Conselhos Professores, Pais e Estudantes

CAPÍTULO 62

O Fracasso no Estudo da Palavra de Deus

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Aquilo que, nos conselhos celestes, o Pai e o Filho julgaram essencial à salvação do homem acha-se claramente apresentado nas Escrituras Sagradas. As infinitas verdades da salvação são tão claramente expressas, que os seres finitos que desejam conhecer a verdade não podem deixar de compreender. Têm sido feitas revelações divinas para sua instrução na justiça, a fim de que glorifiquem a Deus e ajudem a seus semelhantes.

Essas verdades encontram-se na Palavra de Deus - a norma pela qual nos cumpre julgar entre o certo e o erro. A obediência a esta Palavra é, para a juventude, o melhor escudo contra as tentações a que se acham expostos enquanto se educam. Com essa Palavra aprenderão a honrar a Deus e a ser fiéis à humanidade, cumprindo alegremente os deveres, e enfrentando as provas que cada dia traz, levando corajosamente seus fardos.

Cristo, o grande Mestre, procurou desviar a mente dos homens da contemplação das coisas terrestres a fim de poder-lhes ensinar as celestiais. Houvessem os mestres de Seu tempo sido voluntários para serem instruídos por Ele, houvessem eles unido-se a Ele no semear o mundo com a verdade, e a Terra seria bem diversa do que é hoje. Houvessem os escribas e fariseus juntado suas forças ao Salvador, e o conhecimento de Cristo teria restaurado a imagem de Deus em sua alma.

Os guias de Israel, porém, desviaram-se da fonte do verdadeiro conhecimento. Estudavam as Escrituras apenas


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para apoiar as próprias tradições e validar suas observâncias de feitura humana. Por suas interpretações, faziam com que elas exprimissem sentimentos nunca manifestados por Deus. O sentido místico que lhe davam tornava indistinto aquilo que Deus fizera claro. Discutiam pormenores e negavam, por assim dizer, as verdades mais essenciais. Roubavam à Palavra de Deus o poder, e os maus espíritos executavam assim a própria vontade.

As palavras de Cristo não contêm coisa alguma que não seja essencial. O Sermão do Monte é uma admirável produção, todavia é tão simples que uma criança pode estudar sem incompreensões. O monte das bem-aventuranças é um símbolo da elevação espiritual em que Cristo sempre Se achava. Toda palavra que Ele proferia, provinha de Deus e falava com autoridade do Céu. "As palavras que Eu vos disse", disse Ele, "são espírito e vida." João 6:63. Seu ensino é cheio de enobrecedoras e salvadoras verdades, às quais as mais elevadas ambições dos homens e suas mais profundas indagações não se podem comparar. Ele estava desperto para a terrível ruína iminente sobre a raça, e veio, por Sua justiça, salvar almas, trazendo ao mundo definida certeza de esperança e completo alívio.

É porque as palavras de Cristo são desatendidas, porque se dá à Palavra de Deus lugar secundário na educação, que a infidelidade prevalece e a iniqüidade se espalha. Coisas de menor importância preocupam a mente de muitos dos professores de hoje. Grande massa de tradições, não encerrando senão mera semelhança de verdade, é introduzida nos cursos de estudo dados nas escolas do mundo. A força de boa parte do ensino humano reside na afirmação, não na verdade. Os professores da atualidade só podem usar a capacidade de mestres anteriores. Mas com todo o peso de importância que


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possa ser conferida às palavras dos maiores autores humanos, existe consciente incapacidade para remontar ao primeiro grande princípio, a Fonte da infalível sabedoria. Há uma penosa incerteza, uma busca incessante, um distender-se em procura da certeza que unicamente em Deus se pode achar. Pode-se tocar a trombeta da grandeza humana, mas incerto é seu sonido; não é digno de confiança, e não se pode, por ele, assegurar a salvação de almas.

Adquirindo conhecimento terrestre, os homens têm julgado obter um tesouro; e têm posto à margem a Bíblia, ignorando que ela encerra um tesouro que vale tudo o mais. A falta do estudo da Palavra de Deus e da obediência a ela, tem trazido confusão ao mundo. Os homens têm deixado a proteção de Cristo pela do grande rebelde, o príncipe das trevas. Fogo estranho se tem misturado ao fogo sagrado. A acumulação de coisas que fomentam a concupiscência e a ambição, tem trazido sobre o mundo os juízos do Céu.

Quando em dificuldade, os filósofos e homens de Ciência buscam satisfazer ao espírito sem recorrer a Deus. Ventilam sua filosofia quanto ao céu e à Terra, atribuindo as pragas, pestes, epidemias, terremotos e fomes a motivos expostos por sua suposta Ciência. Às perguntas relativas à criação e à providência, tentam responder, dizendo: Essa é uma lei da Natureza.

Conhecimento Mediante Obediência

A desobediência tem cerrado a porta a ampla soma de conhecimento que se poderia ter obtido da Palavra de Deus. Houvessem os homens sido obedientes, e teriam compreendido


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o plano do governo divino. O mundo celeste teria aberto à exploração seus arcanos de graça e glória. Na forma, na linguagem, no cântico, os seres humanos teriam sido inteiramente superiores ao que hoje são. O mistério da redenção, a encarnação de Cristo, Seu sacrifício expiatório, não seriam coisas vagas em nossa mente. Não somente seriam melhor compreendidas, como incomparavelmente mais apreciadas.

A negligência do estudo da Palavra de Deus é a grande causa de debilidade e ineficiência mentais. Desviando-se dessa Palavra para alimentar-se dos escritos dos homens não inspirados, o espírito se amesquinha e vulgariza. Não é posto em contato com os profundos e vastos princípios da verdade eterna. O entendimento se adapta à compreensão das coisas com que se acha familiarizado; e nessa consagração às coisas finitas, se enfraquece, seu poder diminui, tornando-se, depois de algum tempo, incapaz de expandir-se.

Tudo isso é falsa educação. A obra de todo professor deve ser firmar a mente dos jovens nas grandes verdades da Palavra da Inspiração. Esta é a educação essencial para esta vida e a por vir.

E não se pense que isso impedirá o estudo das Ciências ou dará lugar ao abaixamento da norma educativa. O conhecimento de Deus é alto como o céu e amplo como o Universo. Não há nada tão enobrecedor e próprio para revigorar, como o estudo dos grandes temas que dizem respeito à nossa vida eterna. Procure a juventude apoderar-se dessas verdades dadas por Deus, e a mente se lhes dilatará e tornará forte nesse esforço. Ele levará todo jovem que for praticante da Palavra a mais vasto campo de idéias, assegurando-lhe imperecível riqueza de conhecimentos.


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A ignorância que ora infelicita o mundo, quanto às obrigatórias reivindicações da lei de Deus, é o resultado de negligenciar o estudo das Escrituras. É o elaborado plano de Satanás absorver e ocupar, por tal forma, o espírito, que o grande Livro-guia vindo de Deus não seja considerado como o Livro dos livros, e o pecador não se desvie do caminho da transgressão para o caminho da obediência.

Por que nossos jovens, e mesmo os de idade mais madura, são tão facilmente levados à tentação e ao pecado? É porque a Bíblia não é estudada e meditada como devia ser. Se dela se fizesse estudo diário, haveria uma retidão interior, uma fortaleza de espírito capazes de resistir às tentações do inimigo. Não se observa na vida firme e decidido esforço para se desviar do mal, porque as instruções dadas por Deus são rejeitadas. Não há o esforço que devia ser feito a fim de encher a mente de pensamentos puros, santos, libertando-a de tudo quanto é impuro e falso. Não se faz a escolha da melhor parte - sentar-se aos pés de Jesus como Maria a fim de aprender lições do divino Mestre.

Quando a Palavra de Deus se torna nosso conselheiro, quando examinamos as Escrituras em busca de luz, anjos celestes se aproximam para impressionar o espírito e iluminar o entendimento, de modo que se possa em verdade dizer: "A exposição das Tuas Palavras dá luz e dá entendimento aos símplices." Sal. 119:130. Não admira o não haver mais mentes que se ocupem do Céu, entre os jovens que professam o Cristianismo, quando tão pouca atenção se dá à Palavra de Deus. Os divinos conselhos não são atendidos; as advertências do


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Senhor não são obedecidas. Não se buscam graça e sabedoria celestes, para que se purifique a vida de todo traço de corrupção.

Caminhos Proibidos

Fosse a mente dos jovens retamente dirigida, e sua conversação seria sobre temas elevados. Quando a mente é pura e os pensamentos enobrecidos pela verdade de Deus, as palavras serão da mesma natureza - "como maçãs de ouro em salvas de prata". Prov. 25:11. Com a atual compreensão, porém, e as práticas atuais, com a baixa norma que os cristãos se contentam em atingir, vulgar é a conversação, e destituída de proveito. É da Terra, terrena, e não chega sequer ao nível da conversa das mais cultas classes mundanas. Quando Cristo e o Céu forem objeto de reflexão, a conversa o indicará. A linguagem será temperada com graça, e o que fala manifestará a educação recebida na escola do divino Mestre.

Cumpre-nos considerar a Bíblia como a revelação, a nós feita por Deus, das coisas eternas - as coisas de maior importância para nosso conhecimento. Pelo mundo é ela atirada a um lado, como se já se houvesse acabado de manuseá-la; um milênio de pesquisas, no entanto, não havia de esgotar o oculto tesouro que ela encerra. Unicamente a eternidade desvendará a sabedoria desse Livro; porquanto é a sabedoria de uma mente infinita. Cultivaremos, então, profundo interesse pelas produções de autores humanos, desprezando a Palavra de Deus? É este anseio por alguma coisa que eles nunca deveriam desejar, que faz com que os homens substituam o


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verdadeiro conhecimento por aquilo que jamais os poderá tornar sábios para a salvação. Não considereis verdade as afirmações dos homens, quando elas se acham em contradição com a Palavra de Deus.

O Criador dos céus e da Terra, a Fonte de toda a sabedoria, não é inferior a ninguém. Mas autores tidos como grandes, cujas obras são empregadas como livros de estudo, são aceitos e glorificados, embora não tenham nenhuma ligação vital com Deus. Por esse estudo tem sido o homem induzido a caminhos proibidos. Pessoas têm fatigado mortalmente o cérebro em trabalho desnecessário, no esforço de obter aquilo que lhes é como o conhecimento que Adão e Eva obtiveram por meio da desobediência a Deus.

Hoje em dia, os rapazes e moças levam anos a adquirir uma educação que é como madeira e palha, a serem consumidos na última e grande conflagração. A tal educação Deus não dá nenhum valor. Muitos estudantes deixam a escola incapazes de receber a Palavra de Deus com a reverência e o respeito que lhe rendiam antes de ali terem entrado. Sua fé foi eclipsada, no esforço de distinguir-se nos vários estudos. A Bíblia não foi considerada, em sua educação, assunto vital, mas livros impregnados de ateísmo e propagadores de teorias errôneas foram-lhes postos nas mãos.

Todas as matérias desnecessárias devem ser extirpadas dos cursos de estudo, e oferecidos ao aluno unicamente os estudos que lhe forem de real valor. Com esses, apenas, precisa ele se familiarizar, a fim de poder garantir a vida que se compara com a vida de Deus. À medida que a mente for chamada a considerar os grandes temas da salvação, erguer-se-á


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mais e mais alto na compreensão desses assuntos, deixando para traz os temas vulgares e insignificantes.

Um Exemplo

Que tornou grande a João Batista? Ele cerrou a mente à massa de tradições apresentada pelos mestres da nação judaica, abrindo-a à sabedoria que vem do alto. Antes de João nascer, o Espírito Santo testificou a seu respeito: "Será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo. ... E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus, e irá adiante dEle no espírito e virtude de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos e os rebeldes, à prudência dos justos; com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto." Luc. 1:15-17.

Em sua profecia, disse Zacarias com referência a João: "E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os Seus caminhos, para dar ao Seu povo conhecimento da salvação, na remissão dos seus pecados, pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, com que o Oriente do alto nos visitou, para alumiar os que estão assentados em trevas e sombra de morte, a fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz." E acrescenta Lucas: "O menino crescia, e se robustecia em espírito, e esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel." Luc. 1:76-80.

Foi escolha de João o renunciar os prazeres e luxos da vida da cidade pela rigorosa disciplina do deserto. Aqui o


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ambiente era favorável aos hábitos de disciplina e renúncia. Sem ser interrompido pelo clamor do mundo, podia aí estudar as lições da Natureza, da revelação e da providência. As palavras do anjo a Zacarias haviam sido muitas vezes repetidas por seus piedosos pais. Desde sua infância, conservaram-lhe presente sua missão e ele aceitara o santo legado. Para ele, a solidão do deserto era bem-vindo escape à sociedade em que, por assim dizer, campeava a suspeita, a incredulidade e a impureza. Ele desconfiava do próprio poder de resistência à tentação, e fugia do contínuo contato com o pecado, não viesse a perder o senso de sua excessiva malignidade.

A vida de João, no entanto, não foi passada em ociosidade, em ascética tristeza ou em isolamento egoísta. De tempos a tempos ia ele misturar-se com os homens, e era sempre observador interessante do que se ia passando no mundo. De seu sossegado retiro, vigiava o desenrolar dos acontecimentos. Visão iluminada pelo Espírito divino, estudava o caráter dos homens a fim de ser-lhe possível compreender como se devia aproximar do coração deles com a mensagem do Céu.

A respeito de Cristo, disse Simeão: "Agora, Senhor, podes despedir em paz o Teu servo, segundo a Tua palavra, pois já os meus olhos viram a Tua salvação, a qual Tu preparaste perante a face de todos os povos, luz para alumiar as nações e para glória de Teu povo Israel." Luc. 2:29-32. E a narração declara: "Crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens." Luc. 2:52.

Jesus e João eram apresentados pelos educadores daquele tempo como ignorantes, porque não tinham estudado nas escolas dos rabis; o Deus do Céu, porém, era seu professor,


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e todos quantos ouviam surpreendiam-se do conhecimento das Escrituras que eles possuíam.

A primeira grande lição em toda educação é conhecer e compreender a vontade de Deus. Devemos introduzir na vida diária o esforço de adquirir esse conhecimento. Aprender a Ciência através da interpretação humana apenas é falsa educação; aprender de Deus e de Cristo, porém, é aprender a Ciência do Céu. A confusão em matéria educativa sobreveio devido a não haverem sido exaltados a sabedoria e o conhecimento de Deus.

Os alunos de nossas escolas precisam considerar o conhecimento de Deus acima de tudo mais. "A palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. ... A loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Mas vós sois dEle, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor." I Cor. 1:18, 19, 25, 30 e 31.

Os que professam crer na Palavra devem orar diariamente pedindo que a luz do Espírito Santo brilhe sobre as páginas do Sagrado Livro a fim de que eles sejam habilitados a compreender as coisas do Espírito de Deus. ... As palavras dos homens, embora grandes, não são capazes de tornar-nos perfeitos, e perfeitamente instruídos, "para toda boa obra". II Tim. 3:17.

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