Segundo foi mencionado no Prefácio desta terceira edição, Testemunhos Para Ministros consiste de materiais extraídos de várias fontes, principalmente de artigos de Ellen G. White que apareceram na Review and Herald e de folhetos contendo testemunhos à igreja de Battle Creek e aos dirigentes da Causa. A maior parte do conteúdo deste volume foi escrita nos anos 1890-1898, com o acréscimo de alguns materiais anteriores e posteriores, para ampliar determinados aspectos de conselho. A Seção 1: "A Igreja de Cristo", dá certeza da terna consideração que Deus tem por Sua Igreja, e contém claras promessas de vitória da Igreja. Isto é seguido de advertências e conselhos a pastores e administradores.
A década de 1890 foi um período interessante, mas, em alguns aspectos, também um período aflitivo na experiência dos adventistas do sétimo dia. A Igreja estava crescendo, e mais que dobrou o seu número de membros nesses dez anos. Os seus obreiros penetravam rapidamente em novos países. Fundaram-se instituições na pátria e no estrangeiro. As providências originais para a organização, tomadas na primeira assembléia da Associação Geral, em 1863, estavam se tornando escassas e insuficientes. As instituições estabelecidas há mais tempo se expandiam, e passavam por um período de popularidade, tanto entre os adventistas do sétimo dia como no mundo em geral. Esse crescimento esteve repleto de perigos, desde o liberalismo, por um lado, até à consolidação e centralização, por outro lado. Então, no decorrer da experiência desse período, houve certos elementos que refletiam o desfecho da assembléia da Associação Geral de 1888, realizada em Mineápolis, Minnesota, na qual foram minuciosa e acaloradamente debatidas determinadas questões doutrinárias. Vários homens se identificaram com um partido ou com o outro, sendo as suas decisões influenciadas não somente pelos argumentos doutrinários que tinham sido apresentados, mas também moldadas pelas atitudes para com os conselhos do Espírito de Profecia. Nalguns casos, essas atitudes não eram benéficas. Durante a maior parte desse período, a Sra. White esteve na Austrália, esforçando-se para desenvolver a obra nesse território recém-penetrado e tomando a dianteira no estabelecimento de um colégio e de um hospital nesse continente.
Este volume leva o título de Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos. Ele não é dedicado essencialmente a instruções sobre a maneira pela qual deve ser realizada a obra do pastor, como é o caso de Obreiros Evangélicos. Este livro contém mensagens que foram dadas para admoestar, advertir, repreender e aconselhar os pastores da Igreja, com especial atenção aos perigos específicos de homens que se encontram em posições de responsabilidade. Algumas repreensões são severas, mas é dada a certeza de que Deus, no Seu processo disciplinador, "só fere para poder curar, e não para fazer perecer". Testemunhos Para Ministros, pág. 23.
As repreensões e os conselhos dirigidos aos pastores, e especialmente aos administradores, não foram publicados inicialmente por Ellen G. White, mas pelo presidente da Associação Geral, e, mais tarde, pela Comissão da Associação Geral. Na maioria dos casos, eram mensagens dirigidas originariamente ao presidente da Associação Geral, O. A. Olsen, e a seus auxiliares na obra administrativa, principalmente em Battle Creek. Ele e sua comissão mandaram imprimi-las para que outros pastores e administradores também pudessem tirar proveito das repreensões que indicavam os erros, e dos conselhos e do encorajamento ligados à repreensão.
Resenha de Dados Históricos Significativos
Ao rever certas situações na história de nossa Igreja, que constituem o cenário para as mensagens da década de 1890, descobrimos indícios que nos habilitam a compreender melhor essas mensagens. Tornemos a folhear as páginas da História e consideremos alguns acontecimentos importantes.
Desde o começo, os adventistas que observavam o sábado se caracterizaram pelo ardente desejo de compreender a vontade de Deus e andar no Seu caminho. Em sua experiência do advento, nos meados da década de 1840, eles tinham visto as estáveis igrejas protestantes, com suas estacas doutrinárias firmemente fincadas, se afastarem das grandes verdades ensinadas na Palavra de Deus. Muitos desses adventistas haviam sido expulsos dessas igrejas por causa de sua esperança no advento, a qual promanou das Escrituras. Eles tinham visto seus antigos irmãos mover ativa oposição aos que defendiam e expunham as verdades bíblicas. Isto fez com que tivessem receio da formalidade e da organização da igreja. Quando, porém, começou a abrir-se o caminho para a proclamação da mensagem do terceiro anjo, aumentou a necessidade de organização, e, em janeiro de 1850, foi mostrado a Ellen White que os adventistas observadores do sábado deviam pôr em ordem o seu trabalho, pois "no Céu tudo estava em perfeita ordem". Manuscrito 11, 1850.
Esforços diligentes para efetuar a organização da Igreja assinalaram a década de 1850. Em 1860 eles culminaram na escolha do nome "Adventistas do Sétimo Dia", e, em 1861, nos planos para a organização de igrejas locais e associações estaduais. Então em 1863, as associações estaduais se coligaram na Associação Geral. Tomou-se muito cuidado para evitar o primeiro passo na formação de um credo, pois era evidente que a Igreja não poderia ter as estacas firmemente fincadas nesse sentido, e ao mesmo tempo estar livre para seguir as indicações providenciais reveladas pelo estudo da Palavra de Deus e pelas revelações do Espírito de Profecia. Excelente declaração a respeito das providências divinas ao ser instituída a ordem da Igreja aparece nas páginas 24-32.
Por ocasião da organização da Associação Geral em 1863, foi escolhida uma Comissão da Associação Geral composta de três homens. Os principais interesses da Igreja consistiam das diversas associações estaduais e de uma casa publicadora situada em Battle Creek, Michigan. No setor evangelístico, crescente sucesso adveio aos pastores adventistas do sétimo dia. Sua obra consistia principalmente em pregar as verdades distintivas da mensagem evangélica, incluindo o sábado, o estado dos mortos, o segundo advento e o santuário. Muitos desses homens foram induzidos a entrar em discussões e debates atinentes à lei de Deus e a outras verdades bíblicas muito importantes. Imperceptivelmente, não poucos dos que se envolveram em tais discussões tornaram-se confiantes em si mesmos, e em seus corações desenvolveu-se um espírito de falsa segurança, de auto-suficiência e de pendor para debates ou discussões. Com o tempo isso produziu frutos nocivos.
Desenvolvimento Institucional
O desenvolvimento institucional seguiu rapidamente no encalço da organização da Associação Geral. Na visão dada a Ellen White em dezembro de 1865, foi requerida uma instituição médica, e, como resposta, em setembro de 1866 os dirigentes abriram um pequeno instituto de saúde em Battle Creek. Menos de uma década depois disso, nas mensagens procedentes da pena de Ellen White foi recomendada a fundação de uma escola. Em 1874 construiu-se o Colégio de Battle Creek. Assim houve três importantes desenvolvimentos institucionais em Battle Creek, atraindo cada vez maior número de adventistas do sétimo dia para um centro denominacional em rápido crescimento. Foram chamados homens de experiência em assuntos comerciais para cuidar dos interesses financeiros das instituições. À medida que os métodos se expandiram, desenvolveram e prosperaram, alguns desses homens passaram a confiar mais no seu tino comercial do que nas mensagens de orientação da parte de Deus. Para eles, negócios eram negócios.
Antes que decorresse uma década, a denominação se defrontou com uma luta entre os interesses de um programa educacional baseado nos princípios do Espírito de Profecia, e o programa educacional do mundo, dirigido por homens saturados de conceitos e métodos mundanos.
Os pioneiros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em grande parte, eram homens que se fizeram por si mesmos. Eram pessoas consagradas, hábeis e competentes, segundo se pode ver pela leitura de seus escritos. Conhecendo, porém, as limitações de sua formação educacional, tendiam a sentir-se muito humildes. Portanto, no começo da década de 1880, quando apareceu no meio deles um educador com título universitário, não é de surpreender que ele fosse impelido a assumir a liderança na obra educacional. Tendo sido elevado rapidamente a uma posição muito importante numa ocasião em que conhecia bem pouco das doutrinas e da história dos adventistas do sétimo dia, ele demonstrou que não se achava preparado para as responsabilidades que lhe foram atribuídas.
Com os dirigentes e os membros tomando partido, as questões se complicaram em Battle Creek. Alguns foram desencaminhados pela liderança de um educador graduado, ao passo que outros procuraram permanecer leais ao que fora apresentado nos conselhos do Espírito de Profecia. O resultado foi desastroso para o colégio e para a experiência das pessoas envolvidas. O Colégio de Battle Creek fechou-se durante um ano. As coisas tinham sido ditas e as posições assumidas deixaram o seu estigma na experiência de não poucos dirigentes e membros da Igreja.
Nesse período foram publicados os artigos incluídos em Testimonies for the Church, vol. 5, págs. 9-98, primeiro num folheto intitulado "Testemunho Para a Igreja de Battle Creek". Esse folheto continha não somente o que mais tarde foi reeditado no volume 5, mas também alusões mais pessoais a indivíduos e situações em Battle Creek. Só é necessário ler os títulos para sentir a atmosfera desse tempo. O segundo capítulo: "Nosso Colégio", contém os subtítulos: "A Bíblia Como Livro de Ensino", "Objetivo do Colégio" e "Professores no Colégio". Os capítulos que vêm em seguida intitulam-se: "Preparo dos Pais", "Testemunho Importante", "Menosprezando os Testemunhos", "Obreiros em Nosso Colégio", "Reprovação à Inveja e à Crítica".
Eram dias difíceis, e no ano seguinte, quando compareceu à assembléia da Associação Geral em Battle Creek, Ellen White foi divinamente induzida a proferir uma série de palestras matinais aos pastores adventistas do sétimo dia, dando conselhos sobre aspectos práticos. Significativamente, entre estas palestras, uma foi dedicada a "Cristo, Justiça Nossa". (Ver Mensagens Escolhidas, vol. 1, págs. 350-354.) Estas circunstâncias históricas fazem parte dos antecedentes para os conselhos de E. G. White que se encontram neste volume.
A Década de 1880, um Período de Notável Progresso
Embora houvesse enviado J. N. Andrews à Europa em 1874, enquanto se empenhava na edificação do colégio, só na década de 1880 a Igreja ingressou num período de notável avanço missionário e desenvolvimento institucional. Em 1882 foram fundadas duas outras escolas: uma em Healdsburg, Califórnia; e a outra em South Lancaster, Massachusetts. Em 1885 a obra de publicações estabeleceu-se em Basiléia, Suíça, na recém-construída Casa Publicadora Central. Nesse mesmo ano, foram enviados obreiros à Austrália, e logo se estabeleceu a Companhia Publicadora Echo, em Melbourne. A presença pessoal de Ellen G. White na Europa, nos anos 1885-1887, trouxe força e encorajamento à obra nos países visitados por ela.
Ao recapitularmos certos pontos no desenvolvimento da história denominacional, se intensifica em nós a percepção da realidade do conflito entre as forças da justiça e as forças do mal. A igreja que surgira era a Igreja remanescente da profecia, com a mensagem de Deus para o tempo atual. O grande adversário fez tudo que estava ao seu alcance para frustrar a obra.
Circunstâncias Ligadas à Assembléia
de Mineápolis, em 1888
Uma das medidas mais eficazes do inimigo consistiu em levar bons homens a tomar posições que acabaram sendo um empecilho para a obra que eles amavam. Isto foi visto no espírito que se desenvolveu no coração de homens que se envolveram em discussões e debates. Foi visto na experiência de homens de negócios ligados à Causa. Foi visto na experiência de missionários que se dirigiram a outros países, e que, tendo conceitos tacanhos da obra, acharam difícil avançar da maneira indicada por Deus. Foi visto na tendência, manifestada por alguns, de recorrer aos líderes em Battle Creek para obter orientação nas mínimas questões da extensa obra missionária. E foi visto também no modo como dirigentes em Battle Creek, sobrecarregados com a obra educacional, procuravam dar minuciosa orientação ao trabalho em regiões distantes, das quais eles tinham bem pouco conhecimento.
Quando chegou ao fim do ano 1887, a Igreja Adventista do Sétimo Dia tinha um total de 25.841 membros no mundo todo, com vinte e seis associações locais e uma missão na América do Norte, e quatro associações locais e seis missões além-mar. A Comissão da Associação Geral consistia de sete homens, e tinha sido cautelosamente ampliada de três membros para cinco em 1882, e de cinco para sete em 1886. Para cuidar das questões legais da Causa, formara-se uma associação dentro da própria Associação Geral, com uma comissão de cinco depositários. Vários ramos da obra se haviam transformado numa espécie de organizações autônomas, como a "Associação Internacional da Escola Sabatina", a "Associação de Saúde e Temperança" e a "Associação Internacional de Tratados (Folhetos) e Missionários".
Como já mencionamos, por dois anos, de meados de 1885 a 1887, Ellen White permanecera na Europa. Agora ela estava de volta aos Estados Unidos e residia em Healdsburg, Califórnia. Havia duas casas publicadoras em atividade nos Estados Unidos: a Review and Herald, em Battle Creek, Michigan, e a Pacific Press, em Oakland, Califórnia. Cada uma dessas casas publicadoras realizava grande quantidade de atividades comerciais para manter o seu equipamento e pessoal plenamente ocupados, e preservar assim as instalações necessárias à impressão da literatura denominacional. Em cada uma dessas instituições era publicada uma revista principal: The Review and Herald em Battle Creek, e Signs of the Times em Oakland.
Durante um ou dois anos precedentes, em artigos publicados nessas revistas, tinham sido expressas algumas diferenças de opinião a respeito da lei em Gálatas. Em cada um desses casos, os editores das revistas defenderam pontos de vista opostos. Enquanto ainda estava na Suíça, Ellen White escreveu para os editores da revista Signs of the Times, recomendando que não fossem publicados artigos que continham idéias contraditórias. Esta mensagem se encontra em Counsels to Writers and Editors, págs. 75-82.
A Assembléia de 1888
A assembléia da Associação Geral de 1888 realizou-se nos dias 17 de outubro a 4 de novembro, em Mineápolis, Minnesota. E foi precedida por um congresso bíblico de uma semana de duração, no qual se debateu se os hunos ou os alamanes deviam constituir um dos dez reinos de Daniel 2 e 7, e Apocalipse 13. Uriah Smith, editor da Review and Herald, adotou determinada posição, e A. T. Jones, editor de Signs of the Times, adotou outra posição. E. J. Waggoner, que também era da Pacific Press, ministrou uma série de estudos sobre a expiação e a lei de Deus, e o Pastor Jones apresentou a justificação pela fé. Essas discussões continuaram durante a própria assembléia, e ocasionalmente houve fortes divergências. Alguns pastores tinham vindo à assembléia para debater certas questões, e não para estudar a verdade. Ellen White esteve presente, e solicitou que todos encarassem essas apresentações com coração e espírito receptivo. Ela recomendou que houvesse diligente e esmerado estudo dos assuntos debatidos.
De algum modo, as questões passaram a ser identificadas com certos homens. Em muitos, a mensagem da justiça pela fé causou profunda impressão, e houve uma atitude de coração e alma que conduziu a uma experiência vitoriosa na vida cristã pessoal. Outros se identificaram com determinados líderes conservadores e cautelosos, de Battle Creek, os quais viam o que supunham ser perigos em alguns dos ensinos apresentados. Quando a assembléia chegou ao fim, esses homens não tinham obtido a benção que Deus reservara para eles.
Não há registro dos discursos proferidos na assembléia por outros além de Ellen G. White, pois naquele tempo não se costumava publicar as alocuções ou palestras. Era publicado o Boletim da Associação Geral, mas ele consistia apenas de uma folha que continha notícias e trazia as atas da assembléia. Não foi tomado nenhum voto no tocante às questões bíblicas que haviam sido debatidas.
Nessa assembléia, o Pastor O. A. Olsen foi eleito presidente da Associação Geral, mas ele se encontrava na Europa. No dia 27 de novembro de 1888, William C. White, um dos membros da Comissão da Associação Geral, escreveu para o Pastor Olsen que "os delegados, no fim da assembléia, levaram consigo impressões bem diferentes. Muitos achavam que ela foi uma das reuniões mais proveitosas a que já haviam assistido; outros diziam que foi a mais deplorável assembléia já realizada".
Atitudes Diferentes Para com a Justiça Pela Fé
Ellen White esteve muito tempo no campo de ação, durante os dois anos seguintes, procurando levar as igrejas e as associações a mais profunda e cabal compreensão da importante mensagem da justiça pela fé. Ela declarou que essa verdade bíblica, embora fosse "nova para muitos espíritos", era na realidade "como verdade antiga em novos moldes". Review and Herald, 23 de julho de 1889.
Durante a assembléia da Associação Geral realizada em Battle Creek, de 18 de outubro a 5 de novembro de 1889, ela pôde relatar: "O espírito que prevaleceu na reunião de Mineápolis não está aqui. Tudo se faz em harmonia. Há grande assistência de delegados. Nossa reunião das cinco horas da manhã é bem freqüentada, e as reuniões são boas. Todos os testemunhos que tenho ouvido têm sido de caráter edificante. Dizem que o ano passado foi o melhor de sua vida; a luz a resplandecer da Palavra de Deus foi clara e distinta - a justificação pela fé, Cristo justiça nossa. As experiências têm sido muito interessantes.
"Assisti a todas menos duas das reuniões matinais. Às oito horas o irmão Jones fala, tendo como assunto a justificação pela fé, e manifesta-se grande interesse. Há aumento de fé e do conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo." Manuscrito 10, 1889.
Infelizmente, vários líderes de nossa Obra, ligados à Associação Geral e a nossas instituições em Battle Creek, colocaram-se do lado negativo e estabeleceram, no próprio coração da obra da Igreja, um foco de resistência. Dentro de poucos anos, muitos daqueles que se haviam colocado nessa posição perceberam o erro que tinham cometido e fizeram sinceras confissões. Houve, porém, alguns que resistiram obstinadamente. Alguns destes, ligados aos interesses comerciais da Igreja e de nossas instituições, fizeram sentir sua influência durante toda a década de 1890. Foi a respeito deles que Ellen White escreveu em 1895 o que consta na página 363 deste livro: "A justiça de Cristo pela fé tem sido passada por alto por alguns; pois é contrária ao seu espírito e a toda a experiência de sua vida."
Neste volume, da página 76 em diante, encontram-se freqüentes alusões a Mineápolis e seus resultados, bem como à experiência de algumas pessoas envolvidas.
Na assembléia de 1888, a Comissão da Associação Geral se modificou consideravelmente. O. A. Olsen foi chamado da Europa para assumir a presidência da Associação Geral, em substituição a George I. Butler. O Pastor Butler estava doente, e, embora não houvesse comparecido à assembléia de Mineápolis, juntara-se aos que se encontravam do lado negativo da questão. Ele ingressou num período de jubilação e cuidou da esposa inválida por dez anos ou mais; então fez um bom retorno, e ocupou novamente posições de responsabilidade na denominação.
O Pastor Olsen, um homem em plena afinidade com a ênfase dada à verdade da justiça pela fé, e que sempre foi leal aos conselhos do Espírito de Profecia, achou difícil enfrentar alguns dos problemas em Battle Creek. Em especial, eram muito difíceis os problemas provenientes do rápido desenvolvimento das instituições e da ampliação da obra em Battle Creek, com prejuízo da obra em outros lugares.
A Consolidação e os Problemas Relacionados
Na assembléia da Associação Geral de 1889, foram considerados os problemas provenientes da atuação de duas grandes casas publicadoras: uma em Battle Creek e a outra no litoral do Pacífico. Nomeou-se uma comissão de vinte e uma pessoas para estudar a consolidação dos interesses referentes às publicações da denominação. O voto também requeria que fosse considerada a formação de uma organização similar, "com a finalidade de controlar todos os nossos interesses educacionais e a posse de propriedades, colocando-os assim sob uma administração geral; e uma outra para controlar nossas instituições de saúde" General Conference Bulletin, 6 de novembro de 1889, pág. 149. Essa comissão apresentou o seu relatório à assembléia de 1891. A proposta era que a Associação Geral, como a corporação formada para representar os interesses legais da Igreja, comandasse todos os interesses da obra de publicações e dirigisse as casas publicadoras de um centro de comando. Reconheceu-se que, com a ampliação dos interesses que seriam colocados nas mãos dessa associação legal, o número de membros devia ser aumentado para vinte e um. Essas propostas foram aceitas pela assembléia.
Relatórios posteriores demonstram que foram tomadas providências para consolidar as atividades mundiais da Igreja, que tinham estado sob a orientação de várias comissões, e colocá-las sob o controle da Associação Geral, com sua comissão de vinte e um membros.
Os principais oficiais da Comissão da Associação Geral também eram os principais oficiais dessa outra associação. Como, porém, os membros das duas comissões geralmente se achavam espalhados pelo mundo todo, as questões rotineiras, em grande parte, estavam a cargo de uns poucos homens em Battle Creek, alguns dos quais se achavam profundamente envolvidos nos interesses comerciais das instituições situadas nessa localidade.
Nem tudo que fora abrangido pelo voto que requeria a consolidação chegou a efetivar-se, mas concretizou-se o suficiente para iniciar uma série de movimentos em prol da consolidação e para sobrecarregar a Associação Geral com as obrigações financeiras das casas publicadoras, das sociedades de publicações, das instituições educacionais e dos hospitais ao redor do mundo. Como a reunião completa da comissão só ocorria raras vezes, era inevitável que as decisões rotineiras que afetavam os interesses da Causa no mundo todo fossem tomadas por um pequeno número de homens em Battle Creek -- que freqüentemente não eram mais de quatro, cinco ou seis. Em suas comunicações, Ellen G. White protestou contra as medidas em prol da consolidação, e contra outras medidas que não tinham a aprovação de Deus. (Ver Life Sketches, páginas 319-330; capítulo: "O Perigo de Adotar Métodos Mundanos na Obra de Deus.")
A situação em Battle Creek, que envolvia tanto as instituições como a Associação Geral, parece ser bem sintetizada no artigo: "Não Terás Outros Deuses Diante de Mim", escrito em setembro de 1895 e que aparece nas páginas 359-364 deste livro. Seria bom que o leitor o estudasse com atenção.
As comunicações de Ellen G. White ao Pastor Olsen, presidente da Associação Geral, continham muitas mensagens de repreensão aos que desejavam assumir a responsabilidade de tomar decisões intimamente relacionadas com o trabalho da denominação ao redor do mundo. Grande parte dessas instruções enviadas ao Pastor Olsen se encontra em Testemunhos Para Ministros. Como já foi mencionado, ele mandou imprimir essas mensagens, para que as instruções e advertências pudessem ser transmitidas a outras pessoas.
Problemas de Longo Alcance nas Casas Publicadoras
Infelizmente, a medida de conveniência, tomada nos primeiros anos de nossa obra de publicações e que levou as casas publicadoras a aceitarem trabalhos comerciais, envolveu essas instituições profundamente na mera atividade de imprimir. Por vezes, isso chegou a tal ponto que 70 por cento do trabalho de impressão era comercial, e 30 por cento denominacional. Aqueles que eram responsáveis pelos interesses financeiros das casas publicadoras encaravam a obra aos seus cuidados como a de simples impressores, e isso fez com que aceitassem para publicação manuscritos de tal índole que nunca deviam ter sido impressos nos prelos da Igreja. (Ver Testemunhos Seletos, vol. 3, págs. 161-168, capítulo: "Trabalho Comercial"; e Mensagens Escolhidas, vol. 2, págs. 350 e 351, "O Perigo da Hipnose".)
Ao mesmo tempo, alguns homens em posições de responsabilidade na obra de publicações se afastaram de importantes princípios básicos que haviam governado nossas instituições na remuneração de seus empregados. Alegou-se que a obra atingira a situação de prosperidade atual em virtude das habilidades especiais e dos talentos daqueles que labutavam nos setores administrativos; esses homens deviam ser, portanto, agraciados com uma remuneração especial que estivesse mais de acordo com as suas posições administrativas. Como resultado, certos homens em posições importantes passaram a receber o dobro da remuneração de hábeis operários.
O mesmo espírito induziu a administração da casa publicadora em Battle Creek a tomar todas as medidas que estavam ao seu alcance para obter o controle dos trabalhos literários manejados por ela, e isto resultou no cerceamento dos direitos autorais dos escritores dos livros publicados nessa casa editora. Assim foi aumentada a renda da casa publicadora. Alegou-se que aqueles que ocupavam posições administrativas na casa publicadora estavam em melhores condições para compreender as necessidades da Causa e saber como utilizar os lucros oriundos da literatura, do que os autores individuais. Eles achavam que esses autores talvez não fossem corretos na devida mordomia de seus direitos autorais. Escrevendo para os que ocupavam posições administrativas, em diversas mensagens Ellen White salientou que esses planos tinham sido motivados pelo egoísmo. Os conselhos a esse respeito se encontram em Testimonies, vol. 7, págs. 176-180.
O Presidente da Associação Geral
Publica Testemunhos
A influência de métodos egoístas e gananciosos, e o uso de poder despótico, ou "régio poder", segundo o denominou Ellen White, foram contagiantes. O Pastor Olsen, presidente da Associação Geral, na esperança de deter o mal causado por essas influências, tornou acessíveis aos pastores da Igreja muitas das mensagens de conselho enviadas a ele e a outros líderes em Battle Creek durante esse período crítico. Essas mensagens, publicadas em forma de folheto, foram expedidas como instruções especiais a pastores e obreiros. Muitas vezes eram prefaciadas por uma vigorosa declaração assinada pelo presidente ou pela Comissão da Associação Geral. Na introdução do Pastor Olsen ao segundo desses folhetos numerados, escrita em 1892, ele declarou:
"Achamos que é nosso dever enviar-vos novamente algumas seleções de recentes escritos da irmã E. G. White que ainda não tinham sido impressos, e também chamar a atenção para alguns trechos muito importantes de escritos já publicados. Fazemos isso para trazer-vos à mente, de maneira bem nítida, as verdades ali contidas. Elas merecem a mais atenta consideração...
"Por três anos o Espírito de Deus tem apelado de modo especial para que o nosso povo e o pastorado ponha de lado sua capa de justiça própria e busque a justiça que é de Deus, pela fé em Jesus Cristo. Mas, oh! como temos sido vagarosos e hesitantes! ... O testemunho e as fervorosas instâncias do Espírito de Deus não têm encontrado em nosso coração a resposta desejada pelo Senhor. Em algumas ocasiões, até nos temos sentido livres para criticar os testemunhos e as advertências que Deus enviou para o nosso bem. Isto é muito grave. Qual é o resultado? - Frieza de coração e aridez de alma que realmente são alarmantes.
"Não é tempo de fazer ouvir uma voz de advertência? Não é tempo para que cada pessoa se compenetre dessas coisas e pergunte: "Acaso sou eu?"...
"Neste testemunho, os nossos perigos são novamente indicados de tal modo que não podem ser mal interpretados. A questão é: Atenderemos ao conselho de Deus e O buscaremos de todo o coração, ou trataremos essas advertências com o desprezo e a indiferença que muitas vezes lhes dispensamos no passado? Deus não está brincando conosco, e não devemos ser morosos em fazer o que Ele quer."
Em 22 de novembro de 1896, o Pastor Olsen escreveu estas palavras introdutórias para o sexto desses folhetos:
"Durante os últimos meses, recebi diversas comunicações da irmã E. G. White, que contêm valiosíssimas instruções para mim mesmo e para todos os nossos obreiros; e, sabendo que todos os obreiros ligados à causa da verdade presente seriam pessoalmente beneficiados e ajudados em seu trabalho pela posse dessas instruções, coligi este material e mandei imprimi-lo neste opúsculo, para proveito deles. Não é necessário que eu solicite que lhe seja dado minucioso estudo, feito com oração, pois sei que o receberá."
Não foi fácil para Ellen White redigir essas comoventes mensagens de censura e repreensão, nem foi fácil para os que as receberam aceitar que elas se aplicavam a sua experiência pessoal, e então começar a fazer as correções necessárias. Elas foram publicadas como folhetos, na década de 1890, pelo presidente e pela Comissão da Associação Geral, para que todos os pastores pudessem ser advertidos. Depois, em 1923, esses assuntos foram reeditados no livro Testemunhos Para Ministros, para que todo pastor e administrador adventista do sétimo dia se lembre dos perigos que podem militar contra os interesses da obra de Deus.
Ellen White não incluiu todos os pastores e administradores na mensagem de repreensão. "Como meu coração se regozija - escreveu ela - pelos que andam em humildade de espírito, que amam e temem a Deus! Estes possuem um poder muito mais valioso do que o saber ou a eloqüência." - Pág. 161. Aqui e ali, nos artigos deste volume, ela fala de "alguns" que tomaram o rumo errado, de "alguns" que têm sido insensíveis às mensagens enviadas por Deus.
As advertências contra o uso de autoridade e "poder despótico", e os conselhos de que o homem não deve volver-se para os seus semelhantes em busca de orientação em todos os pormenores da obra, são cuidadosamente equilibrados com conselhos a respeito da independência de espírito e ação, segundo consta nas páginas 314-316. É recomendado insistentemente que se tenha confiança nos presidentes de associação, e que lhes seja dado apoio, segundo consta nas páginas 327 e 328.
São estes os antecedentes da década de 1890 e das mensagens que se encontram no livro Testemunhos Para Ministros. Este é o quadro das condições que pioravam de mês a mês, de ano a ano, à medida que a Igreja Adventista do Sétimo Dia, prosseguindo num programa evangelístico, institucional e missionário que se ampliava cada vez mais, se aproximava da virada do século.
A Assembléia da Associação Geral em 1901
Ellen White, de volta aos Estados Unidos depois de permanecer nove anos na Austrália, foi convidada a assistir à Assembléia da Associação Geral de 1901, realizada em Battle Creek. Era a primeira assembléia a que ela assistia num período de dez anos. O presidente da Associação Geral, G. A. Irwin, proferiu a mensagem de abertura. Então Ellen White dirigiu-se à frente da congregação, desejosa de dizer algo. Ela falou fervorosamente à assembléia, salientando a maneira pela qual a obra de Deus tinha sido restringida porque alguns homens em Battle Creek arcavam com a responsabilidade de uma obra que estava muito além do seu alcance. Declarou que esses homens e a Causa foram prejudicados ao incentivarem os outros a se volverem para eles em busca de orientação em todos os aspectos da obra. Ela realçou que alguns homens, em posições de responsabilidade, tinham perdido o espírito de consagração, tão essencial a sua obra. E exclamou nessa reunião: "O que necessitamos agora é de reorganização. Precisamos começar pelos alicerces e edificar sobre um princípio diferente." General Conference Bulletin, 3 de abril de 1901.
O que ocorreu nas três semanas seguintes é um relato emocionante. A mensagem foi atendida. Cuidadosamente, os irmãos puseram mãos à obra. Formaram-se uniões-associações, ligando as associações locais em unidades menores, com as responsabilidades colocadas sobre homens nesse setor. As diversas associações que representavam as ramificações da atividade geral da Igreja, como a obra da Escola Sabatina e a ação missionária, tomaram providências para se tornarem departamentos da Associação Geral. A Comissão da Associação Geral, que consistia de treze homens, foi ampliada para vinte e cinco. Em 1903, a referida comissão ampliou-se ainda mais para incluir aqueles que se achavam ligados aos recém-organizados departamentos da Associação Geral. Dentro de alguns anos, quinhentos homens estavam arcando com as responsabilidades que antes da assembléia de 1901 tinham sido exercidas por bem poucos homens.
Por meio dessa reorganização, tomaram-se providências para que aqueles que se encontravam nos campos locais decidissem o que dizia respeito à obra em andamento. Os fundamentos lançados eram tão sólidos que, quando o contínuo crescimento tornou isso aconselhável, a denominação estava em condições de promover, sem grandes problemas, o desenvolvimento de Divisões da Associação Geral. De acordo com este plano, grandes áreas do campo mundial se vincularam, e as uniões-associações tornaram-se unidades na organização das Divisões.
Instituições de Battle Creek Sofrem Juízos de Deus
Infelizmente, nem todos os conselhos enunciados por Ellen White nessa assembléia da Associação Geral de 1901 foram atendidos. As modificações que deveriam ter sido feitas em duas das instituições de Battle Creek não se efetuaram. Antes que decorressem doze meses, na noite de 18 de fevereiro de 1902 o hospital ardeu em chamas.
E antes do fim de 1902, a casa publicadora também se transformou em cinzas. Essa grande perda de propriedades denominacionais foi considerada um castigo divino, infligido porque os homens deixaram de aceitar e seguir o conselho dado. Houve advertências, mas passaram despercebidas. Agora Deus falou de um modo que ninguém poderia deixar de entender.
A sede da Igreja mudou-se de Battle Creek, com seus problemas concomitantes, e, pela providência divina, estabeleceu-se em Washington, D.C. A casa publicadora foi restabelecida na capital da nação, e os dirigentes resolveram que cem por cento do tempo dos empregados e do equipamento devia ser dedicado à publicação da mensagem da Igreja. O hospital foi reconstruído em Battle Creek; mas, infelizmente, seus grandes interesses logo se distanciaram dos da Igreja. Depois que a sede mundial se transferiu para Takoma Park, Battle Creek deixou de ser o centro denominacional.
"A não Ser que nos Esqueçamos"
A parte final deste livro é extraída essencialmente de comunicações escritas em 1907 e 1914. Ellen White teve oportunidade de revisar o capítulo "Princípios Vitais nas Relações", especialmente o artigo: Jeová é Nosso Rei", uma mensagem que ela leu na reunião campal da Califórnia do Sul, em agosto de 1907; e o artigo: "A Responsabilidade Individual e a Unidade Cristã", lido por ela na assembléia da Associação da Califórnia, realizada em janeiro. Esses artigos recapitulam os pontos de que tratam os principais assuntos do volume. A reiteração desses conselhos lembrou a todos que perder de vista os princípios assim defendidos seria um perigo para a Igreja.
A história poderá repetir-se, e os seres humanos poderão ser culpados de esquecimento. Têm sido envidados grandes esforços para evitar a repetição dos erros cometidos em Battle Creek. A Sra. White escreveu: "Nada temos a recear no futuro, a não ser que nos esqueçamos do caminho pelo qual Deus nos conduziu." - Pág. 31. Os administradores e os obreiros ministeriais da Igreja têm sempre diante de si estas mensagens de advertência e admoestação, para ajudá-los a não cometer os erros de anos anteriores. E, intimamente relacionadas com essas advertências mais específicas, há advertências gerais sobre o elevado nível moral e espiritual da obra do pastor.
As mensagens deste livro, que lidam tão de perto com o coração e a alma dos que ocupavam a posição de pastores do rebanho e dos que exerciam responsabilidades administrativas, só se aplicariam hoje se as condições descritas existissem novamente. Ninguém deve cometer o erro de aplicar as repreensões a todos os pastores, em toda e qualquer ocasião. E o minucioso conhecimento de alguns dos problemas e crises enfrentados no decorrer dos anos jamais deveria diminuir a nossa confiança no glorioso triunfo da causa de Deus.
Ellen White, a quem Deus revelou os segredos do coração de certos homens e as fraquezas e deficiências da humanidade, não perdeu a confiança nos obreiros escolhidos por Deus. Para ela, o fato de que Deus enviou mensagens de repreensão aos que erraram, não era uma indicação de que eles foram abandonados; e, sim, uma evidência do amor de Deus, "porque o Senhor corrige a quem ama". E os contratempos que sobrevieram à Causa ao intensificar-se a batalha entre as forças do mal e as forças da justiça, não a deixaram com o coração desalentado, pois reconhecia que temos, "como cristãos bíblicos, estado sempre em terreno conquistado" (Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 397), e que "o Deus de Israel ainda está guiando o Seu povo, e continuará com eles até ao fim" (Life Sketches, págs. 437 e 438).
Esta introdução destina-se a informar o leitor sobre a configuração histórica do conteúdo deste livro. Há diversas referências a experiências, instituições e movimentos específicos, que talvez pareçam ser um pouco obscuros para nós que vivemos a tantas décadas depois desses acontecimentos. A fim de dar informações que conduzam a melhor compreensão dessas referências, foram providas algumas notas no Apêndice.
A obra dos depositários dos escritos de Ellen G. White não é interpretar ou explicar os conselhos que foram dados. Eles têm o privilégio e, às vezes, a responsabilidade de apresentar a configuração histórica de certas situações, e de tornar conhecidos, em seu contexto, outros conselhos que ajudem o leitor a compreender melhor esses escritos, e a interpretá-los corretamente. Que isto seja realizado, e que a Igreja, sob a orientação de líderes tementes a Deus, avance triunfantemente para a conclusão da preciosa obra do Senhor, é o sincero desejo dos Depositários do Patrimônio Literário White.