Muitas observações têm sido feitas ao fato de, em seus discursos, nossos oradores haverem salientado mais a lei, e não a Cristo. Essa afirmação não é estritamente verídica; mas, não haverá para ela alguma razão? Não têm acaso ocupado o púlpito homens que não possuem experiência genuína nas coisas de Deus, homens que não receberam a justiça de Cristo? Muitos de nossos pastores têm apenas feito sermões, apresentando os assuntos por meio de argumentos, e mencionando pouco o poder salvador do Redentor. Seu testemunho era destituído do sangue salvador de Cristo. Sua oferta assemelhava-se à de Caim. Traziam ao Senhor os frutos da terra, os quais eram, em si mesmos, aceitáveis aos olhos de Deus. Muito bom era, na verdade, o fruto; mas, a virtude da oferta - o sangue do Cordeiro morto, representando o sangue de Cristo - isso faltava. O mesmo acontece com sermões destituídos de Cristo. Os homens não são por eles aguilhoados até ao coração; não são levados a indagar: Que devo fazer para me salvar?
De todos os professos cristãos, devem os adventistas do sétimo dia ser os primeiros a exaltar a Cristo perante o mundo. A proclamação da terceira mensagem angélica pede a apresentação da verdade do sábado. Esta verdade, juntamente com outras incluídas na mensagem, tem de ser proclamada; mas o grande centro de atração, Cristo Jesus, não deve ser deixado à parte. Na cruz de Cristo é que a misericórdia e a verdade se encontram, e a justiça e a paz se beijam. O pecador deve ser levado a olhar ao Calvário; com a fé singela de uma
criança, deve confiar nos méritos do Salvador aceitando Sua justiça, confiando em Sua misericórdia.
O Amor de Deus
Mediante o amor de Deus os tesouros da graça de Cristo foram abertos perante a igreja e o mundo. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. Que maravilhoso, insondável amor, que levou Cristo a morrer por nós, sendo nós ainda pecadores! E que prejuízo sofre a alma que, compreendendo os fortes reclamos da lei, deixa de reconhecer que, onde abundou o pecado, superabundou a graça de Cristo!
Quando a lei é apresentada como deve ser, revela o amor de Deus. Não admira, porém, que os corações não sejam abrandados mesmo pela verdade, quando ela é apresentada de maneira fria e sem vida; não admira que a fé vacile ante as promessas de Deus, quando os pastores e obreiros deixam de apresentar a Jesus em Sua relação para com a lei.
Alguns obreiros na causa de Deus têm sido demasiado prontos a atirar acusações contra o pecador; o amor do Pai em dar Seu Filho para morrer pela humanidade, tem sido conservado em segundo plano. Torne o ensinador da verdade conhecido do pecador o que Deus em verdade é - um Pai que espera em compassivo amor, receber o pródigo, não lhe lançando acusações iradas, mas preparando um banquete para festejar-lhe a volta. Oh! se aprendêssemos todos a maneira do Senhor no conquistar almas!
Deus quer desviar a mente da convicção da lógica para uma convicção mais profunda, elevada, pura e gloriosa. Muitas vezes a lógica humana tem quase extinguido a luz
que Deus quer fazer brilhar em claros raios, para convencer os homens de que o Senhor da Natureza é digno de todo o louvor e glória, porque é o Criador de todas as coisas.
Alguns pastores erram em tornar seus sermões inteiramente argumentativos. Pessoas há que escutam a teoria da verdade, e são impressionadas com as provas apresentadas; então, se Cristo é apresentado como Salvador do mundo, a semente lançada pode brotar e dar frutos para a glória de Deus. Mas freqüentemente a cruz do Calvário não é apresentada perante o povo. Alguns talvez estejam escutando o último sermão que lhes será dado ouvir, e perdida a oportunidade áurea, está perdida para sempre. Se, juntamente com a teoria da verdade, Cristo e Seu amor redentor houvessem sido proclamados, esses poderiam ter sido atraídos para o Seu lado.
O Caminho Para Cristo
Há mais pessoas do que pensamos ansiando por encontrar o caminho para Cristo. Os que pregam a última mensagem de misericórdia, devem ter em mente que Cristo tem de ser exaltado como o refúgio do pecador. Alguns pastores pensam não ser necessário pregar arrependimento e fé; julgam que seus ouvintes se acham relacionados com o evangelho, e que devem ser apresentados assuntos de natureza diferente, a fim de lhes prender a atenção. Muitas pessoas, no entanto, são lamentavelmente ignorantes quanto ao plano da salvação; precisam mais de instrução quanto a esse tema todo-importante, do que sobre qualquer outro.
São essenciais discursos teóricos, para que o povo veja a cadeia da verdade, elo após elo, ligando num todo perfeito; mas nunca se deve pregar um sermão sem apresentar como a base do evangelho a Cristo, e Ele crucificado.
Os pastores alcançariam mais corações, se salientassem mais a piedade prática. Freqüentemente, quando se fazem séries de conferências para apresentar a verdade em novos campos, os discursos feitos são grandemente teóricos. O povo é agitado pelo que ouve. Muitos vêem a força da verdade, e ficam ansiosos de pôr os pés num firme fundamento. É então, muito especialmente, o momento de insistir com a consciência quanto à religião de Cristo. Se se permite que as reuniões terminem sem esse trabalho prático, há grande prejuízo.
Às vezes homens e mulheres sem estarem convertidos, se decidem em favor da verdade devido ao peso das provas apresentadas. A obra do pastor não está completa enquanto ele não fizer sentir a seus ouvintes a necessidade de uma transformação de coração. Em cada discurso devem ser dirigidos ao povo fervorosos apelos para abandonar seus pecados e volver-se a Cristo. Os pecados populares e as condescendências de nossa época devem ser condenados, e ordenada a piedade prática. Sentindo de coração a importância das palavras que profere, o verdadeiro ministro não pode reprimir o interesse espiritual que sente por aqueles por quem trabalha.
Oh! quem me dera servir-me de linguagem suficientemente vigorosa para causar a impressão que desejo sobre meus companheiros de obra no evangelho! Meus irmãos, estais lidando com as palavras da vida; estais tratando com espíritos capazes do máximo desenvolvimento. Cristo crucificado, Cristo ressurgido, Cristo assunto aos Céus, Cristo vindo outra vez, deve abrandar, alegrar e encher o espírito do ministro, por tal forma, que ele apresente estas verdades ao povo em amor, e profundo zelo. O ministro desaparecerá então, e Jesus será revelado.
Exaltai a Jesus, vós que ensinais o povo, exaltai-O nos sermões, em cânticos, em oração. Que todas as vossas forças convirjam para dirigir ao "Cordeiro de Deus" almas confusas, desencaminhadas, perdidas. Erguei-O, ao ressuscitado Salvador, e dizei a todos quantos ouvem: Vinde Àquele que "vos amou e Se entregou a Si mesmo por nós". Efés. 5:2. Seja a ciência da salvação o tema central de todo sermão, de todo hino. Seja ela manifestada em toda súplica. Não introduzais em vossas pregações coisa alguma que seja um suplemento a Cristo, a sabedoria e o poder de Deus. Mantende perante o povo a palavra da vida, apresentando Jesus como a esperança do arrependido e a fortaleza de todo crente. Revelai o caminho da paz à alma turbada e acabrunhada, e manifestai a graça e suficiência do Salvador.
Existe apenas uma estrada que conduz das trevas acima, para a luz, até chegar ao trono de Deus - a estrada da fé. Esta estrada não é escura nem incerta; não é o caminho de mentes finitas, nem uma vereda de feitura humana, na qual se exige tributo de todos os viajantes. A entrada para ela não se pode obter mediante obras de penitência.
O caminho provido por Deus é tão completo, tão perfeito, que o homem não pode, mediante obra alguma que faça, acrescentar à sua perfeição. É largo bastante para receber o mais endurecido pecador, se muito se arrepende, e todavia demasiado estreito para que nele encontre lugar o pecado. Esse é o caminho destinado a ser seguido pelos remidos do Senhor.