Para Cristo não Há Diferenças Sociais
O mais elevado anjo do Céu não tinha poder para pagar o resgate de uma só alma perdida. Querubins e serafins só têm a glória com a qual são dotados pelo Criador, como Suas criaturas que são, e a reconciliação do homem com Deus só podia ser realizada mediante um Mediador que fosse igual a Deus, possuísse atributos que dignificassem, e o declarassem digno de tratar com o infinito Deus em favor do homem, e também representasse Deus a um mundo caído. O substituto e penhor do homem tinha de ter a natureza do homem, ligação com a família humana a quem devia representar, e, como embaixador de Deus, devia participar da natureza divina, ter ligação com o Infinito, a fim de manifestar Deus ao mundo, e ser mediador entre Deus e o homem.
Estas qualificações só se encontravam em Cristo. Revestindo de humanidade a Sua divindade, veio Ele à Terra para ser chamado Filho do homem e Filho de Deus. Era o penhor do homem, embaixador de Deus - o penhor para que o homem pela justiça dEle em seu favor satisfizesse as reivindicações da lei, e representante de Deus, para tornar manifesto o Seu caráter a uma raça caída.
O Redentor do mundo possuía o poder de atrair homens a Si, acalmar-lhes os temores, espancar-lhes as sombras, inspirar-lhes esperança e ânimo, habilitá-los a crer na boa vontade de Deus para recebê-los, graças aos méritos do Substituto divino. Como objetos do amor de Deus, devemos ser-Lhe sempre gratos por termos um mediador, um advogado, um intercessor nos tribunais celestiais, o qual intercede por nós perante o Pai.
Temos tudo que poderíamos pedir, para nos inspirar fé e confiança em Deus. Nas cortes terrestres, quando um rei quer dar seu maior penhor para provar aos homens a sua veracidade, dá ele seu filho como refém, para ser resgatado quando do cumprimento de sua promessa; e, vede que penhor da fidelidade do Pai! - pois quando Ele quis assegurar aos homens a imutabilidade de Seu conselho, deu Ele Seu Filho unigênito, para que viesse à Terra, a fim de tomar a natureza do homem, não só pelos breves anos da vida, mas para reter sua natureza nas cortes celestes, como eterno penhor da fidelidade de Deus. Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como do amor de Deus! "Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus." I João 3:1.
Pela fé em Cristo tornamo-nos membros da família real, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Jesus Cristo. Em Cristo somos um. Ao avistarmos o Calvário, e vermos o real Sofredor que com a natureza do homem suportou a maldição da lei em seu favor, acabam todas as distinções nacionais, todas as diferenças sectárias; desaparece toda a honra de posição social, todo o orgulho.
A luz que brilha do trono de Deus sobre a cruz do Calvário põe para sempre fim às separações erguidas pelo homem entre classe e raça. Homens de todas as classes tornam-se membros de uma só família, filhos do celeste Rei, não por meio de poder terrestre, mas mediante o amor de Deus que entregou Jesus a uma vida de pobreza, trabalhos e humilhação, a uma morte de ignomínia e agonia, para que pudesse levar para a glória muitos filhos e filhas.
Não é a posição, nem a finita sabedoria, nem as habilitações, nem os dotes de qualquer pessoa que a tornam elevada
na estima de Deus. O intelecto, a razão, os talentos dos homens, são dons de Deus para serem empregados para Sua glória, para edificação de Seu reino eterno. É o caráter espiritual e moral que é de valor à vista do Céu, e que sobreviverá à sepultura e possuirá a glória da imortalidade, através dos séculos intérminos da eternidade. A realeza mundana, tão altamente honrada pelos homens, jamais ressurgirá da sepultura para a qual vai. Riquezas, honra, sabedoria dos homens, que serviram aos propósitos do inimigo, não podem dar aos seus possuidores herança, nem honra, nem posição de confiança no mundo por vir. Unicamente os que apreciaram a graça de Cristo, que os tornou herdeiros de Deus e co-herdeiros de Jesus, ressurgirão da sepultura trazendo a imagem de seu Redentor.
Todos os que forem achados dignos de serem contados entre os membros da família de Deus no Céu, reconhecer-se-ão mutuamente como filhos e filhas de Deus. Reconhecerão que todos recebem sua força e perdão da mesma fonte, do próprio Jesus Cristo, que pelos seus pecados foi crucificado. Sabem que devem lavar em Seu sangue as vestes do caráter, para ter aceitação perante o Pai em Seu nome, se quiserem estar na brilhante assembléia dos santos, trajando as brancas vestes de justiça.
Um em Cristo
Portanto, sendo os filhos de Deus um em Cristo, como considera Jesus as classes, as distinções sociais, a separação do homem de seus semelhantes, por causa da cor, da raça, posição, riqueza, nascimento ou realizações? O segredo da unidade encontra-se na igualdade entre os crentes em Cristo. A razão de todas as divisões, discórdias e diferenças encontra-se na separação de Cristo. Cristo é o centro para o qual todos devem ser atraídos; pois quanto mais nos aproximamos do centro, tanto mais nos aproximaremos uns dos outros em sentimento, em simpatia, em amor, crescendo no caráter e imagem de Jesus. Para Deus não há acepção de pessoas.
Jesus conhecia o nenhum valor das pompas terrestres, e não dava atenção a sua ostentação. Em Sua dignidade de alma,
Sua elevação de caráter, Sua nobreza de princípio, estava Ele muito acima dos vãos costumes do mundo. Embora o profeta O descreva como "desprezado, e o mais indigno entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos" (Isa. 53:3), poderia Ele ter sido estimado como o mais elevado entre os nobres da Terra. Os melhores círculos da sociedade humana tê-Lo-iam cortejado, se Ele tivesse condescendido em aceitar o seu favor, mas não desejava os aplausos dos homens, e agia independente de toda a influência humana. Riqueza, posição, categoria mundana em todas as suas variedades e distinções de grandeza humana, eram tudo outros tantos graus de pequenez para Aquele que deixara as honras e a glória do Céu, e que não possuía brilho terrestre, não condescendia com luxo algum e não ostentava adorno senão a humildade.
Os humildes, os presos à pobreza, premidos por cuidados, sobrecarregados de trabalhos, não encontravam em Sua vida razão e exemplo que os levasse a pensar que Jesus não fosse experimentado em suas provas, não conhecesse a pressão de suas circunstâncias, e não Se compadecesse deles em suas necessidades e tristezas. A modéstia de Sua humilde vida diária estava em harmonia com Seu humilde nascimento e circunstâncias. O Filho do Deus infinito, senhor da vida e da glória, desceu em humilhação à vida dos mais baixos, a fim de que ninguém se sentisse excluído de Sua presença. Tornou-Se Ele acessível a todos. Não selecionava uns poucos favorecidos, para com eles Se associar, passando por alto os demais. Quando o conservadorismo exclui os homens de seus semelhantes, especialmente quando esse conservadorismo se encontra entre os que professam ser filhos de Deus, isto entristece ao Espírito divino.
Cristo veio para dar ao mundo um exemplo do que poderia ser a humanidade perfeita, quando unida à divindade. Apresentou ao mundo um novo aspecto de grandeza em Sua exibição de misericórdia, compaixão e amor. Deu aos homens uma nova interpretação de Deus. Como Criador da humanidade, ensinou aos homens lições na ciência do governo divino, pelas quais revelou a razão da reconciliação entre a misericórdia e a justiça. Esta reconciliação não envolvia nenhum compromisso com o pecado, nem passava por alto nenhuma reivindicação da justiça; mas dando a cada atributo divino o lugar que lhe era
ordenado, pôde a misericórdia ser exercida na punição do homem pecador e impenitente, sem destruir a sua clemência nem perder seu caráter compassivo, e pôde ser exercida a justiça em perdoar ao transgressor arrependido, sem violar a integridade dela.
Cristo Nosso Sumo Sacerdote
Tudo isso se pôde dar por ter Cristo assumido a natureza do homem e participado dos atributos divinos, e plantado Sua cruz entre a humanidade e a divindade, fazendo uma ponte sobre o abismo que separava de Deus o pecador.
"Porque, na verdade, Ele não tomou os anjos [Ele não tomou sobre Si a natureza dos anjos, diz outra tradução], mas tomou a descendência de Abraão. Pelo que convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados." Heb. 2:16-18.
"Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém Um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado." Heb. 4:15.
"Porque todo o sumo sacerdote, tomado dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados; e possa compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados; pois também ele mesmo está rodeado de fraqueza. E por esta causa deve ele, tanto pelo povo, como também por si mesmo, fazer oferta pelos pecados. E ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus, como Arão. Assim também Cristo Se não glorificou a Si mesmo, para Se fazer sumo sacerdote, mas Aquele que Lhe disse: Tu és Meu Filho, hoje Te gerei. Como também diz noutro lugar: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque. O qual, nos dias da Sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que O podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era Filho, aprendeu a obediência,
por aquilo que padeceu. E, sendo Ele consumado, veio a ser a causa de eterna salvação para todos os que Lhe obedecem." Heb. 5:1-9.
Jesus veio para trazer poder moral, a fim de que este se unisse ao esforço humano, e em caso algum devem os Seus seguidores permitir-se perder de vista a Cristo, que é seu exemplo em todas as coisas. Disse Ele: "Por eles Me santifico a Mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade." João 17:19. Jesus apresenta a verdade perante Seus filhos para que a possam contemplar e, contemplando-a, tornar-se transformados, pela Sua graça, da transgressão para a obediência, da impureza para a pureza, do pecado para a santidade do coração e justiça da vida.
Classe Especial no Céu
Alguns dentre os remidos terão aceito a Cristo nas derradeiras horas da vida, e no Céu será ministrada instrução aos que, ao morrer, não compreendiam perfeitamente o plano da salvação. Cristo guiará os remidos para junto do rio da vida, e revelar-lhes-á aquilo que, quando na Terra, não puderam compreender. Manuscrito 150.