IV. Requisitos
"Como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo." II Cor. 6:4.
Consagração
Para que um homem seja um pastor de êxito, é essencial alguma coisa mais que o mero conhecimento adquirido em livros. O que labuta por almas, necessita de consagração, integridade, inteligência, operosidade, energia e tato. Possuindo esses requisitos, homem algum pode ser inferior; ao contrário, possuirá dominadora influência para o bem.
Cristo sujeitava Seus desejos e vontades a uma estrita obediência à Sua missão - a missão que trazia o distintivo celeste. Tudo Ele fazia em subordinação à obra por cujo cumprimento viera a este mundo. Quando, em Sua juventude, Sua mãe O achou na escola dos rabinos, e Lhe disse: "Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que Teu pai e eu, ansiosos, Te procurávamos", respondeu - e Sua resposta é a nota predominante da obra de Sua vida - "Por que é que Me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de Meu Pai?" Luc. 2:48 e 49.
A mesma devoção, consagração igual e igual submissão às exigências da Palavra de Deus que se manifestavam em Cristo, devem ver-se em Seus servos. Ele deixou Seu lar de segurança e paz, deixou a glória que tinha com o Pai antes que o mundo existisse,
deixou Sua posição sobre o trono do Universo, e foi, como homem tentado e sofredor, em solidão, semear em lágrimas, regar com Seu sangue a semente da vida para um mundo perdido.
Assim devem Seus servos sair a semear. Quando chamado para tornar-se semeador da semente da verdade, foi dito a Abraão: "Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei." Gên. 12:1. "E saiu, sem saber para onde ia" (Heb. 11:8), como portador da luz de Deus, para conservar vivo o Seu nome na Terra. Abandonou seu país, lar, parentes, e todas as aprazíveis relações de sua vida terrestre, para tornar-se peregrino e estrangeiro.
Assim ao apóstolo Paulo, orando no templo em Jerusalém, veio a mensagem: "Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe." Atos 22:21. Da mesma maneira, os que são chamados a se unirem com Cristo, devem deixar tudo a fim de O seguirem. Velhas relações devem ser desfeitas, planos de vida postos à margem, renunciadas as esperanças terrestres. Em fadigas e lágrimas, em solidão e sacrifícios, deve a semente ser lançada.
Aqueles que consagram a Deus corpo, alma e espírito, receberão contínua provisão de forças físicas, mentais e espirituais. Os inexauríveis depósitos celestes acham-se a sua disposição. Cristo lhes concede o fôlego de Seu Espírito, a vida de Sua própria vida. O Espírito Santo desenvolve a máxima energia para operar no espírito e no coração. A graça de Deus dilata e multiplica-lhes as faculdades, e toda perfeição da natureza divina lhes vem em auxílio na obra de salvar almas. Mediante a cooperação com Cristo,
tornam-se perfeitos nEle, e, em sua fraqueza humana, são habilitados a praticar as obras da onipotência.
O Redentor não aceitará um serviço dividido. O obreiro de Deus precisa aprender diariamente o que significa a entrega de si mesmo. Tem que estudar a Palavra de Deus, aprendendo-lhe o sentido e obedecendo aos seus preceitos. Assim pode ele atingir à norma da excelência cristã. Dia a dia Deus com ele colabora, aperfeiçoando o caráter que deve subsistir no tempo da prova final. E dia a dia o crente está operando perante os homens e os anjos uma sublime experiência, mostrando o que pode o evangelho fazer pelos decaídos seres humanos.
Quando Cristo chamou os discípulos para O seguirem, não lhes ofereceu nenhuma lisonjeira perspectiva nesta vida. Não lhes prometeu lucros, ou honras terrestres, nem eles estipularam de qualquer modo o que deveriam receber. Achando-se Mateus assentado na alfândega, o Salvador lhe disse: "Segue-Me. E ele, levantando-se, O seguiu." Mat. 9:9. Mateus não esperou, antes de prestar qualquer serviço, para ajustar determinado salário, equivalente à importância que recebia em seu emprego anterior. Sem discutir, sem hesitar, seguiu a Jesus. Bastava-lhe o estar com o Salvador, o poder ouvir-Lhe as palavras e unir-se a Ele em Sua obra.
O mesmo se dera com os discípulos anteriormente chamados. Quando Jesus pediu a Pedro e a seus companheiros que O seguissem, eles deixaram imediatamente o bote e as redes. Alguns desses discípulos tinham amigos que dependiam deles quanto à subsistência; mas, ao receberem o convite do Salvador, não hesitaram, perguntando: De que vou viver e sustentar minha família? Atenderam ao chamado;
e quando, posteriormente, Jesus lhes perguntou: "Quando vos mandei sem bolsa, alforje ou sandálias, faltou-vos, porventura, alguma coisa?" puderam responder: "Nada." Luc. 22:35.
Hoje em dia o Salvador nos chama para Sua obra, como o fez a Mateus, João e Pedro. Se nosso coração é tocado por Seu amor, a questão da recompensa não nos ocupará no espírito o primeiro lugar. Regozijar-nos-emos em ser cooperadores de Cristo, e não temeremos confiar em Seu cuidado. Se fazemos de Deus a nossa força, teremos clara compreensão do dever, aspirações altruístas; nossa vida será influenciada por um nobre desígnio, que nos colocará acima de motivos sórdidos.
Muitos de quem o Senhor Se poderia servir, não darão ouvidos nem obedecerão à Sua voz acima de todas as outras. Parentes e amigos, velhos hábitos e ligações têm sobre eles tão poderosa influência, que Deus não lhes pode comunicar senão poucas instruções, poucos conhecimentos de Seus desígnios. O Senhor faria por Seus servos muito mais, se eles Lhe fossem inteiramente consagrados, colocando Seu serviço acima dos laços de parentesco, e todas as outras relações terrenas.
A Necessidade de Mais Profunda Consagração
O tempo requer maior eficiência e mais profunda consagração. Eu clamo a Deus: Desperta e envia mensageiros cheios do sentimento de sua responsabilidade, homens em cujo coração a idolatria do próprio eu, que jaz no fundo de todo pecado, tenha sido crucificada; que estejam dispostos a consagrar-se sem reservas ao serviço de Deus; cuja alma se ache desperta quanto à santidade da obra e à responsabilidade de sua vocação; que estejam resolvidos a não trazer a Deus um sacrifício imperfeito, que não lhes custe esforço nem oração.
O Duque de Wellington achava-se presente uma vez a uma reunião em que um grupo de cristãos discutiam a possibilidade de êxito do esforço missionário entre os pagãos. Apelaram para o duque, dissesse ele se julgava que tais esforços seriam capazes de ter um sucesso correspondente ao que custavam. O velho soldado respondeu:
- Cavalheiros, quais são vossas ordens de marcha? O êxito não é o que deveis discutir. Se leio corretamente vossas ordens, elas rezam assim: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura." Mar. 16:15. Cavalheiros, obedecei a vossas ordens de marcha.
Meus irmãos, o Senhor está para vir, e precisamos pôr toda energia na realização da obra que se acha diante de nós. Apelo para vós, a fim de que vos dediqueis inteiramente à obra. Cristo deu Seu tempo, alma e forças ao trabalho para benefício e bênção da humanidade. Dias inteiros consagrava-os ao labor, e noites inteiras passava-as em oração, a fim de Se fortalecer para enfrentar o inimigo, e ajudar os que a Ele iam em busca de alívio. Como seguimos o curso de uma corrente de águas vivas, pela linha verdejante que produz, assim se pode ver a Cristo nos atos de misericórdia que Lhe assinalaram a trilha, passo a passo. Onde quer que Ele fosse, a saúde ali surgia, e seguia-se a felicidade por onde havia passado. Com tanta simplicidade apresentava as palavras da vida, que uma criança as podia compreender. Os jovens apanhavam-Lhe o espírito de serviço, e buscavam imitar Suas agradáveis maneiras, auxiliando os que disso precisavam. O cego e o surdo se regozijavam em Sua presença. Suas palavras aos ignorantes e pecadores abriam-lhes uma fonte de vida. Abundante e continuamente dispensava suas bênçãos; eram as entesouradas riquezas da eternidade, concedidas em Cristo, o dom do Pai ao homem.
Os obreiros de Deus devem sentir tanto que não se pertencem a si mesmos, como se o próprio sinal e selo de identificação estivessem colocados sobre suas pessoas. Têm de ser espargidos com o sangue do sacrifício de Cristo, e com espírito de inteira consagração devem resolver que, pela graça de Cristo, serão um sacrifício vivo. Mas quão poucos dentre nós consideram a salvação de pecadores segundo ela é vista pelo universo celeste - como um plano ideado desde a eternidade na mente de Deus! Quão poucos dentre nós têm o coração ligado com o Redentor nesta obra, solene e final! Mal existe uma décima parte da compaixão que deve haver pelas almas por salvar. Tantos há a serem advertidos, e todavia quão poucos há que se compadeçam juntamente com Deus o suficiente para ser alguma coisa ou nada ser, contanto que vejam almas salvas para Cristo!
Quando Elias estava prestes a deixar Eliseu, disse-lhe: "Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim." II Reis 2:9. Eliseu não pediu honras terrestre, um lugar entre os grandes homens da Terra. O que suplicou foi uma grande porção do espírito dado àquele a quem o Senhor estava a ponto de honrar com a trasladação. Sentia que nenhuma outra coisa o poderia habilitar para a obra que lhe seria exigida.
Ministros do evangelho, se essa pergunta vos houvesse sido dirigida, que haveríeis de responder? Qual é o maior desejo de vosso coração, ao vos empenhardes no serviço de Deus?