Fundamentos da Educação Cristã

CAPÍTULO 13

Namoro e Casamento

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Nestes dias de perigo e corrupção, os jovens acham-se expostos a muitas provas e tentações. Muitos estão a navegar num porto perigoso. Precisam de um piloto; mas desdenham receber o muito necessitado auxílio, julgando que são competentes para dirigir seu barco, e não reconhecendo que ele está prestes a dar num recife oculto, o qual lhes poderá causar o naufrágio da fé e da felicidade. Estão envaidecidos com o assunto do namoro e do casamento, e sua principal preocupação é conseguirem o seu desejo. Neste período, que é o mais importante de sua vida, precisam de um conselheiro infalível, um guia seguro. Isto encontrarão na Palavra de Deus. A menos que sejam diligentes estudantes dessa Palavra, cometerão erros graves, os quais lhes mancharão a sua felicidade e a de outros, tanto para a vida presente como para a futura.

Muitos têm a disposição de ser impetuosos e obstinados. Não levaram a sério o sábio conselho da Palavra de Deus; não batalharam contra o próprio eu nem obtiveram preciosas vitórias; e sua vontade orgulhosa e inflexível os desviou do caminho do dever e da obediência. Olhai para vossa vida passada, jovens amigos, e considerai fielmente vosso procedimento à luz da Palavra de Deus. Tendes abrigado essa conscienciosa consideração pelas vossas obrigações para com vossos pais, que a Bíblia ordena? Tendes tratado com bondade e amor a mãe que desde a infância tem cuidado de vós? Tendes tido consideração para com os seus desejos, ou ocasionado dores e tristezas ao seu coração, executando vossos desejos e planos? A verdade que professais santificou o vosso coração, e abrandou e subjugou vossa vontade? Se assim não foi, tendes minucioso trabalho a fazer para endireitar os erros do passado.

A Bíblia apresenta uma perfeita norma de caráter. Esse Livro sagrado, inspirado por Deus e escrito por homens santos, é um guia perfeito sob todas as circunstâncias da vida. Apresenta


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distintamente os deveres tanto de jovens como de adultos. Adotada como o guia da vida, seus ensinos dirigirão a alma para cima. Eleva o espírito, melhora o caráter e dá paz e alegria ao coração. Mas muitos jovens há que preferem ser os conselheiros e guias de si mesmos, e tomaram em suas próprias mãos o seu caso. Esses precisam estudar mais de perto os ensinos da Bíblia. Em suas páginas acharão revelado o seu dever para com os pais e seus irmãos na fé. Diz o quinto mandamento: "Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá." Êxo. 20:12. E lemos noutra parte: "Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo." Efés. 6:1. Um dos sinais de estarmos vivendo nos últimos dias é o fato de serem os filhos desobedientes aos pais, ingratos, profanos. A Palavra de Deus é abundante em preceitos e conselhos que mandam respeitar os pais. Impõe aos jovens o sagrado dever de amar e ajudar os que os guiaram através da infância, da meninice e da juventude, até à varonilidade e feminilidade, e que se acham agora em grande parte dependentes deles, quanto à paz e felicidade. A Bíblia não dá sonido incerto quanto a esse assunto; contudo, seus ensinos têm sido muito desrespeitados.

Os jovens têm muitas lições a aprender, e a mais importante é aprenderem a conhecer-se a si mesmos. Devem ter idéias corretas acerca de suas obrigações e deveres para com os pais, e estarem constantemente a aprender, na escola de Cristo, a ser mansos e humildes de coração. Ao mesmo tempo que devem amar e honrar os pais, cumpre-lhes também respeitar o juízo dos homens de experiência com os quais se acham ligados na igreja. O jovem que anda em companhia de uma jovem e capta a sua amizade sem conhecimento dos pais dela, não desempenha um nobre papel cristão para com a moça nem para com os pais dela. Por meio de comunicações e encontros secretos poderá ele conseguir influência sobre o espírito dela; mas assim fazendo, deixa ele de manifestar aquela nobreza e integridade de


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alma que possuirá todo filho de Deus. Para conseguir os seus fins, desempenham um papel que não é franco e aberto nem de acordo com a norma bíblica e demonstram-se infiéis para com aqueles que os amam e se esforçam por ser seus fiéis responsáveis. Casamentos contratados sob tais influências não estão de acordo com a Palavra de Deus. Aquele que quer desviar do dever a uma filha, querendo confundir as suas idéias acerca das claras e positivas ordens de Deus de obedecer e honrar aos pais, não é a pessoa que há de ser fiel nas obrigações do casamento.

Faz-se a pergunta: "Como purificará o jovem o seu caminho?" e é dada a resposta: "Observando-o conforme a Tua Palavra." Sal. 119:9. O jovem que fizer da Bíblia o seu guia, não precisa errar o caminho do dever e da segurança. Esse Livro bendito o ensinará a preservar sua integridade de caráter, a ser verdadeiro e não praticar nenhum engano. "Não furtarás", (Êxo. 20:15) foi escrito pelo dedo de Deus sobre as tábuas de pedra; no entanto, quantos furtos clandestinos de afeições não são praticados e desculpados! Mantém-se um namoro enganoso, seguem-se comunicações privadas, até que as afeições de uma pessoa inexperiente e que não sabe até que ponto se podem desenvolver essas coisas, são em certa medida desviadas dos pais e dedicadas ao que demonstra, pelo seu procedimento, que é indigno do seu amor. A Bíblia condena toda espécie de desonestidade e requer o reto procedimento sob todas as circunstâncias. Aquele que faz da Bíblia o guia de sua juventude, a luz do seu caminho, obedecerá em todas as coisas aos seus ensinos. Não transgredirá nem um jota ou um til da lei para conseguir qualquer objetivo, mesmo quando tenha que fazer grandes sacrifícios em conseqüência disso. Se crê na Bíblia, sabe que as bênçãos divinas não repousarão sobre ele, se se desviar do estreito caminho da retidão. Embora pareça por algum tempo que está prosperando, há de, por certo, colher o fruto de suas ações.

A maldição de Deus repousa sobre muitas das inoportunas e impróprias amizades que se formam nesta época atual.


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Se a Bíblia deixasse estas questões a uma luz vaga e imprecisa, então seria mais justificável o procedimento que muitos jovens de hoje estão seguindo em suas relações. Mas o reclamos bíblicos não são ordens incompletas; requerem perfeita pureza de pensamento, palavras e atos. Somos gratos a Deus porque Sua Palavra é uma luz para nossos pés, e porque ninguém precisa errar o caminho do dever. Os jovens devem constituir seu dever consultar suas páginas e atender a seus conselhos; pois tristes erros são sempre cometidos ao desviar-se de seus preceitos.

Se há qualquer assunto que deveria ser considerado com calma reflexão e juízo desapaixonado, é este o assunto do casamento. Se há tempo em que se necessita da Bíblia como um conselheiro, é antes de dar um passo que ligue pessoas por toda a vida. Mas a idéia predominante é a de que nesta questão os sentimentos é que devem ser o guia; e, em muitíssimos casos, o apaixonado sentimentalismo toma as rédeas e leva à ruína certa. É aqui que os jovens mostram menos inteligência do que em qualquer outro assunto; é aqui que se recusam a ouvir razões. A questão do casamento parece ter sobre eles um poder enfeitiçante. Não se submetem a Deus. Seus sentidos são presos em cadeias e seguem seu caminho com certo segredo, como se temessem que seus planos fossem contrariados por alguém.

O modo secreto pelo qual se fazem os namoros e casamentos é causa de grande quantidade de miséria, da qual só Deus conhece a completa extensão. Nesse recife milhares sofreram o naufrágio da alma. Cristãos professos, cuja vida é assinalada pela integridade, e que parecem prudentes quanto a qualquer outro assunto, neste cometem terríveis erros. Manifestam uma vontade firme, resoluta, a qual a razão não pode mudar. Tornam-se tão fascinados pelos sentimentos e impulsos humanos que não têm desejo de pesquisar a Bíblia e entrar em comunhão íntima com Deus. Satanás sabe exatamente com que elementos tem de tratar, e emprega sua infernal sabedoria em vários artifícios, a fim de enlaçar almas para a ruína. Observa


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cada passo que se dê, e faz muitas sugestões, e muitas vezes estas sugestões são seguidas de preferência ao conselho da Palavra de Deus. Essa rede perigosa, bem tecida, é habilmente preparada para apanhar os jovens e desprevenidos. Pode achar-se muitas vezes disfarçada sob um manto de luz; mas os que se tornam suas vítimas trespassam-se a si mesmos com muitas dores. Em resultado, vemos ruínas humanas por toda parte.

Quando serão prudentes os nossos jovens? Por quanto tempo ainda continuará este estado de coisas? Deverão os filhos consultar tão-somente seus próprios desejos e inclinações, independentemente do conselho e juízo dos pais? Alguns há que parecem nunca dar um pensamento aos desejos ou preferências dos pais, nem tomar em consideração o seu maduro juízo. O egoísmo fechou-lhes a porta do coração para a afeição filial. O espírito dos jovens precisa ser despertado quanto a este assunto. O quinto mandamento é o único ao qual se acha ligada uma promessa; mas é considerado levianamente, e mesmo positivamente desprezado pelas exigências do que ama. A desconsideração para com o amor de uma mãe, e desonra da solicitude de um pai, são pecados que se encontram registrados contra muitos jovens.

Um dos maiores erros ligados a este assunto é a idéia de que os jovens e inexperientes não devem ser perturbados em suas afeições, que não deve haver nenhuma interferência em sua experiência amorosa. Se já houve um assunto que devesse ser considerado de todos os pontos de vista, é este. O auxílio da experiência de outros, e o calmo e cuidadoso pesar da questão em ambos os lados, é positivamente indispensável. É um assunto que é pela grande maioria de pessoas tratado com muita, mas muita leviandade. Consultai a Deus e a vossos pais tementes a Deus, jovens amigos. Orai sobre o assunto. Pesai cada sentimento e observai todo desenvolvimento de caráter na pessoa a quem pretendeis ligar o destino de vossa vida. O passo que ides dar é um dos mais importantes de vossa vida, e não deve ser dado precipitadamente. Conquanto possais amar, não ameis cegamente.

Estudai cuidadosamente para ver se vossa vida matrimonial há de ser feliz, ou desarmoniosa e infeliz. Fazei surgir


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as perguntas: Ajudar-me-á esta união na escalada para o Céu? Aumentará meu amor a Deus? E aumentará minha esfera de utilidade nesta vida? Se estas reflexões não apresentarem nada em contrário, então prossegui, no temor de Deus. Mas mesmo se assumistes compromisso, sem conhecerdes plenamente o caráter da pessoa com quem vos pretendeis unir, não penseis que o compromisso torne uma positiva necessidade fazerdes o voto de casamento, e vos ligardes por toda a vida a uma pessoa que não podeis amar nem respeitar. Sede muito cuidadosos em como fazeis compromissos condicionais; mas melhor, muito melhor, é quebrardes o compromisso antes do casamento do que vos separardes depois, como muitos fazem.

O verdadeiro amor é uma planta que precisa ser cultivada. Que a mulher que deseje uma união pacífica e feliz, e queira escapar a futuras misérias e tristezas, indague, antes de entregar suas afeições: Tem meu pretendente uma mãe? Qual é a qualidade do caráter dela? Reconhece ele suas obrigações para com ela? Tem consideração para com os seus desejos e sua felicidade? Se ele não respeita nem honra a mãe, porventura manifestará respeito e amor, bondade e atenção para com a esposa? Passada a novidade do casamento, continuará a amar-me? Será paciente com os meus erros, ou crítico, imperioso e ditatorial? A afeição verdadeira passará por alto muitos erros; o amor não os distinguirá.

A juventude confia demais no impulso. Não deve entregar-se demasiado facilmente, nem deixar-se cativar muito depressa pelo atraente exterior do pretendente. O namoro, tal como é seguido hoje, é uma armadilha de engano e hipocrisia, com o qual o inimigo das almas tem muito mais que haver do que o Senhor. Se há coisa em que seja preciso o bom senso comum, é esta; mas o fato é que ele pouco se emprega neste assunto.

Se os filhos tivessem mais familiaridade com os pais, se neles confiassem e lhes desabafassem as alegrias e tristezas, se poupariam muita mágoa futura.


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Quando se acham perplexos, sem saber qual o procedimento correto, exponham aos pais a questão, tal qual a consideram sob o seu ponto de vista, e peçam-lhes conselho. Quem seria tão capaz como os pais tementes a Deus, de lhes apontar os perigos? Quem tão bem como eles compreenderá seu temperamento particular? Os filhos que forem cristãos avaliarão acima de toda bênção terrena o amor e a aprovação dos pais tementes a Deus. Os pais podem sentir com os filhos, e orar por eles e com eles, para que Deus os proteja e guie. Acima de tudo o mais, lhes apontarão o Amigo e Conselheiro que nunca falha, e o qual Se comove com o sentimento de Suas fraquezas. Aquele que foi tentado em todos os pontos como nós somos, mas sem pecado, sabe como socorrer os que são tentados e que se achegam a Ele com fé. Review and Herald, 26 de janeiro de 1886.

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