Quando os judeus rejeitaram a Cristo, rejeitaram a base de sua fé. E, por outro lado, o mundo cristão de hoje, que tem a pretensão de ter fé em Cristo, mas rejeita a lei de Deus, comete um erro semelhante ao dos iludidos judeus. Os que professam apegar-se a Cristo, polarizando nEle as suas esperanças, ao mesmo tempo que desprezam a lei moral e as profecias, não estão em posição mais segura do que os judeus descrentes. Não podem chamar inteligentemente os pecadores ao arrependimento, pois são incapazes de explicar devidamente o de que se devem arrepender. O pecador, ao ser exortado a abandonar seus pecados, tem o direito de perguntar: Que é pecado? Os que respeitam a lei de Deus podem responder: Pecado é a transgressão da lei. Em confirmação disto o apóstolo Paulo diz: Eu não conheceria o pecado, não fosse a lei.
Unicamente os que reconhecem a vigência da lei moral podem explicar a natureza da expiação. Cristo veio para servir de mediador entre Deus e o homem, para unir o homem a Deus, levando-o à obediência a Sua lei. Não havia na lei poder para perdoar ao transgressor. Jesus, tão-só, podia pagar a dívida do pecador. Mas o fato de que Jesus pagou a dívida do pecador
arrependido não lhe dá licença para continuar na transgressão da lei de Deus; deve ele, daí por diante, viver em obediência a essa lei.
A lei de Deus existia antes da criação do homem, ou do contrário Adão não podia ter pecado. Depois da transgressão de Adão não foram mudados os princípios da lei, mas foram definitivamente dispostos e expressos de modo a adaptar-se ao homem em seu estado decaído. Cristo, em conselho com o Pai, instituiu o sistema de ofertas sacrificais; de modo que a morte, em vez de sobrevir imediatamente ao transgressor, fosse transferida para uma vítima que devia prefigurar a grande e perfeita oferenda do Filho de Deus.
Os pecados do povo foram em figura transferidos para o sacerdote oficiante, que era um mediador para o povo. O sacerdote não podia ele mesmo tornar-se oferta pelo pecado e com sua vida fazer a expiação, pois era também pecador. Por isso, em vez de sofrer ele mesmo a morte, sacrificava um cordeiro sem mácula; a pena do pecado era transferida para o inocente animal, que assim se tornava seu substituto imediato, simbolizando a perfeita oferta de Jesus Cristo. Através do sangue dessa vítima o homem, pela fé, contemplava o sangue de Cristo, que serviria de expiação aos pecados do mundo.
Propósito da Lei Cerimonial
Se Adão não tivesse transgredido a lei de Deus, nunca teria sido instituída a lei cerimonial. O evangelho das boas novas foi primeiro dado a Adão na declaração que lhe foi feita, de que a semente da mulher havia de esmagar a cabeça da serpente; e foi transmitido através de sucessivas gerações a Noé, Abraão e Moisés. O conhecimento da lei de Deus e do plano da salvação foi comunicado a Adão e Eva pelo próprio Cristo. Entesouraram cuidadosamente a importante lição, transmitindo-a verbalmente aos filhos e aos filhos dos filhos. Assim se preservou o conhecimento da lei de Deus.
Os homens naqueles dias viviam quase mil anos, e anjos visitavam-nos com instruções provindas diretamente de
Cristo. Foi estabelecido o culto de Deus mediante as ofertas sacrificais, e os que temiam a Deus reconheciam perante Ele os seus pecados, aguardando, com gratidão e santa confiança, a vinda da Estrela da Manhã, que havia de guiar ao Céu os caídos filhos de Adão, por meio do arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Assim era o evangelho pregado em cada sacrifício; e as obras dos crentes revelavam continuamente a sua fé num Salvador porvindouro. Disse Jesus aos judeus: "Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em Mim; porque de Mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas Minhas palavras?" João 5:46 e 47.
Era, porém, impossível a Adão, por exemplo e preceito, deter a onda de miséria que sua transgressão trouxera aos homens. A incredulidade insinuou-se no coração dos homens. Os filhos de Adão apresentam o primeiro exemplo dos dois rumos seguidos pelos homens em relação às reivindicações de Deus. Abel via Cristo prefigurado nas ofertas sacrificais. Caim era incrédulo quanto à necessidade de sacrifícios; recusou-se a discernir que Cristo era tipificado pelo cordeiro morto; o sangue de animais parecia-lhe não ter virtude alguma. O evangelho foi pregado a Caim, assim como para seu irmão; mas foi-lhe um cheiro de morte para morte, visto como não reconheceu, no sangue do cordeiro sacrifical, a Jesus Cristo - a única provisão feita para salvação do homem.
Nosso Salvador, em Sua vida e morte, cumpriu todas as profecias que para Ele apontavam, e foi a substância de todos os tipos e sombras apresentados. Ele guardava a lei moral, e exaltou-a satisfazendo a suas reivindicações, como representante do homem. Aqueles, de Israel, que se volveram ao Senhor, e aceitaram a Cristo como a realidade simbolizada pelos sacrifícios típicos, discerniram a finalidade daquilo que devia ser abolido. A obscuridade que cobria como um véu o sistema judaico, era-lhes como o véu que cobria a glória da face de Moisés. Esta glória era reflexo da luz que Cristo veio trazer ao mundo, para benefício do homem.
Enquanto Moisés, no monte, comungava com Deus, o
plano da salvação, que remontava à queda de Adão, foi-lhe revelado de modo assaz vivo. Soube então que o mesmo anjo que dirigia o peregrinar dos filhos de Israel, seria revelado em carne. O amado Filho de Deus, que era um com o Pai, faria um com Deus a todos os homens que nEle cressem e confiassem. Moisés viu o verdadeiro significado das ofertas sacrificais. Cristo ensinou a Moisés o plano evangélico, e por Cristo a glória do evangelho iluminou o semblante de Moisés, de modo que o povo não o podia contemplar.
Moisés mesmo estava inconsciente da brilhante glória que lhe irradiava da face, e não sabia porque era que os filhos de Israel fugiam dele quando se lhes aproximava. Chamou-os para junto de si, mas não ousavam olhar para aquela face glorificada. Quando Moisés percebeu que o povo não lhe podia mirar o rosto, por causa de sua glória, cobriu-o com um véu.
A glória do rosto de Moisés era muitíssimo penosa para os filhos de Israel, por motivo de sua transgressão da santa lei de Deus. Isto é uma ilustração dos sentimentos dos que violam a lei divina. Desejam remover dela sua luz penetrante, que é um terror para o que a transgride, ao passo que para os leais ela se afigura santa, justa e boa. Apenas os que têm justa consideração para com a lei de Deus podem estimar devidamente a expiação de Cristo, tornada necessária pela violação da lei do Pai.
Os que mantêm a idéia de que não havia Salvador na dispensação antiga, têm sobre o entendimento um véu tão opaco quanto o dos judeus que rejeitaram a Cristo. Os judeus confirmavam sua fé no Messias por vir, na oferta de sacrifícios que simbolizavam a Cristo. Entretanto, quando Jesus apareceu, cumprindo todas as profecias acerca do Messias prometido, e fazendo obras que O assinalavam como divino Filho de Deus, eles O rejeitaram, recusando-se a aceitar as mais claras provas de Seu verdadeiro caráter. A igreja cristã, por outro lado, que professa a máxima fé em Cristo, desprezando o sistema judaico, virtualmente nega a Cristo, que foi o originador de toda a economia judaica.