Conselhos Professores, Pais e Estudantes

CAPÍTULO 31

A Necessidade de Fazermos o Melhor que nos Seja Possível

CP - Pag. 237  

A Necessidade de Fazermos o Melhor

O Senhor tomou providências para que as mais nobres faculdades da mente fossem exercitadas para elevadas realizações. Em lugar disso, porém, o homem perverte essas faculdades, ativando-as a serviço dos interesses temporais, como se a realização das coisas terrenas fosse de suprema importância. Dessa maneira amesquinham-se as mais altas faculdades, ficando os homens inabilitados para os deveres da vida que sobre eles pesam. Se essas faculdades mentais não são cultivadas, deixam de agir com integridade, mesmo nas obrigações concernentes a esta vida. É o desígnio de Satanás que elas se amesquinhem e se tornem sensuais; não é, porém, a vontade de Deus que ninguém submeta a mente ao domínio do maligno. Nos empreendimentos intelectuais, como nos espirituais, Ele quer que Seus filhos façam progressos. ...

A suprema obra a nós confiada, foi o preparo para a vida eterna. Caso a realizemos segundo o desígnio de Deus, toda tentação poderá contribuir para o nosso progresso; pois, à medida que resistirmos às seduções, avançamos na vida divina. No calor da luta, agentes invisíveis nos serão postos ao lado, com ordens do Céu para nos ajudar nas pelejas; e na crise, ser-nos-ão comunicadas força, firmeza e energia, e teremos poder sobre-humano.

A menos, porém, que o agente humano ponha sua vontade em harmonia com a de Deus, a menos que ele abandone todo ídolo e vença toda má prática, não vencerá no conflito, mas


CP - Pag. 238  

será afinal vencido. Os que quiserem ser vitoriosos, precisam empenhar-se na luta com as forças invisíveis; a corrupção interior precisa ser vencida, e todo pensamento submetido a Cristo.

O Espírito Santo está sempre operando, buscando purificar, refinar e disciplinar o coração humano, a fim de que os homens se tornem aptos para a sociedade dos santos, e dos anjos. ... Como filhos de Deus, cumpre-nos fazer diligentes esforços para ser vitoriosos; e como estudantes que buscam honrar e glorificar a Deus, é nosso dever estudar, a fim de nos mostrar aprovados por Ele, obreiros que não têm de que se envergonhar.

O Devido Emprego do Dom da Linguagem

O obreiro de Deus deve fazer sinceros esforços para tornar-se representante de Cristo, rejeitando toda gesticulação imprópria, toda linguagem grosseira. Deve esforçar-se por empregar linguagem correta. Há uma numerosa classe descuidosa em sua maneira de falar, mas mediante cuidadosa e paciente atenção, estes se poderão tornar representantes da verdade. Todos os dias deviam fazer progressos. Não deviam desmerecer sua utilidade e influência, nutrindo defeitos de maneiras, de entonações de voz ou linguagem. Expressões comuns, vulgares, precisam ser substituídas por palavras sãs e puras. Mediante contínua vigilância e diligente disciplina, o jovem cristão pode guardar a língua do mal e os lábios de falarem engano.

Convém cuidarmos em não pronunciar incorretamente as palavras. Existem entre nós homens que, em teoria, têm


CP - Pag. 239  

conhecimentos que os põem acima de uma linguagem incorreta, e que, todavia, na prática, cometem erros freqüentes. O Senhor quer que façamos o melhor possível, empregando sabiamente nossas faculdades e ocasiões. Ele dotou os homens de dons com que beneficiem e edifiquem a outros; é nosso dever educar-nos de tal modo que nos habilitemos para a grande obra a nós confiada. ...

Lendo ou recitando, a pronúncia deve ser clara. Tons nasais ou atitudes vulgares devem ser quanto antes corrigidos. Qualquer falta de clareza deve ser notada como deficiência. Muitos se têm permitido formar o hábito de falar incompleta e indistintamente, como se a língua lhes fosse demasiadamente grande para a boca. Esse hábito lhes tem prejudicado grandemente a utilidade.

Se as pessoas defeituosas na pronúncia se submeterem à crítica e à correção, poderão vencer esses defeitos. Devem exercitar-se com perseverança, falando em tom baixo, distinto, pondo em função os músculos abdominais em profunda respiração, e tornando a garganta o meio de comunicação. Muitos falam muito rapidamente, e em alto diapasão, fora do natural. Tal costume prejudicará a garganta e os pulmões. Em conseqüência do mau uso contínuo, os fracos e inflamados órgãos adoecem, podendo resultar em tuberculose.

O Método de Cristo

Os pastores e os professores devem dar especial atenção ao cultivo da voz.


CP - Pag. 240  

Devem aprender a falar, sem nervosismo e precipitação, mas enunciando pausada, distinta e claramente, conservando a harmonia da voz.

A voz do Salvador era qual música aos ouvidos dos que se achavam habituados à pregação monótona e sem vida dos escribas e fariseus. Ele falava devagar e de modo impressivo, acentuando as palavras a que desejava que os ouvintes dessem especial atenção. Adultos e jovens, ignorantes e instruídos, podiam apreender-Lhe plenamente o sentido das palavras. Isso haveria sido impossível, falasse Ele de maneira apressada, precipitando sentença após sentença, sem uma pausa. O povo escutava-O com muita atenção, e diziam a Seu respeito que Ele não falava como os escribas e fariseus; pois Sua palavra era como a de alguém que tinha autoridade. ...

O modo de ensinar de Cristo era belo e atrativo, caracterizando-se sempre pela simplicidade. Desdobrava os mistérios do reino do Céu por meio de imagens e símbolos familiares aos ouvintes; e o povo comum O escutava de boa vontade, pois podiam entender-Lhe a palavra. Não havia expressões eruditas, para compreender as quais fosse necessário consultar o dicionário.

Jesus ilustrava as glórias do reino de Deus pelo emprego de experiências e incidentes da Terra. Possuído de compassivo amor e ternura, animava, confortava e instruía a todos que O ouviam; pois em Seus lábios fora a graça derramada, a fim de que pudesse transmitir aos homens, pela maneira mais atrativa, os tesouros da verdade.

Tal é o modo por que Ele quer que apresentemos a verdade aos outros. De grande valor é o poder da linguagem, e a voz deve ser cultivada para benefício daqueles com quem nos pomos em contato.


CP - Pag. 241  

Em Oração

Sinto-me penalizada ao ver quão pouco apreciado é o dom da linguagem. Na leitura da Bíblia, nas oração, ao dar testemunhos nas reuniões, quão necessária é a dicção clara, distinta! E quanto se perde, no culto de família, quando o que faz a oração curva a cabeça e fala em voz baixa e fraca! Assim, porém, que o culto de família terminou, os que na oração não podiam falar alto bastante para se fazerem ouvir, falam em geral em tons claros, distintos, não havendo dificuldade em ouvir o que dizem. A oração feita assim, será apropriada para o aposento particular, mas não é edificante no culto familiar ou público; pois a menos que as pessoas reunidas ouçam o que se diz, não podem dizer "Amém". Quase todos são capazes de falar suficientemente alto para ser ouvidos na conversação comum, e por que não hão de falar do mesmo modo quando chamados a dar testemunho ou a fazer oração?

Quando falardes de coisas divinas, por que não usar tons distintos, e de maneira a manifestar que sabeis aquilo de que falais, e não vos envergonhais de mostrar a bandeira a que servis? Por que não orais como quem tem a consciência livre de ofensa, e se pode chegar ao trono da graça humildemente, não obstante com santa ousadia, erguendo mãos santas, sem ira nem contenda? Não vos curveis, cobrindo o rosto como se algo houvesse que desejais ocultar. Erguei, porém, os olhos para o santuário celeste, onde Cristo, vosso Mediador, Se acha perante o Pai para apresentar as vossas súplicas, de mistura com Seus próprios méritos e imaculada justiça, qual agradável incenso.


CP - Pag. 242  

Sois convidados a vir, pedir, buscar, bater; e é-vos dada a certeza de que não o fareis em vão. Jesus diz: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre." Mat. 7:7 e 8.

Cristo ilustra a boa vontade de Deus para beneficiar, com a disposição de um pai para satisfazer ao pedido de um filho. Ele diz: "E qual o pai dentre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois, se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que Lho pedirem?" Luc. 11:11-13.

Dirigimo-nos a Deus em nome de Jesus por um especial convite, e Ele nos acolhe em Sua câmara de audiência. À alma humilde e contrita, comunica Ele aquela fé em Cristo mediante a qual ela é justificada. Jesus desfaz, como a uma espessa nuvem, suas transgressões, e o coração confortado exclama: "Graças Te dou, ó Senhor, porque, ainda que Te iraste contra mim, a Tua ira se retirou, e Tu me consolaste." Isa. 12:1. Tal pessoa compreenderá, pela própria experiência, as palavras de Paulo: "Com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação." Rom. 10:10.

O homem torna-se então um instrumento que Deus pode empregar para a realização de Seus desígnios. Ele representa Cristo, estendendo ao mundo Sua misericórdia e amor.


CP - Pag. 243  

Tem um testemunho que deseja que outros ouçam. Na linguagem do salmista, diz: "Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o Seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de Seus benefícios. É Ele que perdoa todas as tuas iniqüidades e sara todas as tuas enfermidades; quem redime a tua vida da perdição e te coroa de benignidade e de misericórdia." Sal. 103:1-4.

Testemunhar em Favor de Cristo

Deus nos concedeu o dom da linguagem a fim de podermos contar aos outros Seu trato para conosco, para que Seu amor e compaixão possam tocar a outros corações, e de outras almas também ascendam louvores Àquele que os chamou das trevas para Sua maravilhosa luz. Disse o Senhor: "Vós sois as Minhas testemunhas." Isa. 43:10. Mas todos quantos são chamados a ser testemunhas de Cristo precisam aprender dEle, a fim de ser testemunhas eficientes. Como filhos do celeste Rei, devem educar-se a dar testemunho em voz clara e distinta, e de tal maneira que ninguém tenha a impressão de que estão relutantes para contar as misericórdias do Senhor.

Nas reuniões sociais, a oração deve ser feita de maneira que todos sejam edificados; os que tomam parte nesse serviço, devem seguir o exemplo dado na bela oração do Senhor para o mundo. Essa oração é simples, clara, compreensiva, e todavia não é longa nem sem vida, como são por vezes as orações feitas em público. Orações assim, destituídas de vida, seria melhor que não fossem proferidas; pois são mera forma, sem poder vital, e deixam de beneficiar ou produzir edificação.

Escreve o apóstolo Paulo: "Da mesma sorte, se as coisas


CP - Pag. 244  

inanimadas que fazem som, seja flauta, seja cítara, não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca com a flauta ou com a cítara? Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha? Assim, também vós, se com a língua, não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? Porque estareis como que falando ao ar.

"Há, por exemplo, tanta espécie de vozes no mundo, e nenhuma delas é sem significado. Mas, se eu ignorar o sentido da voz, serei bárbaro para aquele a quem falo, e o que fala será bárbaro para mim. Assim, também vós, como desejais dons espirituais, procurai sobejar neles, para edificação da Igreja." I Cor. 14:7-12.

Em todos os nossos cultos, devemos conduzir-nos de maneira a edificar os outros, trabalhando o quanto esteja ao nosso alcance para a perfeição da Igreja. "Pelo que, o que fala língua estranha, ore para que a possa interpretar. Porque, se eu orar em língua estranha, o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto. Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento. ... Doutra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de indouto o Amém sobre a tua ação de graças, visto que não sabe o que dizes? Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado.

"Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos. Todavia eu antes quero falar na Igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida." I Cor. 14:13-19.


CP - Pag. 245  

O princípio apresentado por Paulo com referência ao dom de línguas é igualmente aplicável ao uso da voz na reunião de oração ou social. Não queríamos que ninguém que seja deficiente a esse respeito deixasse de fazer oração em público, de dar testemunho do poder e do amor de Cristo.

Não escrevo estas coisas para vos induzir ao silêncio, pois já tem havido demasiado silêncio em nossas reuniões; mas escrevo a fim de que consagreis a voz Àquele que vos deu esse dom, e compreendais a necessidade de o cultivar de modo a edificar a Igreja pelo que dizeis. Se formastes o hábito de falar baixo e indistintamente, deveis considerá-lo um defeito, e fazer sinceros esforços para vencê-lo, de modo que vos seja possível honrar a Deus e edificar a Seus filhos.

Em nossas reuniões devocionais, nossa voz deve exprimir por oração e louvor a nossa adoração ao Pai celeste; para que todos compreendam que adoramos a Deus em simplicidade e verdade, e na beleza da santidade. Precioso é, na verdade, neste mundo de pecado e ignorância, o dom da palavra, a melodia da voz humana quando consagrada ao louvor dAquele que nos amou e Se entregou a Si mesmo por nós.

Consagração da Voz

O dom da linguagem tem sido grandemente maltratado e vastamente pervertido em seus desígnios. Que os que professam, porém, ser filhos do celeste Rei, despertem para sua responsabilidade, aproveitando ao máximo este talento! Que ninguém diga: "Não me adianta procurar orar; pois os outros


CP - Pag. 246  

não me ouvem." Diga antes: "Farei sinceros esforços por vencer esse hábito desonroso para Deus, de falar em tom baixo e indistinto. Pôr-me-ei sob disciplina até que minha voz seja audível, mesmo para os que são de ouvido pesado."

Seja a voz dos seguidores de Cristo exercitada de tal maneira que, em vez de amontoar palavras de modo ininteligível e indistinto, sua enunciação seja clara, forte e edificante. Não deixes cair a voz depois de cada palavra, mas mantende-a alta, para que cada sentença seja plena e completa. Não valerá a pena vos disciplinardes, uma vez que, assim fazendo, podereis acrescentar interesse ao culto de Deus, e edificar Seus filhos? A voz de ações de graças, de louvor e regozijo é ouvida no Céu. As vozes dos anjos no Céu unem-se com a dos filhos de Deus na Terra, ao renderem eles honra, glória e louvor a Deus e ao Cordeiro, pela grande salvação provida.

Que cada um procure fazer o melhor que lhe seja possível. Que os que se alistaram sob a bandeira do Príncipe Emanuel cresçam diariamente em graça e eficiência. Que os mestres em nossas instituições se esforcem por preparar de tal modo os estudantes, em todos os ramos da educação, que eles saiam devidamente disciplinados para beneficiar a humanidade e glorificar a Deus.

É essencial que os alunos sejam exercitados em ler em tom claro e distinto. Tem-nos penalizado, ao assistirmos a reuniões das associações, de publicações e outras reuniões, onde se liam os relatórios em voz quase inaudível, hesitante ou de maneira confusa. Metade do interesse de uma reunião é morta quando os participantes fazem sua parte com indiferença, sem vida.


CP - Pag. 247  

Eles devem aprender a falar de maneira a edificar os que escutam. Que todos quantos estão ligados à obra missionária se habilitem a falar com clareza, de modo atrativo, enunciando perfeitamente as palavras.

O devido emprego dos órgãos vocais traz benefício à saúde física, ao mesmo tempo que acrescenta a utilidade e influência da pessoa. É em razão de adquirir maus hábitos no falar, que nos tornamos leitores ou oradores enfadonhos. Aqueles, porém, que são considerados bastante inteligentes para se tornarem obreiros missionários ou em ramos comerciais, devem ser também suficientemente inteligentes para reformar seu modo de falar. Por meio de conveniente exercício, é-lhes possível expandir o peito e robustecer os músculos. Atendendo às devidas instruções, seguindo os princípios da saúde quanto à dilatação dos pulmões e à cultura da voz, nossos rapazes e moças se podem tornar oradores capazes de se fazer ouvir; e o exercício necessário para conseguir isso prolongará a vida.

Os que adquirem idéias corretas no que respeita à cultura da voz, verão a necessidade de educar-se e exercitar-se a si mesmos a fim de glorificarem a Deus e beneficiarem aos outros. Terão de submeter-se a professores pacientes e capazes, aprendendo a ler de modo a conservar a harmonia da voz. Visando unicamente à glória de Deus, farão o máximo com suas aptidões naturais. Governando as próprias faculdades, não serão estorvados por defeitos de linguagem, acrescentando a própria utilidade na causa de Deus.

<< Capítulo Anterior Próximo Capítulo >>