Requer a justiça que o pecado não seja meramente perdoado, mas que seja executada a pena de morte. Deus, no dom de Seu Filho unigênito, satisfez a ambos esses requisitos. Morrendo em lugar do homem, Cristo cumpriu a pena e proveu perdão.
O homem, pelo pecado, excluiu-se da vida de Deus. Sua alma é tomada de paralisia, pelas maquinações de Satanás, o autor do pecado. De si mesmo é ele incapaz de sentir o pecado, incapaz de apreciar a natureza divina e dela se apropriar. Fosse ela colocada ao seu alcance, não veria nela coisa alguma que seu coração natural desejasse. Está sobre ele o enfeitiçante poder de Satanás. Todos os engenhosos subterfúgios que o diabo possa sugerir são-lhe apresentados ao espírito, para impedir todo bom impulso. Toda faculdade e poder que lhe são dados por Deus foram usados como arma contra o Benfeitor divino. Assim, embora Deus o ame, não seria seguro comunicar-lhe os dons e bênçãos que bem lhe desejaria conceder.
Deus, porém, não será derrotado por Satanás. Enviou Ele Seu Filho para o mundo, a fim de que, mediante o assumir a forma e natureza humanas, a humanidade e a divindade nEle combinadas elevassem o homem na divina escala do valor moral.
Não existe outro caminho para a salvação do homem. "Sem Mim", diz Cristo, "nada podeis fazer." João 15:5. Por meio de Cristo, e de Cristo tão-somente, as fontes da vida podem vitalizar a natureza humana, transformar-lhe os gostos, e colocar-lhe as afeições rumo do Céu. Pela união da natureza divina com a humana, pôde Cristo iluminar o entendimento e infundir Suas propriedades vivificantes à alma morta em ofensas e pecados.
Quando a mente é atraída para a cruz do Calvário, Cristo, por visão imperfeita, é discernido sobre a vergonhosa cruz. Por que morreu Ele? Em conseqüência do pecado? Que é pecado? A transgressão da lei. Então se abrem os olhos para ver o caráter do pecado. A lei foi quebrantada mas não pode perdoar o transgressor. É nosso aio, condenando, à punição. Onde o remédio? A lei impele-nos a Cristo, que foi erguido sobre a cruz a fim de que fosse habilitado a comunicar Sua justiça ao homem caído e pecador, apresentando assim os homens a Seu Pai em Seu caráter justo.
Cristo sobre a cruz não só leva os homens ao arrependimento para com Deus, pela transgressão de Sua lei (pois a quem Deus perdoa Ele primeiro faz penitente), mas Cristo satisfez a justiça; ofereceu-Se a Si mesmo como expiação. Seu sangue em borbotões, Seu corpo dilacerado, satisfazem as reivindicações da lei transgredida, e assim Ele põe uma ponte através do abismo que o pecado produziu. Sofreu na carne para que, mediante Seu corpo ferido e quebrantado, pudesse cobrir o indefeso pecador. A vitória alcançada quando morreu no Calvário, derrubou para sempre o poder acusador de Satanás sobre o Universo e silenciaram suas afirmações de que a abnegação era impossível a Deus e portanto não necessária à família humana.
Satanás no Céu ocupara posição a seguir à do Filho de Deus. Fora o primeiro entre os anjos. Seu poder fora aviltante, mas Deus não podia revelar esse poder em sua verdadeira luz e levar todo o Céu em harmonia com Ele, Deus, se o removesse, com suas más influências. Aumentava seu poder mas o mal não era ainda reconhecido. Foi um poder mortal para o Universo, mas para a segurança dos mundos e do governo do Céu, era preciso que ele se desenvolvesse e fosse revelado em sua luz verdadeira.
Abnegação com Deus
Em dar curso a sua inimizade a Cristo até que Ele pendeu da cruz do Calvário, de corpo lacerado e ferido e coração quebrantado, Satanás se desarraigou completamente das afeições do Universo. Viu-se então que, em Seu Filho, Deus Se negara a Si mesmo, dando-Se pelos pecados do mundo, porque amava a humanidade. O Criador revelou-Se no Filho do Deus infinito. Aqui foi para sempre respondida a pergunta: "Pode haver abnegação da parte de Deus?" Cristo era Deus, e condescendendo com torna-Se carne, assumiu a humanidade e foi obediente até à morte, para que pudesse sujeitar-Se a um sacrifício imenso.
Qualquer sacrifício a que pudesse submeter-se um ser humano Cristo suportou, não obstante Satanás fez todo o esforço para seduzi-Lo com tentações; mas quanto maior a tentação, mais perfeito era o sacrifício. Tudo que era possível o homem sofrer no conflito com Satanás, Cristo sofreu em Sua natureza humana e divina combinadas. Obediente, sem pecado até ao final, morreu Ele pelo homem, substituto e penhor seu, suportando tudo que os homens jamais suportam da parte do enganoso tentador, para que possa o homem vencer, tornando-se participante da natureza divina.
A verdade pura viu-se ser capaz de enfrentar a falsidade; a honestidade e a integridade, de enfrentar o artifício e a intriga, em todo aquele que, como Cristo, está disposto a sacrificar tudo, mesmo a própria vida, por amor da verdade. Resistir aos desejos de Satanás não é fácil tarefa. Demanda firme apego à natureza divina, do princípio ao fim, ou do contrário não é possível. Cristo, nas vitórias consumadas em Sua morte na cruz do Calvário, põe claramente a descoberto o caminho para o homem, tornando-lhe assim possível guardar a lei de Deus por meio do Caminho, da Verdade e da Vida. Não há outro meio.
A justiça de Cristo é apresentada como livre dádiva ao pecador, se a quiser aceitar. Ele nada tem de si mesmo que não seja maculado e corrupto, poluído de pecado, inteiramente repulsivo a um Deus puro e santo. Unicamente mediante o justo caráter de Jesus Cristo pode o homem aproximar-se de Deus.
Cristo, como sumo sacerdote além do véu, de tal modo imortalizou o Calvário que, embora Ele viva para Deus, morre continuamente para o pecado, e assim, se qualquer homem pecar, tem ele um advogado para com o Pai.
Ressurgiu Ele do túmulo envolto em uma nuvem de anjos, com maravilhoso poder e glória - Divindade e humanidade combinadas. Tomou em Sua mão o mundo sobre o qual Satanás pretendia presidir como seu legítimo território, e por Sua maravilhosa obra de dar a vida, restaurou toda a raça humana ao favor de Deus. ...
Não assuma ninguém a atitude limitada e acanhada de que qualquer das obras do homem possa ajudar, no mínimo que seja, a liquidar a dívida de sua transgressão. É este um engano fatal. Se o quiserdes entender, deveis cessar de acariciar vossas idéias favoritas, e de coração humilde contemplar a expiação. Este assunto é compreendido tão vagamente que milhares de milhares, afirmando ser filhos de Deus, são filhos do maligno, porque confiam em suas próprias obras. Deus sempre exigiu boas obras, a lei as exige, mas como o homem se colocou no pecado, onde suas boas obras não tinham valor, unicamente a justiça de Cristo pode prevalecer. Cristo pode salvar perfeitamente, porque sempre vive para fazer intercessão por nós. Tudo que o homem pode fazer no sentido de sua salvação, é aceitar o convite: "Quem quiser, tome de graça da água da vida." Apoc. 22:17. Pecado algum pode ser cometido pelo homem, para o qual não se tenha dado satisfação no Calvário. Assim a cruz, em fervorosos apelos, constantemente oferece ao pecador uma expiação cabal.
Arrependimento e Perdão
Ao vos aproximardes da cruz do Calvário, vereis um amor sem paralelo. Ao, pela fé, aprenderdes o significado do sacrifício, ver-vos-eis como pecador, condenado por uma lei quebrantada. Isto é arrependimento. Ao vos chegardes, coração humilde, encontrareis perdão, pois Cristo Jesus é representado como estando continuamente junto ao altar, oferecendo a cada momento o sacrifício pelos pecados do mundo. É Ele ministro do verdadeiro tabernáculo, do qual o Senhor é construtor, e não o homem. As prefigurações simbólicas do tabernáculo
judeu não mais possuem qualquer virtude. Não mais tem que ser feita a diária e anual expiação simbólica, mas o sacrifício expiatório por meio de um mediador é necessário, por causa do constante cometimento de pecado. Jesus está oficiando na presença de Deus, oferecendo Seu sangue derramado, como de um cordeiro morto. Jesus apresenta a oblação oferecida por toda ofensa e toda fraqueza do pecador.
Cristo, nosso Mediador, e o Espírito Santo estão constantemente intercedendo em favor do homem, mas o Espírito não pleiteia por nós como faz Cristo, que apresenta Seu sangue, derramado desde a fundação do mundo; o Espírito opera em nosso coração, extraindo dele orações e penitência, louvor e ações de graças. A gratidão que dimana de nossos lábios é resultado de tocar o Espírito as cordas da alma em santas memórias, despertando a música do coração.
Os cultos, as orações, o louvor, a penitente confissão do pecado, sobem dos crentes fiéis, qual incenso ao santuário celestial, mas passando através dos corruptos canais da humanidade, ficam tão maculados que, a menos que sejam purificados por sangue, jamais podem ser de valor perante Deus. Não ascendem em imaculada pureza, e a menos que o Intercessor, que está à mão direita de Deus, apresente e purifique tudo por Sua justiça, não será aceitável a Deus. Todo o incenso dos tabernáculos terrestres têm de umedecer-se com as purificadoras gotas do sangue de Cristo. Ele segura perante o Pai o incensário de Seus próprios méritos, nos quais não há mancha de corrupção terrestre. Nesse incensário reúne Ele as orações, o louvor e as confissões de Seu povo, juntando-lhes Sua própria justiça imaculada. Então, perfumado com os méritos da propiciação de Cristo, o incenso ascende perante Deus completa e inteiramente aceitável. Voltam então graciosas respostas.
Oxalá vissem todos que quanto a obediência, penitência, louvor e ações de graças, tudo tem que ser colocado sobre o ardente fogo da justiça de Cristo! A fragrância desta justiça ascende qual nuvem em torno do propiciatório.