Fundamentos da Educação Cristã

CAPÍTULO 52

Educação Manual

FEC - Pag. 416  

Educação Manual

Ensinai-lhes a pensar que, como membros da família, devem desempenhar uma parte interessada e útil em partilhar as responsabilidades domésticas, e procurar exercício saudável na realização dos necessários deveres do lar.

A vida não nos foi dada para ser passada em ociosidade ou satisfação própria. Grandes possibilidades são postas diante de todos os que desenvolverem as aptidões que lhes foram concedidas por Deus. Por esta razão o preparo dos jovens é um assunto de suma importância. Toda criança nascida no lar é um depósito sagrado. Deus diz aos pais: Tomai esta criança e criai-a para Mim, a fim de que venha a ser uma honra ao Meu nome, e um conduto através do qual Minhas bênçãos possam fluir para o mundo. Habilitar a criança para uma vida assim, requer algo mais que uma educação parcial, unilateral, que desenvolva as faculdades mentais com prejuízo das físicas. Todas as faculdades da mente e do corpo precisam ser desenvolvidas; e esta é a obra que os pais, auxiliados pelo professor, devem fazer pelas crianças e os jovens colocados sob o seu cuidado.

As primeiras lições têm grande importância. É costume enviar crianças muito novas à escola. Exige-se delas estudarem nos livros coisas que sobrecarregam a mente infantil, e é-lhes muitas vezes ensinada a música. Com freqüência os pais não dispõem senão de pequenos recursos, incorrendo em uma despesa que mal se podem permitir, mas tudo precisam fazer para se aplicar a esse ramo artificial de educação. Tal procedimento não é sábio. Uma criança nervosa não deve ser sobrecarregada em qualquer sentido, e não deve aprender música até estar bem desenvolvida fisicamente.

É essencial que os pais procurem ocupação útil para seus filhos, o que importa em assumirem responsabilidades de acordo com sua idade e forças. Convém dar-se às crianças alguma coisa para fazer que não somente as mantenha ocupadas, mas as interesse também. As ativas mãos e o cérebro precisam ser usados desde os mais tenros anos. Caso os pais negligenciem encaminhar as energias dos filhos para direção útil, causam-lhes grande prejuízo; pois Satanás estará pronto a encontrar algo para eles fazerem. Não se há de escolher uma atividade para eles, sendo os próprios pais os instrutores?

A mãe deve ser a professora, e o lar a escola em que cada criança receba suas primeiras lições; e estas devem incluir hábitos de operosidade. Mães, deixai que os pequeninos brinquem ao ar livre, ouçam os cânticos dos pássaros e aprendam o amor de Deus, conforme se acha expresso em Suas belas obras. Ensinai-lhes lições simples do livro da Natureza e das coisas que as rodeiam; e ao se lhes expandir a mente, podem ser acrescentadas lições de livros e firmemente fixadas na memória. Mas também aprendam, mesmo nos primeiros anos, a ser úteis.

Quando a criança está em idade própria para ser mandada à escola, o professor deve cooperar com os pais, e a educação manual deve continuar como parte dos estudos escolares. Muitos estudantes há que fazem objeções a esta espécie de trabalho nas escolas. Acham que uma proveitosa ocupação, como aprender um ofício, é degradante; esses têm incorreta noção do que constitua a verdadeira dignidade. Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que é um com o Pai e o Comandante nas cortes celestiais, foi o instrutor e guia pessoal dos filhos de Israel; e requeria-se entre eles que todo jovem aprendesse a trabalhar. Todos tinham de ser educados nalgum ramo de atividade, para que possuíssem conhecimento da vida prática e não somente se sustentassem por si mesmos, mas também fossem úteis. Esta foi a instrução que Deus deu a Seu povo.

Em Sua vida na Terra, Cristo era um exemplo a toda a família humana, havendo sido obediente e prestativo no lar. Aprendeu o ofício de carpinteiro e trabalhou com as próprias mãos na pequena oficina de Nazaré. Vivera no meio das glórias do Céu; mas revestiu Sua divindade com a humanidade, para que pudesse comunicar-Se com os homens e alcançar corações através da avenida comum da simpatia. E, reconhecido em figura humana, a Si mesmo Se humilhou, e


FEC - Pag. 418  

trabalhou pela restauração da alma humana, adaptando-Se a Si mesmo à situação em que encontrou a humanidade.

A Bíblia diz de Jesus: "E o menino crescia e Se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele." Luc. 2:40. Ao trabalhar na infância e na juventude, a mente e o corpo se desenvolviam. Ele não usou Suas faculdades físicas descuidadamente, mas exercitou-as de molde a mantê-las sadias, a fim de poder fazer o melhor trabalho em cada setor. Não desejava ser falho, nem mesmo no manuseio das ferramentas. Foi tão perfeito como operário quanto o era no caráter. Por preceito e exemplo, Cristo dignificou o trabalho útil.

O tempo despendido em exercícios físicos não é perdido. O estudante que mantém constantemente os olhos sobre os livros e faz pouco exercício ao ar livre, prejudica-se a si mesmo. O exercício proporcional de todos os órgãos e faculdades do corpo é essencial para o melhor trabalho de cada um. Quando o cérebro está constantemente sobrecarregado enquanto os outros órgãos da maquinaria viva ficam inativos, há uma perda de força, tanto física como mental. O sistema físico é lesado em seu tono saudável, a mente perde seu frescor e vigor, e o resultado é uma agitação mórbida.

Não se obtêm os maiores benefícios de exercícios que se fazem como mero esporte ou exercícios propriamente ditos. Há algum benefício derivado da permanência ao ar livre e também do exercício dos músculos; mas seja a mesma quantidade de energia empregada no cumprimento de obrigações de auxílio, e o benefício será maior, sendo alcançado um sentimento de satisfação, pois tais exercícios levam consigo o senso da prestatividade e a aprovação da consciência pelo dever cumprido.

Deve-se despertar nas crianças e jovens a ambição de se exercitarem na prática de algo que seja benéfico a eles mesmos e um auxílio a outros. O exercício que desenvolve a mente e o caráter, que ensina as mãos a serem úteis e que prepara os jovens a assumir sua parte nos encargos da vida,


FEC - Pag. 419  

é o que dá força física e vivifica toda faculdade. E há uma recompensa na atividade virtuosa, no cultivo do hábito de viver para fazer o bem.

Os filhos dos abastados não devem ser privados da grande bênção de ter algo para fazer que lhes promova o vigor do cérebro e dos músculos. O trabalho não é maldição, mas bênção. Deus confiou aos inocentes Adão e Eva um belo jardim para cuidar. Era uma aprazível ocupação, e nenhum trabalho que não fosse agradável teria entrado em nosso mundo, não houvesse o primeiro par transgredido os mandamentos. A ociosidade apática e a condescendência egoísta produzem inválidos; podem tornar a vida uma coisa vazia e estéril em todo o sentido. Deus não concedeu a razão aos seres humanos nem lhes coroou a vida com Sua bondade para que sejam amaldiçoados com os infalíveis resultados da ociosidade. Os abastados não devem ser privados do privilégio e benefício de ter um lugar entre os obreiros do mundo. Cumpre-lhes compreender que são responsáveis pelo emprego que fazem das possessões a eles confiadas; que suas energias, o tempo e o dinheiro devem ser sabiamente empregados, e não para fins egoístas.

A religião cristã é prática. Não incapacita a pessoa para o fiel desempenho de qualquer dos importantes deveres da vida. Quando o doutor da lei perguntou a Jesus: "Que farei para herdar a vida eterna?"(Luc. 10:25), Jesus devolveu a pergunta ao próprio doutor da lei, dizendo: "Que está escrito na lei? Como lês?" Luc. 10:26. "E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo." Luc. 10:27. Jesus lhe disse: "Respondeste bem; faze isso e viverás." Luc. 10:28. Aqui não é delineada uma religião inativa, e, sim, uma religião que requer o enérgico emprego de todas as faculdades mentais e físicas.

O devaneio indolente, a contemplação ociosa, não é religião. Deus requer que apreciemos os diversos dons que possuímos e que os multipliquemos pelo uso constante e prático. Seu povo deve ser modelo de correção em todas as relações da vida. Ele deu a cada um de nós um trabalho a fazer,


FEC - Pag. 420  

de acordo com a nossa capacidade; e é nosso privilégio desfrutar Sua bênção enquanto dedicamos o vigor do corpo e da mente a sua fiel execução, tendo em vista a glória de Seu nome.

A aprovação de Deus repousa com amorosa confiança sobre os filhos que tomam com satisfação sua parte nos deveres da vida doméstica, participando dos encargos do pai e da mãe. Serão recompensados com saúde do corpo e paz de espírito; e fruirão o prazer de ver os pais tomarem parte nos entretenimentos sociais e nas saudáveis recreações, prolongando assim a existência. Os filhos preparados para os deveres práticos da vida, sairão de casa para ser membros úteis da sociedade. Sua educação é muito superior à que se adquire confinado em uma sala de aulas em tenra idade, quando nem a mente nem o corpo está suficientemente forte para resistir à tensão.

No lar e na escola, por preceito e por exemplo, as crianças e os jovens sejam ensinados continuamente a ser verdadeiros, desinteressados e trabalhadores. Não se lhes deve permitir passarem o tempo ociosamente; não devem ficar de braços cruzados, em inatividade. Os pais e os professores precisam trabalhar para a realização desse objetivo - o desenvolvimento de todas as faculdades e a formação de um reto caráter. Quando, porém, os pais compreendem as responsabilidades que lhes cabem, muito menos trabalho restará ao professor na educação dos seus filhos.

O Céu se interessa nesta obra em favor dos jovens. Os pais e os professores que, por meio de sábias instruções, dadas com calma e decisão, habituam as crianças a pensarem nos outros, e a deles cuidar, ajudá-las-ão a vencer o egoísmo, e cerrarão a porta a muitas tentações. Anjos de Deus cooperarão com esses fiéis instrutores. Os anjos não são incumbidos de fazer, eles próprios, esse trabalho; comunicarão, no entanto, força e eficiência aos que, no temor de Deus, procuram preparar os jovens para uma vida de utilidade. Special Testimonies on Education, 11 de maio de 1896.

<< Capítulo Anterior Próximo Capítulo >>