VII. O Mestre e a Obra
"O Senhor Jeová Me deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado." Isa. 50:4.
Algumas Necessidades do Professor Cristão
Ao professor é confiada importantíssima obra - obra para a qual ele não deve entrar sem cuidadoso e completo preparo. Cumpre-lhe sentir a santidade de sua vocação, e a ela entregar-se com dedicação e zelo. Quanto mais possua o mestre de verdadeiro conhecimento, tanto melhor efetuará o trabalho. A sala de aulas não é lugar para obra superficial. Professor algum que se satisfaça com um conhecimento de superfície atingirá alto grau de eficiência.
Não basta, porém, que o professor possua natural aptidão e cultura intelectual. Estas são indispensáveis, mas, sem a habilitação espiritual para a obra, não se acha preparado para nela empenhar-se. Ele deve ver em cada aluno a obra das mãos de Deus - um candidato às honras imortais. Deve procurar educar, exercitar e disciplinar o jovem de tal modo que cada um chegue à mais elevada norma de excelência a que Deus o chama.
O desígnio da educação é glorificar a Deus; habilitar homens e mulheres a atender a oração: "Venha o Teu reino. Seja feita a Tua vontade, tanto na Terra como no Céu." Mat. 6:10. Deus convida os professores a serem auxiliares Seus no desenvolver esse desígnio. Pede-lhes que introduzam
em seu serviço os princípios do Céu, o ABC da verdadeira educação. O mestre que ainda não aprendeu esses princípios deve agora começar a estudá-los. E, à medida que aprende, desenvolverá a aptidão de ensinar os outros.
O Conhecimento Individual de Cristo
Todo professor cristão deve possuir inteligente conhecimento do que Cristo é para ele individualmente. Deve saber fazer do Senhor a sua força e eficiência; saber entregar a guarda de sua alma a Deus como a um fiel Criador. De Cristo procede todo conhecimento essencial a habilitar os mestres a serem coobreiros de Deus - conhecimento que lhes abre os mais vastos campos de utilidade.
Muitos não apreciam esse conhecimento, mas, ao educarem-se, buscam aquilo que seja considerado, por seus semelhantes, saber admirável. Mestres, que a vossa glória esteja em Deus, não na ciência, não em línguas estrangeiras ou em qualquer outra coisa meramente humana. Seja vossa mais alta ambição o viver o Cristianismo.
"Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor: como a alva, será a Sua saída." Osé. 6:3. Como a luz do Sol brilha com força crescente desde a manhã até ao meio-dia, assim, ao prosseguirdes na luz da Palavra de Deus, haveis de receber mais luz.
Os que aceitam a responsabilidade que repousa sobre todos os professores, devem estar constantemente avançando. Não se devem contentar em ficar nas baixadas da
experiência cristã, mas estar sempre ascendendo a um nível mais alto. Tendo nas mãos a Palavra do Senhor, e o amor pelas almas indicando-lhes a contínua diligência, devem avançar passo a passo na eficiência.
A Necessidade de Oração
Todo professor deve receber diariamente instruções de Cristo, e trabalhar de contínuo sob Sua direção. Impossível lhe é compreender devidamente ou executar sua obra, a menos que esteja com Deus em oração. Unicamente com o auxílio divino, aliado a sincero e abnegado esforço, poderá ele esperar fazer sabiamente e bem o seu trabalho.
A não ser que o professor compreenda a necessidade de orar, e humilhe o coração perante Deus, perderá a própria essência da educação. Deve saber orar, e a linguagem que convém empregar ao fazê-lo. "Eu sou a videira", disse Jesus, "vós, as varas; quem está em Mim, e Eu nele, este dá muito fruto, porque sem Mim nada podereis fazer." João 15:5. O professor deve fazer com que o fruto da fé seja manifesto em suas orações. Aprender a chegar ao Senhor e pleitear com Ele até que receba a certeza de que Suas petições foram ouvidas.
Lidar com os Alunos Como Indivíduos
O professor deve estudar cuidadosamente a disposição e o caráter dos discípulos a fim de adaptar os ensinos às necessidades peculiares aos alunos. Pertence-lhe um jardim para cuidar, jardim em que se acham plantas que diferem grandemente entre si quanto à natureza, à forma, ao desenvolvimento. Algumas talvez pareçam belas e simétricas, mas muitas ficaram raquíticas e deformadas pela negligência.
Aquele a quem foi confiado o cuidado dessas plantas, deixou-as à mercê das circunstâncias, e agora as dificuldades do correto cultivo são dez vezes maiores.
Desenvolvimento Harmonioso
Nenhum ramo de estudo deve receber especial atenção com detrimento de outros igualmente importantes. Alguns professores dedicam muito tempo a um ramo favorito, exercitando os alunos em cada ponto, e elogiando-os pelo progresso feito, ao passo que esses estudantes talvez sejam deficientes em outros estudos essenciais. Tais mestres estão causando aos discípulos grande dano. Estão privando daquele harmônico desenvolvimento das faculdades mentais que devem possuir, bem como de conhecimentos que verdadeiramente necessitam.
Nessas questões, os professores são muitas vezes impulsionados por motivos ambiciosos e egoístas. Enquanto trabalharem sem mais elevados objetivos, não lhes será possível inspirar nos alunos desejos ou propósitos mais nobres. A mente aguçada e ativa dos jovens é pronta em apanhar todo defeito de caráter, e copiarão esses defeitos muito mais rapidamente do que o farão às graças do Espírito Santo.
O Poder de uma Feliz Disposição
O constante convívio com pessoas inferiores em idade e em preparo mental tende a tornar o professor obstinado a seus direitos e opiniões, e leva-o a ser cioso de sua posição e dignidade. Um espírito assim está em oposição à mansidão e humildade de Cristo. A negligência no cultivo dessas graças impede o progresso na vida divina. Muitos criam assim
barreiras entre si e Jesus, de maneira que Seu amor não lhes pode fluir para o coração, e eles se queixam depois de não poderem ver o Sol da Justiça. Esqueçam essas pessoas o próprio eu, e vivam para Jesus, e a luz do Céu lhes trará alegria à alma.
Nenhum homem ou mulher irritável, impaciente, arbitrário ou autoritário é apto para ensinar. Esses traços de caráter causam grande dano na sala de aulas. Não desculpe o professor sua errônea atitude com a alegação de ter um temperamento naturalmente impulsivo, ou de que errou ignorantemente. Em sua posição, a ignorância ou a falta de domínio próprio é pecado. Ele está escrevendo nas almas lições que serão conservadas através da vida, e deve exercitar-se em nunca proferir uma palavra precipitada, não perder nunca o domínio de si mesmo.
Mais que qualquer outra pessoa, aquele que tem a seu cargo educar jovens se deve precaver contra o permitir-se uma disposição melancólica ou sombria; pois isso o eliminará da simpatia dos alunos, e sem simpatia ele não pode esperar beneficiá-los. Não devemos obscurecer nosso próprio caminho nem o dos outros com as sombras de nossas provações. Temos um Salvador a quem nos dirigir, em cujo compassivo ouvido nos é dado desabafar toda queixa. Podemos deixar todas as nossas preocupações e fardos a Seus pés, e então o trabalho nos não parecerá difícil ou rigorosas as provações que nos sobrevêm.
"Regozijai-vos, sempre, no Senhor", exorta o apóstolo Paulo; "outra vez digo: regozijai-vos." Filip. 4:4. Seja qual for a vossa disposição, Deus é capaz de moldá-la de tal jeito, que ela venha a ser suave e cristã. Pelo exercício da fé viva, podeis desligar-vos de tudo que não está em harmonia com a mente de Deus, trazendo assim o Céu ao vosso viver aqui embaixo.
Assim fazendo, sempre estareis felizes. Quando o inimigo procura circundar a alma de trevas, falai de fé, cantai a fé, e verificareis que cantastes e falastes de vossa entrada na luz.
Abrimos para nós mesmos as comportas da infelicidade ou da alegria. Se permitimos que a mente se nos absorva com as aflições e as mesquinharias da Terra, o nosso coração se encherá de incredulidade, sombras e maus pressentimentos. Se fixarmos as afeições nas coisas que são de cima, a voz de Jesus nos falará ao coração, silenciarão as murmurações, e os pensamentos aflitivos se dissiparão em louvores a nosso Redentor. Os que se demoram na grande misericórdia de Deus, e não se esquecem dos menores de Seus dons, hão de cingir-se de alegria, em seu coração louvando ao Senhor. Então fruirão o trabalho. Permanecerão firmes em seu posto de dever. Terão um plácido temperamento, um espírito cheio de confiança.
Acrescentado Pelo Uso
O professor não deve supor que todo o seu tempo tem de ser gasto no estudo dos livros. Pondo em prática o que aprende, receberá mais do que pelo mero estudo. À medida que emprega o que sabe, vai crescendo mais. Alguns, não possuindo senão um talento, acham que nada podem fazer. Escondem-no na terra, por assim dizer; e como não recebam nenhum aumento queixam-se de Deus. Se usassem, porém, a aptidão que lhes foi concedida, duplicariam o seu talento. É pelo fiel emprego dos talentos que os mesmos são multiplicados. Ao empregarmos devidamente as vantagens que Deus nos dá, Ele nos acrescenta as aptidões para o serviço.
Por serdes professores, não penseis que vos seja desnecessário obter educação nos simples deveres da vida.
Por estudardes os livros, não negligencieis os deveres diários que vos rodeiam. Onde quer que vos encontreis, entremeai vossa vida com toda utilidade possível, e verificareis que a mente se torna mais capaz de expansão, mais vigorosa no apreender as lições que desejais aprender. Cumprindo com fidelidade todo dever prático que vos sobrevém, estais vos tornando mais habilitados a educar os que necessitam aprender a fazer essas coisas.
Apelo
Alguns há que amam a sociedade do mundo, que consideram a companhia dos mundanos alguma coisa mais desejável do que a dos que amam a Deus e Lhe guardam os mandamentos. Mestres, sabei o suficiente para obedecer a Deus. Sabei o suficiente para seguir as pegadas de Cristo, para usar-Lhe o jugo. Desejais acaso a sabedoria de Deus? Humilhai-vos então perante Ele; andai no caminho de Seus mandamentos; decidi aproveitar o mais possível toda oportunidade a vós concedida. Reuni todo raio de luz que vos incida no caminho. Segui a luz. Introduzi na prática da vida os ensinos da verdade. Ao vos humilhardes ante a potente mão de Deus, Ele vos exaltará. Confiai-Lhe vossa obra, trabalhai com fidelidade, com sinceridade e verdade, e vereis que o trabalho de cada dia traz sua recompensa.
Os mestres precisam ter fé viva, do contrário, serão separados de Cristo. O Salvador não pergunta qual é o conceito que tendes perante o mundo, quanto louvor estais recebendo de lábios humanos; pede-vos, porém, que vivais de tal modo que Ele possa colocar Seu selo sobre vós. Satanás busca lançar a própria sombra em vosso caminho a fim de
vos impedir o êxito. É mister possuirdes dentro de vós poder do alto para que, em nome de Jesus de Nazaré, vos seja dado vencer o poder que opera de baixo. Possuir no coração o Espírito de Cristo é incomparavelmente de mais importância do que fruir o conceito dos mundanos.
Ao professor é confiada uma grande obra - obra para a qual, em sua própria força, ele é de todo incapaz. Todavia se, compreendendo a própria fraqueza, apega-se a Jesus, tornar-se-á forte na força do Poderoso. Cumpre-lhe introduzir em sua difícil tarefa a paciência, o domínio de si mesmo, e a suavidade de Cristo. O coração deve arder-lhe com o mesmo amor que levou o Senhor da vida e da glória a morrer por um mundo perdido. A paciência e a perseverança não perderão sua recompensa. Os melhores esforços dos fiéis professores se demonstrarão por vezes ineficazes; todavia, ele verá o fruto de seu esforço. Caracteres nobres e vidas úteis serão a preciosa recompensa de sua fadiga e cuidado.
A natureza humana é digna de que nela se trabalhe. Tem de ser elevada, purificada, santificada, e preparada com o adorno interior. Mediante a graça de Deus em Jesus Cristo, que revela salvação, imortalidade e vida, Sua herança tem de ser educada, não nas minúcias da etiqueta, nas modas e formalidades do mundo, mas na ciência da piedade.