Há na obra de muitos pastores demasiados sermões, e bem pouco do verdadeiro trabalho de coração para coração. Há necessidade de mais trabalho individual pelas almas. Em simpatia cristã, o pastor se deve aproximar individual e intimamente dos homens, buscando despertar-lhes o interesse nas grandes coisas concernentes à vida eterna. Seu coração poderá ser tão duro como as batidas estradas e, aparentemente, talvez seja um esforço inútil apresentar-lhes o Salvador; mas, ao passo que a lógica pode falhar em desviá-los, os argumentos serem impotentes para os convencer, o amor de Cristo, revelado no ministério pessoal, pode abrandar o coração empedernido, de maneira que a semente da verdade venha a criar raízes.
O ministério significa muito mais do que fazer sermões; importa em fervoroso trabalho pessoal. A igreja na Terra compõe-se de homens e mulheres errantes que necessitam de paciente, continuada atividade, para que se exercitem e disciplinem em trabalhar de maneira aceitável nesta vida e, na futura, sejam coroados de glória e imortalidade. Necessitam-se pastores - pastores fiéis - que não lisonjeiem o povo de Deus, nem o tratem asperamente, mas que o alimentem com o pão da vida - homens que sintam diariamente em sua própria vida o poder transformador do Espírito Santo, e que nutram forte e abnegado amor àqueles com quem trabalham.
É uma obra que requer tato, a que se oferece ao subpastor quando tem de enfrentar afastamento, amargura, inveja e ciúme na igreja; e ser-lhe-á preciso trabalhar no espírito de Cristo a fim de estabelecer a ordem. São necessárias fiéis advertências, repreensões ao pecado, reparações de agravos, tanto pela obra do pastor no púlpito,
como pelo seu trabalho pessoal. O coração corrompido pode objetar à mensagem, e o servo de Deus ser mal julgado e criticado. Lembre-se ele então de que "a sabedoria que do alto vem é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia. Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz". Tia. 3:17 e 18.
A obra do ministro evangélico é "demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que, desde os séculos, esteve oculto em Deus". Efés. 3:9. Se uma pessoa que entra para esta obra escolhe a parte que exige menos sacrifício, contentando-se com pregar, e deixando a obra do ministério pessoal para ser feita por alguma outra pessoa, seus serviços não serão aceitáveis diante de Deus. Almas por quem Cristo morreu estão perecendo à míngua de bem dirigido trabalho pessoal; e errou sua vocação aquele que, havendo entrado para o ministério, não está disposto a fazer a obra pessoal que o cuidado do rebanho exige.
O ministro deve instar a tempo e fora de tempo, estar pronto a aproveitar toda oportunidade para fazer avançar a obra de Deus. "Instar a tempo" é estar alerta quanto aos privilégios da casa e hora de culto, e às ocasiões em que os homens estão conversando sobre religião. E "fora de tempo" é estar pronto, quando no lar, no campo, de viagem ou nos negócios, a encaminhar habilmente o espírito dos homens aos grandes temas das Escrituras, fazendo-os sentir com espírito brando e fervoroso, as reivindicações de Deus. Muitas, muitas dessas oportunidades se deixam escapar sem serem aproveitadas, porque os homens estão
persuadidos de que é fora de tempo. Mas, quem sabe qual será o resultado de um sábio apelo dirigido à consciência? Está escrito: "Pela manhã, semeia a tua semente e, à tarde, não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas igualmente serão boas." Ecl. 11:6. Aquele que está semeando a semente da verdade pode andar com o coração cheio de cuidados e por vezes, seus esforços podem parecer infrutíferos. Mas, se é fiel, há de ver os frutos de seu trabalho; pois Deus declara: "Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará sem dúvida com alegria, trazendo consigo os seus molhos." Sal. 126:6.
Visitas às Famílias
Havendo o pastor apresentado a mensagem evangélica do púlpito, sua obra está apenas iniciada. Resta-lhe fazer o trabalho pessoal. Cumpre-lhe visitar o povo em casa, conversando e orando com eles em fervor e humildade. Há famílias que nunca serão postas em contato com as verdades da Palavra de Deus, a menos que os mordomos de Sua graça lhes penetrem no lar, e lhes indiquem o caminho mais elevado. O coração dos que fazem essa obra, porém, deve palpitar em uníssono com o coração de Cristo.
Muito se acha compreendido na ordem: "Sai pelos caminhos e atalhos e força-os a entrar, para que a Minha casa se encha." Luc. 14:23. Ensinem os pastores a verdade às famílias, aproximando-se mais intimamente daqueles em favor de quem trabalham; e, ao cooperarem assim com Deus, Ele os revestirá de poder espiritual. Cristo os guiará em sua obra, dando-lhes palavras que penetrarão profundamente no coração dos ouvintes.
Todo pastor tem o privilégio de poder dizer com Paulo: "Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus. ... Nada, que útil seja, deixei de vos anunciar, e ensinar publicamente e pelas casas, ... a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo." Atos 20:27, 20 e 21.
Nosso Salvador ia de casa em casa, curando os enfermos, confortando os tristes, consolando os aflitos, e dirigindo palavras de paz aos abatidos. Ele tomava as crianças nos braços, e as abençoava e dirigia palavras de esperança e conforto às mães cansadas. Com infatigável ternura e suavidade Se aproximava de todas as formas de infortúnio e aflição humanos. Não em Seu próprio proveito, mas no dos outros. Ele trabalhava. Era o servo de todos. Sua comida e bebida era levar esperança e forças a todos com quem entrava em contato. E, ouvindo homens e mulheres as verdades que Lhe caíam dos lábios, tão diversas das tradições e dogmas ensinados pelos rabis, brotava-lhes no coração a esperança. Havia em Seus ensinos uma sinceridade que fazia com que Suas palavras fossem direito ao alvo, com um poder convincente.
Desejo dizer a meus irmãos do ministério: Aproximai-vos do povo onde ele se acha, mediante o trabalho pessoal. Relacionai-vos com ele. Esta é uma obra que se não pode fazer por procuração. Dinheiro emprestado ou dado, não a pode realizar. Sermões, do púlpito, não a podem efetuar. Ensinar as Escrituras às famílias - eis a obra do evangelista; e esta obra deve estar unida à de pregar. Sendo omitida, a pregação será, em grande parte, um fracasso.
Os que estão à procura da verdade precisam que as palavras lhes sejam dirigidas oportunamente; pois Satanás lhes está falando por suas tentações.
Se encontrais repulsa ao tentar ajudar almas, não vos importeis. Se vossa obra parece produzir poucos resultados; não fiqueis desanimados. Perseverai em trabalhar; sede discretos; compreendei quando convém falar, e quando guardar silêncio; vigiai em favor das almas como quem por elas devem dar contas; e vigiai os artifícios de Satanás, para que não sejais desviados do dever. Não permitais que as dificuldades vos abatam ou intimidem. Com fé vigorosa, com ousadia de propósito, enfrentai e vencei essas dificuldades. Semeai a semente com fé, e liberalmente.
Muito depende da maneira em que vos aproximais daqueles a quem fazeis visita. Podeis pegar de tal maneira na mão de uma pessoa ao saudá-la, que lhe conquisteis a confiança imediatamente, ou de modo tão frio que ela pense que não tendes por ela interesse algum.
Não deveríamos agir como se fosse condescendência nos aproximarmos do pobre. Eles são à vista de Deus, tão preciosos como nós, e devemos proceder em harmonia com esse pensamento. Nosso vestuário deve ser simples, de maneira que, ao visitarmos os pobres, eles não fiquem embaraçados pelo contraste entre nossa aparência e a sua. As alegrias que chegam aos pobres são bem limitadas, muitas vezes; e por que não haveria de o obreiro de Deus levar-lhes ao lar raios de luz? Precisamos possuir a terna simpatia de Jesus; então haveremos de abrir caminho aos corações.