II. Ministros da Justiça
"Nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes de ser ministros."
Cristo, Nosso Exemplo
Nosso Senhor Jesus Cristo veio a este mundo como o infatigável servo das necessidades do homem. "Tomou sobre Si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças" (Mat. 8:17), a fim de poder ajudar a todas as necessidades humanas. Veio para remover o fardo de doenças, misérias e pecados. Era sua missão restaurar inteiramente os homens; veio trazer-lhes saúde, paz e perfeição de caráter.
Várias eram as circunstâncias e necessidades dos que Lhe suplicavam o auxílio, e nenhum dos que a Ele se chegavam saía desatendido. DEle procedia uma corrente de poder restaurador, ficando os homens física, mental e moralmente sãos.
A obra do Salvador não estava restrita a qualquer tempo ou lugar. Sua compaixão desconhecia limites. Em tão larga escala realizara Sua obra de curar e ensinar; que não havia na Palestina edifício vasto bastante para comportar as multidões que se Lhe aglomeravam em torno. Nas verdes encostas da Galiléia, nas estradas, à beira-mar, nas sinagogas e em todo lugar a que os doentes Lhe podiam ser levados, aí se encontrava Seu hospital. Em cada cidade, cada vila por que passava, punha as mãos
sobre os doentes, e os curava. Onde quer que houvesse corações prontos a receber-Lhe a mensagem, Ele os confortava com a certeza do amor de Seu Pai celestial. Todo o dia ajudava os que a Ele vinham; à tardinha atendia aos que tinham que labutar durante o dia pelo sustento da família.
Jesus carregava o terrível peso de responsabilidade da salvação dos homens. Sabia que, a menos que houvesse da parte da raça humana, decidida mudança de princípios e desígnios, tudo estaria perdido. Esse era o fardo de Sua alma, e ninguém podia avaliar o peso que sobre Ele repousava. Através da infância, juventude e varonilidade, andou sozinho. Todavia, estar-se em Sua presença, era um Céu. Dia a dia enfrentava provas e tentações; dia a dia era posto em contato com o mal, e testemunhava o poder do mesmo sobre aqueles a quem buscava abençoar e salvar. Não obstante, não vacilava nem ficava desanimado.
Em todas as coisas punha Seus desejos em estrita obediência à Sua missão. Glorificava Sua vida por torná-la em tudo submissa à vontade de Seu Pai. Quando, na Sua juventude, Sua mãe, ao encontrá-Lo na escola dos rabis, disse: "Filho, por que fizeste assim para conosco?" Luc. 2:48. Ele respondeu - e Sua resposta é a nota tônica de Sua obra vitalícia - "Por que é que Me procuráveis? Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?" Luc. 2:49.
Sua vida foi de constante abnegação. Não possuía lar neste mundo, a não ser o que a bondade dos amigos Lhe preparava como peregrino. Veio viver em nosso favor a vida do mais pobre, e andar e trabalhar entre os necessitados e sofredores.
Entrava e saía, não reconhecido nem honrado, diante do povo por quem tanto fizera.
Era sempre paciente e bem-humorado, e os aflitos O saudavam como a um mensageiro de vida e paz. Via as necessidades de homens e mulheres, crianças e jovens, e a todos dirigia o convite: "Vinde a Mim." Mat. 11:28.
Durante Seu ministério Jesus dedicou mais tempo a curar os enfermos do que a pregar. Seus milagres testificavam da veracidade de Suas palavras, de que não veio a destruir, mas a salvar. Aonde quer que fosse, as novas de Sua misericórdia O precediam. Por onde havia passado, os que haviam sido alvo de Sua compaixão se regozijavam na saúde, e experimentavam as forças recém-adquiridas. Multidões ajuntavam-se em torno deles para ouvir de seus lábios as obras que o Senhor realizara. Sua voz havia sido o primeiro som ouvido por muitos, Seu nome o primeiro proferido, Seu rosto o primeiro que contemplaram. Por que não haveriam de amar a Jesus e proclamar-Lhe o louvor? Ao passar por vilas e cidades, era como uma corrente vivificadora, difundindo vida e alegria. ...
O Salvador tornava cada ato de cura uma ocasião para implantar princípios divinos na mente e na alma. Esse era o desígnio de Sua obra. Comunicava bênçãos terrestres, para que pudesse inclinar o coração dos homens ao recebimento do evangelho da Sua graça.
Cristo poderia ter ocupado o mais elevado lugar entre os mestres da nação judaica, mas preferiu levar o evangelho aos pobres. Ia de lugar a lugar, para que os que se achavam nos caminhos e atalhos pudessem ouvir as palavras da verdade. Na praia, nas encostas das montanhas, nas ruas da cidade, nas sinagogas, Sua voz se fazia ouvir explicando as Escrituras.
Muitas vezes ensinava no pátio anterior do templo, a fim de os gentios Lhe poderem ouvir as palavras.
Tão dessemelhantes eram os ensinos de Cristo das explicações bíblicas feitas pelos escribas e fariseus, que prendiam a atenção do povo. Os rabis apegavam-se à tradição, às teorias e especulações humanas. Muitas vezes o que os homens haviam ensinado e escrito acerca das Escrituras, era posto em lugar delas próprias. O tema dos ensinos de Cristo era a Palavra de Deus. Ele respondia aos inquiridores com um positivo: "Está escrito", "Que diz a Escritura?" "Como lês?" Em todas as oportunidades, em se despertando em amigo ou adversário qualquer interesse, Ele apresentava a Palavra. Proclamava a mensagem evangélica de maneira clara e poderosa. Suas palavras derramavam abundante luz sobre os ensinos dos patriarcas e profetas, e as Escrituras chegavam aos homens como uma nova revelação. Nunca antes haviam Seus ouvintes percebido na Palavra de Deus tal profundeza de sentido.
A Simplicidade dos Ensinos de Cristo
Um evangelista como Cristo, não houve jamais. Ele era a Majestade do Céu, mas humilhou-Se para tomar nossa natureza, a fim de chegar até ao homem na condição em que se achava. A todos, ricos e pobres, livres e servos, Cristo, o Mensageiro do concerto, trouxe as boas novas de salvação. Sua fama como o grande Operador de curas espalhou-se por toda a Palestina. Os enfermos iam para os lugares por onde Ele devia passar, a fim de para Ele poderem apelar em busca de auxílio. Para aí iam também muitas criaturas ansiosas de Lhe ouvir as palavras e receber o toque de Sua mão. Assim ia de cidade em cidade, de vila a vila, pregando o evangelho e curando os enfermos - o Rei da glória na humilde veste humana.
Assistia às grandes festas anuais da nação, e falava das coisas celestes às multidões absortas nas cerimônias exteriores, trazendo a eternidade ao alcance de sua visão. Dos celeiros da sabedoria tirava tesouros para todos. Falava-lhes em linguagem tão simples, que não podiam deixar de entender. Por métodos inteiramente Seus, ajudava a todos quantos se achavam em aflição e dor. Com graça terna e cortês, ajudava a alma enferma de pecado, levando-lhe saúde e vigor.
Príncipe dos mestres, buscava acesso ao povo por meio de suas mais familiares relações. Apresentava a verdade de maneira que daí em diante ela estaria sempre entretecida no espírito de Seus ouvintes com suas mais sagradas recordações e afetos. Ensinava-os de maneira que os fazia sentir quão perfeita era Sua identificação com os interesses e a felicidade deles. Suas instruções eram tão diretas, tão adequadas Suas ilustrações, Suas palavras tão cheias de simpatia e animação, que os ouvintes ficavam encantados. A simplicidade e sinceridade com que Se dirigia aos necessitados santificavam cada palavra.
A Ricos e Pobres Igualmente
Que vida atarefada levou Ele! Dia a dia podia ser visto entrando nas humildes habitações da miséria e da dor, dirigindo palavras de esperança aos abatidos, e de paz aos aflitos. Cheio de graça, sensível e clemente, andava erguendo os desfalecidos e confortando os tristes. Aonde quer que fosse, levava bênçãos.
Ao passo que ajudava os pobres, Jesus estudava também os meios de atingir os ricos.
Procurava travar relações com o rico e culto fariseu, o nobre judeu e a autoridade romana. Aceitava-lhes os convites, assistia às suas festas, tornava-Se familiar com os interesses e ocupações deles, a fim de obter acesso ao seu coração, e revelar-lhes as imperecíveis riquezas.
Cristo veio a este mundo para mostrar que, mediante o recebimento de poder do alto, o homem pode levar vida imaculada. Com incansável paciência e assistência compassiva, ia ao encontro dos homens nas suas necessidades. Pelo suave contato da graça, bania da alma o desassossego e a dúvida, transformando a inimizade em amor, e a incredulidade em confiança. ...
Cristo não conhecia distinção de nacionalidade, posição ou credo. Os escribas e fariseus desejavam fazer dos dons celestes um privilégio local e nacional, e excluir o resto da família de Deus no mundo. Mas Cristo veio destruir todo muro de separação. Veio mostrar que Seu dom de misericórdia e amor é tão ilimitado como o ar, a luz ou a chuva que refrigera a Terra.
A vida de Cristo estabeleceu uma religião em que não há etnias, a religião em que judeus e gentios, livres e servos são ligados numa fraternidade comum, iguais perante Deus. Nenhuma questão política Lhe influenciava a maneira de agir. Não fazia diferença alguma entre vizinhos e estranhos, amigos e inimigos. O que tocava Seu coração era uma alma sedenta pelas águas da vida.
Não passava nenhum ser humano por alto como indigno, mas procurava aplicar a toda alma o remédio capaz de sarar. Em qualquer companhia em que Se encontrasse, apresentava uma lição adequada ao tempo e às circunstâncias. Cada negligência ou insulto da parte de alguém para com seu semelhante,
servia apenas para O fazer mais consciente da necessidade que tinham de Sua simpatia divino-humana. Procurava inspirar esperança aos mais rudes e menos promissores, prometendo-lhes a certeza de que haveriam de tornar-se irrepreensíveis e inocentes, alcançando um caráter que manifestaria serem filhos de Deus.
Muitas vezes Jesus encontrava pessoas que haviam caído no poder de Satanás, e não que tinham forças para romper os laços. A essas criaturas, desanimadas, doentes, tentadas, caídas costumava dirigir palavras da mais terna piedade, palavras adequadas, e que podiam ser compreendidas. Outros se Lhe deparavam que estavam empenhados numa luta cruel com o adversário das almas. A esses Ele animava a perseverar, assegurando-lhes que haviam de triunfar, pois anjos de Deus se achavam a seu lado e lhes dariam a vitória.
À mesa dos publicanos Ele Se sentava como hóspede de honra, mostrando por Sua simpatia e benevolência social que reconhecia a dignidade humana; e os homens anelavam tornar-se dignos de Sua confiança. Sobre seu coração sedento, as palavras dEle caíam como bendito poder, vivificante. Novos impulsos eram despertados, e abria-se, para esses excluídos da sociedade, a possibilidade de vida nova.
Conquanto fosse judeu, Jesus Se associava sem reserva com os samaritanos, deitando assim por terra os costumes farisaicos de Sua nação. A despeito de seus preconceitos, Ele aceitou a hospitalidade desse povo desprezado. Dormia com eles sob seu teto, comia à mesa deles - compartilhando da comida preparada e servida por suas mãos - ensinava em suas ruas, e tratava-os com a maior bondade e cortesia. E ao passo que lhes atraía o coração pelos laços de humana simpatia, Sua divina graça levava-lhes a salvação que os judeus rejeitavam. A Ciência do Bom Viver, págs. 17-26.