De todos quantos se pretendem contar entre os amigos da temperança, os adventistas do sétimo dia devem-se achar na primeira linha. Por muitos anos tem brilhado em nossa estrada uma torrente de luz quanto aos princípios da verdadeira reforma, e somos responsáveis diante de Deus por fazer essa luz resplandecer para os outros. Anos atrás considerávamos a difusão dos princípios de temperança como um de nossos mais importantes deveres. Assim deve ser hoje em dia. Nossas escolas e hospitais têm de revelar o poder da graça de Cristo para transformar o ser todo - corpo, alma e espírito. Nossos hospitais e outras instituições educativas, devem ser centros de luz e bênção na causa de toda verdadeira reforma.
Devemos, nestes dias, manifestar decidido interesse na obra da União de Temperança das Mulheres Cristãs. Ninguém que professe ter um lugar na obra de Deus, deve perder o interesse no grande assunto dessa organização de temperança. Seria uma boa coisa se pudéssemos, em nossas reuniões gerais, convidar os membros da U.T.M.C. para tomar parte em nossos exercícios religiosos. Isso os ajudaria a se familiarizar com as razões de nossa fé, e abrir o caminho para nós nos unirmos com eles na obra em favor da temperança. Se assim fizermos, havemos de ver que a questão da temperança tem maior significação do que muitos de nós temos suposto.
As obreiras da U.T.M.C. se acham, em alguns aspectos, muito mais adiantadas que nossos dirigentes. O Senhor tem
naquela organização almas preciosas, que nos podem ser de grande auxílio em nossos esforços para levar avante o movimento da temperança. E a educação que nosso povo tem tido na verdade bíblica, e no conhecimento das exigências da lei de Jeová, há de habilitar nossas irmãs a comunicar a essas nobres defensoras da temperança aquilo que, espiritualmente, lhes fará bem. Assim se estabelecerá união e simpatia, onde, no passado, existiu por vezes preconceito e desinteligência. Tenho-me surpreendido ao ver a indiferença de alguns de nossos dirigentes para com essa organização. Não podemos fazer uma obra melhor do que unir nossos esforços, tanto quanto nos seja possível fazê-lo sem transigências, com as obreiras da U.T.M.C.
Temos a fazer, no sentido da temperança, uma obra que vai além de falar em público. Precisamos apresentar nossos princípios em folhetos e em nossas revistas. Cumpre-nos empregar todos os meios possíveis para despertar nosso povo para o cumprimento de seu dever de se pôr em contato com os que não conhecem a verdade. O êxito que temos tido na obra missionária, tem sido inteiramente proporcional à abnegação, ao sacrifício dos esforços que temos feito. Só o Senhor sabe quanto poderíamos ter realizado se, como um povo, nos tivéssemos humilhado perante Ele, e proclamado a verdade da temperança de maneira clara e positiva. ...
Um Bom Emprego dos Dons da Providência
Nosso Criador tem outorgado liberalmente ao homem Suas bênçãos. Fossem todos esses dons da Providência empregados sábia e moderadamente, e a pobreza, a enfermidade e a aflição seriam quase
banidas da Terra. Mas ai! vemos por toda parte as bênçãos de Deus transformadas em maldição pela impiedade dos homens.
Não há classe culpada de maior perversão e abuso de Seus preciosos dons, do que os que empregam os produtos do solo na fabricação de bebidas intoxicantes. Os nutritivos cereais, os frutos saudáveis e deliciosos, são convertidos em bebidas que pervertem os sentidos e enlouquecem o cérebro. Em resultado do uso desses venenos, milhares de famílias se acham destituídas dos confortos, e mesmo das necessidades da vida, multiplicam-se os atos de violência e de crime, e a doença e a morte levam apressadamente milhares e milhares de vítimas para a sepultura, em conseqüência da bebida.
Essa obra de destruição é levada avante, sob a proteção das leis da Terra! Por um miserável lucro, os homens têm permissão de fornecer a seus semelhantes as poções que os vão separar de tudo quanto torna esta vida desejável, e de toda esperança quanto à vida por vir. Nem o legislador nem o negociante de bebidas intoxicantes ignoram o resultado de sua obra. Nos bares dos hotéis, nos lugares em que se bebe cerveja, nos salões de jogo, o escravo do apetite despende seus recursos naquilo que destrói a razão, a saúde, a felicidade. O vendedor de bebidas enche o cofre com o dinheiro que devia proporcionar alimento e roupa à família do pobre ébrio.
Esta é a pior espécie de roubo. Todavia homens que ocupam altas posições na sociedade e na igreja prestam seu apoio às leis que isso permitem! ... Assim se corrompe a sociedade, enchem-se os hospícios e as prisões de indigentes e criminosos, e preparam-se vítimas às forcas. O mal não finda com o ébrio e sua infeliz família. Acresce-se a carga de
impostos, a moral da juventude está em perigo, acha-se em risco a propriedade e mesmo a vida de cada membro da sociedade. Mas o quadro nunca poderá ser apresentado bastante vividamente; fica sempre aquém da realidade. Nenhuma pena humana pode descrever plenamente os horrores da intemperança. ...
A Causa da Paralisia Moral
Como podem homens e mulheres cristãos tolerar esse mal? ... Há uma causa para a paralisia moral da sociedade. Nossas leis apóiam um mal que lhes está destruindo a própria base. Muitos lamentam o mal que sabem existir, mas se consideram livres de qualquer responsabilidade no assunto. Isso não pode ser. Todo indivíduo exerce uma influência na sociedade. Em nossa terra favorecida, todo eleitor tem de certo modo voz em decidir que espécie de leis hão de reger a nação. Não deviam sua influência e voto ser postos do lado da temperança e da virtude? ...
Podemos apelar para os amigos da temperança, a fim de que promovam a união para o conflito, e para procurar impedir a onda do mal que está desmoralizando o mundo; mas de que valem todos os nossos esforços, enquanto os negociantes de bebidas alcoólicas forem apoiados por lei? Deverá a maldição da intemperança permanecer para sempre como uma mancha sobre nossa terra? Há de ela assolar todos os anos, qual fogo devorador, milhares de lares felizes?
Falamos nos resultados, trememos em face deles, e cogitamos no que poderemos fazer com esses terríveis resultados, ao passo que, muitas vezes, toleramos, e até sancionamos a causa dos mesmos. Os defensores da temperança deixam de cumprir todo o seu dever, a menos que exerçam sua influência, pela palavra e pelo exemplo - palavra, pena e voto - em
favor da proibição e abstinência total. É escusado pensar que Deus opere um milagre para efetuar essa reforma, afastando assim a necessidade de esforço de nossa parte. Nós mesmos precisamos de agarrar-nos com esse gigante inimigo, tendo como divisa: Não transigir, nem cessar nossos esforços até que a vitória seja alcançada. ...
Que se pode fazer para deter a crescente onda do mal? Façam-se e imponham-se rigorosamente leis proibindo a venda e o uso de bebidas alcoólicas. Façam-se todos os esforços para encorajar os ébrios a voltarem à temperança e à virtude. Mais do que isto, porém, é necessário para banir de nossa terra a maldição da embriaguez. Extinga-se o apetite pelas bebidas intoxicantes, e está então findo o seu uso, e comércio. Esta obra compete em grande parte aos pais. Dêem eles, por uma estrita temperança pessoal, o devido cunho de caráter a seus filhos, educando-os então, no temor de Deus, em hábitos de renúncia e domínio de si mesmos. A juventude assim exercitada, terá fibra moral para resistir à tentação, e para reger o apetite e a paixão. Ficarão inabaláveis diante da loucura e extravagância que estão corrompendo a sociedade.
A prosperidade de uma nação depende da virtude e inteligência de seus cidadãos. Para garantir essas bênçãos, são indispensáveis hábitos de estrita temperança. A história dos reinos antigos acha-se repleta de lições de advertências para nós. O luxo, a condescendência consigo mesmo e as extravagâncias preparavam o caminho para sua queda. Resta ver se nossa própria república se deixará advertir por seu exemplo, evitando a sorte deles. Review and Herald, 8 de novembro de 1881.