XI. Estudo Proveitoso
"A excelência da sabedoria é que ela dá vida ao seu possuidor." Ecl. 7:12.
O Falso e o Verdadeiro na Educação
O espírito mestre na confederação do mal trabalha continuamente para ocultar as palavras de Deus, colocando em evidência as opiniões dos homens. Ele quer que não ouçamos a voz de Deus dizendo: "Este é o caminho; andai nele." Isa. 30:21. Mediante pervertidos processos educativos está ele fazendo o possível para obscurecer a luz celeste.
Especulações filosóficas e pesquisas científicas em que Deus não é reconhecido estão tornando céticos a milhares. Nas escolas de hoje são cuidadosamente ensinadas e amplamente expostas as conclusões a que os doutos têm chegado em resultado de suas pesquisas científicas; por outro lado é francamente dada a impressão de que, se esses homens estão certos, não o pode estar a Bíblia. O ceticismo exerce atração sobre o espírito humano. A juventude nele vê uma independência que lhe seduz a imaginação, e é iludida. Satanás triunfa. Ele alimenta toda semente de dúvida lançada no coração juvenil. Faz com que ela cresça e dê frutos, e dentro em pouco resulta farta colheita de incredulidade.
É por ser o coração humano tão inclinado ao mal, que tão
perigoso é semear o ceticismo nos espíritos jovens. Seja o que for que enfraqueça a fé em Deus, rouba a alma do poder de resistir à tentação. Remove a única salvaguarda real contra o pecado. Carecemos de escolas em que a juventude aprenda que a grandeza consiste em honrar a Deus mediante a revelação de Seu caráter na vida diária. Necessitamos aprender acerca de Deus por meio de Sua Palavra e obras a fim de nossa vida poder cumprir o Seu desígnio.
Autores Incrédulos
Para educar-se muitos julgam ser essencial estudar os escritos dos autores incrédulos, visto essas obras conterem muitas brilhantes gemas de pensamento. Quem foi, porém, o autor dessas jóias de pensamento? Deus, e Ele unicamente. É Ele a fonte de toda luz. Por que haveríamos então de nos atolar na massa de erros contidos nas obras dos incrédulos, por amor de algumas verdades intelectuais, quando temos a verdade toda à nossa disposição?
Como é que os homens que se acham em guerra com o governo de Deus chegam a ficar de posse da sabedoria que por vezes manifestam? O próprio Satanás foi educado nas cortes celestes, e tem o conhecimento do bem da mesma maneira que do mal. Mistura o precioso com o vil, e é isso que o habilita a enganar. Mas pelo fato de se haver Satanás revestido de roupagens de celeste esplendor, havemos de recebê-lo como anjo de luz? O tentador tem agentes, educados segundo seus métodos, inspirados por seu espírito, e adaptados à sua obra. Cooperaremos nós com eles? Receberemos as obras desses instrumentos como essenciais à educação que desejamos obter?
Se o tempo e os esforços despendidos em buscar aprender as luminosas idéias dos incrédulos fossem consagrados a estudar as preciosidades da Palavra de Deus, milhares dos que agora se acham assentados em trevas e sombras de morte estariam regozijando-se na glória da Luz da vida.
Saber Histórico e Teológico
Muitos julgam ser essencial, como preparo para a obra cristã, adquirir amplos conhecimentos dos escritos históricos e teológicos. Supõem que esse conhecimento lhes será de utilidade no ensino do evangelho. Mas seu árduo estudo das opiniões dos homens tende a enfraquecer-lhes o ministério, em vez de o fortalecer. Quando vejo bibliotecas cheias de alentados volumes de conhecimentos de história e teologia, penso: por que gastar dinheiro naquilo que não é pão? O sexto capítulo de João nos diz mais do que se pode encontrar em tais obras. Cristo diz: "Eu sou o pão da vida; aquele que vem a Mim não terá fome; e quem crê em Mim nunca terá sede." João 6:35. "Eu sou o pão vivo que desceu do Céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre." João 6:51. "Aquele que crê em Mim tem a vida eterna." João 6:47. "As palavras que Eu vos disse são Espírito e vida." João 6:63.
Há um estudo de história que não é condenável. A história sagrada era um dos estudos das escolas dos profetas. No registro de Seu trato com as nações, foram delineadas as pegadas de Jeová. Assim, hoje em dia cumpre-nos considerar Seu trato com as nações da Terra. Devemos ver na História o
cumprimento da profecia, estudar as operações da Providência nos grandes movimentos reformatórios, e entender o progresso dos acontecimentos ao ver as nações mobilizando-se para o final combate do grande conflito.
Tal estudo proporcionará amplas e compreensivas visões da vida. Auxiliar-nos-á a entender alguma coisa de suas relações e dependências, quão maravilhosamente nos achamos ligados na grande fraternidade social e das nações, e em que grande medida a opressão e a desonra de um membro importam em prejuízo de todos.
Mas a História como é comumente estudada, ocupa-se com os feitos dos homens, suas vitórias nas batalhas, seu êxito na realização do poder e da grandeza. Perde-se de vista a atuação de Deus nos negócios dos homens. Poucos são os que estudam o desenvolvimento de Seu desígnio no reerguimento e queda das nações.
E, em alto grau, a teologia, segundo é estudada e ensinada, não passa de um registro de especulações humanas, servindo apenas para escurecer "o conselho com palavras sem conhecimento". Jó 38:2. Com demasiada freqüência o motivo de acumular esses muitos livros não é tanto o desejo de obter alimento para a mente e a alma, como a ambição de se relacionar com os filósofos e teólogos, o desejo de apresentar ao povo o cristianismo em termos e frases eruditos.
Nem todos os livros escritos podem servir aos desígnios de uma vida santa. "Aprendei de Mim", disse o grande Mestre. "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração." Mat. 11:29. Vosso orgulho intelectual não vos ajudará na comunicação com as almas que estão perecendo por falta do pão da vida. Em vosso estudo desses livros, estais permitindo que eles tomem o lugar das lições
práticas que devíeis estar aprendendo de Cristo. O povo não se alimenta com os resultados desse estudo. Bem pouco das pesquisas tão fatigantes para a mente proporciona qualquer coisa de valioso para alguém se tornar um obreiro bem-sucedido em favor das almas.
O Salvador veio "evangelizar os pobres". Luc. 4:18. Em Seus ensinos empregava os termos mais simples e os mais singelos símbolos. E foi dito que "a grande multidão O ouvia de boa vontade". Mar. 12:37. Os que estão buscando fazer Sua obra neste tempo necessitam de mais profunda visão das lições por Ele dadas.
As palavras do Deus vivo constituem a mais elevada de todas as educações. Os que ministram ao povo precisam comer do pão da vida. Isso lhes dará vigor espiritual; estarão assim preparados para ajudar a todas as classes de gente.
Os Clássicos
Nos colégios e universidades, milhares de jovens consagram grande parte dos melhores anos da vida ao estudo do grego e do latim. E enquanto se acham empenhados nesses estudos, a mente e o caráter são moldados segundo os maus sentimentos da literatura pagã, cuja leitura é em geral considerada parte essencial ao estudo destas línguas.
Os que estão familiarizados com os clássicos, declaram que "as tragédias gregas se acham repletas de incesto, homicídio, e sacrifícios humanos a deuses concupiscentes e vingativos". Incomparavelmente melhor seria para o mundo se a instrução obtida de tais fontes fosse dispensada. "Andará alguém sobre as brasas, sem que se queimem os seus pés?" Prov. 6:28.
"Quem do imundo tirará o puro? Ninguém!" Jó 14:4. Poderemos então esperar que a juventude desenvolva caráter cristão enquanto sua educação é moldada pelos ensinos daqueles que desafiam os princípios da lei de Deus?
Ao sacudirem de si as restrições e imergirem em descuidosos divertimentos, dissipação e vício, os estudantes não fazem mais que imitar aquilo que lhes é de contínuo apresentado à mente mediante esses estudos. Há carreiras em que é necessário o conhecimento do grego e do latim. Alguns precisam estudar essas línguas. Mas o conhecimento das mesmas requerido para fins úteis pode ser obtido sem o estudo de literatura corrupta e corruptora.
O conhecimento do grego e do latim não é necessário a muitos. O estudo das línguas mortas deve ser posposto às matérias que ensinam o devido uso de todas as faculdades físicas e mentais. É tolice dedicarem os estudantes o tempo à aquisição de conhecimentos de línguas mortas, ou de livros de quaisquer ramos, com prejuízo do preparo para os deveres práticos da vida.
Que levam consigo os estudantes ao deixarem a escola? Para onde vão? Que terão de fazer? Possuirão eles o conhecimento que os habilitará a ensinar outros? Terão sido educados para serem verdadeiros pais e mães? Poderão colocar-se à testa de uma família como sábios instrutores? A única educação digna deste nome é a que leva rapazes e moças a se tornarem semelhantes a Cristo, que os habilita a desempenhar as responsabilidades da vida e dirigir sua família. Tal educação não se adquire pelo estudo dos clássicos pagãos. ...
Ficção de Alta Categoria
Há obras de ficção que foram escritas com o intuito de ensinar verdades ou expor algum grande mal. Algumas dessas obras têm feito bem. Têm, por outro lado, operado indizível dano. Encerram declarações e descrições altamente elaboradas, que despertam a imaginação e suscitam uma corrente de pensamentos repleta de perigo, especialmente para os jovens. As cenas descritas são repetidamente vividas em sua imaginação. Tais leituras incapacitam a mente para a utilidade, tornam-na inapta para os exercícios espirituais. Destroem o interesse na Bíblia. As coisas celestiais pouco lugar encontram nos pensamentos. À medida que a mente se demora nas cenas de impureza descritas, desperta-se a paixão, e o fim é o pecado.
Mesmo a ficção que não contém nenhuma sugestão de impureza, e que visa a ensinar excelentes princípios, é nociva. Anima o hábito da leitura apressada e superficial, unicamente pela história. Tende assim a destruir a faculdade de pensar com coerência e vigor; incapacita a alma para a contemplação dos grandes problemas do dever e do destino.
Alimentando o amor de mera distração, a leitura de ficção cria aversão pelos deveres práticos da vida. Por meio de seu poder estimulante e intoxicante é não raro causa de enfermidades mentais e físicas. Muito desgraçado e negligenciado lar, muito inválido por toda a existência, muito interno de asilo de alienados, chegou a isso mediante o hábito da leitura de novelas.
Alega-se muitas vezes que a fim de se desviar a juventude
das leituras sensacionais e indignas, deveríamos proporcionar-lhes melhor espécie de leitura de ficção. Isso equivale a tentar a cura de um ébrio dando-lhe em lugar de uísque ou aguardente, os intoxicantes mais brandos, como vinho, cerveja ou sidra. O uso destes encorajaria continuamente o desejo dos estimulantes mais fortes. A única segurança para os bêbados, bem como para o homem temperante, é a total abstinência. A mesma regra se aplica ao amante de ficção. Sua única segurança é a total abstinência.
Mitos e Contos de Fadas
Na educação das crianças e dos jovens dá-se agora importante lugar aos contos de fadas, mitos e histórias fictícias. Usam-se nas escolas livros desta natureza, e encontram-se também os mesmos em muitos lares. Como podem pais cristãos permitir que seus filhos usem livros tão cheios de mentiras? Quando as crianças pedem a explicação de histórias tão contrárias aos ensinos recebidos de seus pais, a resposta é que essas histórias não são verdadeiras; mas isso não dissipa os maus resultados do uso das mesmas. As idéias apresentadas nesses livros desencaminham as crianças. Comunicam falsas idéias da vida, suscitando e nutrindo o desejo pelo irreal.
O vasto uso desses livros em nossos dias é uma das astutas maquinações de Satanás. Ele está procurando desviar a mente, tanto de adultos como de jovens, da grande obra da formação do caráter. Pretende que nossas crianças e jovens sejam devastados pelos enganos destruidores da alma com que ele está enchendo o mundo. Portanto, busca desviar-lhes a mente da Palavra de Deus, impedindo-os assim de obter o conhecimento das verdades que os salvaguardariam.
Nunca devem ser colocados nas mãos da infância e da juventude livros que contenham uma perversão da verdade. Não permitamos que nossos filhos, no próprio processo de adquirir educação, recebam idéias que se demonstrarão sementes de pecado. Se os de espírito amadurecido nada tiverem que ver com tais livros, achar-se-ão, mesmo eles, muito mais a salvo; e seu exemplo bem como sua influência do lado do direito, tornaria muito menos difícil guardar a juventude da tentação. ...
Uma Fonte Mais Pura
"Inclina o teu ouvido, e ouve as palavras dos sábios,
E aplica o teu coração à Minha ciência. ...
Para que a tua confiança esteja no Senhor,
A ti tas faço saber hoje. ...
"Porventura, não te escrevi excelentes coisas
Acerca de todo conselho e conhecimento,
Para te fazer saber a certeza das palavras de verdade,
Para que possas responder palavras de verdade aos que te enviarem?"
Prov. 22:17, 19-21.
"Ele estabeleceu um testemunho em Jacó,
E pôs uma lei em Israel,
E ordenou aos nossos pais
Que a fizessem conhecer a seus filhos,
"Mostrando à geração futura os louvores do Senhor,
Assim como a Sua força e as maravilhas que fez."
"Para que a geração vindoura a soubesse,
E os filhos que nascessem se levantassem
E a contassem a seus filhos;
Para que pusessem em Deus a sua esperança."
Sal. 78:5, 4, 6 e 7.
"A bênção do Senhor é que enriquece,
E Ele não acrescenta dores." Prov. 10:22.
O Ensino de Cristo
Assim também Cristo apresentou os princípios da verdade no evangelho. Podemos, em Seus ensinos, beber das puras correntes que emanam do trono de Deus. Cristo poderia haver comunicado aos homens conhecimentos que ultrapassariam a quaisquer revelações anteriores, deixando para trás todas as outras descobertas. Poderia haver descerrado mistério após mistério, e fazer concentrar em torno dessas maravilhosas revelações o ativo e diligente pensamento das sucessivas gerações até ao fim do tempo. Do ensino da ciência da salvação, não tirou um momento. Seu tempo, Suas faculdades e Sua vida só eram apreciadas e empregadas em prol da salvação das almas humanas. Ele viera buscar e salvar o que se tinha perdido, e não Se desviaria de Seu propósito. Não permitiria que coisa alguma O distraísse.
Cristo só comunicava o conhecimento que podia ser utilizado. As instruções que dava ao povo, limitavam-se às próprias necessidades deste na vida prática. À curiosidade que os levava a ir ter com Ele com indagadoras perguntas, não satisfazia. Todas essas perguntas tornava Ele em ocasiões para solenes, fervorosos e vitais apelos. Aos que se mostravam tão ansiosos de colher da árvore do conhecimento, oferecia o fruto da árvore da vida. Encontravam cerrados todos os caminhos que não fossem aqueles que conduzem a Deus. Fechadas estavam todas as fontes, a não ser a da vida eterna.
Nosso Salvador não animava ninguém a freqüentar as escolas dos rabinos de Sua época, pela razão de que a mente se corromperia com o continuamente repetido: "Dizem", ou: "Foi dito". Como, pois, devemos nós aceitar as instáveis palavras humanas como exaltada sabedoria, quando se encontra ao nosso alcance uma sabedoria maior e infalível?
O que tenho visto das coisas eternas, bem como o que tenho testemunhado da fraqueza da humanidade, tem-me impressionado profundamente o espírito e influenciado a obra de minha vida. Nada vejo por que seja o homem louvado ou glorificado. Não vejo razão alguma para que as opiniões dos sábios mundanos e dos chamados grandes homens devam merecer confiança e ser exaltadas. Como podem aqueles que se acham destituídos de divina iluminação possuir idéias acertadas quanto aos planos e aos caminhos de Deus? Eles O negam inteiramente e passam por alto Sua existência, ou limitam-Lhe o poder segundo suas próprias finitas concepções.
Prefiramos ser instruídos por Aquele que criou os céus e a Terra, que pôs por ordem as estrelas no firmamento, e ao Sol e à Lua designou a sua obra.
Conhecimento que se Pode Utilizar
É justo que a os jovens sintam dever atingir o mais alto desenvolvimento das faculdades mentais. Não quereríamos restringir a educação a que Deus não pôs limites. Mas nossas realizações de nada valerão se não forem utilizadas para honra de Deus e bem da humanidade.
Não é bom sobrecarregar a mente de estudos que exigem intensa aplicação, mas que não são introduzidos na vida prática. Tal educação será prejudicial ao estudante. Pois esses estudos diminuem o desejo e a inclinação para aqueles outros que o habilitariam a ser útil, e tornariam capaz de se desempenhar de suas responsabilidades. Um preparo prático é muito mais valioso que qualquer soma de teoria. Não é mesmo suficiente possuir conhecimentos. Precisamos ter habilidade para os empregar devidamente.
O tempo, os meios e o estudo que tantos gastam para obter uma educação relativamente inútil deviam ser consagrados em adquirir um preparo que os tornasse homens e mulheres práticos, aptos a assumir as responsabilidades da vida. Tal educação teria o mais alto valor.
Educação do Coração
O que precisamos é de conhecimento que robusteça a mente e a alma, que nos torne homens e mulheres melhores. A educação do coração é de valor incomparavelmente maior que o mero saber dos livros. É bom, mesmo essencial, possuir conhecimento do mundo em que vivemos; mas se deixarmos a eternidade fora de nossas cogitações, sofreremos um fracasso de que jamais nos poderemos reabilitar. ...
Se a mocidade compreendesse a própria fraqueza, buscaria em Deus a sua força. Se buscarem ser ensinados por Ele, tornar-se-ão sábios em Sua sabedoria, a vida lhes será frutífera em bênçãos para o mundo. Se, porém, dedicarem a mente a mero estudo especulativo e mundano, separando-se assim de Deus, perderão tudo quanto enriquece a vida. A Ciência do Bom Viver, págs. 389-400.
Adquirir a educação superior é tornar-se participante da natureza divina. Significa imitar a vida e o caráter de Cristo, de maneira a colocar-nos em posição vantajosa enquanto combatemos as batalhas da vida. Importa em obter diárias vitórias sobre o pecado. Ao buscarmos essa educação, temos como companheiros os anjos de Deus; quando o inimigo vem como uma inundação, o Espírito do Senhor erguerá contra ele uma bandeira em nosso favor.