cumprimento do sistema judaico, instituído e estabelecido por Cristo, e apontando para Ele como sendo sua essência. Comidas e bebidas e diversas ordenanças foram multiplicadas até que a religião cerimonial constituiu sua única forma de culto.

Em Seus ensinos, Cristo procurou educar e ensinar os judeus a ver a finalidade daquilo que seria abolido pelo verdadeiro sacrifício dEle mesmo, o sacrifício vivo. "Ide, porém - disse Ele - e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício." Mat. 9:13. Cristo apresentou o caráter puro como de suprema importância. Dispensou toda a ostentação, requerendo a fé que atua por amor e purifica a alma, como único requisito para o reino do Céu. Ele ensinou que a religião verdadeira não consiste em formas ou cerimônias, atrativos ou exibições exteriores. Cristo teria adotado tudo isso em Sua própria vida, se fosse essencial na formação de um caráter à semelhança divina. Sua cidadania, Sua autoridade divina baseavam-se, porém, em Seus próprios méritos intrínsecos. Ele, a Majestade do Céu, andou na Terra envolto no manto da humanidade. Todos os Seus atrativos e triunfos deviam ser manifestados em favor do homem e testificar de Sua viva ligação com Deus.


FEC - Pag. 399  

A predição de Cristo acerca da destruição do templo era uma lição sobre a purificação religiosa, pelo fato de tornar sem efeito formas e cerimônias. Ele Se declarou maior do que o templo e distinguiu-Se ao proclamar: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida." João 14:6. Era Aquele no qual todo o cerimonial judaico e o serviço típico encontrariam o cumprimento. Ele distinguiu-Se em lugar do templo; todas as funções da igreja centralizavam-se unicamente nEle.

No passado, os homens aproximaram-se de Cristo por meio de formas e cerimônias, mas agora Ele estava sobre a Terra, chamando a atenção diretamente para Si mesmo, apresentando um sacerdócio espiritual e colocando o pecaminoso instrumento humano junto ao estrado da misericórdia. "Pedi, e dar-se-vos-á", Ele prometeu; "buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á." Luc. 11:9. "Se pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu o farei. Se Me amardes, guardareis os Meus mandamentos." João 14:14 e 15. "Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda, este é o que Me ama; ... e Eu o amarei e Me manifestarei a ele." João 14:21. "Como o Pai Me amou, também Eu vos amei a vós; permanecei no Meu amor. Se guardardes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor, do mesmo modo que Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai e permaneço no Seu amor." João 15:9 e 10.

Cristo transmitiu estas lições em Seus ensinos, mostrando que o serviço cerimonial estava passando e não possuía virtude alguma. "A hora vem, - disse Ele - e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim O adorem. Deus é espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade." João 4:23 e 24. A verdadeira circuncisão é a adoração de Cristo em espírito e em verdade, não em formas e cerimônias, com pretensão hipócrita.

A profunda necessidade humana de um mestre divino era conhecida no Céu. A piedade e a simpatia de Deus foram exercidas em favor do homem caído e atado ao carro de Satanás; e quando veio a plenitude do tempo, Ele enviou Seu Filho.


FEC - Pag. 400  

Aquele que fora designado nos conselhos do Céu veio à Terra como instrutor. Ele não era nada menos do que o Criador do mundo, o Filho do Deus Infinito. A rica benevolência de Deus deu-O a nosso mundo; e para satisfazer às necessidades da humanidade, Ele assumiu a natureza humana. Para assombro do exército celestial, Ele andou na Terra como a Palavra Eterna. Estando plenamente preparado, deixou as cortes reais para vir a um mundo arruinado e corrompido pelo pecado. Ele uniu-Se misteriosamente à natureza humana. "O Verbo Se fez carne e habitou entre nós." João 1:14. O excesso de bondade, benevolência e amor da parte de Deus foi uma surpresa para o mundo, de graça que podia ser compreendida, mas não declarada.

O fato de que Cristo, durante Sua infância, crescesse em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens, não era motivo de admiração, pois estava de acordo com as leis de Sua designação divina que Seus talentos se desenvolvessem e Suas faculdades se fortalecessem pelo uso. Ele não procurou as escolas dos profetas nem a cultura transmitida pelos mestres rabínicos; não necessitava da educação obtida nessas escolas, pois Deus era o Seu Instrutor. Quando na presença de mestres e maiorais, Suas perguntas eram lições instrutivas, e surpreendia os grandes homens com Sua sabedoria e perspicácia. Suas respostas às interrogações feitas por eles descerravam campos de idéias sobre assuntos referentes à missão de Cristo que nunca antes lhes haviam penetrado na mente.

A quantidade de sabedoria e o conhecimento científico que Cristo revelava em presença dos sábios eram motivo de surpresa para Seus pais e irmãos, pois sabiam que jamais recebera dos grandes mestres instrução na ciência humana. Seus irmãos ficavam perturbados com Suas perguntas e respostas porque percebiam que Ele era um instrutor para os doutos mestres. Não podiam compreendê-Lo, pois não sabiam que tinha acesso à árvore da vida, uma fonte de conhecimento da qual nada sabiam. Ele sempre possuía uma dignidade e individualidade peculiares, distintas do


FEC - Pag. 401  

orgulho ou da presunção mundana, pois não Se esforçava por obter grandezas.

Depois que Cristo condescendera em deixar Seu excelso domínio, descer de uma altura infinita e assumir a forma humana, poderia haver adotado qualquer condição da humanidade que preferisse; mas grandeza e posição nada eram para Ele, e escolheu o modo de vida mais baixo e humilde. Belém foi o lugar de Seu nascimento; e, de um lado, Sua linhagem era pobre, mas Seu Pai era Deus, o Possuidor do mundo. Nenhum vestígio de luxo, comodidade, satisfação ou condescendência egoísta foi introduzido em Sua vida, a qual era uma constante rotina de abnegação e sacrifício pessoal. Em conformidade com o Seu nascimento humilde, Ele não teve, evidentemente, grandezas ou riquezas, para que o crente mais humilde não possa dizer que Cristo jamais experimentou a tensão de angustiante pobreza. Se Ele possuísse o aspecto de alarde exterior, de riquezas, de magnificência, a classe mais pobre da humanidade teria evitado Sua companhia; Ele escolheu, portanto, a condição inferior da grande maioria das pessoas. A verdade de origem celeste seria Seu assunto; competia-Lhe semear a verdade na Terra; e veio de tal maneira que fosse acessível a todos, para que unicamente a verdade causasse uma impressão sobre os corações humanos.

O contentamento de Cristo em qualquer circunstância irritava Seus irmãos. Eles não podiam explicar a razão de Sua paz e serenidade; e nenhuma persuasão da parte deles podia induzi-Lo a participar de quaisquer planos ou medidas que dessem a impressão de trivialidade ou de culpa. Em todas essas ocasiões, Ele afastava-Se deles, afirmando claramente que desviariam a outros e não eram dignos de ser filhos de Abraão. Teve de dar tal exemplo para que as criancinhas, os membros mais novos da família do Senhor, nada pudessem ver em Sua vida ou caráter que justificasse algum mau ato. Você é muito meticuloso e esquisito, diziam os membros de Sua própria família. Por que não é como as outras crianças? Mas isso não era possível, porque Cristo devia ser um sinal e um prodígio desde a Sua juventude, no que dizia respeito a rigorosa obediência e integridade.


FEC - Pag. 402  

Sendo sempre bondoso, cortês, e apoiando sempre os oprimidos, quer fossem judeus ou gentios, Cristo era amado por todos. Mediante Sua vida e caráter perfeitos, Ele respondeu à pergunta feita no salmo quinze: "Senhor, quem, habitará no Teu tabernáculo? Quem morará no Teu santo monte? Aquele que anda em sinceridade, e pratica a justiça, e fala verazmente segundo o seu coração." Sal. 15:1 e 2. Na infância e na juventude, Sua conduta era de tal natureza que pôde dizer a Seus discípulos quando Se empenhou na obra como Mestre: "Se guardardes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor, do mesmo modo que Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai e permaneço no Seu amor." João 15:10.

À medida que Cristo avançava em idade, prosseguia a obra iniciada em Sua infância, e Ele continuava a crescer em sabedoria e em graça para com Deus e os homens. Não tomava o partido de Sua própria família meramente porque estavam ligados a Ele pelos laços naturais; não defendia o seu caso nenhuma vez em que fossem culpados de injustiça ou erro; sempre defendia, porém, o que sabia ser verdade.

Cristo aplicava-Se diligentemente ao estudo das Escrituras, pois sabia que estavam repletas de preciosas instruções para todos os que quisessem torná-las seu conselheiro. Ele era fiel no desempenho de Seus deveres domésticos, e as primeiras horas da manhã, em vez de serem desperdiçadas na cama, muitas vezes O encontravam num lugar solitário, meditando, examinando as Escrituras e orando. Toda profecia referente a Sua obra e mediação Lhe era familiar, especialmente as que diziam respeito a Sua humilhação, expiação e intercessão. Na infância e juventude, sempre estava diante dEle, o propósito de Sua vida, como incentivo para que empreendesse a obra de mediar em favor do homem caído. Ele veria uma posteridade que prolongaria os seus dias, e o bom prazer do Senhor prosperaria nas Suas mãos.

"Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos,


FEC - Pag. 403  

com paciência, a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, Autor e Consumador da fé, o qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus." Heb. 12:1 e 2. Cristo estudou tais assuntos em Sua juventude, e o Universo celestial olhava com interesse para Aquele que, em troca da alegria que Lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia. Oferecendo-Se, a Si mesmo para fazer intercessão pelas transgressões da humanidade, Cristo desempenhou a função de sacerdote. Como recompensa, veria o fruto do penoso trabalho de Sua alma, e ficaria satisfeito. Sua posteridade prolongaria para sempre os seus dias na Terra. "Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá." Êxo. 20:12. Por Sua obediência a Seu pai e a Sua mãe, Cristo foi um exemplo para todas as crianças e jovens; hoje em dia, porém, as crianças não seguem o exemplo dado por Ele, e o infalível resultado será o encurtamento de seus dias.

"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nEle, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e em amor nos predestinou para Ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de Sua vontade." Efés. 1:3-5. Antes de serem lançados os fundamentos da Terra, foi feito o concerto de que todos os que fossem obedientes, todos os que, por meio da abundante graça provida, se tornassem santos no caráter e sem culpa diante de Deus, apropriando-se dessa graça, seriam filhos de Deus. Este concerto, feito desde a eternidade, foi dado a Abraão centenas de anos antes da vinda de Cristo. Com que interesse e com que ardor Cristo na humanidade estudava os seres humanos para ver se eles se apoderariam da provisão oferecida!

"E a vida eterna é esta: que conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste." João 17:3. Estas palavras


FEC - Pag. 404  

abrem os olhos de todos os que querem ver. O conhecimento de Deus é um conhecimento que não precisará ser deixado para trás quando findar o nosso tempo de graça, um conhecimento do mais duradouro benefício para o mundo e para nós individualmente. Por que, então, devemos pôr a Palavra de Deus em segundo plano, se ela é sabedoria para salvação? "Portanto, convém-nos atentar, com mais diligência, para as coisas que já temos ouvido, para que, em tempo algum, nos desviemos delas. Porque, se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda a transgressão e desobediência recebeu a justa retribuição, como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação"? Heb. 2:1-3. Estamos negligenciando a nossa salvação se damos o lugar mais proeminente e a mais devota consideração a autores que têm apenas uma idéia confusa acerca do significado da religião, e se relegamos a Bíblia a uma posição secundária. Os que têm sido iluminados com referência à verdade para estes últimos dias não encontrarão instrução a respeito das coisas que sobrevirão a nosso mundo nos livros que geralmente são estudados hoje em dia; a Bíblia, porém, está repleta do conhecimento de Deus, e é apta a educar o estudante para a utilidade nesta vida e para a vida eterna.

Estudai atentamente o primeiro capítulo de Hebreus. Tornai-vos interessados nas Escrituras. Lede-as e estudai-as diligentemente. "Cuidais ter nelas a vida eterna", disse Cristo, "e são elas que de Mim testificam." João 5:39. Ter um conhecimento experimental e individual de Deus e de Jesus Cristo, "a quem Ele enviou", significa tudo para nós. "E a vida eterna é esta: que conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste." João 17:3. Special Testimonies on Education, 23 de março de 1896.

<< Capítulo Anterior Próximo Capítulo >>