II. Vida Cristã
Amorosa Solicitude de Jesus
Tenho, enquanto escrevo, profundo senso de gratidão pela amorosa solicitude de nosso Salvador por todos nós. Ao ler a Palavra de Deus e ajoelhar-me em oração, sinto-me tão impressionada com a bondade e a misericórdia divinas, que não posso fazer minha petição sem chorar. Meu coração é abrandado e vencido quando penso na bondade e amor de meu Pai celeste. Tenho fome e sede de mais e ainda mais de Jesus nesta vida. Cristo foi crucificado por mim, e hei de eu queixar-me se sou crucificada com Cristo? ...
Não sabemos o que está adiante de nós, e nossa única segurança está em andar com Cristo, a mão em Sua mão, o coração cheio de perfeita confiança. Não disse Ele: "Que se apodere da Minha força, e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo?" Mantenhamo-nos achegados ao Salvador. Andemos humildemente com Ele, cheios de Sua mansidão. Seja o próprio eu escondido com Ele em Deus. ...
O Adorno Exterior
Os que nutrem e lisonjeiam o próprio eu, fomentando o orgulho e a vaidade, dando ao vestuário e à aparência o tempo e atenção que devem ser dados à obra do Mestre, estão incorrendo em terrível perda. Muitos que se trajam em belas vestes
exteriores nada sabem do adorno interior que é precioso aos olhos de Deus. Suas boas roupas cobrem um coração pecaminoso e enfermo, cheio de vaidade e orgulho. Eles nada sabem do que signifique "buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus". Col. 3:1.
Anelo ser dia a dia cheia do Espírito de Cristo. O tesouro de Sua graça é de mais valor para mim do que ouro ou prata ou vestuários dispendiosos. Jamais senti mais sincero anseio de justiça do que atualmente.
Quando minhas irmãs obtiverem um vislumbre do que Cristo sofreu em seu favor, para que se pudessem tornar filhas de Deus por adoção, não mais ficarão satisfeitas com o orgulho mundano e o amor-próprio. Não cultuarão por mais tempo o próprio eu. Deus será o supremo objeto de suas atenções.
Dói-me o coração ao ser-me mostrado quantos há que fazem do próprio eu seu ídolo. Cristo pagou o preço da redenção por elas. A Ele pertence o serviço de todas as suas faculdades. Seu coração, porém, está cheio de amor-próprio, e do desejo de se adornarem a si mesmas. Não refletem nas palavras: "Se alguém quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-Me." Mar. 8:34. O satisfazerem-se a si próprias está ocultando Cristo de seus olhos. Não têm nenhum desejo de andar diante de Deus em mansidão e humildade. Não estão olhando a Jesus. Não estão orando para serem transformadas à Sua semelhança. Seu caso é representado pelo homem que chegou ao banquete do rei trajado com suas vestes comuns de cidadão. Recusara-se a fazer os preparativos exigidos pelo rei. As vestes para ele providas a grande preço, desdenhou usar. À pergunta do rei: "Como entraste aqui, não tendo vestido nupcial?" (Mat. 22:12), nada pôde responder. Emudeceu; pois sentia a própria condenação.
Muitos que professam ser cristãos são-no apenas de nome. Não se acham convertidos. Mantêm preeminente o próprio eu. Não se assentam aos pés de Jesus, qual Maria, para dEle aprender. Não estão prontos para a vinda de Cristo.
Uma Grande Surpresa
Achava-me, nas horas da noite, entre um grupo de pessoas cujo coração estava cheio de vaidade e presunção. Cristo estava oculto a seus olhos. De repente, em altos e claros acentos, ouviram-se estas palavras: "Jesus vem buscar para Si aqueles que, na Terra, O têm amado e servido, para ficarem com Ele em Seu reino para sempre." Muitos dos que faziam parte do grupo saíram em seus custosos trajes para encontrá-Lo. Ficavam a olhar as próprias vestes. Quando viram Sua glória, porém, e compreenderam que sua estima uns dos outros se baseara grandemente na aparência exterior, reconheceram que estavam sem as vestes da justiça de Cristo, e que o sangue de almas se encontrava em seus vestidos.
Quando Cristo levou os Seus escolhidos, eles foram deixados; pois não se achavam prontos. Em sua vida, o próprio eu tivera o primeiro lugar, e ao vir o Salvador, não estavam preparados para encontrá-Lo.
Acordei com o quadro de suas fisionomias angustiadas gravado em minha mente. Não posso apagar a impressão. Desejaria poder descrever a cena tal qual me foi apresentada. Oh! quão triste foi a decepção dos que não haviam aprendido por experiência o sentido das palavras: "Estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus." Col. 3:3.
Há muitos professos cristãos que não conhecem a Cristo mediante um conhecimento experimental. Oh! como me dói o coração por essas pobres almas iludidas, não preparadas! Ao achar-me perante congregações, e ver as pessoas presunçosas, cheias de justiça própria, e saber que não estão se preparando para fazer obra aceitável a Cristo, e para encontrá-Lo em paz, fico tão preocupada que não posso dormir. Pergunto-me a mim mesma: Que posso eu dizer a essas almas que as desperte para um senso de sua verdadeira condição? O próprio eu é o todo absorvente assunto de sua vida. Anseio revelar tão plenamente a Cristo, que elas O contemplem, e deixem de concentrar no próprio eu sua atenção. ...
Entre aqueles a quem sobrevirá amarga decepção naquele dia do ajuste de contas final achar-se-ão alguns que foram exteriormente religiosos, e que viveram aparentemente vidas cristãs. Mas o próprio eu se acha entretecido em tudo quanto fazem. Orgulham-se de sua moralidade, sua influência, sua capacidade para ocupar posição mais alta que outros, [e] seu conhecimento da verdade, pois pensam que essas coisas lhes granjeiam o louvor de Cristo. "Senhor", alegam eles, "temos comido e bebido na Tua presença, e Tu tens ensinado nas nossas ruas." Luc. 13:25 e 26. "Não profetizamos nós em Teu nome? e em Teu nome não expulsamos demônios? e em Teu nome não fizemos muitas maravilhas?" Mat. 7:22.
Mas Cristo diz: "Nunca vos conheci; apartai-vos de Mim." "Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos Céus." Mar. 7:23 e 21.
Não há apelação; passou o tempo para isso. Foi pronunciada a irrevogável sentença. Eles são excluídos do Céu por sua própria inaptidão para nele habitar. (Mat. 7:24-27). Carta 91, 1904.
Por meio do plano da redenção, Deus providenciou meios para subjugar todo traço pecaminoso, e resistir a toda tentação, por forte que seja. Review and Herald, 22 de dezembro de 1885.
Tivesse o povo de Deus o amor de Cristo no coração; fosse todo membro de igreja inteiramente possuído do espírito de abnegação; manifestassem todos completa sinceridade, e não haveria falta de fundos para as missões na pátria e no estrangeiro; multiplicar-se-iam nossos recursos; abrir-se-iam milhares de portas de utilidade, e seríamos convidados a entrar. Caso o desígnio de Deus houvesse sido executado por Seu povo no anunciar a mensagem de misericórdia ao mundo, Cristo teria vindo à Terra, e os santos haveriam antes disto recebido as boas-vindas na cidade de Deus. Union Conference Record (Australasiana), 15 de outubro de 1898.