Mensagens Escolhidas - Volume 2

Apêndice 1 - Doenças e Suas Causas

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Doenças e Suas Causas

Como Viver (1)

Desde a queda no Éden, a raça tem estado a degenerar. Deformidade, imbecilidade, doença e sofrimento humano têm oprimido mais e mais pesadamente cada geração que se sucede desde a queda, e todavia as massas se acham adormecidas quanto às causas reais. Não consideram serem elas mesmas culpadas, em grande medida, deste deplorável estado de coisas. Acusam geralmente a Providência de seus sofrimentos, e consideram a Deus o autor de seus infortúnios. É, porém, a intemperança, em maior ou menor grau, que se encontra à base de todo esse sofrimento.

Eva foi intemperante em seus desejos quando estendeu a mão para apanhar o fruto proibido. A satisfação própria tem dominado quase suprema no coração dos homens e mulheres desde a queda. Especialmente o apetite tem sido objeto de condescendência, e eles têm sido controlados por ele em vez de o serem pela razão. Por amor da satisfação do paladar, Eva transgrediu o mandamento de Deus. Ele lhe dera tudo quanto lhe era necessário, e no entanto ela não estava satisfeita. Desde então, seus filhos e filhas caídos têm seguido os desejos de seus olhos e de seu gosto. Têm, como Eva, desconsiderado as proibições feitas por Deus, e seguido uma direção de desobediência, e, como Eva, têm-se lisonjeado de que as conseqüências não seriam tão terríveis como se temera.

O homem tem menosprezado as leis de seu ser, e a doença foi indo em decidido aumento. A causa se tem feito seguir do efeito. Ele não se tem satisfeito com o alimento mais saudável; antes agrada a seu paladar mesmo à custa da saúde.

Deus estabeleceu as leis de nosso ser. Caso violemos essas leis, temos de, mais cedo ou mais tarde, pagar a pena. As leis de nosso ser não podem ser violadas com mais êxito do que acumulando no estômago alimento nocivo, por ser desejado por um apetite mórbido.


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Comer excessivamente, mesmo de alimento simples, terminará por debilitar os órgãos digestivos; acrescente-se a isso, porém, o comer demasiado de comidas nocivas, e o mal é grandemente aumentado. A constituição vem a deteriorar-se.

A família humana tem-se tornado mais e mais complacente consigo mesma de maneira que a saúde vem sendo por demais sacrificada sobre o altar do apetite concupiscente. Os habitantes do Velho Mundo eram intemperantes no comer e beber. Queriam pratos de carne, embora Deus não lhes houvesse dado permissão de comerem alimento animal. Comiam e bebiam excessivamente, e seu apetite pervertido não conhecia limites. Deram-se a abominável idolatria. Tornaram-se violentos e ferozes, e tão corruptos que Deus não mais os pôde suportar. Encheu-se o cálice de sua iniqüidade, e o Senhor purificou a Terra de sua poluição moral por meio de um dilúvio. Quando os homens se multiplicaram sobre a face do globo depois do dilúvio, esqueceram a Deus, e corromperam seus caminhos perante Ele. Cresceu em grande medida a intemperança em todas as suas formas.

O Senhor tirou Seu povo do Egito de maneira vitoriosa. Ele os conduziu pelo deserto a fim de prová-los e experimentá-los. Manifestou repetidamente Seu maravilhoso poder em seus livramentos dos inimigos. Prometeu tomá-los para Si, como Seu particular tesouro, caso obedecessem a Sua voz, e guardassem Seus mandamentos. Não lhes proibiu comerem carne de animais, mas restringiu-o em grande medida. Proporcionou-lhes alimento da espécie mais saudável. Fez chover do Céu o seu pão, e deu-lhe a mais pura água, tirada da rocha. Fez com eles um concerto: caso Lhe obedecessem em tudo, guardá-los-ia de enfermidades.

Os hebreus, porém, não estavam satisfeitos. Desprezaram o alimento a eles dado do Céu, e desejaram voltar ao Egito, onde se sentavam junto às panelas de carne. Preferiam a servidão, e mesmo a morte, a ser privados da carne. Em Sua indignação, Deus deu-lhes carne para satisfação de seus concupiscentes apetites, e grande número deles morreu enquanto ainda estavam comendo o que haviam cobiçado.

Nadabe e Abiú foram mortos pelo fogo da ira de Deus por sua intemperança no uso do vinho. Deus queria que Seu povo compreendesse que será julgado segundo sua obediência ou transgressões. O crime e a enfermidade têm aumentado a cada geração sucessiva.


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A intemperança no comer e beber, e satisfação das paixões inferiores, têm obscurecido as faculdades mais nobres. O apetite tem, em proporção alarmante, controlado a razão.

A família humana tem condescendido com crescente desejo de alimento mais suculento, até que se tornou moda acumular todas as iguarias possíveis no estômago. Em particular em reuniões festivas, condescende-se com o apetite quase sem restrições. Participa-se de ricos jantares e ceias demoradas compostas de pratos altamente condimentados, com molhos suculentos, bolos indigestos, tortas e sorvetes, etc.

Professos cristãos tomam geralmente a dianteira nessas reuniões feitas segundo a moda. Grandes somas de dinheiro são sacrificadas aos deuses da moda e do apetite, no preparo de banquetes de iguarias destruidoras da saúde para tentarem o apetite, para que por esse meio sejam arrecadados meios para desígnios religiosos. Assim, pastores e professos cristãos têm desempenhado sua parte e exercido sua influência, por preceito e por exemplo, no condescender com a intemperança no comer e no dirigir o povo a glutonaria destrutiva da saúde. Em vez de apelarem para a razão do homem, a sua generosidade, sua humanidade, suas faculdades mais nobres, o mais bem-sucedido apelo que pode ser feito é ao apetite.

A satisfação do apetite induzirá os homens a dar meios quando, de outro modo, nada fariam. Que triste quadro para cristãos! Agradar-Se-á Deus com tal sacrifício? Quão mais aceitável Lhe foi a moeda da viúva! Aqueles que lhe seguem o exemplo, de coração, receberão o "bem está". Obter a bênção do Céu sobre o sacrifício assim feito, pode tornar a mais singela oferta do mais alto valor.

Homens e mulheres que professam ser seguidores de Cristo, são muitas vezes escravos da moda, e de um apetite glutão. Nos preparativos para reuniões feitas à moda, gasta-se em cozinhar uma variedade de pratos indigestos, tempo e forças que deveriam ser empregados a mais elevados e nobres fins. Por ser moda, muitos que são pobres e dependem do diário labor se dão ao dispêndio de preparar diferentes espécies de bolos condimentados, conservas, tortas e uma variedade de comidas em uso corrente para as visitas, coisas que só prejudicam os que delas partilham; quando, por outro lado, necessitam da quantia assim gasta para comprar roupas para si mesmos e seus filhos. Esse tempo ocupado em cozinhar comidas para,


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satisfazer o gosto com detrimento do estômago, devia ser dedicado à instrução moral e religiosa de seus filhos.

Visitas segundo a moda se tornam uma ocasião de gulodice. Comidas e bebidas prejudiciais são saboreadas em tal quantidade que sobrecarregam grandemente os órgãos digestivos. As forças vitais são chamadas a desnecessária ação no digeri-las, o que produz exaustão, e perturba grandemente a circulação do sangue e, em resultado, é sentida falta de energia vital em todo o organismo. As bênçãos que poderiam resultar dessas visitas sociais, perdem-se com freqüência, em virtude de vosso anfitrião, em vez de aproveitar com vossa conversação, estar labutando no fogão a preparar uma variedade de pratos para neles vos banqueteardes. Homens e mulheres cristãos nunca devem permitir que sua influência favoreça tal atitude, comendo dos quitutes assim preparados. Fazei-os compreender que o objetivo de vossa visita não é condescender com o apetite, mas vosso intercâmbio de idéias e sentimentos uns com os outros, deve ser uma bênção mútua. A conversação deve ser daquele caráter elevado, enobrecedor que poderá ser posteriormente evocado com sentimentos do mais elevado prazer.

Os que recebem visitas, devem ter alimentos nutritivos, de frutas, cereais e verduras, preparados de maneira simples e saborosa. Essa maneira de cozinhar não exigirá senão pouco mais de trabalho ou despesa e, delas se partilhando com moderação, não causam dano a ninguém. Se os mundanos preferem sacrificar tempo, dinheiro e saúde para satisfazer o apetite, que o façam, e paguem a pena da transgressão das leis da saúde; os cristãos, porém, tomem sua atitude em relação a essas coisas, e exerçam influência no justo sentido. Muito podem eles fazer para reformar esses costumes segundo a moda, destruidores da saúde e da alma.

Muitos condescendem com o pernicioso hábito de comer justamente antes da hora de dormir. Podem haver ingerido três refeições regulares; todavia, por sentirem uma sensação de fraqueza, como se fosse fome, comem um lanche, ou quarta refeição. Cedendo a essa prática errônea, ela se tem tornado hábito, e eles sentem como se não pudessem dormir sem fazer um lanche antes de ir deitar-se. Em muitos casos, a causa dessa sensação de fraqueza é haverem os órgãos digestivos sido já sobrecarregados durante o dia no digerir comida prejudicial empurrada no estômago demasiado freqüentemente, e em quantidades excessivas. Os órgãos digestivos, assim


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abarrotados, ficam cansados, e necessitam um período de inteiro repouso do trabalho para recuperar as energias gastas. Não deve nunca ser ingerida uma segunda refeição enquanto o estômago não houver tido tempo para descansar da tarefa de digerir a anterior. Caso se tome uma terceira refeição, esta deve ser leve, e várias horas antes de ir para a cama.

Mas por parte de muitos, o pobre estômago cansado pode queixar-se de fadiga em vão. Mais comida lhe é imposta, o que põe em movimento os órgãos digestivos, para de novo executar a mesma rotina de labor durante as horas do sono. O sono dessas pessoas é geralmente perturbado com sonhos desagradáveis, e pela manhã acordam não revigoradas. Há uma sensação de fraqueza e perda de apetite. Faz-se sentir falta de energia em todo o organismo. Dentro de pouco tempo o aparelho digestivo se acha exausto, pois não tem tido tempo de repouso. Essas criaturas tornam-se infelizes dispépticas, e cogitam que é que as deixou assim. A causa trouxe o seguro resultado. Caso esse costume seja seguido por longo tempo, a saúde ficará seriamente danificada. O sangue se torna impuro, a pele amarelada, e freqüentemente aparecem erupções. Ouvireis com freqüência dessas pessoas queixas de dores e irritação na região do estômago, e enquanto trabalham, esse órgão fica tão cansado que eles são obrigados a desistir do serviço, e repousar. Elas parecem não saber a que atribuir esse estado de coisas; pois, a não ser isso, estão aparentemente bem de saúde.

Aqueles que estão mudando de três refeições ao dia para duas, experimentarão a princípio sensação de fraqueza, especialmente ao tempo em que estavam habituados a comer a terceira refeição. Caso, porém, perseverarem por um pouco de tempo, essa sensação desaparecerá. Ao deitar-nos para dormir, o estômago deve ter seu trabalho terminado, para fruir repouso, da mesma maneira que as outras partes do corpo. O trabalho da digestão não deve ser levado avante durante qualquer período das horas de sono. Depois de o estômago, que foi sobrecarregado, haver cumprido sua tarefa, fica exausto, o que ocasiona sensação de debilidade. Aí muitos se enganam, e pensam que seja a falta de alimento que produz essa sensação, e em vez de dar ao órgão tempo de repousar, ingerem mais comida, que pelo momento faz desaparecer aquele mal-estar. E quanto mais se condescende com o apetite, tanto mais serão suas exigências para ser satisfeito. Essa debilidade é em geral resultado de comer carne, de


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comer freqüentemente, e demasiado. O estômago fatiga-se por estar sempre em atividade, digerindo comida que não é das mais saudáveis. Sem tempo para restaurar-se, os órgãos digestivos se enfraquecem, e daí a sensação de esvaimento, e desejo de comer com freqüência. O remédio de que essas pessoas precisam é comer menos freqüentemente, e em menor quantidade, e satisfazer-se com alimento simples, tomando-o duas, ou quando muito, três vezes ao dia. O estômago deve ter seus períodos regulares de trabalho e de repouso, e portanto o comer irregularmente e entre as refeições é perniciosíssima violação das leis da saúde. Com hábitos regulares, e comida apropriada, o estômago se restabelecerá gradualmente.

Por ser moda, em harmonia com apetites mórbidos, atulham-se no estômago bolos indigestos, tortas e pudins, e tudo quanto é nocivo. A mesa precisa estar carregada de uma variedade, do contrário o apetite pervertido não se satisfaz. Pela manhã, esses escravos do apetite revelam muitas vezes mau hálito, e língua ensaburrada. Não possuem saúde, e se admiram por sofrerem dores, dores de cabeça, e várias doenças. A causa trouxe os seguros efeitos.

Para preservar a saúde, é necessária a temperança em tudo. Temperança no trabalho, temperança no comer e no beber.

Muitos são tão dados à intemperança que não mudarão de orientação em condescender com a gulodice, sob quaisquer considerações. Mais depressa sacrificariam a saúde, e morreriam prematuramente, do que restringiriam o apetite desordenado. E muitos há que são ignorantes da relação que sua maneira de comer e beber tem com a saúde. Pudessem esses ser esclarecidos, e poderiam possuir coragem moral para renunciar ao apetite, e comer mais moderadamente, e unicamente daquelas comidas que fossem saudáveis, e por sua própria maneira de agir pouparem-se a grande soma de sofrimentos.

Devem ser feitos esforços para conservar cuidadosamente o restante das forças vitais, suspendendo todo peso excessivo. Talvez o estômago nunca venha a recuperar plenamente a saúde, mas uma orientação adequada no regime alimentar poupará a posterior debilidade, e muitos se recuperarão mais ou menos, a não ser que tenham ido demasiado longe na glutonaria suicida.

Os que se permitem tornar-se escravos de um apetite mórbido, vão muitas vezes ainda mais longe, e rebaixam-se pela condescendência com paixões corruptas, que foram provocadas pela


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intemperança em comer e beber. Dão rédea solta a suas degradantes paixões, até que a saúde e o intelecto sofram grandemente. As faculdades de raciocínio são, em grande medida, destruídas pelos maus hábitos.

Tenho-me admirado de que os habitantes da Terra não fossem destruídos, como o povo de Sodoma e Gomorra. Tenho visto razão suficiente para o atual estado de degeneração e mortalidade no mundo. Cegas paixões controlam a razão, e toda elevada consideração é, por parte de muitos, sacrificada à concupiscência.

O primeiro grande mal foi intemperança no comer e beber. Homens e mulheres tornaram-se servos do apetite.

O porco, se bem que um dos artigos mais comuns no regime alimentar, é um dos mais prejudiciais. Deus não proibiu os hebreus de comerem carne de porco meramente para mostrar Sua autoridade, mas porque ela não era artigo de alimentação apropriado para o homem. Encheria o organismo de escrófulas, e especialmente nos climas quentes, produziria lepra, e doenças de várias espécies. Sua influência sobre o organismo naquele clima era muito mais prejudicial do que em um clima frio. Mas Deus nunca destinou o porco para ser comido sob quaisquer circunstâncias. Os pagãos usavam o porco como alimentação, e o povo americano tem francamente essa carne como importante artigo no regime alimentar. A carne de porco não seria agradável ao paladar em seu estado natural. É tornada agradável ao apetite mediante muitos condimentos, o que torna uma coisa muito má ainda pior. A carne de porco, acima de todas as outras comidas cárneas, produz um mau estado no sangue. Uma pessoa que ingere muito porco, não pode deixar de ser doente. Os que fazem muito exercício ao ar livre não compreendem os maus efeitos da ingestão de carne de suíno como aqueles cuja vida é na maior parte dentro de casa, e cujos hábitos são sedentários, e o trabalho é mental.

Não é, porém, apenas a saúde física que é prejudicada pelo uso do porco. A mente é afetada, e as mais finas sensibilidades são embotadas pelo uso desse grosseiro artigo de alimentação. Impossível é a carne de qualquer criatura vivente ser saudável, quando a imundícia é seu elemento natural, e quando eles se alimentam de tudo quanto é detestável. A carne do porco se compõe daquilo que ele come. Se os seres humanos lhe comem a carne, seu sangue e sua carne ficarão corrompidos pelas impurezas transmitidas pelo porco.

A ingestão de carne de porco tem produzido escrófulas, lepra e humores cancerosos. Comer carne de porco causa ainda à raça


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humana o mais intenso sofrimento. Os apetites pervertidos cobiçam as coisas mais nocivas à saúde. A maldição que pesou duramente sobre a Terra, e tem sido sentida por toda a raça humana, tem sido também sentida pelos animais. Os animais têm degenerado nas dimensões, no decorrer dos anos. Têm tido de sofrer mais do que de outro modo sofreriam, devido aos maus hábitos dos homens.

Não há senão poucos animais isentos de doenças. A muitos tem sido imposto muito sofrimento pela falta de luz, de ar puro e de alimento saudável. Quando são engordados, ficam muitas vezes confinados em estábulos fechados, não lhes sendo permitido fazer exercício, e fruir abundante circulação de ar. Muitos pobres animais são deixados a respirar o veneno da imundícia deixada nos celeiros e estábulos. Seus pulmões não permanecem sãos quando inalando tais impurezas. A doença é levada ao fígado, e todo o organismo do animal fica doente. Eles são mortos, e preparados para o mercado, e o povo come à vontade dessa comida animal envenenada. Muita doença é assim causada. Mas não se pode fazer o povo acreditar que é a carne que ingerem que lhes tem envenenado o sangue, e ocasionado seus sofrimentos. Muitos morrem de doenças produzidas inteiramente pelo uso da carne, e todavia o mundo não parece tornar-se mais sábio.

Por que os que participam de alimento cárneo não experimentam imediatamente seus efeitos não se pode deduzir que ele não lhes faça mal. Ele pode estar agindo com segurança em seu organismo, e todavia a pessoa por algum tempo não percebe nada.

Aglomeram-se animais em carros fechados, e ficam quase privados de ar e de luz, de alimento e água, e são assim levados por milhares de quilômetros, respirando o ar contaminado que se ergue da sujeira acumulada, e ao chegarem a seu destino, e serem tirados dos carros, muitos se encontram meio mortos de fome, sufocados pelo pó, e se fossem deixados sós, morreriam por si mesmos. Mas o açougueiro completa a obra, e prepara a carne para o mercado.

São freqüentemente mortos animais que foram tangidos por boa distância para o matadouro. O sangue acha-se aquecido. Estão cheios de carnes, mas privados do saudável exercício, e quando têm de viajar para longe, ficam enfermiços e exaustos, e nessa condição são mortos para o mercado. Seu sangue se encontra grandemente estimulado, e os que comerem de sua carne ingerem veneno. Alguns não são imediatamente afetados, ao passo que outros são atacados de forte sofrimento, e morrem de febre, cólera, ou alguma doença desconhecida. Muitos


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animais são vendidos para o mercado da cidade com conhecimento de estarem doentes por parte dos que os vendem, e os que os compram para o mercado nem sempre estão ignorantes do fato. Especialmente nas cidades maiores isto é feito em grande extensão, e os comedores de carne não sabem que estão ingerindo carne de animais enfermos.

Alguns animais levados ao matadouro parecem compreender o que deve ocorrer, e ficam furiosos, e positivamente loucos. E são mortos enquanto nesse estado, e sua carne preparada para o mercado. Sua carne é veneno, e tem produzido nos que a comem cãibras, convulsões, apoplexia e morte súbita. Todavia a causa de todo esse sofrimento não é atribuído à carne. Alguns animais são desumanamente tratados enquanto levados ao matadouro. São positivamente torturados, e depois que suportaram muitas horas de extremo sofrimento, são brutalmente mortos. Porcos têm sido preparados para o mercado mesmo quando atacados de praga, e sua carne envenenada tem espalhado doenças contagiosas, seguindo-se grande mortalidade. How to Live, nº 1, págs. 51-60.


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Como Viver (2)

Homens e mulheres, pela condescendência com o apetite no comer alimentos suculentos e altamente condimentados, em especial cárneos, com molhos indigestos, e pelo uso de bebidas estimulantes, como chá e café, desenvolvem apetites não naturais. O organismo fica febril, o aparelho digestivo é prejudicado, as faculdades mentais são obscurecidas, ao passo que as paixões inferiores são estimuladas e predominam sobre as outras, mais nobres. O apetite se torna mais desnatural, e mais difícil de restringir. A circulação do sangue não é equilibrada, e torna-se impura. Todo o organismo se desarranja, e as exigências do apetite se tornam mais irrazoáveis, desejando ardentemente coisas estimulantes, nocivas, até que fica de todo pervertido.

Por parte de muitos, o apetite clama pela repugnante erva, o fumo, e a cerveja, tornada forte por misturas venenosas, destruidoras da saúde. Muitos não param nem aí. Seu apetite pervertido exige bebida mais forte, que exerce mais obscurecedora influência sobre o cérebro. Entregam-se assim a todo excesso, até que o apetite toma inteiro controle sobre as faculdades de raciocínio; e o homem, formado à imagem de seu Criador, rebaixa-se a nível inferior ao dos animais. A varonilidade e a honra são juntamente sacrificadas ao apetite. Levou tempo a embotar as sensibilidades da mente. Isto foi feito gradual mas seguramente. A condescendência com o apetite primeiro, em comer alimentos altamente condimentados, criou um apetite mórbido, e preparou o caminho para toda espécie de condescendência, até que saúde e intelecto foram sacrificados à concupiscência.

Muitas pessoas entraram nas relações matrimoniais sem haverem adquirido propriedade, nem haverem tido nenhuma herança. Não possuíam força física, ou energia mental para adquirir propriedades. Têm sido justamente esses que mais apressados são em casar-se, e tomaram sobre si mesmos responsabilidades de que não possuíam um justo


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senso. Não eram dotados de sentimentos nobres, elevados, nem tinham uma justa idéia do dever de um marido e pai, e do que lhe custaria prover às necessidades de uma família. E não mostraram mais adequação no aumento de sua família do que manifestaram em suas transações de negócios. Os que são seriamente deficientes em tato nos negócios, e que são menos qualificados para ser bem-sucedidos no mundo, enchem geralmente a casa de filhos; ao passo que os homens dotados de habilidades para adquirir bens não têm em geral mais filhos do que aqueles dos quais podem cuidar devidamente. Os que não são habilitados a cuidar de si mesmos não devem ter filhos. Tem sido o caso que a numerosa prole desses fracos calculistas são deixados a crescer como os animais. Não são devidamente alimentados ou vestidos, e não recebem preparo físico ou mental, e não há nada de sagrado na palavra lar, nem para os pais nem para os filhos.

A instituição matrimonial foi designada pelo Céu para ser uma bênção ao homem; em sentido geral, porém, ela tem sido tão maltratada que se torna terrível maldição. A maioria dos homens e mulheres tem agido na relação conjugal como se a única questão para eles assentarem fosse amarem-se um ao outro. Devem, no entanto compreender que impende sobre eles nessa união outra responsabilidade além dessa. Cumpre-lhes considerar se sua prole possuirá saúde física, e força mental e moral. Poucos, porém, têm agido com elevados motivos e altas considerações - de que a sociedade tem sobre eles direitos que eles não podem afastar levianamente - que o peso da influência de sua família se fará sentir na escala positiva ou negativa.

A sociedade compõe-se de famílias. E chefes de família são responsáveis pelo molde da sociedade. Fossem os que decidem entrar no pacto matrimonial sem a devida consideração sozinhos a sofrer, então o mal não seria tão grande, e relativamente pequeno seria o seu pecado. Mas a miséria que se levanta de casamentos infelizes é sentida pelos seus rebentos. Arrastam após si uma vida de miséria; e se bem que inocentes, sofrem as conseqüências da orientação imprudente dos pais. Homens e mulheres não têm o direito de seguir impulsos, ou paixão cega em sua relação matrimonial, e depois trazer ao mundo inocentes crianças para compreenderem, de várias causas, que a vida não tem senão bem pouco de alegria, de felicidade, sendo portanto um fardo.

Os filhos herdam geralmente os traços particulares de caráter


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dos pais, e além de tudo isso, muitos crescem sem qualquer influência redentora ao seu redor. São freqüentemente amontoados na pobreza e na imundícia. Com tais arredores e exemplos, que se pode esperar das crianças ao chegarem ao cenário da ação, a não ser que venham a imergir mais baixo na escala do valor moral que seus pais, e suas deficiências sejam em todos os aspectos mais acentuadas que as deles? Assim tem essa classe perpetuado suas deficiências, e arruinado sua prole com a pobreza, a imbecilidade e a degradação. Essas pessoas não se deveriam haver casado. Pelo menos, não deveriam haver trazido à existência inocentes filhos para partilharem de sua miséria, e transmitirem-lhes os seus defeitos, com acumulação de misérias, de geração em geração, o que é uma grande causa de degeneração da raça.

Caso as mulheres das gerações passadas houvessem agido sempre movidas por considerações elevadas, compreendendo que as gerações futuras seriam enobrecidas ou degradadas por seu procedimento, haveriam tomado a atitude de não unirem os interesses de sua vida com homens que nutriam gostos anormais, por bebidas alcoólicas, fumo, que é um veneno lento mas seguro e mortífero, enfraquecendo o sistema nervoso, e rebaixando as nobres faculdades da mente. Caso os homens queiram permanecer ligados a esses hábitos vis, as mulheres devem deixá-los a sua bem-aventurança de solteiros, a fruírem esses companheiros que preferem. Elas não se deviam haver considerado de tão pouco valor que unissem seu destino com homens que não tinham domínio sobre seus apetites, mas cuja principal felicidade consistia em comer e beber, e satisfazer suas paixões animais. As mulheres nem sempre têm seguido os ditames da razão em vez de ao impulso. Não têm sentido em alto grau as responsabilidades que sobre elas impendem, para formar ligações tais que não haveriam de imprimir em seus descendentes um baixo nível moral, e uma paixão para satisfazer apetites depravados, a custo da saúde, e mesmo da vida. Deus as considerará responsáveis em alto grau pela saúde física e o caráter moral assim transmitido às gerações futuras.

Os homens e as mulheres que corromperam o próprio corpo por hábitos dissolutos, rebaixaram também sua inteligência, e destruíram as finas sensibilidades da alma. Muitíssimos dessa classe se casaram, e deixaram por herança a seus descendentes as manchas de sua própria debilidade física e costumes depravados. A satisfação


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das paixões animais, a grosseira sensualidade, têm sido as assinaladas características de sua posteridade, descendo de geração em geração, aumentando a terrível grau a miséria humana, e apressando a depreciação da raça.

Homens e mulheres que se tornaram doentios e cheios de enfermidades, muitas vezes em suas ligações matrimoniais têm pensado egoistamente só em sua própria felicidade. Não têm considerado seriamente o assunto do ponto de vista de princípios nobres, elevados, raciocinando com relação ao que podiam esperar de seus descendentes: nada senão diminuída energia física e mental, que não elevaria a sociedade, antes imergi-la-ia ainda mais baixo.

Homens doentios têm muitas vezes conquistado a afeição de mulheres aparentemente sadias, e porque se amavam, sentiram-se em perfeita liberdade de casar, nem considerando que por sua união a esposa deve ser mais ou menos uma sofredora, devido a seu marido doente. Em muitos casos esse marido melhora de saúde, enquanto a esposa adquire o mal. Ele vive em muito da vitalidade dela que se queixa em breve do debilitamento da sua. Ele prolonga seus dias encurtando os dela. Os que assim se casam cometem pecado em considerar levemente a vida e a saúde a eles dadas por Deus para serem usadas para Sua honra e glória. Mas se apenas os que entram assim nas relações matrimoniais fossem afetados, o pecado não seria tão grande. Seus descendentes são forçados a ser sofredores por doença transmitida. E assim se tem perpetuado a doença de geração em geração. E muitos acusam a Deus de todo esse peso de miséria humana, quando seu errado modo de viver tem ocasionado os seguros resultados. Lançaram sobre a sociedade uma raça enfraquecida, e fizeram sua parte para deterioração da raça humana mediante o tornar a doença hereditária, acumulando assim os sofrimentos do homem.

Outra causa da deficiência da geração atual em resistência física e valor moral é se unirem homens e mulheres em casamento com idades muito diferentes. Dá-se freqüentemente que homens idosos escolhem jovens para casar. Assim fazendo, a vida do marido se tem prolongado, ao passo que a esposa tem de sentir a falta daquela vitalidade que ela comunica ao seu idoso marido. Não é dever de nenhuma mulher sacrificar a vida e a saúde, mesmo que ela amasse a alguém muito mais idoso que ela, e estivesse disposta, por sua parte, a fazer tal sacrifício. Deveria haver restringido suas afeições. Tinha a consultar considerações mais altas que seu próprio interesse.


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Ela deve considerar: no caso de nascerem filhos, qual seria sua condição? Pior ainda é um rapaz casar com uma mulher consideravelmente mais velha que ele. Os rebentos de tais uniões, em muitos casos, em que as idades diferem grandemente, não possuem mentes bem equilibradas. Têm sido também deficientes em resistência física. Em famílias assim, tem-se freqüentemente manifestado traços de caráter variado, peculiar, e muitas vezes penosos. Morrem muitas vezes prematuramente, e os que chegam à maturidade, são em muitos casos deficientes em força física e mental, bem como em valor moral.

O pai raramente está preparado, com suas faculdades em declínio, para criar sua jovem família. Esses filhos têm traços peculiares de caráter, que precisam constantemente uma influência contrabalançadora, do contrário vão certamente à ruína. Não são devidamente educados. Sua disciplina tem sido muitas vezes daquela espécie dirigida por caprichosos impulsos, devido à idade do pai, o qual tem sido susceptível a sentimentos variáveis. Uma vez, demasiado indulgente, ao passo que noutra é injustificavelmente severo. Tudo, em algumas famílias, está errado. E aumenta grandemente o infortúnio doméstico. Dessa maneira tem sido lançada ao mundo uma classe de seres como carga para a sociedade. Seus pais foram responsáveis em alto grau pelo caráter desenvolvido por seus filhos, o qual é transmitido de geração a geração.

Os que acrescentam o número de seus filhos, quando, se consultassem a razão, deveriam saber que a fraqueza física e mental tem de ser sua herança, são transgressores dos últimos seis preceitos da lei de Deus, que especificam o dever do homem para com seus semelhantes. Eles fazem sua parte em acrescentar a degenerescência da raça, e no imergir a sociedade mais baixo, prejudicando assim seus semelhantes. Se Deus assim considera os direitos do próximo, não tem Ele cuidado quanto à relação mais estreita e mais sagrada? Se nem uma andorinha cai em terra sem que Ele o note, não Se aperceberá das crianças nascidas no mundo, física e mentalmente enfermas, sofrendo em maior ou menor grau, toda a sua vida? Não chamará a contas os pais, aos quais deu a faculdade do raciocínio, por colocarem essas faculdades superiores para trás, e tornarem-se escravos da paixão quando, em resultado disso, gerações terão de levar sobre si o estigma de suas deficiências físicas, mentais e morais? Em acréscimo ao sofrimento que eles legam a seus filhos, não têm nenhum quinhão senão pobreza a deixar a seu lamentável rebanho.


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Eles não podem educá-los, e muitos não vêem a necessidade, nem poderiam se a vissem, encontrar tempo de prepará-los, e instruí-los, e diminuir o quanto possível, a infeliz herança a eles legada. Os pais não devem aumentar a família mais depressa do que saibam que seus filhos possam ser bem cuidados e educados. Uma criança nos braços de sua mãe a cada ano é grande injustiça para com ela. Isto diminui, e muitas vezes destrói a fruição social, e acrescenta a desdita doméstica. Priva os filhos do cuidado, da educação e da felicidade que os pais deveriam sentir ser dever seu conceder-lhes.

O marido transgride o voto matrimonial, e os deveres a ele impostos na Palavra de Deus, quando desconsidera a saúde e a felicidade da esposa, aumentando-lhe os encargos e cuidados mediante numerosa prole. "Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela." "Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja." Efés. 5:25, 28 e 29.

Vemos essa santa ordem quase inteiramente menosprezada, mesmo por professos cristãos. Por toda parte a que podeis olhar, vereis mulheres pálidas, doentias, esgotadas, alquebradas, deprimidas, desanimadas. São em geral sobrecarregadas de trabalho, e esgotadas as energias vitais pelos partos freqüentes. O mundo está cheio de imagens de seres humanos que não têm nenhum valor para a sociedade. Muitos são deficientes de inteligência, e muitos que possuem talentos naturais não os empregam para quaisquer fins beneficentes. Não têm cultura, e uma das grandes razões disto é: os filhos se multiplicaram mais depressa do que podiam ser bem educados, e foram deixados crescer mais ou menos à semelhança dos animais.

Os filhos desta geração estão sofrendo com seus pais, mais ou menos a pena da violação das leis da saúde. O procedimento geralmente seguido com eles, desde a infância, acha-se em contínua oposição às leis de seu ser. Foram forçados a receber infeliz herança de doenças e debilidade, antes do nascimento, ocasionadas pelos hábitos errôneos de seus pais, hábitos que os afetarão em maior ou menor grau no decorrer da vida. Este mau estado de coisas é tornado em todas as maneiras pior por continuarem os pais a seguir uma errada orientação no preparo físico de seus filhos através da infância.


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Os pais manifestam surpreendente ignorância, indiferença e negligência quanto à saúde física de seus filhos, o que comumente resulta em destruir a pouca vitalidade que resta à maltratada criancinha, destinando-a a uma morte prematura. Ouvireis com freqüência os pais lamentarem a providência de Deus, que lhes arrebatou dos braços os filhinhos. Nosso Pai celeste é demasiado sábio para errar, e bom demais para nos fazer injustiça. Ele não Se deleita em ver sofrer Suas criaturas. Milhares de pessoas foram arruinadas para a vida em virtude de os pais não haverem procedido em harmonia com as leis da saúde. Agiram por impulso em vez de seguir os ditames de um são discernimento, tendo constantemente em vista o bem futuro de seus filhos.

O primeiro grande objetivo a ser atingido na educação dos filhos é uma sã constituição, que prepare em grande maneira o caminho para a educação mental e moral. A saúde física e a moral se acham estreitamente unidas. Que enorme peso de responsabilidade repousa sobre os pais, quando consideramos que a direção por eles seguida, antes do nascimento de seus filhos, tem muito que ver com o desenvolvimento do caráter deles depois do nascimento.

Muitos filhos são deixados crescer com menos atenção da parte dos pais do que um bom fazendeiro devota aos mudos animais. Os pais, especialmente, são muitas vezes culpados de manifestar menos cuidado pela esposa e os filhos do que o que é manifestado a seu gado. Um fazendeiro compassivo tomará tempo, e devotará especial atenção quanto à melhor maneira de lidar com seus animais, e será exigente em que seus cavalos de valor não sejam sobrecarregados de trabalho, alimentados em excesso ou quando agitados, para que não sejam estragados. Dedicará tempo e carinho a seu gado, para que não sejam prejudicados por negligência, exposição, ou qualquer tratamento impróprio, e seu crescente rebanho jovem se deprecie em valor. Observará períodos regulares para serem alimentados, e saberá a quantidade de trabalho que eles podem fazer sem se prejudicarem. A fim de isto conseguir, prover-lhes-á apenas o alimento mais saudável, nas porções apropriadas, e a determinados períodos. Por seguirem assim os ditames da razão, os fazendeiros são bem-sucedidos em conservar a resistência de seus animais. Se o interesse de cada pai por sua esposa e seus filhos correspondesse ao cuidado manifestado por seu gado, proporcionalmente ao grau de valor de sua vida em comparação com a dos mudos animais, haveria inteira reforma em toda família, e a infelicidade humana seria incomparavelmente menor.


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Grande cuidado deve ser mostrado pelos pais em prover os artigos de alimentação mais saudáveis para si mesmos e para seus filhos. E em caso algum devem eles pôr diante dos filhos comida que sua razão lhes ensina que não resulta em saúde, mas iria tornar o organismo febricitante, e desarranjar os órgãos digestivos. Os pais não estudam de causa para efeito, com relação a seus filhos, como o fazem relativamente aos irracionais que possuem, e não raciocinam que sobrecarregar de trabalho, comer após violento exercício e quando muito exausto e agitado, prejudicará a saúde dos seres humanos, da mesma maneira que a dos mudos animais, lançando as bases para uma constituição alquebrada no homem, da mesma maneira que nos animais.

Caso pais ou filhos comam com freqüência, irregularmente, e em quantidades demasiado grandes, mesmo que seja dos alimentos mais saudáveis, isto prejudica a constituição; mas se além disso a comida é de qualidade imprópria e preparada com gordura [animal], e condimentos indigestos, muito mais nocivo será o resultado. Os órgãos digestivos serão duramente sobrecarregados, e à pobre natureza exausta não será dada senão pequena chance para descansar, e recuperar as forças, e os órgãos vitais dentro em pouco ficarão debilitados e exaustos. Se o cuidado e a regularidade são considerados necessários aos irracionais, são tanto mais essenciais aos seres humanos, formados à imagem de seu Criador quanto eles são de valor superior ao dos animais.

Em muitos casos, o pai é menos razoável e tem menos cuidado pela esposa durante o período da gravidez, do que o que manifesta por seu gado e suas crias. A mãe, em muitos casos, antes do nascimento dos filhos, é deixada a trabalhar cedo e tarde, excitando o sangue, enquanto prepara pratos nocivos para satisfazer o apetite pervertido da família e das visitas. Suas forças deviam ser tratadas ternamente. O preparo de uma comida saudável haveria exigido apenas cerca da metade da despesa e do trabalho, e haveria sido muito mais nutritiva.

Antes do nascimento dos filhos, a mãe é com freqüência deixada a trabalhar além de suas forças. Raramente suas cargas são diminuídas, e esse período, que devia ser para ela, mais que todos os outros, de descanso, é de fadiga, tristeza e sombras. Em virtude do grande esforço de sua parte, ela priva seu rebento daquela nutrição que a natureza providenciou para ele, e aquecendo o sangue, comunica-lhe má qualidade de sangue. O pequenino é privado de sua vitalidade,


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privado de resistência física e mental. O pai deve pensar em como tornar feliz a mãe. Não se deve permitir chegar em casa com a fronte anuviada. Caso fique perplexo em sua ocupação, não deve, a não ser que seja realmente necessário aconselhar-se com a esposa, perturbá-la com tais assuntos. Ela tem cuidados e provas seus próprios a suportar, e deve ser ternamente poupada a todo trabalho desnecessário.

A mãe encontra muitas vezes fria reserva da parte do pai. Se tudo não corre tão agradavelmente como ele poderia desejar, culpa a esposa e mãe, e parece indiferente a seus cuidados e provas diários. Os homens que assim procedem estão trabalhando diretamente contra seus próprios interesse e felicidade. A mãe fica desanimada. Fogem dela a esperança e a animação. Anda em seus afazeres maquinalmente, sabendo que devem ser efetuados, o que em breve lhe debilita a saúde física e mental. Nascem-lhe filhos sofrendo várias doenças, e Deus considera os pais responsáveis em grande medida; pois foram seus hábitos errôneos que fixaram a doença em seus filhos por nascer, pela qual devem sofrer por toda a existência. Alguns não vivem senão por um breve espaço de tempo, com seu fardo de debilidade. A mãe vela ansiosamente pela vida de sua criança, e verga ao peso da dor ao ter de cerrar-lhe os olhos na morte, e muitas vezes considera a Deus como o autor de toda esta aflição, quando na verdade os pais foram os assassinos de seu próprio filho.

O pai deve ter em mente que o tratamento da esposa antes do nascimento de seu filhinho afetará grandemente a disposição da mãe durante aquele período, e terá muito que ver com o caráter desenvolvido pela criança após o nascimento. Muitos pais ficaram tão ansiosos de obterem depressa alguma propriedade, que considerações superiores foram sacrificadas, e alguns homens têm sido criminosamente negligentes com a mãe e seu rebento, e muitas vezes a vida de ambos foi sacrificada ao forte desejo de acumular fortuna. Muitos não sofrem imediatamente essa severa pena por seu mau proceder, e dormem quanto ao resultado de sua conduta. A condição da mulher não é às vezes melhor que a de uma escrava, e ocasiões ela é tão culpada quanto ao marido de desperdiçar as forças físicas para obter meios para viver segundo à moda. É um crime da parte dessas pessoas terem filhos, pois sua prole será com freqüência deficiente, em valor físico, mental e moral, e levará o cunho da infelicidade,


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mesquinhez e egoísmo dos pais, e o mundo será infelicitado por sua mesquinhez.

É dever de homens e mulheres agir segundo a razão relativamente a seu labor. Não devem gastar as energias desnecessariamente, pois assim fazendo, não somente trazem sofrimentos a si próprios, mas por seus erros, acarretam ansiedade, fadiga e sofrimento àqueles a quem amam. Que requer tal soma de trabalho? Intemperança no comer e no beber, e o desejo de riqueza têm levado a essa intemperança. Caso o apetite seja controlado, e seja ingerido apenas o alimento saudável, haverá tanta economia nas despesas, que homens e mulheres não serão compelidos a trabalhar além de suas forças, violando assim as leis da saúde. O desejo de homens e mulheres de acumular propriedade não é pecado caso em seus esforços para atingirem seu objetivo não esquecerem a Deus, nem transgredirem os últimos seis preceitos de Jeová, que dita o dever do homem para com os semelhantes, colocando-os em posição em que lhes é impossível glorificar a Deus em seu corpo e espírito, que Lhe pertencem. Se em sua pressa de enriquecer eles sobrecarregam as próprias energias, e transgridem as leis de seu ser, situam-se de maneira a não lhes ser possível prestar a Deus serviço perfeito, e seguem uma direção pecaminosa. Os bens assim obtidos são-no a custa de imenso sacrifício.

Árduo labor e ansioso cuidado, tornam muitas vezes o pai impaciente, nervoso e exigente. Não nota o olhar fatigado da esposa, que tem trabalhado com suas forças mais débeis, tão arduamente como ele próprio, com suas mais vigorosas energias. Ele tolera afadigar-se com seus negócios e, por sua ansiedade para enriquecer, perde em grande medida o senso da obrigação que tem para com sua família, e não mede com justiça a capacidade de resistência de sua mulher. Aumenta com freqüência suas terras, o que exige acréscimo de auxílio assalariado, o que aumenta necessariamente os serviços domésticos. A mulher compreende dia a dia estar fazendo demasiado trabalho para suas forças, todavia continua trabalhando, pensando que o serviço precisa ser feito. Ela está continuamente entrando no futuro, sacando de seus futuros recursos de energia, e vivendo assim de capital emprestado, e no período em que ela necessita dessa força, não a encontra a sua disposição; e se ela não perde a vida, sua constituição se encontra alquebrada e além de recuperação.

Caso o pai procurasse conhecer as leis físicas, compreenderia


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melhor suas obrigações e responsabilidades. Veria que havia sido culpado quase de matar seus filhos mediante o permitir que tantos fardos impendessem sobre a mãe, e compelindo-a a trabalhar além de suas forças antes do nascimento das crianças, a fim de obter meios para lhes deixar. Eles tratam desses filhos durante sua vida de sofrimento, e muitas vezes os levam prematuramente à sepultura, mal compreendendo que seu errôneo procedimento trouxe o seguro resultado. Quão melhor haveria sido proteger a mãe de seus filhos de fatigante labor e ansiedade mental, e permitir que eles herdassem uma boa constituição, e dar-lhes oportunidade de batalhar através de seu caminho na vida não descansando nos bens de seu pai, mas em sua própria força dinâmica. A experiência assim obtida seria para eles de mais valor que casas e terras adquiridas a preço da saúde da mãe e dos filhos.

Parece perfeitamente natural a alguns homens serem mal-humorados, egoístas, exigentes e autoritários. Nunca aprenderam a lição do domínio de si mesmos, e não refrearão seus sentimentos irrazoáveis, sejam as conseqüências quais forem. Esses homens serão recompensados vendo sua companheira doentia, desalentada, e os filhos apresentando as peculiaridades de seus próprios desagradáveis traços de caráter.

É dever de todo casal evitar com atenção ferir os sentimentos um do outro. Devem dominar todo olhar e expressão de impaciência e cólera. Devem considerar a felicidade um do outro, nas coisas pequenas como nas grandes, manifestando terna solicitude em reconhecer os atos de bondade, as pequeninas cortesias mútuas. Estas pequenas coisas não devem ser negligenciadas, pois são tão importantes para a felicidade do homem e da esposa como o alimento é necessário para manutenção das forças físicas. O marido deve encorajar a esposa e mãe a apoiar-se nas grandes afeições dele. Palavras bondosas, animadoras e comunicativas de coragem da parte dele, a quem ela confiou a felicidade de sua vida, ser-lhe-ão mais benéficas que qualquer remédio; e os alegres raios de luz que essas palavras de simpatia levarão ao coração da esposa e mãe, refletirão sobre o coração do pai seu brilho de animação.

O marido verá freqüentemente sua esposa gasta pelos cuidados e enfraquecida, ficando prematuramente envelhecida no labor de preparar alimento que satisfaça ao apetite viciado. Ele satisfaz o apetite, e comerá e beberá aquilo que custa muito tempo e trabalho a


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preparar para a mesa, e que tem a tendência de tornar nervosos e irritáveis os que participam dessas coisas prejudiciais. A esposa e mãe raro se acha livre da dor de cabeça, e os filhos sofrem o efeito de comerem alimentos nocivos, e há grande falta de paciência e afeição entre pais e filhos. Todos são juntamente sofredores, pois a saúde é sacrificada ao apetite concupiscente. Antes de seu nascimento, a prole recebe a transmissão de doença e de um apetite mórbido. E a irritabilidade, o nervosismo e o acabrunhamento manifestados pela mãe assinalarão o caráter de seus filhos.

Houvessem as mães das gerações passadas se informado quanto às leis de seu corpo, haveriam compreendido que sua resistência constitucional, bem como o tono moral, e suas faculdades mentais, haveriam de ser em grande medida apresentados em seus descendentes. Sua ignorância a respeito desse assunto, em que tanto se acha envolvido, é criminosa. Muitas mulheres nunca se deveriam haver tornado mães. Tinham o sangue cheio de escrófulas, a elas transmitidas por seus pais, e aumentadas por sua vulgar maneira de viver. O intelecto foi rebaixado, escravizado a servir os apetites animais, e os filhos nascidos de pais assim, têm sido pobres sofredores, e de bem pouco proveito à sociedade.

Uma das grandes causas de degeneração nas gerações passadas e até ao presente, é que as esposas e mães que de outro modo haveriam sido de benéfica influência sobre a sociedade no erguer as normas morais, perderam-se para a sociedade pela multiplicidade dos cuidados domésticos em virtude da maneira de cozinhar em voga, destruidora da saúde, e também em conseqüência dos partos demasiado freqüentes. Ela tem sido forçada a desnecessário sofrimento, sua constituição tem-se debilitado, enfraquecido o intelecto devido a tanto saque em seus recursos vitais. Os filhos sofrem sua fraqueza, e é lançada sobre a sociedade uma classe deficiente em virtude da inaptidão dela, para educá-los para ser de alguma utilidade.

Caso essas mães houvessem dado à luz poucos filhos, e se estes houvessem sido cuidadosos em viver de comida que lhes conservasse a saúde física e a resistência mental, de modo que a moral e o intelecto predominassem sobre o animal, elas poderiam tanto educar seus filhos para a utilidade como para serem brilhantes ornamentos da sociedade.

Houvessem os pais nas gerações passadas, com firmeza de


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propósito, conservado o corpo em sujeição à mente, e não permitissem que o intelecto fosse escravizado pelas paixões animais, haveria nesta geração diversa ordem de seres na Terra. E se a mãe antes do nascimento de seus filhos houvesse sempre exercido o domínio de si mesma, compreendendo que estava imprimindo o caráter das gerações futuras, o estado presente da sociedade não se haveria depreciado tanto no que respeita ao caráter como se encontra na atualidade.

Toda mulher prestes a tornar-se mãe, deve cultivar constantemente, sejam quais forem as circunstâncias, uma disposição feliz, animada, contente, sabendo que por todos os seus esforços nessa direção será recompensada dez vezes mais no físico assim como no caráter moral de sua prole. E isto não é tudo. Ela pode, pelo hábito, acostumar-se a pensar alegremente, estimulando assim um feliz estado mental e lançar sobre a família, bem como sobre aqueles com quem está em contato, um animoso reflexo de sua própria felicidade de espírito. E sua saúde física experimentará considerável melhora. Comunicar-se-á vigor às fontes vitais, o sangue não se moverá preguiçosamente como aconteceria caso ela se entregasse ao acabrunhamento, às sombras. Sua saúde mental e moral é fortalecida pela elasticidade de seu espírito. O poder da vontade pode resistir a impressões mentais, e demonstrar-se-á grande calmante nervoso. As crianças privadas daquela vitalidade que deviam haver herdado dos pais, devem receber o máximo cuidado. Por acurada atenção às leis de seu ser, pode ser estabelecida condição muito melhor.

É crítico o período em que a criança recebe nutrição de sua mãe. Muitas mães, enquanto amamentam os filhos, são deixadas trabalhar excessivamente, aquecer o sangue ao cozinhar, e o pequenino é seriamente afetado, não somente com alimento agitado do seio materno, mas seu sangue é envenenado pelo regime prejudicial da mãe, que tem agitado todo o seu organismo, o que afeta o alimento da criança. Esta será afetada também pelo estado mental materno. Se ela está infeliz, se fica facilmente agitada, irritável, dando vazão a explosões de temperamento, a comida que a criança recebe de sua mãe será abrasada, produzindo muitas vezes cólica, espasmos e, em certos casos, ocasionando convulsões e ataques.

O caráter da criança também é em maior ou menor grau afetado


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pela natureza da alimentação recebida de sua mãe. Quão importante, pois, que esta, enquanto aleitando seu pequenino, conserve feliz estado mental, tendo perfeito domínio sobre o próprio espírito. Assim fazendo, o alimento da criança não é danificado, e a maneira calma, dominada, mantida pela mãe no lidar com seu filhinho tem muito que ver com o moldar de sua mente. Se ele é nervoso, facilmente agitado, o modo cuidadoso e moderado da mãe terá suavizadora e corretiva influência, e a saúde do pequenino pode ser muito melhorada.

Os nenês têm sido grandemente maltratados mediante um trato errôneo. Se ele estava desassossegado, era geralmente alimentado para fazê-lo aquietar, quando, na maioria dos casos, a própria causa do desassossego era justamente haver ele recebido demasiado alimento, tornados nocivos pelos hábitos errôneos de sua mãe. Mais comida só podia tornar o caso pior, pois seu estômago já se achava sobrecarregado.

As crianças são em geral criadas desde o berço para condescender com o apetite, e são ensinadas que vivem para comer. A mãe faz muito para formação do caráter de seus filhos em sua infância. Pode ensinar-lhes a reger o apetite, ou a condescender com ele, e tornarem-se gulosos. A mãe arranja muitas vezes seus planos para fazer certa quantidade de trabalhos durante o dia, e quando as crianças a perturbam, em vez de tomar tempo para acalmá-las em suas pequeninas aflições, e distraí-las, dá-lhes alguma coisa para comer a fim de as conservar quietas, o que corresponde ao desígnio por alguns momentos, mas torna finalmente as coisas piores. O estômago das crianças é abarrotado de comida, quando não tinham dela nenhuma necessidade. Tudo quanto era preciso, era um pouquinho de tempo e atenção da parte da mãe. Ela, porém, considerava demasiado precioso esse tempo para consagrar a distrair seus filhos. Talvez o arranjo de seu lar com bom gosto para ser elogiado pelas visitas, e preparar sua refeição segundo a moda, são para ela de mais consideração que a felicidade e a saúde de seus pequeninos.

A intemperança no alimento e no trabalho debilita os pais, tornando-os muitas vezes nervosos, e incapacitando-os para se desempenharem devidamente de seus deveres para com os filhos. Três vezes ao dia reúnem-se os pais com as crianças ao redor da mesa, carregada de uma variedade de alimentos preparados como é da moda. Os méritos de cada prato devem ser experimentados. Talvez a mãe tenha labutado até ficar agitada, exausta, e não estar em


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condições de tomar sequer o mais simples alimento enquanto não houvesse primeiro tido um período de descanso. A comida que se cansou em preparar, era de todo imprópria para ela em qualquer ocasião, mas sobrecarrega especialmente os órgãos digestivos quando o sangue está inflamado e o corpo exausto. Aqueles que assim têm persistido em transgredir as leis de seu ser, têm sido compelidos a pagar a pena em algum período de sua existência.

Há fartas razões de existirem tantas mulheres nervosas no mundo, queixando-se de dispepsia, com seu cortejo de males. A causa tem sido acompanhada dos efeitos. É impossível pessoas intemperantes serem pacientes. Precisam primeiro reformar os maus hábitos, aprender a viver saudavelmente, e então não será difícil serem pacientes. Muitos parecem não compreender a reação que a mente mantém para com o corpo. Caso o organismo esteja perturbado por comida imprópria, o cérebro e os nervos são afetados, e pequenas coisas incomodam os que assim sofrem. Dificuldades insignificantes são para eles montanhas de aflição. As pessoas assim situadas são inaptas para criar devidamente seus filhos. Sua vida será assinalada por extremos - às vezes muito condescendentes, outras severas, censurando por ninharias que não merecem atenção.

A mãe manda com freqüência os filhos para fora de sua presença, porque pensa que não pode suportar o barulho ocasionado por suas felizes brincadeiras. Sem o olhar de sua mãe, porém, para aprovar ou discordar, no momento oportuno, surgem muitas vezes divergências lamentáveis. Uma palavra da mãe acalmaria tudo outra vez. Eles logo se cansam e desejam mudança, e vão para a rua em busca de divertimento, e crianças puras, inocentes de espírito, são levadas a más companhias, e más comunicações a eles segredadas lhes corrompem os bons costumes. A mãe parece muitas vezes adormecida para os interesses de seus filhos, até que é penosamente despertada pela exibição do vício. As sementes do mal foram semeadas em sua tenra mente, prometendo abundância de frutos. E é para ela maravilha que seus filhos sejam tão inclinados a proceder mal. Os pais devem começar a tempo a infundir na mente da criança os bons e corretos princípios. A mãe deve estar o mais possível com seus filhos, e semear sementes preciosas em seu coração.

O tempo de uma mãe pertence de maneira especial a seus filhos. Eles têm direito a esse tempo como nenhuma outra pessoa. Em muitos casos, as mães têm negligenciado a disciplina de seus pequenos,


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porque isso exigiria demasiado tempo, o qual elas pensam dever empregar na cozinha ou em costurar as roupas, dela e das crianças, segundo a moda, para fomentar o orgulho em seus jovens corações. A fim de manter calmos seus irrequietos filhos, dão-lhes bolo, ou doces, quase a qualquer hora do dia, e o estômago deles fica abarrotado de coisas nocivas em períodos irregulares. As faces pálidas testificam de que as mães estão fazendo o que podem para destruir as forças vitais restantes de seus pobres filhos. Os órgãos digestivos acham-se constantemente sobrecarregados, e não lhes permitem períodos de repouso. O fígado torna-se inativo, o sangue impuro, e as crianças são doentias e irritáveis, porque são verdadeiras sofredoras devido à intemperança, e é impossível exercerem paciência.

Os pais admiram-se de que seus filhos estejam tão mais difíceis de controlar do que costumavam ser dantes, quando na maioria dos casos sua própria direção criminosa os tornou o que são. A qualidade do alimento que põem na mesa, e de que estimulam os filhos a comer, está despertando constantemente suas paixões animais, e enfraquecendo as faculdades morais e intelectuais. Muitíssimas são as crianças tornadas infelizes dispépticas em sua tenra idade pela errônea direção de seus pais para com elas na infância. Os pais serão chamados a prestar contas a Deus por assim lidarem com seus filhos.

Muitos pais não dão a suas crianças lições de domínio próprio. Condescendem com seu apetite, e formam os hábitos dos filhos na infância para comerem e beberem segundo os seus desejos. Assim serão eles nos hábitos gerais em sua juventude. Os desejos não lhes foram restringidos, e à medida que ficam de mais idade, não somente condescendem com os hábitos comuns da intemperança, mas irão mesmo mais longe na satisfação própria. Escolherão seus próprios companheiros, embora corruptos. Não podem suportar restrições da parte de seus pais. Darão rédeas soltas a suas corruptas paixões, e pouca será sua consideração para com a pureza ou a virtude. Esta é a razão de haver tão pouca pureza e valor moral entre a juventude em nossos dias, e é a grande causa por que homens e mulheres se acham sob tão pouca obrigação de prestar obediência à lei de Deus. Alguns pais não têm domínio sobre si mesmos. Não controlam os próprios apetites mórbidos, ou seu temperamento apaixonado, e portanto não podem educar os filhos com relação a negar-se a si mesmos no apetite, e ensinar-lhes a se dominarem a si mesmos.


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Muitas mães acham que não têm tempo para instruir seus filhos e a fim de os afastarem de seu caminho e se verem livres do ruído e perturbação que causam, mandam-nos para a escola. A sala de aulas é um penoso lugar para as crianças que herdaram constituições enfraquecidas. As salas de aulas não foram em geral construídas tendo em consideração a saúde, mas ao barato. As salas não foram arranjadas de modo a serem ventiladas como deviam ser, sem expor as crianças a resfriados sérios. E os assentos, raramente foram feitos de maneira que os pequenos se pudessem sentar confortavelmente, conservando a pequena estrutura em crescimento em posição apropriada para garantir a saudável ação dos pulmões e do coração. Os pequenos podem crescer quase segundo qualquer forma, e podem, por hábitos de exercício e posições apropriados do corpo, obterem formas saudáveis. É destrutivo para a saúde e a vida das crianças que elas se sentem na sala de aulas em bancos duros malformados, de três a cinco horas por dia, inalando o ar impuro ocasionado por muitas respirações. Os pulmões fracos ficam afetados, o cérebro, do qual se deriva a energia nervosa de todo o organismo se enfraquece por ser chamado a exercício ativo antes de a resistência dos órgãos mentais achar-se suficientemente amadurecida para suportar a fadiga.

Na sala de aulas está seguramente posto o fundamento para doenças de várias espécies. Mais especialmente, porém, o mais delicado de todos os órgãos - o cérebro - tem ficado muitas vezes permanentemente prejudicado por demasiado exercício. Isto tem com freqüência ocasionado inflamação, depois hidropisia da cabeça, e convulsões, com seus temíveis resultados. E a vida de muitos tem sido assim sacrificada por mães ambiciosas. Das crianças que, ao que parece, tiveram suficiente força de constituição para sobreviver a esse tratamento, muitas há que levam através da existência os seus efeitos. A energia nervosa cerebral fica tão fraca, que depois que eles chegam à maturidade, é-lhes impossível resistir a muito esforço mental. A força de alguns dos delicados órgãos do cérebro parece achar-se exausta.

E não somente a saúde física e mental das crianças tem sido posta em risco por mandá-las demasiado cedo à escola, mas elas têm perdido no sentido moral. Têm tido oportunidades de relacionar-se com crianças de maneiras incultas. Foram atiradas na sociedade dos ordinários e rudes, que mentem, blasfemam, furtam e enganam, e


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que se deleitam em comunicar aos mais jovens que eles, o seu conhecimento do vício. As crianças, deixadas a si mesmas, aprendem o mal mais depressa que o bem. Os hábitos maus melhor se adaptam ao coração natural, e as coisas que vêem e ouvem na infância e meninice se lhes imprimem profundamente no espírito, e o mal semeado em seu jovem coração criará raízes, tornando-se espinhos agudos, a ferir o coração dos pais.

Nos primeiros seis ou sete anos da vida de uma criança, deve-se dar atenção especial ao seu preparo físico, mais do que ao intelectual. Depois desse período, se for boa a constituição física, deve receber atenção a educação de ambos os aspectos. A infância estende-se até à idade de seis ou sete anos. Até essa idade, as crianças devem ser deixadas como pequeninos cordeiros, a andar em volta da casa, e no quintal, vivos e espertos, correndo e saltando, livres de cuidados e preocupações.

Os pais, especialmente as mães, devem ser os únicos mestres desses espíritos infantis. Não os devem educar por livros. As crianças geralmente são curiosas por aprender as coisas da Natureza. Fazem perguntas acerca das coisas que vêem e ouvem, e devem os pais aproveitar a oportunidade de instruir, e responder com paciência a suas pequenas indagações. Poderão deste modo obter vantagem sobre o inimigo, fortalecendo o espírito de seus filhos, mediante o semear-lhes no coração a boa semente, sem deixar espaço para a semente má criar raízes. As amorosas instruções maternas às crianças em tenra idade, é o que elas precisam para a formação do caráter.

A primeira lição importante para as crianças aprenderem é a negação do apetite. É dever da mãe atender às necessidades dos filhos, suavizando e distraindo-lhes o espírito, em vez de dar-lhes comida e assim lhes ensinando que o comer seja o remédio aos males da vida.

Se os pais tivessem vivido segundo as leis da saúde, satisfazendo-se com um regime simples, muita despesa se haveria poupado. O pai não teria sido obrigado a trabalhar além de suas forças a fim de suprir as necessidades da família. Um regime simples e nutritivo não teria tido o efeito de agitar indevidamente o sistema nervoso e as paixões sensuais, produzindo lerdeza e irritabilidade. Se ele tivesse tomado apenas alimento simples, teria tido o cérebro claro, os nervos estáveis, o estômago em estado sadio, e tendo assim puro o organismo, não teria tido falta de apetite, e a


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geração atual estaria em muito melhores condições do que se acha agora. Mas mesmo agora, neste período tardio, algo se pode fazer para melhorar nossa situação. É necessária a temperança em todas as coisas. O pai temperante não se queixará se não há na mesa grande variedade. A maneira saudável de viver melhorará as condições da família em todos os sentidos, e permitirá à esposa e mãe tempo para dedicar aos filhos. A grande preocupação dos pais será quanto à maneira de melhor educar os filhos para serem úteis neste mundo, e para o Céu depois. Contentar-se-ão com ver os filhos trajando vestidos asseados, simples, mas confortáveis, livres de bordados e enfeites. Esforçar-se-ão fervorosamente por ver os filhos possuírem aquele adorno interior, o ornamento de um espírito manso e quieto, que à vista de Deus é de grande preço.

Antes que deixe o lar, a fim de se dirigir ao trabalho, o pai cristão reunirá junto de si a família, e, prostrando-se perante Deus, confiá-los-á aos cuidados do Sumo Pastor. Sairá então para o trabalho com o amor e a bênção da esposa, e o amor dos filhos, a alegrar-lhe o coração através de suas horas de labor. E a mãe que é alerta ao dever, reconhece as obrigações que tem para com os filhos na ausência do pai. Ela sentirá que vive para o marido e os filhos. Educando retamente os filhos, ensinando-lhes hábitos de temperança e domínio próprio, e incutindo-lhes os deveres para com Deus, ela os habilita a tornar-se úteis no mundo, a erguer a norma da moral na sociedade, e a reverenciar e obedecer à lei de Deus. Paciente e perseverantemente a mãe piedosa instruirá os filhos, dando-lhes regra sobre regra e preceito sobre preceito, não de modo ríspido, forçando-os, mas com amor e ternura ela os ganhará. Eles considerarão as suas lições amorosas, e alegremente lhe escutarão as palavras de instrução.

Em vez de mandar afastarem-se de sua presença os filhos, para que seu ruído não a perturbe, e não se aborreça com as muitas atenções que eles exigem, sentirá ela que seu tempo não pode ser mais bem empregado do que abrandando e distraindo-lhes a mente irrequieta e ativa com algum entretenimento, ou alguma ocupação leve e feliz. A mãe será amplamente recompensada pelos esforços de tomar tempo para inventar entretenimento para os filhos.

As crianças amam a companhia. Em geral, não apreciam estar


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sozinhas, e a mãe deve entender que, na maioria dos casos, o lugar de seus filhos, quando estão em casa, é o aposento onde ela está. Pode então tê-los sob suas vistas e estar preparada para ajustar pequenas diferenças, quando para ela apelam, e corrigir hábitos maus, ou a manifestação de egoísmo ou paixão, e pode dar-lhes ao espírito a direção certa. Aquilo de que as crianças gostam, pensam elas que há de agradar à mãe, e é perfeitamente natural que consultem a mãe em pequeninas questões que as fazem perplexas. E não deve a mãe ferir o coração de seu sensível filhinho tratando com indiferença o assunto, ou recusando-se a ser incomodada com coisas assim pequenas. Aquilo que pode ser pequeno para a mãe, para ele é grande. E uma palavra de orientação, ou aviso, na ocasião oportuna, muitas vezes se demonstrará de grande valor. Um olhar de aprovação, uma palavra de animação e louvor por parte da mãe, muitas vezes lhes deixa no jovem coração um raio de sol o dia inteiro.

A primeira educação que os filhos devem receber da mãe, logo na infância, deve dizer respeito a sua saúde física. Deve-se-lhes permitir tão-somente alimento simples, da qualidade que os preserve nas melhores condições de saúde, e esse alimento só deve ser tomado em períodos regulares, não mais do que três vezes ao dia, e duas refeições seria mesmo melhor do que três. Se as crianças forem disciplinadas devidamente, logo aprenderão que nada conseguirão com choro e irritação. A mãe judiciosa procederá, na educação dos filhos, não meramente com vistas ao seu conforto presente, mas visando seu bem futuro. E para esse fim ela ensinará aos filhos a importante lição do controle do apetite, e da abnegação: que devem comer, beber e vestir-se tendo em vista a saúde.

A família bem disciplinada, que ame e obedeça a Deus, será bem-humorada e feliz. O pai, ao voltar do trabalho cotidiano, não trará para o lar as suas perplexidades. Sentirá que o lar, e o círculo da família, são sagrados demais para que sejam manchados com infelizes perplexidades. Quando saiu do lar, não deixou atrás seu Salvador e sua religião. Ambos foram seus companheiros. A suave influência de seu lar, a bênção da esposa e o amor dos filhos, tornam leves os seus fardos, e volta tendo no coração a paz, e palavras animosas e animadoras para a esposa e os filhos, que o aguardam para, alegres, lhe darem as boas-vindas. Ao prostrar-se, com a família, junto ao


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altar de oração, para oferecer a Deus seus reconhecidos agradecimentos, por Seu protetor cuidado para com ele e os amados através do dia, anjos de Deus visitam o lar, e levam para o Céu as ferventes orações dos pais tementes a Deus, qual incenso suave, e vem a resposta em forma de bênçãos.

Devem os pais impressionar os filhos com o pensamento de que é pecado consultar o gosto, para prejuízo do estômago. Deve-se-lhes impressionar o espírito com a idéia de que, violando as leis de seu ser, pecam contra seu Criador. As crianças assim educadas não será difícil restringir. Não serão sujeitas a temperamento irritadiço e volúvel, e estarão em muito melhores condições para fruírem a vida. Essas crianças mais de pronto e mais claramente compreenderão suas obrigações morais. As crianças às quais se ensinou cederem a vontade e os desejos aos pais, mais fácil e prontamente cederão sua vontade a Deus, submetendo-se ao controle do Espírito de Cristo. O motivo de muitos, que alegam ser cristãos, terem provações numerosas, que impõem à igreja um fardo, é não terem sido educados corretamente em sua infância, tendo sido deixados, em grande medida, a formarem eles mesmos o seu caráter. Seus maus hábitos, sua disposição singular e infeliz, não foram corrigidos. Não se lhes ensinou cederem aos pais a sua vontade. Toda a sua experiência religiosa é afetada por sua educação na infância. Não foram então controlados. Cresceram indisciplinados, e agora, em sua experiência religiosa, é-lhes difícil ceder àquela disciplina pura ensinada na Palavra de Deus. Os pais devem, pois, reconhecer a responsabilidade que sobre eles recai, de educar os filhos com vistas a sua experiência religiosa.

Os que consideram a relação matrimonial como uma das sagradas ordenanças de Deus, guardada por Seu santo preceito, serão controlados pelos ditames da razão. Considerarão cuidadosamente o resultado de cada um dos privilégios que a relação matrimonial concede. Esses sentirão que seus filhos são jóias preciosas, por Deus confiados a sua guarda, a fim de, pela disciplina, removerem de sua natureza a superfície áspera, para que apareça o seu lustro. Sentir-se-ão sob a mais solene das obrigações de lhes formar o caráter de tal modo que em sua vida façam o bem, abençoem os outros com sua luz, e o mundo fique melhor por nele haverem vivido, e sejam finalmente habilitados para a vida superior, o mundo melhor, refulgindo para sempre na presença de Deus e do Cordeiro. How to Live, nº 2, págs. 25-48.


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Como Viver, nº 3

A família humana, por seus maus hábitos, trouxe sobre si doenças de várias formas. Não procuraram saber como viver saudavelmente, e sua transgressão das leis de seu ser produziu um estado de coisas deplorável. O povo raramente tem atribuído à causa verdadeira os seus sofrimentos, isto é, ao seu próprio procedimento errado. Têm condescendido com a intemperança no comer, e feito de seu apetite um deus. Em todos os seus hábitos têm manifestado negligência com respeito à saúde e à vida; e quando, em conseqüência, lhes sobreveio a doença, procuraram concluir que Deus era seu autor, quando foi seu próprio procedimento errado que acarretou resultados seguros. Quando aflitos, mandam chamar o médico e a suas mãos confiam o corpo, esperando que ele os cure. Ele lhes ministra drogas, de cuja natureza eles nada sabem, e em sua cega confiança, engolem qualquer coisa que o médico queira dar-lhes. Assim são muitas vezes ministrados tóxicos poderosos que ferem a natureza, em seus amáveis esforços para restaurar o organismo dos abusos que sofreu, e o paciente depressa é despedido desta vida.

A mãe que estava apenas com uma leve indisposição, e que poderia ter-se restaurado, mediante a abstinência de alimento por breve período, e uma cessação do trabalho, ficando em calmo repouso, em vez disso mandou chamar o médico. E aquele que deveria estar preparado para dar judiciosamente uns poucos conselhos simples e certas restrições alimentares, colocando-a na vereda devida, esse é, ou ignorante demais para isso fazer, ou está por demais ansioso por obter ganho.

Ele torna grave o caso, e administra os seus tóxicos que, se fosse ele o doente, não se arriscaria a tomar. O paciente piora, e são-lhe ministradas drogas em maior abundância, até que a natureza seja vencida em seus esforços, e desiste da luta, e a mãe morre.


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Foi morta pelas drogas. Seu organismo ficou intoxicado para além da possibilidade de sarar. Foi assassinada. Vizinhos e parentes admiram-se ante o assombroso trato da Providência em assim remover uma mãe em meio a sua vida de utilidade, quando seus filhos tanto careciam ainda de seus cuidados. Fazem injustiça ao nosso bom e sábio Pai celestial, quando a Ele atribuem este peso de desgraça humana. O Céu desejava que aquela mãe vivesse, e sua morte prematura desonrou a Deus. Os maus hábitos da mãe e sua desatenção para com as leis de seu ser, fizeram-na doente. E os tóxicos do médico, feitos à moda, introduzidos no organismo, puseram termo ao período de sua existência, deixando um rebanho sem mãe, desajudado e ferido.

O que acima se disse, nem sempre é o resultado que segue à medicação droguista do doutor. Doentes que tomam essas drogas tóxicas parecem ficar bons. Alguns têm força vital suficiente para expelir do organismo o veneno de modo que o doente, tendo um período de repouso, se restabelece. Mas não se deve atribuir a cura às drogas, pois tão-somente estorvaram a natureza em seus esforços. Todo o merecimento deve ser atribuído ao poder restaurador da natureza.

Embora o doente possa restabelecer-se, todavia o grande esforço que se exigiu da natureza para levá-la a agir contra o veneno e vencê-lo prejudicou a constituição, abreviando a vida do doente. Há muitos que não morrem sob a influência de drogas, mas muitos existem que são deixados destroços inúteis, sofredores sem esperança, sombrios e infelizes, peso morto a si e à sociedade.

Se fossem unicamente os que tornam as drogas os sofredores, então o mal não seria tão grande. Mas os pais não só pecam contra si mesmos ao engolir drogas tóxicas, mas pecam também contra os filhos. O estado viciado de seu sangue, o tóxico distribuído por todo o organismo, a constituição alquebrada, e várias doenças provenientes das drogas, por causa do seu conteúdo de tóxicos, são transmitidos a sua prole, deixando-lhes infeliz herança, o que é outra grande causa da degeneração do gênero humano.

Os médicos, ministrando suas drogas tóxicas, muito têm contribuído para aumentar a depreciação da raça, física, mental e moralmente. Para onde quer que vos volvais, vereis deformidade, doença e imbecilidade, que em muitíssimos casos podem ser atribuídos diretamente aos venenos das drogas, administrados por mãos de médico, como remédio para alguns dos males da vida. O chamado


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remédio demonstrou-se terrivelmente ao paciente, por severo sofrimento, como sendo muito pior que a doença para curar a qual se tomara a droga. Todos os que possuem inteligência comum devem compreender as necessidades de seu organismo. A filosofia da saúde deve ser um dos mais importantes estudos de nossos filhos. É importantíssimo que seja compreendido o organismo humano, e então os homens e mulheres inteligentes podem ser o seu próprio médico. Se o povo raciocinasse da causa para o efeito, e seguisse a luz que sobre eles incide, seguiriam um procedimento que lhes asseguraria a saúde, e seria muito menor a -mortalidade. Mas o povo satisfaz-se com permanecer em inescusável ignorância, confiando aos médicos o corpo, em vez de assumirem eles mesmos uma responsabilidade especial quanto à questão.

Foram-me apresentados vários casos ilustrativos deste importante assunto. O primeiro foi de uma família consistindo de pai e filha. A filha estava doente, e o pai, muito preocupado, chamou um médico. Ao levá-lo para o quarto da doente, o pai manifestou uma penosa ansiedade. O médico examinou a paciente, e pouco disse. Ambos deixaram o quarto. O pai informou o médico de que havia sepultado a esposa, um filho e uma filha, e essa filha era tudo que lhe restava da família. Ansioso, indagou do médico se ele achava ser desesperançado o caso de sua filha.

O médico indagou então acerca da natureza e do tempo da doença dos que haviam morrido. O pai lamentosamente relatou os penosos fatos relacionados à doença de seus queridos: "Meu filho foi o primeiro a ser atacado por uma febre. Chamei o médico. Disse que poderia dar um remédio que depressa cortaria a febre. Ministrou-lhe remédio poderoso, mas ficou decepcionado com os seus efeitos. A febre diminuiu, mas meu filho piorou muito. Repetiu-se a mesma medicação, sem produzir nenhuma modificação para melhor. O médico recorreu então a medicamento mais forte ainda, mas meu filho nenhum alívio obteve. A febre o deixou, mas ele não melhorou. Piorou rapidamente e morreu.

"A morte do filho, tão repentina e inesperada, trouxe grande tristeza a nós todos, mas especialmente a sua mãe. Sua vigilância e ansiedade durante a doença do filho, e a tristeza ocasionada por sua morte súbita, foram demais para seu sistema nervoso, e minha


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esposa logo ficou prostrada. Fiquei descontente com o procedimento seguido por aquele médico. Abalara-se minha confiança em sua aptidão, e não o contratei segunda vez. Chamei outro, para atender a minha sofredora esposa. Este segundo lhe ministrou generosa dose de ópio que, disse ele, lhe aliviaria as dores, acalmaria os nervos e daria o tão necessitado repouso. O ópio narcotizou-a. Adormeceu, e coisa alguma a despertava de seu estupor mortal. O pulso e o coração por vezes palpitavam violentamente, e a seguir enfraqueciam mais e mais, até que ela deixou de respirar. Assim morreu, sem dar aos seus nenhum sinal de os reconhecer. Esta segunda morte pareceu-nos insuportável. Todos ficamos profundamente contristados, mas eu fiquei angustiado, não podendo conformar-me.

"A seguir adoeceu minha filha. A tristeza, a ansiedade e o vigiar haviam-lhe minado o poder de resistência, suas forças cederam, e ela se recolheu ao leito de sofrimento. Eu perdera agora a confiança em ambos os médicos que contratara. Outro me foi recomendado como tendo êxito no tratamento de doentes. E embora ele morasse longe, resolvi contratar os seus serviços.

"Este terceiro médico afirmou entender o caso de minha filha. Disse que ela estava muito debilitada e que seu sistema nervoso corria perigo, e que tinha febre, a qual podia ser controlada, mas que levaria tempo o recuperá-la do estado de debilidade em que se achava. Mostrou perfeita confiança em sua habilidade de levantá-la. Ministrou-lhe forte medicamento para cortar a febre. Conseguiu-o. Mas vencida a febre, o caso assumiu aspectos mais alarmantes, tornando-se mais complicado. Mudando-se os sintomas, foi também modificada a medicação, para adaptar-se ao caso. Enquanto estava sob a influência de novos remédios ela se apresentou, por algum tempo, melhorada, o que reavivava nossas esperanças de que haveria de sarar - tão-somente para tornar mais amarga nossa decepção ao piorar ela.

"O último recurso do médico foram os calomelanos. A tempo ela pareceu entre a vida e a morte. Sobrevieram-lhe convulsões. Ao cessarem esses penosíssimos espasmos, demos pelo doloroso fato de estar ela com a mente debilitada. Começou a melhorar, lentamente, embora ainda sofrendo muito. Os membros ficaram paralisados por causa dos violentos tóxicos que tomara. Viveu alguns anos, sofredora desajudada e digna de dó, e então morreu em grande agonia."


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Depois deste triste relato o pai fitou, súplice, o médico, rogando-lhe que salvasse a única filha que lhe restava. O médico ficou triste e ansioso, mas não receitou coisa nenhuma. Ergueu-se e dispôs-se a sair, dizendo que voltaria no dia seguinte.

Outra cena foi-me então apresentada. Fui levada à presença de uma senhora, com cerca de trinta anos de idade, aparentemente. Junto dela estava um médico, que dizia que seu sistema nervoso estava em perigo, seu sangue impuro, fluindo lentamente, e que o estômago estava frio, inativo. Disse que lhe daria remédios ativos, que logo melhorariam seu estado. Deu-lhe um pó, de um vidro no qual estava o rótulo: Nux vomica. Observei para ver que efeito teria aquilo sobre a paciente. Pareceu ter ação favorável. Seu estado aparentemente melhorou. Ficou animada, parecendo mesmo contente e ativa.

Minha atenção foi então chamada para outro caso ainda. Fui levada para o quarto de um jovem doente, que estava com febre alta. Ao seu lado estava um médico, com uma porção de remédios tirados de um vidro em que se lia: Calomelanos. Administrou esse tóxico químico, e pareceu manifestar-se uma mudança, mas não para melhor.

Foi-me então mostrado outro caso. Foi de uma senhora que parecia estar sofrendo grandes dores. Um médico estava ao lado de seu leito, dando-lhe remédio, tirado de um vidro com o rótulo: ópio. A princípio essa droga pareceu afetar-lhe a mente. Ela falou de modo a causar estranheza, mas afinal aquietou-se e adormeceu.

Minha atenção foi então chamada para o primeiro caso, o do pai que perdera a esposa e dois filhos. O médico estava no quarto, junto ao leito da filha doente. De novo saiu do quarto sem administrar remédio algum. O pai, a sós com o médico, parecia muito comovido, e perguntou impaciente: "O senhor não pretende fazer coisa alguma? Deixará que morra minha filha única?" O médico respondeu:

"Ouvi a triste narrativa da morte de sua muito amada esposa e seus dois filhos, e de seus próprios lábios soube que todos os três morreram quando sob os cuidados de médicos, tomando remédios receitados e administrados por suas mãos. Os medicamentos não salvaram os seus queridos, e como médico creio solenemente que


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nenhum deles precisava ou devia ter morrido. Poderiam ter-se restabelecido se não se tivessem tratado com drogas de tal modo que a natureza se enfraqueceu pelo abuso, e afinal baqueou. Declarou positivamente ao agitado pai: "Eu não posso dar remédio a sua filha. Procurarei apenas ajudar a natureza em seus esforços, removendo qualquer obstrução, e então deixar à natureza o recuperar as debilitadas energias do organismo." Colocou mas mãos do pai algumas instruções, que mandou seguir à risca.

"Conserve a doente livre de agitação, e de toda influência tendente a deprimir. Os que a assistem devem ser de disposição alegre e esperançosa. Deve ela seguir um regime alimentar simples, e beber bastante água pura e branda. Banhe-se freqüentemente em água pura e branda, friccionando depois o corpo, suavemente. Deixe entrar livremente no quarto a luz e o ar. Ela precisa de repouso calmo e imperturbado."

O pai leu vagarosamente a receita, e ficou admirado por ver que continha apenas poucas instruções, e pareceu duvidar de que qualquer benefício houvesse de resultar de meios tão simples. Disse o médico:

"O senhor teve bastante confiança em minha aptidão, para que colocasse em minhas mãos a vida de sua filha. Não retire a sua confiança. Visitarei sua filha todos os dias e o instruirei sobre como dirigir o caso dela. Siga minhas instruções com confiança, e espero dentro de algumas semanas apresentar-lha em estado de saúde muito melhor, se não plenamente restaurada."

O pai ficou triste e duvidoso, mas submeteu-se à decisão do médico. Temia que a filha tivesse que morrer, se não tomasse remédios.

O segundo caso foi-me apresentado de novo. A paciente parecia ter melhorado, sob a influência da nux vomica. Estava assentada, achegando bem a si um xale, e queixando-se de calafrios. O ar no quarto estava impuro. Estava aquecido e perdera sua vitalidade. Quase todas as frestas pelas quais pudesse entrar ar puro estavam fechadas, para proteger a doente da sensação penosa de frio que tinha especialmente na nuca, e na coluna vertebral. Se a porta era deixada aberta, ela ficava nervosa e perturbada, e rogava que fosse fechada, pois sentia frio. Não suportava a menor corrente de ar, da porta ou das janelas. Um cavalheiro inteligente observava


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compadecido, e disse aos presentes:

"Este é o segundo resultado da nux vomica. Faz-se sentir especialmente sobre os nervos, e afeta todo o sistema nervoso. Haverá, por algum tempo ação aumentada, imposta aos nervos. Mas, uma vez gasta a força dessa droga haverá arrepios de frio e prostração. Justamente na proporção que ela estimula e aviva, serão os resultados debilitantes e entorpecentes que se seguirão."

O terceiro caso foi-me apresentado de novo. Foi o do jovem a quem foram ministrados calomelanos. Sofria muito. Tinha os lábios escuros e inchados. As gengivas estavam inflamadas. A língua, grossa e inchada, e a saliva lhe saía pela boca abundantemente. O cavalheiro inteligente já mencionado contemplou com tristeza o sofredor e disse:

"Este é o efeito dos preparados mercuriais. A este jovem restava energia nervosa bastante para começar a luta contra esse intruso, esta droga tóxica, para tentar expeli-lo do organismo. Muitos não possuem suficientes forças vitais para despertar e agir, e a natureza é dominada e cessa seus esforços, e a vítima morre."

Foi-me apresentado novamente o quarto caso, o da pessoa à qual fora receitado ópio. Ela despertara do sono, em grande prostração. A mente estava confusa. Estava impaciente e irritadiça, criticando seus melhores amigos e imaginando que não procuravam aliviar-lhe os sofrimentos. Tornou-se frenética, e delirava como um maníaco. O cavalheiro já mencionado considerou com tristeza a sofredora, e disse aos presentes:

"Este é o segundo efeito do ópio." Chamaram o seu médico. Ele lhe receitou dose aumentada de ópio que lhe acalmou o delírio, mas a tornou muito tagarela e alegre. Ficou em paz com todos os que a cercavam, e expressava muito afeto para com os conhecidos, assim como os parentes. Logo ficou sonolenta e abobada. O mencionado cavalheiro disse solenemente:

"Seu estado de saúde não está melhor agora, do que quando estava em frenético delírio. Ela está positivamente pior. Esta droga tóxica, ópio, proporciona alívio momentâneo da dor, mas não remove sua causa. Apenas embota o cérebro, tornando-o incapaz de receber impressão dos nervos. Quando o cérebro está assim insensível, são afetados o ouvido, o paladar e a vista. Passado o efeito do ópio, e


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despertado o cérebro de seu estado de paralisia, os nervos, que haviam sido cortados da comunicação com o cérebro, gritam mais alto que nunca pelas dores do organismo, por causa do acréscimo de ofensa que o organismo sofreu ao receber esse veneno. Cada acréscimo de droga dado ao paciente, quer seja ópio, quer algum outro tóxico, fará o caso mais complicado, tornando mais sem esperança a restauração do doente. As drogas dadas para entorpecer, sejam quais forem, põem em perigo o sistema nervoso. Um mal, simples a princípio, que a natureza se dispunha a vencer - o que ela teria feito se deixada a si mesma - tornou-se dez vezes pior pelos tóxicos das drogas que foram introduzidas no organismo, o que por si só é uma doença destrutiva, forçando à ação extraordinária as restantes forças vitais, a fim de lutarem contra as drogas intrusas e as vencerem."

Fui outra vez levada ao quarto do primeiro caso, o do pai e sua filha. Esta estava assentada ao lado do pai, contente e feliz, tendo no rosto o brilho da saúde. O pai a contemplava com feliz satisfação, manifestando no semblante a gratidão íntima, por lhe haver sido poupada essa filha única. Entrou o seu médico, e depois de conversar por breves instantes com o pai e a filha, ergueu-se para sair. Dirigiu-se ao pai com as palavras seguintes:

"Apresento-lhe sua filha, com a saúde restaurada. Não lhe ministrei remédios, a fim de que a pudesse deixar com a constituição íntegra. Os medicamentos nunca isso poderiam ter conseguido. Eles põem em perigo a fina maquinaria da natureza e danificam a constituição, e matam, mas jamais curam. A Natureza, unicamente, possui poderes restauradores. Ela, tão-só, pode repor suas esgotadas energias e reparar os danos que recebeu pela falta de atenção a suas leis fixas."

Perguntou ele então ao pai se estava satisfeito com sua maneira de tratar. O feliz pai expressou sua sincera gratidão e satisfação perfeita, dizendo: "Aprendi uma lição de que jamais me esquecerei. Foi penosa, mas de valor inapreciável. Estou agora convencido de que minha esposa e filhos não precisavam ter morrido. Sua vida foi sacrificada nas mãos dos médicos, por suas drogas tóxicas."

Mostrou-se-me então o segundo caso, a paciente à qual fora receitada nux vomica. Estava sendo amparada por duas pessoas, que a levavam da cadeira para a cama. Tinha quase perdido o uso


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dos membros. Os nervos da espinha estavam parcialmente paralisados, e as pernas já não suportavam o peso do corpo. Tossia aflitivamente, e respirava com dificuldade. Foi posta na cama, e logo perdeu a audição, e a visão, e assim ficou algum tempo, e morreu. O cavalheiro já mencionado contemplou entristecido aquele corpo sem vida, e disse aos presentes:

"Testemunhem o mais brando e mais prolongado efeito da nux vomica sobre o organismo humano. Ao ser ingerida, a energia nervosa foi estimulada a uma ação extraordinária, para combater esse veneno da droga. Esse esforço suplementar foi seguido de prostração, e o resultado final foi a paralisia dos nervos. Essa droga não tem sobre todos o mesmo efeito. Alguns, possuidores de constituição robusta, recuperam-se dos abusos aos quais submetem o organismo. Ao passo que outros, cuja força vital não seja tão grande, possuindo constituição débil, jamais se recuperaram por haver introduzido no organismo uma única dose, e muitos morrem de nenhuma outra causa senão os efeitos de uma só porção desse tóxico. Seus efeitos sempre tendem para a morte. O estado em que se encontra o organismo, na ocasião em que esses venenos são nele introduzidos, determina a vida do paciente. A nux vomica pode aleijar, causar paralisia, destruir para sempre a saúde, mas jamais cura."

O terceiro caso foi-me de novo apresentado, o do jovem a quem foram receitados calomelanos. Sofria de causar dó. Tinha as pernas aleijadas e estava muito deformado. Dizia que seus sofrimentos eram indescritíveis, e a vida lhe era grande peso. O cavalheiro que mencionei repetidamente, contemplou com tristeza e compaixão o sofredor, e disse:

"Este é o efeito dos calomelanos. Atormenta o organismo enquanto nele houver uma partícula deles. Eles vivem sempre, sem perder suas propriedades apesar de sua longa permanência no organismo vivo. Inflamam as juntas e muitas vezes levam a cárie aos ossos. Freqüentemente se manifestam tumores, úlceras e cânceres, anos depois de terem sido introduzidos no organismo."

O quarto caso foi-me outra vez apresentado: a paciente a quem fora ministrado o ópio. Tinha o semblante pálido, e os olhos inquietos e vidrados. As mãos tremiam como as de um paralítico, e ela parecia muito agitada, imaginando que todos os presentes


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estavam combinados contra ela. Sua mente era um destroço completo, e ela delirava de fazer dó. Foi chamado o médico, que pareceu impassível ante essas manifestações terríveis. Ministrou à paciente uma dose mais forte de ópio, que, disse ele, a poria boa. Seus delírios só cessaram quando ficou inteiramente intoxicada. Caiu então num estupor mortal. O cavalheiro mencionado, contemplando a paciente, disse com tristeza:

"Seus dias estão contados. Os esforços que a natureza fez, foram tantas vezes dominados por esse tóxico, que as forças vitais ficaram debilitadas por terem sido repetidamente induzidas à ação não natural, a fim de livrar o organismo dessa droga tóxica. Os esforços da natureza estão para cessar, e então chegará a termo a vida sofredora da paciente."

Maior número de mortes têm tido como causa a ingestão de drogas do que outras quaisquer causas combinadas. Se houvesse na Terra um médico em lugar de milhares, grande número de mortes prematuras se teria evitado. Multidões de médicos, e milhares de drogas, têm sido malefício para os habitantes da Terra, e têm levado para a tumba prematura a milhares e milhões.

Condescender com comer demasiado freqüentemente, ou quantidades exageradas, sobrecarrega os órgãos da digestão, produzindo um estado febril do organismo. O sangue torna-se impuro, ocorrendo então doenças de várias espécies. Manda-se chamar o médico, que prescreve algum medicamento que produz alívio para o presente, mas não cura a doença. Pode mudar a forma da doença, mas o mal verdadeiro é aumentado dez vezes. A natureza fez o que pôde para livrar o organismo de um acúmulo de impurezas, e, fosse ela deixada a si mesma, auxiliada pelas bênçãos comuns do Céu, tais como ar e água puros, ter-se-ia efetuado cura rápida e certa.

Os sofredores, nesses casos, podem fazer por si mesmos o que outros não podem por eles fazer tão bem. Devem começar a aliviar a natureza da carga que lhe impuseram. Devem remover a causa. Jejuem por breve tempo, dando ao estômago ocasião para descansar. Reduzam o estado febril do organismo mediante cuidadosa e sensata aplicação de água. Esses esforços ajudarão a natureza em sua luta por livrar de impurezas o organismo. Mas geralmente as pessoas que sofrem dores, ficam impacientes. Não estão dispostas a usar de


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abnegação e sofrer um pouco de fome. Tampouco estão dispostas a esperar o lento processo da natureza, para reconstruir as energias sobrecarregadas do organismo. Estão, porém, resolvidas a obter alívio imediato, e tomam drogas fortíssimas, receitadas pelos médicos. A natureza estava fazendo bem a sua obra, e teria triunfado, mas enquanto realizava sua tarefa, ingeriu-se uma substância estranha, de natureza tóxica. Que erro! A natureza, abusada, tem agora dois males contra os quais lutar, em vez de um só. Ela deixa o trabalho no qual se empenhava, e resoluta se põe à obra de expelir o intrujão há pouco introduzido no organismo. A natureza se ressente com esse duplo saque contra os seus recursos, e torna-se debilitada.

Drogas jamais curam doenças. Elas apenas mudam sua forma e localização. A natureza, unicamente, é o restaurador eficaz, e quanto melhor executaria ela sua obra se fosse deixada a si mesma! Mas este privilégio raramente lhe é concedido. Se a natureza, mutilada, resiste ao peso da carga, e afinal realiza em grande medida sua tarefa dobrada, e o paciente vive, o crédito disso é dado ao médico. Mas se a natureza fracassa em seu esforço por expelir do organismo o veneno, e o doente morre, a isto se chama a maravilhosa dispensação da Providência. Se o paciente tivesse procedido de maneira a aliviar em tempo a natureza sobrecarregada, usando judiciosamente água pura e branda, esta dispensação de mortalidade pelas drogas poder-se-ia ter evitado completamente. O uso da água pouco alcança, se o paciente não reconhecer a necessidade de atender estritamente também ao regime alimentar.

Muitos vivem em violação das leis da saúde, e ignoram a relação que seus hábitos de comer, beber e trabalhar mantêm para com a saúde. Não despertam ao reconhecimento de seu verdadeiro estado, até que a natureza proteste contra os abusos que sofre, por meio de dores e doenças no organismo. Se, mesmo então, os sofredores tão-somente começassem direito o trabalho e recorressem aos meios simples que têm negligenciado - o uso da água e o regime alimentar adequado - a natureza receberia justamente o auxílio que ela requer, e que deveria ter recebido há muito. Se for seguido esse procedimento, em geral o doente se recuperará sem ficar debilitado.

Quando são introduzidas drogas no organismo, por algum tempo pode parecer que tenham efeito benéfico. Pode dar-se uma mudança, mas a doença não foi curada. Ela se manifestará de alguma outra forma. Nos esforços da natureza por expelir do organismo a droga,


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às vezes vem ao paciente sofrimento intenso. E a doença, para curar a qual foi ministrada a droga, pode desaparecer, mas tão-somente para reaparecer sob nova forma, como doenças da pele, úlceras, juntas doloridas, e às vezes formas mais perigosas e mortíferas. O fígado, o coração, o cérebro, são freqüentemente afetados pelas drogas, e muitas vezes todos estes órgãos são tomados de doenças, e as vítimas, se sobreviverem, ficam inválidas pelo resto da vida, arrastando, afadigosamente, uma existência infeliz. Oh! quanto não custa aquela droga tóxica! Se não custa a vida, já custa muito demais. A natureza foi mutilada em todos os seus esforços. Toda a maquinaria está fora de ordem, e num futuro período da vida, quando com essas finas peças que foram danificadas se tiver que contar para desempenharem um papel mais importante em conjunto com todas as finas peças da maquinaria da natureza, elas não podem, pronta e vigorosamente, efetuar seu trabalho, e o organismo todo sente a falta. Esses órgãos, que deveriam estar em bom estado de saúde, estão debilitados, o sangue se torna impuro. A natureza continua lutando, e o paciente sofre de doenças várias, até que sobrevém um súbito alquebramento nos seus esforços, e segue a morte. Maior é o número dos que morrem pelo uso de drogas, do que o de todos os que morreriam da doença, caso se tivesse permitido à natureza realizar a sua obra.

Muitíssimas vidas têm sido sacrificadas por ministrarem os médicos drogas para doenças desconhecidas. Não têm eles verdadeiro conhecimento da doença exata que aflige o paciente. Mas espera-se do médico que de imediato saiba o que fazer, e se não age imediatamente, como se compreendesse perfeitamente a doença, é pelos impacientes amigos e pelo doente considerado incompetente. Assim, para satisfazer opiniões errôneas do doente e de seus amigos, tem de ser ministrado o medicamento, fazerem-se testes e experiências, para curar o paciente, da doença da qual não têm eles real conhecimento. A natureza é sobrecarregada com drogas tóxicas que ela não pode expelir do organismo. Os próprios médicos muitas vezes estão convencidos de haver usado medicamentos fortes para uma doença que não existia, e a morte foi a conseqüência.

Os médicos merecem censura, mas não são eles os únicos em falta. Os próprios doentes, se tivessem paciência, observassem dieta e suportassem um pouco de sofrimento, dando à natureza tempo para se refazer, recuperar-se-iam muito mais cedo sem o uso de qualquer medicamento. A natureza sozinha possui poderes curativos.


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Os medicamentos não têm poder para curar, mas quase sempre estorvam a natureza em seus esforços. Ela, afinal de contas, é que tem de fazer a obra da restauração. Os doentes têm pressa de sarar, e os amigos dos doentes ficam impacientes. Querem medicamentos, e se não sentem no organismo essa poderosa influência que seus errôneos pontos de vista os levam a pensar que deveriam sentir, impacientemente mudam de médico. A mudança muitas vezes aumenta o mal. Submetem-se a outra medicação, tão perigosa como a primeira, e mais fatal, porque os dois tratamentos discordam entre si, e o organismo fica intoxicado de modo que não há mais remédio.

Muitos, porém, nunca experimentaram os benéficos efeitos da água, e têm medo de usar uma das maiores bênçãos do Céu. A água tem sido recusada a pessoas que ardiam em febre, de medo que lhes fizesse mal. Se, em seu estado febril, lhes tivesse sido dada a beber água abundante, fazendo-se também aplicações externamente, ter-se-iam poupado longos dias e noites de sofrimento, e muitas vidas preciosas se teriam salvo. Mas milhares têm morrido, consumidos por febres violentas, que arderam até acabar-se o combustível que as alimentava e se desgastarem os órgãos vitais, sucumbindo na maior agonia, sem lhes permitirem tomar água para aliviar sua sede ardente. A água, que se usa para extinguir os violentos incêndios num edifício inanimado, não é permitida a seres humanos, para extinguir o fogo que lhes consome as entranhas.

Multidões permanecem em inescusável ignorância com respeito às leis de seu ser. Admiram-se de que nosso gênero seja tão débil e tantos morram tão prematuramente. Não haverá uma causa? Médicos que professam conhecer o organismo humano, prescrevem para seus pacientes, e mesmo para seus próprios queridos filhos e esposas, venenos lentos para cortar a doença, ou curar alguma leve indisposição. Certo, não reconhecem eles o mal dessas coisas, pois do contrário não procederiam assim. Os efeitos do veneno podem não ser percebidos imediatamente, mas ele realiza certamente sua obra no organismo, minando a constituição, e mutilando a natureza em seus esforços. Procuram corrigir um mal, mas produzem mal muito maior, muitas vezes incurável. Os que são tratados assim estão constantemente enfermos e sempre se medicando. E todavia, se atentardes para sua conversa, muitas vezes os ouvireis louvando as drogas que estiverem usando e recomendando a outros o seu uso, porque


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delas tiraram benefício. Dir-se-ia que, para os capazes de raciocinar da causa para o efeito, o semblante pálido, o contínuo queixume de doenças, e a geral prostração dos que alegam ter recebido benefício, seriam prova suficiente dos efeitos destruidores da saúde, das drogas. E no entanto muitos se acham tão cegados que não vêem que todas as drogas que tomaram não os curaram, mas os deixaram piores. Os inválidos por causa das drogas encabeçam a lista, e são em geral impertinentes, irritadiços, sempre doentes, arrastando uma existência infeliz, e parecem existir com o fim único de chamar a constante prática a paciência alheia. As drogas tóxicas não os mataram de vez, pois à natureza repugna renunciar ao seu poder sobre a vida. Não está disposta a abandonar a luta. Todavia, esses engolidores de drogas nunca se sentem bem.

A enorme variedade de medicamentos que existe no mercado, os numerosos anúncios de novas drogas e misturas, todas, como dizem, produzindo curas milagrosas, matam centenas enquanto trazem benefícios a um só. Os que se sentem doentes não têm paciência. Tomam os vários medicamentos, alguns dos quais são muito violentos, embora nada saibam da natureza dessas misturas. Todos os remédios que tomam apenas tornam mais desenganada sua restauração. Todavia continuam a medicar-se, e continuam a piorar até morrerem. Alguns tomam remédios a qualquer pretexto. Pois que tomem essas misturas daninhas, e os vários venenos mortais, sob sua própria responsabilidade. Os servos de Deus não devem receitar remédios dos quais sabem que hão de deixar efeitos danosos no organismo, embora aliviem o sofrimento na ocasião. How to Live, nº 3, págs. 49-64.


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Como Viver (4)

Quando uma doença grave penetra numa família, há grande necessidade de cada um dos membros dar estrita atenção ao asseio pessoal, e ao regime alimentar, para se conservarem em estado sadio e, assim fazendo, se fortalecerem contra a doença. É também de suma importância que o quarto do doente, desde o princípio, tenha ventilação adequada. Isto será benéfico para o doente, e grandemente necessário para conservar sãos os que são obrigados a permanecer bastante tempo no quarto.

É de grande valor ao doente que a temperatura no quarto seja sempre a mesma. Isto nem sempre pode ser determinado corretamente, se ficar a juízo dos atendentes, pois podem eles não ser os melhores juízes quanto à temperatura certa. E algumas pessoas requerem mais calor que outras, e só se sentem bem num quarto que, para outro, seria desagradavelmente quente. E se cada um destes tiver liberdade de graduar a temperatura de modo a satisfazer a suas idéias quanto ao calor adequado, a atmosfera do quarto será tudo, menos apropriada. Às vezes será tão quente que incomode o doente; noutra ocasião demasiado fria, o que terá efeito muito prejudicial para o doente. Os amigos ou assistentes do enfermo que, por causa da ansiedade e do vigiar são privados de sono, e súbito são despertados à noite para acudir ao quarto do enfermo, são susceptíveis a resfriados. Esses não servem de termômetros corretos da temperatura sadia de um quarto de doente. Essas coisas podem parecer de pouca importância, mas têm muito que ver com a recuperação do doente. Em muitos casos a vida tem sido posta em perigo por mudanças extremas da temperatura do quarto do doente.

Quando a temperatura é agradável, de modo algum devem os doentes ser privados de completo suprimento de ar puro. Talvez os quartos não tenham sido construídos de modo a permitir que as janelas ou as portas de seu quarto fiquem abertas, sem que a corrente


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venha diretamente sobre eles, expondo-os a resfriar-se. Nestes casos devem ser abertas as janelas e portas de um aposento contíguo, deixando assim o ar puro penetrar no quarto ocupado pelo doente. O ar puro demonstrar-se-á mais benéfico ao doente do que os remédios, e lhes é muito mais necessário do que o alimento. Passarão melhor, e mais depressa se restabelecerão, privados de alimento, do que de ar puro.

Muitos inválidos foram confinados semanas e meses em quartos fechados, excluindo-se a luz, e o puro e revigorante ar do céu, como se o ar fosse inimigo mortal, quando era justamente o remédio que o doente precisava para ficar bom. O organismo todo estava debilitado e enfermo por falta de ar, e a natureza sucumbia à carga de acumuladas impurezas, a não falar dos tóxicos da moda, ministrados pelos médicos, até ser dominada e baquear em seus esforços, e o doente morrer. Poderia ter vivido. O Céu não queria a sua morte. Morreu vítima de sua própria ignorância e da dos amigos, e da ignorância e engano dos médicos, que lhe ministraram venenos da moda e não lhe permitiram beber água pura e respirar ar renovado, para lhe revigorar os órgãos vitais, purificar o sangue e ajudar a natureza em sua tarefa de vencer o mau estado do organismo. Esses valiosos remédios que o Céu proveu, sem dinheiro e sem preço, foram postos de lado, e considerados não só sem valor, mas mesmo como inimigos perigosos, ao passo que os venenos prescritos pelos médicos, foram tomados em cega confiança.

Têm morrido por falta de água pura e puro ar, milhares de pessoas que poderiam ter vivido. E milhares de inválidos vivos, que são um peso morto para si e para os outros, pensam que sua vida dependa de tomar medicamentos receitados pelos médicos. Estão constantemente guardando-se do ar e evitando o uso da água. Estas bênçãos precisam eles para sararem. Se fossem esclarecidos e deixassem intocados os remédios, acostumando-se ao exercício ao ar livre, e ao ar dentro de casa, no verão e no inverno, e usassem água branda para beber e banhar-se, sentir-se-iam relativamente bem e felizes, em vez de curtir uma existência infeliz.

É dever dos assistentes e enfermeiros, no quarto do enfermo, ter cuidado especial de sua própria saúde, especialmente nos casos críticos de febre e de tuberculose. Não deve uma só pessoa permanecer muito confinada ao quarto do doente. É mais seguro poder confiar


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em duas ou três pessoas, que sejam enfermeiros cuidadosos e compreensivos e se revezem no cuidado e confinamento do quarto do doente. Cada um deles deve fazer exercício ao ar livre, quantas vezes possível. Isto é importante para os atendentes junto ao leito do enfermo, especialmente se os amigos do doente pertencem à classe dos que continuam a considerar o ar, admitido ao quarto, como um inimigo, não permitindo que se abram as janelas ou portas. O doente, juntamente com os que o assistem, são assim obrigados a respirar dia a dia a atmosfera tóxica, por causa da inescusável ignorância dos amigos do doente.

Em muitíssimos casos os atendentes ignoram as necessidades do organismo e a relação que tem com a saúde o respirar ar puro, bem como os efeitos de respirar o ar viciado do quarto de doente - ar que destrói a vida. Neste caso a vida do doente corre perigo, e os próprios atendentes ficam sujeitos a apanhar doenças, perdendo a saúde e talvez a vida.

Se a febre entra numa família, muitas vezes acontece que mais de um dos membros a apanha. Isto não precisa ser assim, se são corretos os hábitos da família. Se seu regime alimentar é o que deve ser, e observam hábitos de asseio, e reconhecem a necessidade de ventilação, não é preciso que a febre contagie outro membro da família. A razão de certas febres demorarem em famílias, expondo os atendentes, está em não ser o quarto do doente mantido livre de infecções tóxicas, mediante o asseio e ventilação adequada.

Se os atendentes estão alerta à questão da saúde e reconhecem a necessidade de ventilação para seu próprio benefício, assim como o do paciente, mas os parentes, assim como o doente, se opõem à admissão de ar e luz ao quarto, os atendentes não devem ter escrúpulos de consciência para sair do quarto. Devem sentir-se desobrigados de seus deveres para com o doente. Não é dever de um ou mais, arriscar a possibilidade de apanhar doença, pondo em perigo sua vida pelo respirar um ar tóxico. Se o doente cair vítima de suas próprias idéias errôneas, excluindo do quarto a mais necessária das bênçãos celestes, que assim faça, mas não com risco dos que devem viver.

Uma mãe, por intuição de dever, deixa sua família para trabalhar num quarto de doente, onde não se permitiu que entrasse ar puro, e


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adoece por respirar o ar viciado, que lhe afeta todo o organismo. Depois de um período de muito sofrimento, morre, deixando órfãos seus filhos. O doente, que participou da simpatia e do abnegado cuidado daquela mãe, restabelece-se; mas nem o doente nem os amigos do doente entenderam que uma vida preciosa foi sacrificada por causa da sua ignorância quanto à relação que o ar puro mantém com a saúde. Nem sentiram eles responsabilidade para com o rebanho ferido, deixado sem o terno cuidado materno.

As mães às vezes permitem às filhas cuidarem de doentes em quartos mal ventilados e, em conseqüência, têm de cuidar delas através de um período de doença. E por causa de sua ansiedade e do cuidar de sua filha, a mãe por sua vez adoece, e muitas vezes uma delas, ou ambas, morrem, ou ficam com a constituição arruinada, ou se tornam inválidas pelo resto da vida. Há um lamentável catálogo de males que têm sua origem no quarto de doente, do qual se excluiu o ar puro do céu. Todos os que respiram esse ar tóxico violam as leis de seu ser, e têm de sofrer a pena.

Os doentes, em geral, são molestados com demasiadas visitas, que com eles conversam e os cansam introduzindo diferentes assuntos, quando eles precisam é de descanso, quieto e imperturbado. Muitos adoecem por exigir demais de suas forças. Suas energias esgotadas os compelem a cessar o trabalho, e são depostos no leito de sofrimento. Descanso, ausência de cuidados, luz, ar puro, água pura e dieta frugal, é tudo o que necessitam para sararem. É bondade errada a que leva a tantos, por cortesia, a visitar os doentes. Muitas vezes estes passam uma noite insone e sofrida, depois de receber visitas. Ficaram um tanto agitados, e a reação foi demasiado grande para suas energias já debilitadas e, em resultado dessas visitas da moda, foram levados a um estado muito perigoso, e vidas têm sido sacrificadas por falta de reflexão e prudência.

Às vezes é grato ao doente receber visita, e saber que os amigos não o esqueceram em sua doença. Mas, embora tenham sido satisfatórias, em muitíssimos casos essas visitas da moda têm mudado os pratos da balança quando o doente estava melhorando, descendo ele à morte. Os que não se podem tornar úteis devem ser cuidadosos na questão de visita aos doentes. Se não podem fazer


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algum bem, talvez façam o mal. Mas os doentes não devem ser negligenciados. Devem receber o melhor dos cuidados, bem como a simpatia de amigos e parentes.

Muito mal tem resultado aos doentes, do costume generalizado de ficarem pessoas vigiando, durante a noite. Nos casos críticos isso pode ser necessário; mas muitas vezes se dá o caso de causar essa prática mais dano do que benefício ao doente. Tem sido costume excluir o ar do quarto do doente. A atmosfera desses quartos, para dizer pouco, fica muito viciada, o que muito agrava o estado do doente. Além disso, haver uma ou duas pessoas vigiando, para usar o pouco ar necessário que encontre entrada ao quarto pelas frestas das portas e janelas, significa privá-lo dessa vitalidade, deixando-o mais debilitado do que se tivesse sido deixado só. O mal não termina aqui. Mesmo um só vigia causa algum movimento, o que perturba o doente. Havendo dois a vigiar, muitas vezes conversam juntos, às vezes em voz alta, ou mais freqüentemente em tom de cochicho, o que é muito mais incômodo e irritante aos nervos do doente do que falar alto.

Muitas noites sofridas e insones são suportadas pelos doentes por causa dos acompanhantes. Se fossem deixados a sós, sem a luz acesa, sabendo que todos repousavam, poderiam muito melhor dispor-se a dormir, e de manhã despertariam refrigerados. Cada respiração de ar vital no quarto do doente é de sumo valor, embora muitos doentes ignorem este fato. Sentem-se muito deprimidos, e não sabem de que se trata. Uma lufada de ar puro através de seu quarto teria sobre eles um efeito feliz e revigorador.

Se, porém, temem o ar, e se excluem desta bênção, o pouco que é permitido alcançá-los não deve ser consumido pelos acompanhantes, ou pela luz de lampião. Os que atendem os doentes devem, se possível, deixá-los em calma e repouso através da noite, enquanto ocupam um aposento contíguo.

Todo ruído e agitação desnecessários devem ser evitados no quarto do doente, e a casa toda deve ser conservada o mais quieta possível. Ignorância, esquecimento e descuido têm causado a morte de muitos que poderiam ter vivido, se tivessem recebido cuidado adequado, de atendentes judiciosos e atentos. As portas devem ser


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abertas e fechadas com grande cuidado, e os atendentes devem ter domínio próprio, e ser calmos, serenos.

Deve o quarto do doente, se possível, ter circulação de ar, dia e noite. A corrente não deve incidir diretamente sobre o doente. Enquanto há febre alta, pouco perigo existe de apanhar um resfriado. Mas torna-se necessário o cuidado especial quando sobrevém a crise, e a febre cede. Então pode ser necessária a vigilância constante, para conservar no organismo a vitalidade. O doente precisa de ar puro, revigorante. Se não se puder conseguir outro meio, deve o doente, se possível, ser removido para outro quarto e outra cama, enquanto o quarto, a cama e a roupa da mesma são purificados pela ventilação. Se os que têm saúde precisam das bênçãos da luz e do ar, e precisam observar hábitos de asseio para continuarem bem, os doentes estão em necessidade ainda maior de isso observarem, na proporção de seu estado de debilidade.

Grande quantidade de sofrimento poder-se-ia poupar se todos trabalhassem para evitar a doença, obedecendo estritamente às leis da saúde. Estritos hábitos de asseio devem ser observados. Muitos, enquanto se acham bem, não se dão ao trabalho de manter-se com saúde. Negligenciam o asseio pessoal, e não são cuidadosos em manter limpa sua roupa. Impurezas estão constante e imperceptivelmente saindo do corpo, pelos poros, e se a superfície da pele não for conservada em estado sadio, o organismo se sobrecarrega com substâncias impuras. Se a roupa usada não é lavada freqüentemente, e muitas vezes arejada, torna-se imunda com as impurezas que são expelidas do corpo pela perspiração sensível e insensível. E se a roupa usada não é limpa freqüentemente dessas impurezas, os poros da pele reabsorvem a matéria gasta expelida. As impurezas do corpo, se não se permitir que saiam, são devolvidas ao sangue e impostas aos órgãos internos. A natureza, para aliviar-se das impurezas tóxicas, faz um esforço por livrar o organismo - esforço que produz febres, e que se denomina doença. Mas mesmo então, se os doentes ajudassem a natureza em seus esforços, mediante o uso de água pura, branda, muito sofrimento seria evitado. Muitos, porém, em vez de isso fazer, e procurar remover do organismo a matéria tóxica, nele introduzem um veneno mais mortífero, para remover um tóxico já ali presente.

Se toda família reconhecesse os benéficos resultados de um asseio completo, fariam esforços especiais para remover toda


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impureza, de si e de sua casa, e estenderiam seus esforços aos arredores. Muitos deixam matéria vegetal em decomposição na proximidade de sua casa. Não estão alerta aos efeitos dessas coisas. Dessas substâncias em decomposição sobe constantemente uma emanação que intoxica o ar. Inalando o ar impuro, intoxica-se o sangue, os pulmões ficam afetados, e todo o organismo enferma. Doenças de quase todas as descrições são causadas pela inalação do ar afetado por essas substâncias em decomposição.

Famílias têm sido afligidas com febres, alguns membros têm morrido e os restantes da família quase murmuraram contra seu Criador por causa da triste perda, quando a causa única de toda a sua doença e morte foi resultado de seu próprio descuido. As sujeiras em volta de sua casa acarretaram-lhes doenças contagiosas, e as tristes aflições de que acusam a Deus. Toda família que preze a saúde deve limpar sua casa e arredores de toda substância em decomposição.

Deus ordenou que os filhos de Israel em caso algum tolerassem a impureza em sua pessoa ou sua roupa. Os que tinham qualquer impureza pessoal eram excluídos do acampamento até à tarde, e então tinham que lavar-se e a sua roupa, antes de poderem entrar no acampamento. Também lhes ordenou Deus que não tivessem sujeiras em seus arredores até grande distância do acampamento, para que o Senhor, passando, não visse sua imundícia.

Com respeito ao asseio, Deus não requer menos de Seu povo hoje, do que em relação ao Israel antigo. A negligência da limpeza induz a doença. Doença e morte prematura não vêm sem causa. Febres obstinadas e graves doenças têm prevalecido em comunidades e cidades anteriormente consideradas salubres, e alguns têm morrido, enquanto outros foram deixados com a constituição alquebrada, mutilados por toda a vida, pela doença. Em muitos casos seu próprio quintal contém o agente de destruição, que despediu veneno letal para a atmosfera, para ser inalado pela família e a vizinhança. A lerdeza e negligência testemunhada às vezes é animalesca, e a ignorância dos efeitos dessas coisas sobre a saúde é assombrosa. Esses lugares


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devem ser limpos, especialmente no verão, com auxílio de cal, ou cinza, ou pelo enterramento diário.

Algumas casas são mobiladas ricamente, mais para satisfazer o orgulho e para receber visitas, do que com vistas ao conforto, conveniência e saúde da família. Os melhores aposentos são conservados escuros. Excluem-se a luz e o ar, para que a claridade do céu não estrague a rica mobília, nem desbote os tapetes ou deslustre as molduras dos quadros. Quando se permite às visitas assentar-se nesses aposentos preciosos, correm perigo de resfriar-se, por causa da atmosfera semelhante à de porão, que os satura. Salas de visita e quartos de dormir são conservados fechados da mesma forma, e pelas mesmas razões. E quem quer que ocupe essas camas que não foram livremente expostas à luz e ao ar, fazem-no a expensas da saúde, e muitas vezes da própria vida.

Os aposentos que não são expostos à luz e ao ar tornam-se úmidos. As camas e a roupa atraem umidade, e a atmosfera desses recintos é tóxica, porque não foi purificada pela luz e pelo ar. Doenças várias se têm produzido por dormir nesses apartamentos da moda, daninhos à saúde. Toda família que preze a saúde mais do que o vão aplauso de visitantes da moda, providenciará a circulação do ar, e abundância de luz em cada cômodo de sua casa, por várias horas cada dia. Muitos, porém, seguem a moda tão de perto, que se tornam escravos dela, e preferem sofrer doença e mesmo a morte, a afastar-se da moda. Colherão aquilo que semeiam. Continuam a viver segundo a moda e sofrer doenças em conseqüência, medicando-se com tóxicos da moda e morrendo morte segundo a moda.

Os quartos de dormir, especialmente, devem ser bem arejados, tornando-se-lhe saudável a atmosfera, mediante luz e ar. Os estores devem deixar-se enrolados várias horas por dia, as cortinas corridas e o aposento arejado cabalmente. Não deve ficar, nem por breve espaço de tempo, coisa alguma que destrua a pureza da atmosfera.

Muitas famílias sofrem de dor de garganta, doenças dos pulmões e males do fígado, causados por seu próprio procedimento. Seus quartos de dormir são pequeninos, impróprios para neles se dormir uma só noite, mas ocupam esses quartinhos por semanas, e meses, e anos. Conservam fechadas as janelas e portas, receando apanhar resfriado se houver uma frestazinha que deixe penetrar o ar. Respiram repetidamente o mesmo ar, até tornar-se ele impregnado das impurezas tóxicas e matérias gastas expelidas de seu corpo,


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através dos pulmões e dos poros da pele. Esses podem pôr à prova a questão, e convencer-se do ar insalubre de seus aposentos fechados, se neles penetrarem depois de terem ficado um pouco ao ar livre. Terão então uma idéia das impurezas que transmitiram ao sangue, mediante as inalações dos pulmões. Os que assim abusam da saúde, têm de sofrer doenças. Todos deveriam considerar a luz e o ar como pertencendo às mais preciosas bênçãos do Céu. Não devem excluir essas bênçãos, como se fossem inimigos.

Os dormitórios devem ser amplos e dispostos de modo a circular através deles o ar, dia e noite. Os que têm excluído o ar de seus quartos de dormir, devem começar imediatamente a mudar seu procedimento. Devem deixar entrar o ar aos poucos, e aumentar sua circulação até que o possam suportar, no inverno e no verão, sem perigo de resfriar-se. Os pulmões, para serem sadios, precisam de ar puro.

Os que não tiverem no quarto a livre circulação do ar durante a noite, geralmente despertam sentindo-se exaustos, febris, e não sabem a causa. O que todo o organismo pedia, era ar, o ar vital, mas não pôde obter. Ao levantar-se de manhã, a maioria das pessoas tiraria benefício de tomar um banho de esponja ou, se for mais agradável, um banho manual, com uma simples bacia d"água. Isto removerá impurezas da pele. Então se deve remover a roupa de cama, peça por peça, e expô-la ao ar. As janelas devem ser abertas e os estores enrolados, deixando-se que circule livremente o ar por algumas horas, se não o dia inteiro, através dos dormitórios. Desta forma a cama e sua roupa se tornarão cabalmente arejadas e serão removidas do quarto as impurezas.

É insalubre ter muito perto de casa, árvores e arbustos densos, pois impedem a livre circulação do ar, e não deixam que através deles os raios do Sol brilhem suficientemente. Em conseqüência, a casa se torna úmida. Especialmente nos períodos de chuva os dormitórios se tornam úmidos, e os que dormem nessas camas ficam atacados de reumatismo, nevralgia e dores nos pulmões, que geralmente terminam em tuberculose. Muitas árvores de sombra derrubam muita folhagem que, se não forem removidas imediatamente, apodrecem, intoxicando a atmosfera. Um quintal enfeitado de árvores esparsas e alguns arbustos, a distância apropriada de casa, tem


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efeito alegre e feliz sobre a família e, se forem bem cuidados, não se mostrarão daninhos à saúde. As moradias devem, se possível, ser construídas em terreno alto e seco. Se se constrói uma casa em lugar onde a água se junta em derredor e fica por algum tempo, secando então aos poucos, sobem emanações tóxicas, resultando febre intermitente, dor de garganta, doenças dos pulmões e febres.

Muitos têm esperado que Deus os guardasse da doença simplesmente porque Lhe pediram que o fizesse. Deus, porém, não tomou conhecimento de suas orações, porque sua fé não foi aperfeiçoada pelas obras. Deus não operará um milagre para guardar de doenças os que não cuidam de si mesmos, mas transgridem continuamente as leis da saúde, não fazendo nenhum esforço por evitar a doença. Quando fazemos tudo que de nossa parte podemos, para ter saúde, então podemos esperar que se seguirão os benditos resultados, e podemos com fé pedir a Deus que abençoe nossos esforços para preservação da saúde. Então Ele atenderá a nossas orações, se com isso puder ser glorificado o Seu nome. Compreendem, porém, todos, que têm uma obra a fazer. Deus não operará de modo milagroso para preservar a saúde das pessoas que seguem um procedimento que por certo as tornará doentes, por motivo de sua negligente desatenção às leis da saúde. How to Live, nº 4, págs. 54-64.


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Como Viver (5)

Nesta época de degenerescência, nascem crianças com constituição debilitada. Assombram-se os pais com a grande mortalidade entre as crianças e os jovens, e dizem: "Outrora não era assim." As crianças eram mais sadias e vigorosas, com muito menos cuidado do que recebem hoje. Entretanto, com todo o cuidado que se lhes dá hoje, tornam-se débeis, frágeis e morrem. Em resultado dos maus hábitos dos pais, têm-se transmitido doenças e imbecilidade para a prole.

Depois de nascerem, pioram muito, pela descuidosa falta de atenção às leis de seu ser. A direção apropriada havia de melhorar muito sua saúde física. Mas os pais raro seguem um procedimento certo para com os filhos pequenos, considerando a infeliz herança já deles recebida. Seu procedimento errado para com os filhos acarreta a diminuição de sua perspectiva de vida, preparando-os para a morte prematura. A esses pais não faltou amor aos filhos, mas esse amor foi mal-aplicado. Um dos grandes erros da mãe no trato de seu bebê é privá-lo muito do ar puro - exatamente do que ele precisa para se tornar forte. É costume de muitas mães cobrir a cabeça da criança quando dorme, e isto mesmo num quarto aquecido, poucas vezes ventilado como deveria. Isto, só, é bastante para enfraquecer grandemente a ação do coração e pulmões, afetando assim o organismo todo. Conquanto seja necessário proteger a criança de uma corrente de ar, ou de qualquer mudança repentina e demasiado grande, deve-se ter cuidado especial para que ela respire ar puro e revigorante. Não deve permanecer no quarto da criança ou em torno dela, nenhum odor desagradável. Essas coisas são mais perigosas à frágil criança do que às pessoas adultas.

Mães têm tido o costume de vestir as crianças com vistas à moda, em vez da saúde. O guarda-roupa da criança geralmente é preparado de modo a ser bonito, mais para ostentação do que para


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conveniência e conforto. Muito tempo se gasta com bordados e desnecessários trabalhos de fantasia, para tornar linda a roupa do pequeno hóspede. A mãe muitas vezes faz esse trabalho a expensas da saúde, sua e a da prole. Quando ela devia fruir agradável exercício, muitas vezes se acha inclinada sobre um trabalho que lhe força severamente os olhos e os nervos. E muitas vezes é difícil despertar a mãe ao reconhecimento de sua solene obrigação de cuidar de suas próprias forças, para seu bem, assim como o bem da criança.

A ostentação e a moda são o altar demoníaco sobre o qual muitas mulheres americanas sacrificam seus filhos. A mãe envolve os pequeninos pedaços de humanidade nas roupas da moda, que ela gastou semanas para confeccionar e que são inteiramente impróprias para uso, se é que a saúde deva ser considerada como tendo qualquer importância. As roupas fazem-se extravagantemente compridas, e para mantê-las no lugar, o corpo do pequeno é cingido com faixas apertadas, ou cintos que impedem a livre ação do coração e dos pulmões. As crianças são também obrigadas a carregar um peso desnecessário, por causa do comprimento de suas roupas, e assim vestidas, não podem usar livremente os músculos e os membros.

As mães têm julgado necessário comprimir o corpo de seus bebês, para conservá-los em forma, como temerosas de que, sem faixas apertadas, caíssem em pedaços, ou se tornassem deformados. Porventura a criação animal se deforma por ser a natureza deixada a fazer sua própria obra? Deformam-se os cordeirinhos por não serem cingidos com faixas que lhes mantenham as formas? Têm formas delicadas e lindas. As crianças são as mais perfeitas, e no entanto as mais desajudadas de todas as obras das mãos do Criador, e por isso devem as mães ser instruídas acerca das leis físicas, de modo a estar em condições de criá-las com saúde física, mental e moral. Mães! a Natureza deu a vossas crianças formas que não precisam de cintos ou faixas para os aperfeiçoar. Deus os supriu de ossos e músculos suficientes para sua sustentação, e para resguardar a delicada máquina interna da natureza, antes de os entregar aos vossos cuidados.

A roupa do pequeno deve ser arranjada de modo que seu corpo não seja nada comprimido, depois de tomar uma refeição completa. Vestir as crianças segundo a moda, para serem apresentadas às visitas e ser por estas admiradas, é-lhes muito danoso. A roupa é arranjada engenhosamente, de modo a tornar a criança sem nenhum conforto, e muitas vezes é ela entregue ainda a maior desconforto pelo passar de uma a


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outra pessoa, sendo por todos mimada. Há, porém, um mal maior do que os mencionados. A criança é exposta a um ar viciado, causado pelos muitos hálitos, alguns dos quais são muito ofensivos e prejudiciais até para os pulmões fortes de pessoas adultas. Os pulmões do pequeno sofrem, e tornam-se enfermiços pela inalação do ar de um aposento intoxicado pelo hálito poluído dos fumantes. Muitas crianças ficam intoxicadas de modo a não haver mais remédio, por dormir na cama dos pais fumantes. Inalando as emanações tóxicas do fumo, expelido dos pulmões e dos poros da pele, o organismo da criança enche-se de veneno. Ao passo que ele age em alguns como veneno lento, afetando o cérebro, o coração, o fígado e os pulmões, ficam estes mais fracos e se degradam; sobre outros tem efeito mais direto, causando espasmos, desmaios, paralisia e morte repentina. Os consternados pais choram a perda de seus queridos, e duvidam da misteriosa providência de Deus, que tão cruelmente os afligiu, quando a Providência não pretendia a morte dessas crianças. Morreram mártires da imunda concupiscência do fumo. Os pais, ignorantemente mas não menos certamente matam seus filhinhos pelo nauseante tóxico. Cada exalação dos pulmões do escravo do fumo, intoxica o ar ao seu redor. As crianças devem ser conservadas livres de tudo que tenha o efeito de irritar o sistema nervoso, e devem, quer despertas quer dormindo, dia e noite, respirar uma atmosfera limpa, pura e saudável, livre de qualquer contaminação de veneno.

Outra grande causa da mortalidade infantil e juvenil é o costume de deixar-lhes os braços e ombros desnudos. Essa moda não pode ser censurada com demasiada severidade. Tem custado a vida de milhares. O ar, banhando os braços e pernas e circulando pelas axilas, resfria essas partes sensíveis do corpo, tão próximas dos órgãos vitais, e dificulta a sadia circulação do sangue, induzindo a doença, especialmente dos pulmões e cérebro. Os que consideram a saúde dos filhos de mais valor do que tolas lisonjas das visitas, ou a admiração de estranhos, hão de sempre vestir os ombros e braços de seus delicados bebês. Freqüentemente tem sido chamada a atenção da mãe para os braços e mãos vermelhos da criança, e ela tem sido advertida acerca de sua prática destruidora da saúde e da vida; e a resposta muitas vezes tem sido: "Eu sempre visto meus filhos desta maneira. Eles se acostumam a isso. Não suporto ver cobertos os braços de uma criança. Parece antiquado." Essas mães vestem seus delicados filhos como não se atreveriam a vestir-se.


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Sabem que, se seus próprios braços fossem expostos sem agasalho, tiritariam de frio. Poderão as crianças de tenra idade suportar esse processo de endurecimento sem receber dano? Algumas crianças talvez nasçam com constituição tão robusta que suportem semelhante abuso sem que lhes custe a vida; entretanto, milhares são sacrificadas, e dezenas de milhares têm assim os alicerces lançados para uma vida breve e inválida, graças ao costume de assim enfaixar e sobrecarregar o corpo com muita roupa, enquanto os braços - que estão distantes da sede da vida, e por esta causa precisam mesmo de mais agasalho do que o peito e os pulmões - são deixados desnudos. Poderão as mães que assim tratam seus bebês, esperar que eles sejam calmos e sadios?

Quando as pernas e os braços ficam frios, o sangue é impelido dessas partes para os pulmões e a cabeça. A circulação é embaraçada, e a delicada máquina da natureza não se move harmonicamente. Corre perigo o organismo do bebê, e ele chora e se queixa por causa do abuso que é obrigado a sofrer. A mãe o alimenta, julgando que esteja com fome, quando o alimento tão-somente lhe aumenta o mal-estar. Faixas apertadas e estômago sobrecarregado não concordam entre si. A criança não tem espaço para respirar. Pode ela gritar, lutar e arquejar, e todavia a mãe não desconfia da causa. Poderia aliviar desde logo o sofredor, pelo menos afrouxando as faixas, se entendesse a natureza do caso. Afinal ela se torna alarmada, julgando que o filhinho está de fato doente, e chama o médico, que por uns instantes fita com gravidade o pequeno e então receita um remédio tóxico, ou alguma poção denominada cordial, que a mãe, fiel às instruções, despeja na garganta do maltratado bebê. Se ele não estava doente anteriormente, adoece com esse processo. Sofre agora de doença engendrada pelas drogas - a mais obstinada e incurável de todas as doenças. Se se restabelece, tem de sofrer, mais ou menos, em seu organismo os efeitos daquela droga tóxica, e fica sujeito a espasmos, males do coração, hidropisia do cérebro ou tuberculose. Algumas crianças não são bastante fortes para suportar mesmo um pouquinho dos venenos das drogas, e ao acorrer a natureza para enfrentar o intruso, as forças vitais do delicado bebê sofrem pressão demasiado grande, e a morte põe fim ao caso.

Não é incomum, nesta época do mundo, ver a mãe junto ao berço do seu bebê sofredor e moribundo, coração tomado de angústia, ao ouvir-lhe os débeis gemidos e testemunhar-lhe as ânsias da morte. Parece-lhe um mistério que Deus assim aflija seu filhinho inocente. Não pensa que foi


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seu procedimento errado o que acarretou o triste resultado. Ela lhe destruiu o apoio à vida, como se lhe tivesse ministrado veneno. A doença nunca vem sem causa. Primeiro é preparado o caminho e convidada a doença, pelo desrespeito às leis da saúde. Deus não tem prazer nos sofrimentos e morte das criancinhas. Ele as confia aos pais, para que as eduquem física, mental e moralmente, preparando-as para a utilidade aqui, e para o Céu afinal.

Se a mãe permanece em ignorância quanto às necessidades físicas de seu filho e, em conseqüência, ele adoece, não precisa ela esperar que Deus opere um milagre para frustrar o seu ato de fazê-lo adoecer. Têm morrido milhares de crianças que poderiam viver. São mártires da ignorância dos pais acerca da relação que o alimento, o vestuário e o ar que respiram, mantêm com a saúde e a vida. As mães dos tempos passados deviam ter sido os médicos de seus filhos. O tempo que dedicavam ao exagerado embelezar o guarda-roupa do pequeno, deveriam ter gasto em propósito mais nobre: educar seu próprio espírito com respeito a suas próprias necessidades físicas, bem como das de sua prole. Deveriam ter entesourado na mente conhecimentos úteis, acerca do melhor procedimento que deveriam seguir para criar os filhos com saúde, apercebidas de que as gerações seriam prejudicadas ou beneficiadas por seu procedimento.

As mães que têm crianças indisciplinadas, irritadiças, devem procurar descobrir a causa de seu desassossego. Assim fazendo, muitas vezes verão que existe algo de errado em sua direção. Muitas vezes se dá o caso de que a mãe se torna alarmada pelos sintomas de doença manifestados pelo filho, e chama apressadamente o médico, quando os sofrimentos do pequeno teriam sido aliviados tirando-lhe ela a roupa apertada e substituindo-a por roupa bastante frouxa e curta, para que possa mexer os pés e pernas. As mães devem refletir da causa para o efeito. Se a criança se resfriou, isso é geralmente devido à má orientação da mãe. Se lhe cobre a cabeça, assim como o corpo, ao dormir, dentro em pouco estará suando, por causa da respiração difícil, devido à falta de ar puro, vital. Quando ela a tira de debaixo das cobertas, é quase certo resfriar-se. Os braços desnudos expõem constantemente a criança ao frio e à congestão dos pulmões ou do cérebro. Essas exposições preparam o caminho para o pequeno se tornar doentio e definhado.

Os pais são, em grande parte, responsáveis pela saúde física dos


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filhos. As crianças que sobrevivem aos abusos da infância, não estão fora de perigo em sua juventude. Seus pais seguem ainda um procedimento errado para com eles. Suas pernas, assim como os braços, são deixados quase desnudos. Os que dão à moda mais valor que à saúde, colocam anquinhas nas filhas. As anquinhas não são convenientes, nem modestas nem saudáveis. Impedem a roupa de agasalhar de perto o corpo. As mães agasalham-lhes então a parte superior das pernas com calcinhas de musselina, que chegam até ao joelho, enquanto a parte inferior das pernas só se cobre com uma espessura de flanela ou algodão, e os pés são protegidos com botinas de sola fina. Como a roupa é mantida afastada do corpo pelas anquinhas, é impossível receber a menina suficiente calor de suas vestes, e as pernas constantemente são banhadas de ar frio. As extremidades resfriam-se e o coração tem dobrado trabalho, para forçar o sangue a essas extremidades frias, e quando o sangue perfez o seu circuito através do corpo, e voltou ao coração, já não é a mesma corrente quente e vigorosa que era quando o deixou. Foi resfriado ao passar pelas pernas. O coração, debilitado por excesso de trabalho e má circulação de mau sangue, é então compelido a um esforço ainda maior, para impelir o sangue às extremidades que nunca têm o calor sadio das outras partes do corpo. O coração fracassa em seus esforços, e os membros tornam-se habitualmente frios; e o sangue, que pelo frio se retrai dos membros, é devolvido aos pulmões e ao cérebro, e o resultado é inflamação e congestão dos pulmões ou do cérebro.

Deus tem como responsáveis as mães pelas doenças que os filhos são obrigados a sofrer. As mães prostram-se ao altar da moda e sacrificam a saúde e a vida dos filhos. Muitas mães ignoram o resultado de seu procedimento de assim vestir os filhos. Mas, não deveriam elas informar-se, já que tanto está em jogo? Será a ignorância escusa suficiente para vós que possuis a faculdade do raciocínio? Podeis informar-vos, se quiserdes, e vestir de modo saudável vossos filhos.

Podem os pais renunciar à expectativa de que seus filhos tenham saúde enquanto os envolvem em capotes e peles, sobrecarregando de agasalho as partes do corpo que não requerem tal quantidade, e deixando então quase desnudos os membros, que deveriam ter proteção especial. As partes do corpo próximas da fonte da vida, precisam


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menos agasalho do que as pernas, que ficam distantes dos órgãos vitais. Se as pernas e os pés pudessem ter o agasalho suplementar geralmente usado sobre os ombros, os pulmões e o coração, e fosse induzida a sadia circulação nas extremidades, os órgãos vitais desempenhariam então sua parte de modo sadio, tendo apenas a parte correspondente de agasalho.

Apelo para vós, mães: não vos sentis alarmadas e aflitas, ao ver vossos filhos pálidos e definhados, sofrendo de catarro, gripe, crupe, inflamações escrofulosas na face e na nuca, inflamação e congestão dos pulmões e do cérebro? Refletistes da causa para o efeito? Provestes-lhes um regime alimentar simples mas nutritivo, isento de gordura animal e condimentos? Não seguistes os ditames da moda no vestuário dos filhos? Deixar-lhes os braços e pernas protegidos insuficientemente tem sido causa de vasta quantidade de doenças e mortes prematuras. Não há razão para que os pés e pernas de vossas meninas não sejam, em todos os sentidos, tão bem agasalhados como os dos vossos meninos. Estes, acostumados ao exercício ao ar livre, tornam-se habituados ao frio e à exposição, e são realmente menos susceptíveis a resfriarem-se quando usam pouco agasalho, do que as meninas, porque o ar livre parece ser seu elemento natural. Meninas delicadas acostumam-se a viver dentro de casa, em ambiente aquecido, e entretanto saem de um aposento aquecido para o ar livre, com as pernas e pés raramente mais protegidos contra o frio do que quando estão num aposento fechado e aquecido. O ar logo lhes resfria as pernas e pés, preparando o caminho para a doença.

Vossas meninas devem usar a cintura de seus vestidos perfeitamente frouxa, e devem usar um estilo de vestido conveniente, confortável e modesto. No tempo frio devem usar ceroulas quentes de flanela ou algodão, que podem ser metidas dentro das meias. Sobre elas devem vestir calças forradas, quentes, que podem ser amplas, juntadas e abotoadas em volta do tornozelo, ou mais justas junto aos os pés e chegar aos sapatos. Seu vestido deve ficar abaixo do joelho. Com este estilo de vestido, uma saia leve, ou no máximo duas, é o que basta, e estas devem ser abotoadas na blusa. Os sapatos devem ter sola grossa e ser perfeitamente cômodos. Com este estilo de vestuário vossas meninas não estarão mais sujeitas ao perigo ao ar livre do que vossos rapazes. E teriam muito melhor saúde, se vivessem mais ao ar livre, mesmo no inverno, do que ficarem confinadas ao pouco ar de um aposento aquecido por estufa.

É pecado à vista do Céu, vestirem os pais os seus filhos como o fazem. A única desculpa que podem apresentar é: Isto é moda!


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Não podem alegar modéstia, para assim expor as pernas dos filhos com apenas um agasalho agarrado a elas. Não podem alegar que seja saudável, ou realmente atraente. O continuarem outros a seguir esta prática daninha à saúde e destruidora da vida, não é desculpa para os que se têm na conta de reformadores. O seguirem todos os que vos cercam uma moda danosa à saúde, não fará vosso pecado um jota menor, nem será garantia para a saúde e vida de vossos filhos. How to Live, nº 5, págs. 66-74.


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Como Viver (6)

Minhas irmãs, há entre nós necessidade de uma reforma do vestuário. Há muitos erros na moda atual do vestuário feminino. É nocivo à saúde e, portanto, pecado usarem as mulheres espartilhos apertados, ou barbatanas, ou comprimirem a cintura. Essas coisas têm efeito deprimente sobre o coração, o fígado e os pulmões. A saúde de todo o organismo depende da ação sadia dos órgãos respiratórios. Milhares de mulheres têm arruinado sua constituição, trazendo sobre si doenças várias, em seus esforços por tornar enfermo e artificial um corpo sadio e natural. Estão descontentes com as disposições da Natureza, e em seus intensos esforços por corrigi-la, e submetê-la a suas idéias quanto à beleza, derribam-lhe a obra, deixando-a simples destroço.

Muitas mulheres puxam para baixo as entranhas e os quadris, nestes dependurando pesadas saias. Os quadris não foram feitos para suster pesos. Em primeiro lugar, nunca se deveriam usar saias pesadas, acolchoadas. São desnecessárias, e um grande mal. O vestido feminino deve ser suspenso dos ombros. Seria agradável a Deus se houvesse mais uniformidade no vestuário entre os crentes. O estilo de vestuário usado antigamente pelos Amigos, é menos objetável. Muitos deles se tornaram indiferentes, e embora conservem a uniformidade da cor, têm condescendido com o orgulho e a extravagância, usando o material mais caro para fazer seus vestidos. Todavia sua escolha de cores simples, e o modesto e correto arranjo de seus vestidos, são dignos de imitação pelos cristãos.

Os filhos de Israel, depois de terem sido tirados do Egito, foram ordenados a usar um simples cordão azul nos cantos de suas vestes (Núm. 15:38), para distingui-los, das nações em volta, e significar que eram o povo peculiar de Deus. Não se requer hoje do povo de Deus que tragam nas vestes um sinal distintivo. Mas no Novo


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Testamento muitas vezes nos é indicado o Israel antigo como exemplo. Se Deus deu direções assim definidas ao Seu povo da antiguidade, acerca de seu vestuário, não tomará Ele conhecimento do vestuário de Seu povo na atualidade? Não deveria haver em seu vestuário uma diferenciação do vestuário do mundo? Não deveria o povo de Deus, que é Seu tesouro peculiar, procurar mesmo no vestuário glorificar a Deus? E não deveriam eles ser exemplo na questão do vestuário, e por seu estilo simples reprovar o orgulho, a vaidade e extravagância dos que professam a verdade mas são mundanos e amantes de prazeres? Deus isto requer do Seu povo. O orgulho é reprovado em Sua Palavra.

Existe, porém, uma classe de pessoas que está sempre batendo na tecla do orgulho e do vestuário, que são negligentes quanto ao seu próprio traje, e que julgam virtude andar sujo, e vestir-se sem ordem nem bom gosto; e seu traje muitas vezes parece como se tivesse voado e descido sobre uma pessoa. Suas roupas são imundas, e no entanto esses estão sempre falando contra o orgulho. Classificam a decência e correção como orgulho. Tivessem eles estado entre os que se reuniram em torno da montanha para ouvir a lei pronunciada do Sinai, teriam sido expulsos da congregação de Israel, porque não obedeceram à ordem divina: "Lavem eles as suas vestes", (Êxo. 19:10), em preparo para ouvir a Sua lei, proclamada com terrível solenidade.

Os Dez Mandamentos, pronunciados do Sinai por Jeová, não podem permanecer no coração de pessoas de hábitos desordenados, sujos. Se o Israel antigo não podia nem mesmo ouvir a proclamação daquela lei santa, a menos que tivessem obedecido à ordem de Jeová, lavando suas vestes, como poderá essa lei sagrada ser escrita no coração de pessoas que não são limpas no corpo, no vestuário ou em seu lar? É impossível. Pode sua profissão ser elevada como o Céu, mas não vale uma palha. Sua influência aborrece aos descrentes. Teria sido melhor se tivessem permanecido fora das fileiras do leal povo de Deus. A casa de Deus é desonrada por semelhantes professadores da fé. Todos os que se reúnem aos sábados para adorar a Deus devem, se possível, ter um traje correto, bem assentado, distinto, para usar na casa de culto. É desonra para o sábado, e para Deus e Sua casa, que os que professam ser o sábado o santo dia do Senhor, digno de honra, usem nesse dia a mesma roupa que usaram durante a semana, trabalhando na lavoura, quando podem obter outra. Se há pessoas merecedoras que, de todo o coração querem honrar ao


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Senhor do sábado, e o culto divino, e que não possam obter um muda de roupa, que os que têm posses dêem de presente a esses um terno para o sábado, para que apareçam na casa de Deus com vestuário limpo e assentado. Uma maior uniformidade de vestuário seria agradável a Deus. Os que gastam dinheiro com vestuário dispendioso e enfeites, podem com um pouco de abnegação exemplificar a religião pura, pela simplicidade do vestuário, e então usar os meios que em geral gastavam sem necessidade, em ajudar a algum irmão ou irmã pobres, a quem Deus ama, a obter um traje correto e modesto.

Alguns adquirem a idéia de que, para efetuar a separação do mundo que a Palavra de Deus requer, devem negligenciar o vestuário. Há uma classe de irmãs que pensa que estão pondo em prática o princípio da não-conformidade com o mundo, usando no sábado um gorro comum, e a mesma roupa por elas usada através da semana, assim aparecendo na assembléia dos santos para entregar-se à adoração de Deus. E alguns homens que professam ser cristãos, olham à questão do vestuário sob o mesmo prisma. Reúnem-se com o povo de Deus no sábado, com a roupa poeirenta e encardida, e mesmo com bocejantes rasgões, e posta sobre o corpo de maneira negligente. Essas pessoas, se tivessem um compromisso de encontro com um amigo honrado pelo mundo, e desejassem ser especialmente favorecidas por ele, esforçar-se-iam por aparecer em sua presença com a melhor roupa que pudessem obter; pois esse amigo sentir-se-ia ofendido se comparecessem a sua presença com o cabelo despenteado e as vestes desasseadas e em desordem. Entretanto, essas pessoas acham que não importa com que roupa apareçam, ou qual o aspecto de sua pessoa, quando se reúnem aos sábados para adorar o grande Deus. Reúnem-se em Sua casa, que é como a câmara de audiência do Altíssimo, onde anjos celestiais estão presentes, com pouco respeito ou reverência, como o indicam sua pessoa e seu vestuário. Todo o seu aspecto simboliza o caráter desses homens e mulheres.

O assunto favorito dessa classe de pessoas é o orgulho do vestuário. A decência, o bom gosto e a ordem são por eles considerados orgulho. E de conformidade com o vestuário dessas almas equivocadas são sua conversa, seus atos e seu trato. São descuidosos, e muitas vezes usam conversa rasteira, em seu lar, entre os irmãos e perante o mundo. O vestuário, e seu arranjo na pessoa, são geralmente considerados o índice do homem ou da mulher. Os que são descuidosos e desasseados no traje, raramente


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são elevados na conversação, e possuem sentimentos pouco delicados. Às vezes consideram humildade as extravagâncias e a grosseria.

Os seguidores de Cristo são por Ele representados como o sal da Terra e a luz do mundo. Sem a salvadora influência dos cristãos, o mundo pereceria em sua própria corrupção. Vede a classe de professos cristãos já descritos, descuidosos de seu vestuário e sua pessoa, e frouxos em suas transações comerciais, como o mostram por seu vestuário, descorteses e grosseiros nas maneiras, baixos em sua conversação; e ao mesmo tempo consideram esses infelizes traços como sinais de verdadeira humildade e vida cristã. Pensais vós que, se nosso Salvador estivesse na Terra, Ele apontaria para eles como sendo o sal da Terra e a luz do mundo? Não, nunca! Os cristãos são elevados em sua conversação, e embora creiam ser pecado condescender com tola lisonja, são corteses, bondosos e benevolentes. Suas palavras são sinceras e verdadeiras. São fiéis em seu trato com os irmãos e com os do mundo. No vestuário evitam a superfluidade e ostentação; mas seu vestuário é correto, não vistoso, modesto, e ajustado à pessoa com ordem e bom gosto. Têm cuidado especial em vestir-se de modo a mostrar um sagrado respeito para com o santo sábado, e o culto divino. A linha de demarcação entre essa -classe e o mundo será tão clara que não possa deixar de ser reconhecida. A influência dos crentes seria dez vezes maior, se os homens e mulheres que abraçam a verdade, e que dantes eram descuidosos e frouxos em seus hábitos, fossem tão elevados, e santificados pela verdade, que observassem hábitos de correção, ordem e bom gosto em seu vestuário. Nosso Deus é Deus de ordem, e de modo algum Se agrada com a desordem, com a imundícia ou com o pecado.

Não devem os cristãos dar-se ao trabalho de se tornar objeto de estranheza por se vestirem diferentemente do mundo. Mas se, em harmonia com sua fé e dever em relação ao seu traje modesto e saudável, eles se virem fora de moda, não devem mudar sua maneira de vestir a fim de serem semelhantes ao mundo. Devem, porém, manifestar uma nobre independência e coragem moral para serem corretos, mesmo que todo o mundo deles difira. Se o mundo introduzir uma moda de vestuário modesta, conveniente e saudável, que esteja de acordo com a Bíblia, não mudará nossa relação com Deus ou com o mundo, o adotarmos essa moda de vestuário. Devem os cristãos


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seguir a Cristo, conformando seu traje com a Palavra de Deus. Devem fugir dos extremos. Devem humildemente seguir um procedimento retilíneo, independente de aplauso ou de censura, e devem apegar-se ao que é direito, pelos simples méritos do direito.

Devem as mulheres agasalhar seus membros com vistas à saúde e ao conforto. Precisam ter os membros e os pés tão bem agasalhados como os têm os homens. O comprimento do vestido da mulher da moda é objetável por várias razões:

1. É extravagante e desnecessário ter o vestido tão comprido que varra as calçadas e ruas.

2. Um vestido desse comprimento apanha o orvalho da relva e a lama da rua, o que o torna desasseado.

3. Em seu estado de sujeira ele entra em contato com os sensíveis tornozelos, que não são protegidos suficientemente, esfriando-os logo, sendo isso uma das maiores causas de catarro e de inflamações escrofulosas, pondo em perigo a saúde e a vida.

4. O desnecessário comprimento aumenta o peso sobre os quadris e os órgãos internos.

5. Dificulta o andar, incomodando muitas vezes os outros.

Há ainda outra moda de vestido que é adotado por uma classe de pessoas chamadas reformadoras do vestuário. Imitam o sexo oposto, o mais possível. Usam casquete, calças, colete, casaco e botas, sendo esta a peça mais sensata do traje. Os que adotam e defendem esta moda, estão levando a chamada reforma do vestuário a extremos muito objetáveis. Confusão será o resultado. Alguns dos que adotam este traje podem estar corretos em seus pontos de vista gerais quanto à questão da saúde, e poderiam ser instrumentos na realização de muito maior soma de bem se não levassem a tais extremos a questão do vestuário.

Nessa moda de vestuário foi invertida a ordem de Deus, e desrespeitadas Suas direções especiais. Deut. 22:5: "A mulher não usará roupa de homem, nem o homem veste peculiar à mulher; porque qualquer que faz tais coisas é abominável ao Senhor, teu Deus." Esta moda de vestuário Deus não deseja que Seu povo adote. Não é traje modesto, e absolutamente não se adapta a mulheres modestas e humildes, que professam ser seguidoras de Cristo. As proibições de Deus são consideradas levianamente por todos os que advogam a remoção da diferença de vestuário entre homens e mulheres.


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As posições extremas assumidas por alguns reformadores do vestuário sobre este assunto anulam sua influência.

Designava Deus que houvesse clara distinção entre o vestuário do homem e da mulher, e considerou a questão de bastante importância para dar direções explícitas a esse respeito; pois se ambos os sexos usassem o mesmo vestuário isto causaria confusão, e grande aumento de crime. Paulo pronunciaria uma repreensão, fosse ele vivo hoje, se contemplasse mulheres que professam piedade usando esta moda de vestuário. "Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas.)" A massa dos professos cristãos desrespeita completamente os ensinos dos apóstolos, usando ouro, pérolas e vestuário dispendioso.

O leal povo de Deus é a luz do mundo e o sal da Terra. E devem sempre lembrar-se de que sua influência é de valor. Se trocassem o vestido extremamente comprido, por outro extremamente curto, destruiriam, em grande parte, a sua influência. Ficariam escandalizados os descrentes, a quem é seu dever fazer benefício e procurar levar aos pés do Cordeiro de Deus. Muitos melhoramentos podem ser feitos no vestuário das mulheres, com referência à saúde, sem fazer mudança tão grande que aborreça os circunstantes.

O corpo feminino não deve no mínimo ser comprimido com espartilhos e barbatanas. O vestuário deve ser perfeitamente cômodo, para que os pulmões e o coração tenham ação sadia. O vestido deve chegar até um pouco abaixo do cano da botina; deve, porém, ser bastante curto para não tocar na imundícia da calçada e da rua, sem que precise ser levantado com a mão. Um vestido mesmo mais curto que isso seria apropriado, conveniente e saudável para as mulheres, quando fazem seu trabalho doméstico, e especialmente para as que são obrigadas a fazer algum trabalho ao ar livre. Com esse estilo de vestuário, uma saia leve ou, no máximo, duas - eis tudo que é necessário, e essas devem ser abotoadas a uma blusa, ou suspensas com tiras. Os quadris não foram feitos para suportar grande peso. As saias pesadas, usadas pelas mulheres, com seu peso forçando para baixo os quadris, foram causa de muitas doenças não fáceis de ser curadas, porque as sofredoras parecem ignorar a causa que as produziu, e continuam a violar as leis de seu ser, apertando o espartilho e usando saias pesadas, até que façam de si inválidas por toda a vida.


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Muitos exclamarão imediatamente: "Ora, semelhante moda de vestido seria antiquada!" E que tem isso, se assim for? Eu desejaria que fôssemos antiquados em muitos aspectos. Se pudéssemos ter a antiquada força que caracterizou as antiquadas mulheres das gerações passadas, isso seria muito de desejar! Não falo desavisadamente quando digo que a maneira em que as mulheres se vestem, juntamente com sua condescendência com o apetite, é a maior das causas de seu presente estado débil e doentio. Há apenas uma mulher dentre mil que agasalha seus membros como devia. Seja qual for o comprimento do vestido, devem as mulheres vestir seus membros tão cabalmente como os homens. Isso se pode fazer usando calças forradas, terminadas num cadarço preso aos tornozelos, ou calças amplas, estreitando para os pés; e estas devem ser bastante compridas para ir até aos sapatos. Os membros e pés assim vestidos são protegidos contra a corrente de ar. Se as pernas e os pés são mantidos confortáveis, com agasalho quente, a circulação será uniforme, e o sangue permanecerá sadio e puro, porque não é esfriado nem impedido em sua passagem natural através do organismo. How to Live, nº 6, págs. 57-64.

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