Obreiros Evangélicos

CAPÍTULO 94

Ordenação

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"Na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé, e Simeão, chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, ... e Saulo. E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-Me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado." Atos 13:1 e 2. Antes de serem enviados como missionários ao mundo pagão, esses apóstolos foram solenemente consagrados a Deus com jejum e oração e a imposição das mãos. Assim foram eles autorizados pela igreja não somente para ensinar a verdade, mas para realizar o rito do batismo e organizar igrejas, achando-se investidos de plena autoridade eclesiástica.

A igreja cristã estava a esse tempo entrando numa fase importante. A obra de proclamar a mensagem evangélica entre os gentios devia agora prosseguir com vigor; e, em resultado, a igreja se havia de fortalecer por uma grande colheita de almas. Os apóstolos que tinham sido designados para dirigir essa obra, estariam expostos a suspeitas, preconceitos e ciúmes. Seus ensinos a respeito da demolição da "parede de separação que estava no meio" (Efés. 2:14), a qual por tanto tempo separara o mundo judaico do gentílico, haviam naturalmente de acarretar-lhes a acusação de heresia; e sua autoridade como ministros do evangelho seria posta em dúvida por muitos judeus zelosos e crentes.

Deus previu as dificuldades que Seus servos seriam chamados a enfrentar; e para que sua obra


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estivesse acima de acusação, instruiu a igreja, mediante revelação, a separá-los publicamente para a obra do ministério. Sua ordenação era um reconhecimento público de sua divina designação para levar aos gentios as boas novas do evangelho.

Tanto Paulo como Barnabé já haviam recebido sua comissão do próprio Deus, e a cerimônia da imposição das mãos não ajuntou à mesma nenhuma graça ou virtual qualificação. Era uma forma reconhecida de designação para um cargo específico bem como da autoridade da pessoa no mesmo. Por ela o selo da igreja era colocado sobre a obra de Deus.

Essa forma era significativa para os judeus. Quando um pai judeu abençoava os filhos, punha-lhes reverentemente as mãos sobre a cabeça. Quando um animal era votado ao sacrifício, a mão daquele que se achava revestido da autoridade sacerdotal colocava-se sobre a cabeça da vítima. E quando os ministros da igreja de crentes de Antioquia puseram as mãos sobre Paulo e Barnabé, pediam, por esse gesto, que Deus concedesse Sua bênção aos escolhidos apóstolos, em sua consagração à obra específica a que haviam sido designados.

Em época posterior, o rito da ordenação mediante a imposição das mãos sofreu muito abuso; ligava-se a esse ato uma insustentável importância, como se sobreviesse de vez um poder aos que recebiam essa ordenação, poder que os habilitasse imediatamente por toda e qualquer obra ministerial. Mas, na separação desses dois apóstolos, não há registro a indicar que fosse qualquer virtude comunicada pelo simples ato da imposição das mãos. Há unicamente o singelo relatório de sua ordenação, e da influência que ela teve em sua obra futura.


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As circunstâncias ligadas à separação de Paulo e Barnabé pelo Espírito Santo, para um definido ramo de serviço, mostram claramente que Deus opera mediante designados instrumentos em Sua igreja organizada. Anos atrás, quando o propósito divino a respeito de Paulo foi primeiramente revelado ao mesmo, pelo próprio Salvador, Paulo foi imediatamente depois posto em contato com os membros da recém-organizada igreja de Damasco. Demais, essa igreja não foi por mais tempo deixada na ignorância quanto à experiência pessoal do fariseu convertido. E agora, que a divina comissão então dada devia ser mais plenamente levada a efeito, o Espírito Santo, dando novamente testemunho a respeito de Paulo como um vaso escolhido para levar o evangelho aos gentios, impôs à igreja a obra de ordená-lo e a seu companheiro de trabalho. E enquanto os dirigentes da igreja de Antioquia estavam servindo "ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-Me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado". Atos 13:2.

Deus fez de Sua igreja na Terra um conduto de luz, e, por intermédio dela comunica Seus desígnios e Sua vontade. Ele não dá a um de Seus servos uma experiência independente da experiência da própria igreja, ou a ela contrária. Nem dá a um homem um conhecimento de Sua vontade para toda a igreja enquanto esta - o corpo de Cristo - é deixada em trevas. Em Sua providência, Ele coloca Seus servos em íntima relação com a igreja, a fim de que tenham menos confiança em si mesmos, e mais em outros a quem Ele está guiando para levarem avante Sua obra.

Tem havido sempre na igreja os que estão constantemente inclinados à independência individual.


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Parecem incapazes de compreender que a independência de espírito é suscetível de levar o instrumento humano a ter demasiada confiança em si mesmo, e em seu próprio discernimento, de preferência a respeitar o conselho e estimar altamente a maneira de julgar de seus irmãos, especialmente os que se acham nos cargos designados por Deus para guia de Seu povo. Deus investiu Sua igreja de especial autoridade e poder, por cuja desconsideração e desprezo ninguém se pode justificar; pois aquele que assim procede, despreza a voz de Deus.

Os que são inclinados a considerar como supremo seu critério individual, acham-se em grave perigo. É o planejado esforço de Satanás separar a esses dos que são condutos de luz, e por cujo intermédio Deus tem operado para edificar e estender Sua obra na Terra. Negligenciar ou desprezar aqueles que Deus designou para arcar com as responsabilidades da direção ligadas ao progresso da verdade, é rejeitar o meio ordenado por Ele para auxílio, animação e fortalecimento de Seu povo. Desprezar qualquer obreiro na causa do Senhor, e pensar que a luz não lhe deve vir por nenhum outro instrumento, mas diretamente de Deus, é assumir uma atitude em que está sujeito a ser iludido pelo inimigo, e vencido. Em Sua sabedoria, o Senhor tem designado que, mediante a íntima relação mantida por todos os crentes, cristão esteja unido a cristão, igreja a igreja. Assim estará o instrumento humano habilitado a cooperar com o divino. Todo agente estará subordinado ao Espírito Santo, e todos os crentes unidos num esforço organizado e bem dirigido para dar ao mundo as alegres novas da graça de Deus.


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Paulo considerava a ocasião de sua ordenação formal, como assinalando o início de uma nova e importante época na obra de sua vida. É desse tempo que ele faz datar, depois, o começo de seu apostolado na igreja cristã. Atos dos Apóstolos, págs. 160-165.

Foi na ordenação dos doze que se deram os primeiros passos na organização da igreja, que depois da partida de Cristo devia levar avante Sua obra na Terra. A respeito dessa ordenação, diz o relato: "E subiu ao monte e chamou para Si os que Ele quis; e vieram a Ele. E nomeou doze para que estivessem com Ele e os mandasse a pregar." Mar. 3:13 e 14. ...

Com alegria e júbilo, Deus e os anjos contemplavam esta cena. O Pai sabia que por intermédio desses homens haveria de brilhar a luz do Céu, que as palavras por eles ditas ao testemunharem de Seu Filho, haveriam de ecoar de geração em geração, até ao fim dos séculos.

Os discípulos deviam sair como testemunhas de Cristo para anunciar ao mundo o que dEle tinham visto e ouvido. Seu cargo era o mais importante dos cargos a que já haviam sido chamados seres humanos, apenas inferior ao do próprio Cristo. Eles deviam ser obreiros de Deus na salvação dos homens. Como no Antigo Testamento os doze patriarcas ocupavam o lugar de representantes de Israel, assim os doze apóstolos representam a igreja evangélica. Atos dos Apóstolos, págs. 18 e 19.

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