Mensagens Escolhidas - Volume 1

CAPÍTULO 25

Os Alicerces de Nossa Fé

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O Senhor proporcionará à Sua obra força nova e vital, ao obedecerem os instrumentos humanos à ordem de sair a proclamar a verdade. Aquele que declarou que Sua verdade resplandeceria para sempre, proclamará essa verdade por meio de mensageiros fiéis, que darão à trombeta sonido certo. A verdade será criticada, escarnecida e ridicularizada; mas quanto mais de perto for examinada e testada, mais resplandecerá.

Como um povo, devemos estar firmes sobre a plataforma da verdade eterna, que resistiu a todas as provas. Devemos ater-nos aos seguros pilares de nossa fé. Os princípios da verdade que Deus nos revelou, são nossos únicos, fiéis alicerces. Eles é que fizeram de nós o que somos. O correr do tempo não lhes diminuiu o valor. É constante esforço do inimigo remover essas verdades de seu engaste, colocando em seu lugar teorias espúrias. Ele introduzirá tudo que lhe seja possível, para levar a cabo seus desígnios enganadores. O Senhor, porém, suscitará homens de aguda percepção, que darão a essas verdades seu devido lugar no plano de Deus.

Fui pelo mensageiro celeste instruída de que parte do raciocínio no livro Living Temple não é sadio, e que tal raciocínio


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desencaminhará o espírito dos que não estão completamente firmados nos princípios fundamentais da verdade presente. Ele introduz aquilo que não passa de especulação acerca da personalidade de Deus e do lugar de Sua presença. Ninguém na Terra tem o direito de especular quanto a esta questão. Quanto mais se discutirem teorias fantasiosas, tanto menos os homens saberão de Deus e da verdade que santifica a alma.

Um após outro têm vindo ter comigo, pedindo-me que explicasse as atitudes assumidas em Living Temple. Respondo: "Elas não são explicáveis." Os sentimentos expressos não comunicam o verdadeiro conhecimento de Deus. Através de todo o livro citam-se passagens da Escritura. Essas passagens são apresentadas de modo a fazerem o erro parecer verdade. Teorias errôneas são apresentadas de maneira tão aprazível que, a menos que tomem cuidado, muitos se desviarão.

Não precisamos do misticismo que há nesse livro. Os que entretêm esses sofismas logo se encontrarão numa posição em que o inimigo poderá falar com eles, afastando-os de Deus. É-me mostrado que o autor desse livro está em trilho falso. Perdeu ele de vista as verdades distintivas para este tempo. Não sabe para onde tendem os seus passos. A vereda da verdade acha-se muito perto da vereda do erro, e ambas as veredas podem parecer uma só, às mentes não dirigidas pelo Espírito Santo, e que, portanto, não são ligeiras em discernir a diferença entre a verdade e o erro.

Visão do Perigo que se Aproxima

Mais ou menos pelo tempo em que foi publicado Living Temple, passaram ante mim, na calada da noite, representações que indicavam estar-se aproximando algum perigo, e que eu devia para isso me preparar, escrevendo as coisas que Deus me revelara, acerca dos princípios fundamentais de nossa fé. Foi-me enviado um exemplar de Living Temple, mas ficou intocado em minha biblioteca. Segundo a luz que me foi dada pelo Senhor, eu sabia que alguns dos sentimentos defendidos no livro não traziam o endosso de Deus, e que eram uma cilada preparada pelo inimigo, para os últimos dias. Pensei que tal


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por certo seria percebido, e que não seria preciso que eu sobre isso dissesse o que quer que fosse.

Na controvérsia que surgiu entre nossos irmãos acerca dos ensinamentos desse livro, os que estavam a favor de lhe dar ampla divulgação diziam: "Encerra exatamente os pensamentos que a irmã White tem ensinado." Essa afirmativa feriu-me diretamente o coração. Senti-me acabrunhada, pois sabia que essa apresentação do caso não era verdadeira.

Afinal disse-me meu filho: "Mamãe, a senhora deve ler pelo menos alguns trechos do livro, para ver se estão em harmonia com a luz que o Senhor lhe deu." Assentou-se ao meu lado, e juntos lemos o prefácio, e a maior parte do primeiro capítulo, bem como alguns parágrafos de outros capítulos. Ao lermos, reconheci as próprias opiniões contra as quais me fora ordenado advertir, no princípio de meus trabalhos públicos. Quando pela primeira vez deixei o Estado do Maine, fi-lo com intenção de percorrer Vermont e Massachusetts, a fim de dar testemunho contra essas opiniões. Living Temple encerra o alfa dessas teorias. Eu sabia que o ômega seguiria dentro de pouco tempo; e tremi pelo nosso povo. Sabia eu que devia advertir nossos irmãos e irmãs a que não entrassem em controvérsia em relação à presença e personalidade de Deus. As afirmações feitas em Living Temple acerca deste ponto são incorretas. São mal aplicadas as passagens usadas em apoio da doutrina ali exposta.

Sou compelida a falar negando a pretensão de que os ensinamentos de Living Temple possam ser apoiados por declarações de meus escritos. Pode haver nesse livro expressões e opiniões que estejam em harmonia com os meus escritos. E pode haver em meus escritos muitas afirmações que, tiradas do contexto, e interpretadas de acordo com o pensamento do autor de Living Temple, dir-se-iam de acordo com os ensinamentos desse livro. Isso pode dar aparente apoio à afirmação de que as idéias de Living Temple estejam em harmonia com meus escritos. Deus não permita, porém, que prevaleça esta impressão.

Poucos discernem o resultado de sustentarem os sofismas


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defendidos por alguns, atualmente. O Senhor, porém, correu a cortina mostrando-me o resultado que se seguiria. As teorias espiritualistas acerca da personalidade de Deus, levadas a sua conclusão lógica, derribam toda a ordem cristã. Estimam como nada a luz que Cristo veio do Céu para dar a João, a fim de que ele a transmitisse ao Seu povo. Ensinam que as cenas que estão justamente à nossa frente não são de importância suficiente para que se lhes dê atenção especial. Tornam de nenhum efeito a verdade de origem celestial e roubam ao povo de Deus sua experiência passada, oferecendo-lhes, em lugar, uma ciência falsa.

Em visão da noite foi-me mostrado distintamente que essas opiniões foram por alguns consideradas grandes verdades, que devessem ser introduzidas, dando-se-lhes preeminência na atualidade. Foi-me mostrada uma plataforma, firmada por sólidas vigas de madeira - as verdades da Palavra de Deus. Alguém, de alta responsabilidade na obra médica, mandava que este homem, e aquele outro, desprendessem as vigas que suportavam a plataforma. Ouvi então uma voz que dizia: "Onde estão os vigias que deveriam estar sobre os muros de Sião? Estão dormindo? Esta base foi lançada pelo Obreiro-Mestre, e suportará vendavais e tempestades. Permitirão que este homem apresente doutrinas que neguem a passada experiência do povo de Deus? É chegado o tempo de ação decidida."

O inimigo das almas tem procurado introduzir a suposição de que uma grande reforma devia efetuar-se entre os adventistas do sétimo dia, e que essa reforma consistiria em renunciar às doutrinas que se erguem como pilares de nossa fé, e empenhar-se num processo de reorganização. Se tal reforma se efetuasse, qual seria o resultado? Seriam rejeitados os princípios da verdade, que Deus em Sua sabedoria concedeu à igreja remanescente. Nossa religião seria alterada. Os princípios fundamentais que têm sustido a obra neste últimos cinqüenta anos, seriam tidos na conta de erros. Estabelecer-se-ia uma nova organização. Escrever-se-iam livros de ordem diferente. Introduzir-se-ia um sistema de filosofia intelectual. Os


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fundadores deste sistema iriam às cidades, realizando uma obra maravilhosa. O sábado seria, naturalmente, menosprezado, como também o Deus que o criou. Coisa alguma se permitiria opor-se ao novo movimento. Ensinariam os líderes ser a virtude melhor do que o vício, mas, removido Deus, colocariam sua confiança no poder humano, o qual, sem Deus, nada vale. Seus alicerces se fundariam na areia, e os vendavais e tempestades derribariam a estrutura.

Quem tem autoridade para iniciar semelhante movimento? Possuímos a Bíblia. Temos nossa experiência, com o atestado da milagrosa operação do Espírito Santo. Temos uma verdade que não admite contemporização alguma. Não devemos repudiar tudo que não esteja em harmonia com esta verdade?

Hesitei quanto ao envio daquilo que o Espírito do Senhor me impeliu a escrever, e retardei a remessa. Eu não queria ser compelida a apresentar a influência desencaminhadora desses sofismas. Mas na providência de Deus, os erros que se têm insinuado têm de ser combatidos.

Um Iceberg! "Enfrentai-o!"

Pouco tempo depois de enviar os testemunhos acerca dos esforços do inimigo para solapar os alicerces de nossa fé mediante a disseminação de teorias sedutoras, lera eu um incidente acerca de um navio envolto em cerração, tendo à frente um iceberg. Por várias noites pouco dormi. Tinha a impressão de estar arcando sob um fardo, como um carro carregado de molhos. Uma noite foi-me apresentada claramente uma cena. Achava-se sobre as águas um navio, envolto em densa cerração. Súbito o vigia bradou: "Iceberg à frente!" Ali, elevando-se muito mais alto que o navio, estava um gigantesco iceberg. Uma voz autorizada exclamou: "Enfrentai-o!" Não houve um momento de hesitação. Urgia ação rápida. O maquinista pôs todo o vapor, e o timoneiro dirigiu o navio diretamente para cima do iceberg. Com um estrondo o navio deu contra o gelo. Houve tremendo choque e o iceberg se desfez em muitos pedaços, despencando sobre o convés, com um ruído de trovão. Os passageiros foram sacudidos violentamente pela força da


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colisão, nenhuma vida se perdeu. O navio sofreu avaria, mas não irreparável. Refez-se da colisão, tremendo de proa a popa, qual criatura viva. E seguiu então seu caminho.

Bem sabia eu o significado dessa representação. Eu tinha minhas ordens. Ouvira as palavras, como uma voz que viesse de nosso Comandante: "Enfrentai-o!" Sabia qual meu dever, e que não havia um momento a perder. Chegara o tempo para ação decidida. Eu devia, sem tardança, obedecer à ordem: "Enfrentai-o!"

Nessa noite estive acordada à uma hora, escrevendo tão depressa quanto minha mão podia deslizar sobre o papel. Nos próximos dias, trabalhei diuturnamente, preparando para nosso povo as instruções que me foram dadas acerca dos erros que se insinuavam em nosso meio.

Tive a esperança de que houvesse uma reforma cabal, e de que fossem mantidos os princípios pelos quais nos batemos nos dias primitivos, e que foram apresentados no poder do Espírito Santo.

O Firme Alicerce de Nossa Fé

Muitos de nosso povo não reconhecem quão firmemente foram lançados os alicerces de nossa fé. Meu esposo, o Pastor José Bates, o Pai Pierce, o Pastor [Hiran] Edson, e outros que eram inteligentes, nobres e verdadeiros, achavam-se entre os que, expirado o tempo em 1844, buscavam a verdade como a tesouros escondidos. Reunia-me com eles, e estudávamos e orávamos fervorosamente. Muitas vezes ficávamos reunidos até alta noite, e às vezes a noite toda, pedindo luz e estudando a Palavra. Repetidas vezes esses irmãos se reuniram para estudar a Bíblia, a fim de que conhecessem seu sentido e estivessem preparados para ensiná-la com poder. Quando, em seu estudo, chegavam a ponto de dizerem: "Nada mais podemos fazer", o Espírito do Senhor vinha sobre mim, e eu era arrebatada


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em visão, e era-me dada uma clara explanação das passagens que estivéramos estudando, com instruções quanto à maneira em que devíamos trabalhar e ensinar eficientemente. Assim nos foi proporcionada luz que nos ajudou a compreender as passagens acerca de Cristo, Sua missão e sacerdócio. Foi-me tornada clara uma cadeia de verdades que se estendia daquele tempo até ao tempo em que entraremos na cidade de Deus, e transmiti aos outros as instruções que o Senhor me dera.

Durante todo o tempo eu não podia compreender o arrazoamento dos irmãos. Minha mente estava por assim dizer fechada, não podia compreender o sentido das passagens que estudávamos. Esta foi uma das maiores tristezas de minha vida. Fiquei neste estado de espírito até que nos fossem tornados claros todos os pontos principais de nossa fé, em harmonia com a Palavra de Deus. Os irmãos sabiam que, quando não em visão, eu não compreendia esses assuntos, e aceitaram como luz direta do Céu as revelações dadas.

Por dois ou três anos minha mente continuou cerrada ao entendimento das Escrituras. No decorrer de nossos trabalhos, meu marido e eu visitamos o Pai Andrews, que sofria intensamente de reumatismo inflamatório. Oramos por ele. Impus as mãos sobre sua cabeça, e disse: "Pai Andrews, o Senhor Jesus te dá saúde." Foi curado instantaneamente. Levantou-se e andou pelo aposento, louvando a Deus e dizendo: "Nunca dantes vi isto. Anjos de Deus estão neste aposento." Revelou-se a glória do Senhor. Toda a casa parecia resplandecer de luz, e um anjo pôs-me a mão sobre a cabeça. Desse tempo em diante tenho sido capaz de compreender a Palavra de Deus.

Que influência essa, que desejaria levar os homens, neste período de nossa história, a trabalhar de modo enganador e poderoso, para solapar os alicerces de nossa fé - alicerces que foram lançados no princípio de nossa obra mediante devoto estudo da Palavra e pela revelação? Sobre esses alicerces temos estado a construir, nos últimos cinqüenta anos. Admirai-vos


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de que, quando vejo o princípio de uma obra que pretende remover alguns dos pilares de nossa fé, tenha algo a dizer? Tenho de obedecer à ordem: "Enfrentai-o!" ...

Tenho de proclamar as mensagens de advertência que Deus me dá para divulgar, e então deixar com o Senhor os resultados. Tenho de agora apresentar o assunto em todos os seus aspectos, pois o povo de Deus não deve ser despojado.

Somos o povo de Deus, observador dos mandamentos. Nos passados cinqüenta anos tem-se feito pressão sobre nós com toda sorte de heresias, a fim de embotar-nos o espírito em relação aos ensinos da Palavra - especialmente quanto ao ministério de Cristo no santuário celestial e à mensagem do Céu para estes últimos dias, como foi dada pelos anjos do décimo quarto capítulo do Apocalipse. Mensagens de toda espécie e feitio têm feito pressão sobre os adventistas do sétimo dia, pretendendo substituir a verdade que, ponto por ponto, tem sido buscada com estudo e oração, e atestada pelo poder milagroso do Senhor. Mas os marcos que nos tornaram o que somos, devem ser preservados, e sê-lo-ão, conforme Deus o mostrou mediante Sua Palavra e o testemunho de Seu Espírito. Ele nos conclama a nos apegarmos firmemente, com a mão da fé, aos princípios fundamentais baseados em autoridade inquestionável.

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