Conselhos Professores, Pais e Estudantes

CAPÍTULO 61

O Professor de Bílbia

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O Professor de Educação Religiosa

Os que tiverem mais vocação para o ministério devem ser empregados para dar aulas de Bíblia em nossas escolas. As pessoas escolhidas para essa obra precisam ser aprimorados estudantes da Bíblia; homens que tenham profunda experiência cristã; e seu ordenado deve ser pago do dízimo.

O professor de Bíblia deve ser uma pessoa apta a ensinar os alunos a apresentarem as verdades da Palavra de Deus em público, de modo claro e atrativo, e a fazer eficiente obra evangelística de casa em casa. É essencial que ele seja hábil em ensinar os que desejam trabalhar para o Mestre, a empregar sabiamente o que aprenderam. Deve instruir os alunos a iniciar o estudo da Bíblia com espírito de humildade, a pesquisar suas páginas, não em busca de provas para manter opiniões humanas, mas com o sincero desejo de conhecer o que Deus disse.

Bem cedo em sua vida cristã devem nossos estudantes ser ensinados a se tornarem obreiros bíblicos. Os que são consagrados e dóceis ao ensino, podem ser bem-sucedidos no serviço ativo de Cristo enquanto prosseguem nos cursos de estudo. Se eles empregarem muito tempo em oração, se humildemente se aconselharem com seus instrutores, crescerão no conhecimento da maneira de trabalhar em favor de almas. E, ao saírem para o grande campo da seara, poderão confiantemente orar: "Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus; e confirma sobre nós a obra das nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos." Sal. 90:17.


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A tarefa de ensinar as Escrituras aos jovens, em nossas escolas, não deve ser deixada inteiramente sobre um professor por longa série de anos. O mestre de Bíblia poderá ser muito apto a apresentar a verdade, todavia não será o melhor para a experiência cristã dos alunos que seu estudo da Palavra de Deus seja dirigido por um homem só, termo escolar após termo, ano após ano. Vários professores devem ter parte nessa obra, mesmo que não possuam todos tão pleno conhecimento das Escrituras. Se vários, em nossas escolas, se unirem na obra de ensinar as Escrituras, os alunos poderão ter assim o benefício dos talentos de diversos professores.

Por que necessitamos de Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo e todos os escritores que deram testemunho quanto à vida e ao ministério do Salvador? Por que não poderia um dos discípulos escrever o relatório completo, sendo-nos dada assim uma relação organizada da vida terrestre de Cristo? Por que introduz um dos escritores pontos que outro não menciona? Por que, se esses pontos são essenciais, não os mencionaram todos esses escritores? É porque a mente dos homens difere. Nem todos compreendem as coisas exatamente de igual maneira. Certas verdades bíblicas impressionam muito mais fortemente o espírito de alguns do que de outros.

O mesmo princípio se aplica aos oradores. Um demora-se consideravelmente em pontos que outros passariam rápido ou nem mencionariam sequer. Toda a verdade é apresentada mais claramente por vários do que por um só. Os Evangelhos diferem, mas as narrações de todos se combinam em um todo harmônico.

Assim hoje o Senhor não impressiona os espíritos do mesmo modo. Com freqüência, por meio de experiências


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anormais, sob especiais circunstâncias, Ele dá a alguns estudantes da Bíblia visões da verdade que outros não apreendem. É possível ao mais preparado professor de Bíblia ficar muito longe de ensinar tudo quanto deve ser ensinado.

Muito beneficiaria nossas escolas o celebrarem freqüentemente reuniões regulares, em que todos os professores tomassem parte no estudo da Palavra de Deus. Deviam examinar as Escrituras como os nobres bereanos. Deviam subordinar todas as idéias preconcebidas e, tomando como texto a Bíblia, comparando passagem com passagem, deviam aprender o que convinha ensinar a seus alunos, e a maneira de os preparar para um serviço aceitável.

O êxito do mestre depende, em grande parte, do espírito introduzido na obra. A profissão de fé não torna os homens cristãos; mas, se os professores abrirem o coração ao estudo da Palavra, serão capazes de ajudar seus alunos a chegar à melhor compreensão. Não permitais que penetre aí o espírito de discussão, mas busque cada um, fervorosamente, a luz e o conhecimento de que necessita.

A Palavra de Deus é verdadeira filosofia, verdadeira ciência. As opiniões humanas e a pregação sensacional, pouco valem. Os que se acham imbuídos da Palavra de Deus, ensiná-lo-ão da maneira singela como a ensinava Jesus. O maior Mestre do mundo empregava a mais simples linguagem e os símbolos mais simples.

O Senhor chama Seus pastores para alimentarem o rebanho com pura forragem. Ele quer que esses pastores apresentem a verdade em sua singeleza. Quando esta obra for fielmente feita, muitos serão convencidos e convertidos pelo poder do Espírito Santo. Há necessidade de professores de Bíblia que se acheguem aos não-convertidos, que busquem as


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ovelhas perdidas, que façam trabalho pessoal, e dêem instruções claras e definidas.

Jamais enuncieis pensamentos de dúvida. O ensino de Cristo era sempre positivo em sua natureza. Com um tom de firmeza, apresentai uma mensagem definida. Exaltai o Homem do Calvário, alto, e mais alto, ainda; há poder na exaltação da cruz de Cristo.

É o privilégio do estudante ter idéias claras e precisas da verdade da Palavra, a fim de estar habilitado a apresentar essas verdades a outros espíritos. Cumpre-lhe estar arraigado e fundado na fé. Os alunos devem ser levados a pensar por si mesmos, a ver por si mesmos a força da verdade, e falarem de tal modo que toda palavra que proferirem provenha de um coração cheio de amor e ternura. Esforçai-vos por incutir-lhes na mente as verdades vitais da Bíblia. Repitam eles essas verdades com suas próprias palavras, de modo a estardes certos de que as compreendem claramente. Certificai-vos de que cada ponto esteja firmado na mente. Talvez isso seja um processo vagaroso, mas é dez vezes mais valioso do que passar apressadamente sobre importantes assuntos, sem lhes dar a devida consideração. Não basta que o aluno acredite por si mesmo na verdade. Ele deve ser levado a apresentar essa verdade claramente, com suas próprias palavras, para que seja evidente que vê a força da lição, e sabe aplicá-la.

Em todos os vossos ensinos não esqueçais nunca que a maior lição a ser ensinada e aprendida é a da união com Cristo na obra de salvar. A educação a ser adquirida mediante o exame das Escrituras é um conhecimento experimental do plano da salvação. Tal educação restaurará na alma a imagem de Deus. Ela fortalecerá e fortificará o espírito contra a tentação, e habilitará o estudante a tornar-se coobreiro de


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Cristo em Sua missão de misericórdia para com o mundo. Ela o fará membro da família celeste, prepará-lo-á para participar da herança dos santos na luz.

O professor que ensina a verdade só pode transmitir com eficácia aquilo que ele próprio conhece por experiência. Cristo ensinou a verdade porque Ele próprio era a verdade. Seu pensar, o caráter, a experiência de Sua vida, achavam-se encarnados em Seu ensino. O mesmo se dá com Seus servos: os que ensinam a Palavra devem tornar-se seus possuidores mediante experiência pessoal. Devem saber o que é ser Cristo feito para eles sabedoria, justiça, santificação e redenção. Todo ministro de Cristo e todo professor devem poder dizer com o amado João: "A vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada." I João 1:2.

Muitas vezes parecerá ao professor que a Palavra de Deus pouca influência tem no coração e no espírito de muitos estudantes; mas se seu trabalho foi efetuado em Deus, algumas lições da verdade divina hão de deter-se na memória dos mais descuidosos. O Espírito Santo regará a semente lançada, e ela brotará ao cabo de muitos dias dando frutos para a glória de Deus.

Simplicidade no Ensino

Os professores podem aprender uma lição do incidente do fazendeiro que pôs a comida das ovelhas em uma manjedoura tão alto que as menores do rebanho não a podiam alcançar. Alguns mestres apresentam a verdade aos alunos de maneira semelhante. Põem tão alto a manjedoura, que aqueles a quem ensinam não podem alcançar o alimento. Esquecem-se de que os alunos possuem apenas uma parte da oportunidade


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que eles têm tido para obter conhecimento de Deus. Encontram-se demasiado alto na escada para estender para baixo mão ajudadora, cálida de ternura e amor, de profundo e fervoroso interesse. Desçam eles, e, com suas próprias maneiras, digam aos alunos:

"Não permanecerei por mais tempo tão superior a vocês. Subamos juntos, e veremos o que se pode obter pelo estudo, em conjunto, das Escrituras. Cristo é quem comunica todo o conhecimento. Trabalhemos juntos no esforço de aprender com Deus a compreender as verdades de Sua Palavra, e a apresentar a outros essas verdades em sua simplicidade e beleza.

"Estudemos juntos. Nada tenho que vocês não possam receber, se abrirem a mente aos ensinos de Cristo. A Bíblia é seu Livro-guia, assim como é o meu. Fazendo perguntas, vocês poderão sugerir idéias novas para mim. As várias maneiras de exprimir a verdade que estamos estudando, trarão luz à nossa classe. Se qualquer explanação da Palavra for diversa da compreensão que tinham anteriormente, não hesitem em expor seus pontos de vista sobre o assunto. A luz resplandecerá sobre nós enquanto, na mansidão e humildade de Cristo, estudarmos juntos."

Era assim que eram dirigidas as escolas dos profetas. Dava-se tempo na classe para fiel estudo dos pensamentos apresentados. Os corações se aqueciam, e se fazia ouvir a voz do louvor e das ações de graças. O sagrado evangelho humanizava-se, como nos ensinos de Cristo. Tanto os mestres como os discípulos realizavam muito. Consagrava-se tempo a


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que cada um participasse do celeste banquete - o estudo das verdades apresentadas, acrescentando então aquilo que ele próprio recebera de Deus.

Quando professores e alunos mantêm o devido espírito, têm especial graça de Deus - graça suficiente para cada um e para todos, suficiente graça contínua, para sempre. Ao aprenderem, os professores, do divino Mestre, a Bíblia se torna um guia de estudo, como Deus designou que fosse, oferecendo claras concepções aos que se esforçam por apreender-lhe as grandes e gloriosas verdades. Quando os estudantes buscam a verdade como a tesouros escondidos, a mente se lhes enriquece com o mais elevado de todos os conhecimentos. Derrama-se no espírito uma profusão de luz sobre o problema da vida humana. Vêem como é possível que homens e mulheres sejam santificados por meio da crença na verdade tal como é em Jesus.

As jóias da verdade jazem esparsas no campo da revelação; foram, porém, soterradas pelas tradições humanas, pelos dizeres e mandamentos dos homens; e a sabedoria do Céu tem sido, por assim dizer, ignorada. Satanás tem tido êxito em fazer crer que as palavras e as realizações dos homens são de grande importância. Há veios da verdade ainda a serem descobertos; mas as coisas espirituais se discernem espiritualmente. Uma passagem da Escritura se demonstrará a chave para descerrar outras passagens e, por esse modo, deita-se luz sobre o oculto sentido da palavra. Comparando-se os vários textos que tratam do mesmo assunto, considerando-lhes o conteúdo de todos os lados, a verdadeira significação das Escrituras se tornará evidente.

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