Na escolha de um lar, os pais não devem ser governados meramente por considerações temporais. Isso não é em absoluto uma questão do lugar em que possam ganhar muito dinheiro, ou onde terão os arredores mais aprazíveis ou as maiores vantagens sociais. As influências que rodearão os seus filhos, impelindo-os para o bem ou para o mal, são mais importantes do que qualquer dessas considerações. Ao escolherem um lugar de residência, repousa sobre os pais a mais solene responsabilidade. Tanto quanto possível, devem colocar suas famílias no conduto de luz, onde suas afeições permaneçam puras e seu amor a Deus e de uns aos outros se mantenha ativo. O mesmo princípio se aplica à localização de nossas escolas, onde se reunirão os jovens e serão atraídas famílias por causa das vantagens educacionais.
Não se devem poupar esforços no sentido de escolher locais para nossas escolas em que a atmosfera moral seja tão salutar quanto possível; pois as influências predominantes causarão profunda impressão sobre os jovens caracteres em formação. Por esta razão é melhor um local retirado. As grandes cidades, os centros de comércio e de cultura talvez pareçam apresentar algumas vantagens; mas essas vantagens são excedidas por outras considerações.
A sociedade no tempo presente é corrupta, assim como foi nos dias de Noé. Deus concedeu ricos dons à longeva raça antediluviana, a apenas um passo do paraíso, e eles possuíam um vigor físico e mental de que os homens têm agora somente uma pálida idéia; as generosidades divinas e a força e a habilidade que Deus lhes deu foram porém usadas para fins egoístas, para satisfazer a apetites ilícitos e para condescender com o orgulho. Eles baniram a Deus de seus pensamentos; desprezaram Sua lei; calcaram aos pés Sua norma de caráter. Regalaram-se em prazeres pecaminosos, corrompendo seus caminhos diante de Deus, e uns aos outros. A violência e o crime enchiam a Terra. Não era respeitada a relação
matrimonial nem os direitos de propriedade; e os clamores dos oprimidos penetraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Contemplando o mal, os homens transformaram-se à sua imagem, até que Deus não pôde mais tolerar a sua perversidade, e eles foram destruídos pelo Dilúvio.
Os jovens educados nas grandes cidades estão rodeados de influências semelhantes às que prevaleciam antes do Dilúvio. Os mesmos princípios de desconsideração a Deus e Sua lei; o mesmo amor aos prazeres, à satisfação egoísta, e ao orgulho e à vaidade, atuam no tempo presente. O mundo está entregue aos prazeres; prevalece a imoralidade; são menosprezados os direitos dos fracos e desamparados; e, por todo o mundo, as grandes cidades rapidamente se estão tornando focos de iniqüidade.
O amor aos prazeres é um dos mais perigosos, porque é uma das mais sutis dentre as muitas tentações que assaltam as crianças e os jovens nas cidades. Os feriados são numerosos; os jogos e as corridas de cavalos atraem milhares de pessoas, e o turbilhão da agitação e do prazer desviam-nos dos sóbrios deveres da vida. O dinheiro que deveria ter sido economizado para melhores finalidades - em muitos casos o escasso ordenado dos pobres - é desperdiçado em diversões.
O contínuo anseio por diversões agradáveis revela os profundos desejos da alma. Mas os que bebem dessa fonte de prazer mundano acharão que continua ainda insatisfeita a sede de sua alma. Eles estão enganados; confundem alegria com felicidade; e quando cessa a agitação, muitos caem nas profundezas do desânimo e desespero. Oh! que desatino, que loucura, abandonar o "Manancial de águas vivas" pelas "cisternas rotas" (Jer. 2:13) do prazer mundano! Sentimos nas profundezas da alma o perigo que circunda os jovens nestes últimos dias; e não deverão os que vêm até nós em busca de uma educação, e as famílias que são atraídas para nossas escolas, ser afastados, até onde for possível, dessas influências sedutoras e desmoralizantes?
Ao escolher locais afastados para nossas escolas, nem por
um momento imaginamos estar colocando os jovens fora do alcance da tentação. Satanás é um trabalhador muito diligente, e não se cansa em inventar maneiras de corromper todo espírito que se abre às suas insinuações. Ele enfrenta famílias e indivíduos em seu terreno, adaptando as tentações às suas inclinações e debilidades. Mas, nas grandes cidades, seu poder sobre as mentes é maior, e suas redes para prender os pés dos descuidados são mais numerosas. Devem ser providas grandes extensões de terra em conexão com nossas escolas. Há alguns estudantes que nunca aprenderam a economizar, e sempre gastaram todo centavo que puderam obter. Estes não devem ser excluídos dos meios de adquirir uma educação. Deve-se-lhes dar uma ocupação, e mesclar o estudo dos livros com o aprendizado de hábitos de operosidade e parcimônia. Aprendam a apreciar a necessidade de ajudarem a si mesmos.
Deve haver trabalho para todos os alunos, quer sejam ou não capazes de pagar seu estipêndio; tanto as faculdades físicas como as mentais devem receber a devida atenção. Os alunos precisam aprender a cultivar a terra, pois isto os colocará em íntimo contato com a Natureza.
Na Natureza há uma influência refinadora e suavizante que deve ser levada em consideração na escolha do local para a escola. Deus tem acatado este princípio ao preparar homens para Sua obra. Moisés passou quarenta anos nos desertos de Midiã. João Batista não foi habilitado para sua alta vocação como precursor de Cristo pela associação com os grandes homens do país, nas escolas de Jerusalém. Ele foi para o deserto, onde os costumes e as doutrinas dos homens não podiam moldar-lhe a mente, e onde pudesse manter ininterrupta comunhão com Deus.
Quando os perseguidores de João, o discípulo amado, procuraram silenciar-lhe a voz e destruir sua influência entre o povo, baniram-no para a ilha de Patmos. Mas não puderam separá-lo do Divino Mestre. Na solitária ilha de Patmos João podia estudar as coisas que Deus havia criado. Nas
rochas escabrosas, nas águas que circundavam a ilha, podia ver a grandeza e majestade de Deus. E enquanto comungava com Deus e estudava o livro da Natureza, ouviu uma voz a lhe falar - a voz do Filho de Deus. Jesus foi o Mestre de João na ilha de Patmos, e Ele revelou ali a Seu servo maravilhosas coisas que ocorreriam no porvir.
Deus quer que apreciemos Suas bênçãos nas obras criadas por Ele. Quantas crianças nas cidades apinhadas nem sequer possuem um pequeno gramado sobre que colocar os pés. Caso pudessem ser educadas no campo, entre a formosura, paz e pureza do mundo natural, teriam a impressão de estar bem perto do Céu. Nos lugares retirados, onde nos encontramos bem longe dos corrompidos preceitos, costumes e agitações do mundo, e bem perto do coração da Natureza, Cristo torna Sua presença real para nós e fala à nossa alma de Sua paz e amor. Special Testimonies on Education, 11 de maio de 1896.