Vivemos nos derradeiros dias da história terrestre, e é possível que não nos surpreendamos com coisa alguma no que respeita a apostasias e negações da verdade. A incredulidade tornou-se agora uma fina arte em que os homens trabalham para destruição das próprias almas. Há constante perigo de haver falsas aparências nos pregadores do púlpito, cuja vida contradiz as palavras que proferem; mas a voz da advertência e da admoestação será ouvida enquanto o tempo durar; e aqueles que estiverem culpados de transações em que nunca devemos entrar, quando reprovados ou aconselhados mediante os instrumentos designados pelo Senhor, resistirão à mensagem e se recusarão a ser corrigidos. Irão avante como fizeram Faraó e Nabucodonosor, até que o Senhor lhes tire a razão, e seu coração se torne insusceptível à impressão. A palavra do Senhor virá a eles; caso, porém, prefiram não lhe dar ouvidos, o Senhor os tornará responsáveis por sua própria ruína.
Em João Batista suscitou o Senhor para Si um mensageiro a fim de preparar o caminho para Ele. Esse mensageiro devia dar ao mundo resoluto testemunho no reprovar e acusar o pecado. Anunciando sua missão e obra, diz Lucas: "E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter
os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto." Luc. 1:17.
Muitos dos fariseus e saduceus foram ao batismo de João, e dirigindo-se a esses, ele disse: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi pois frutos dignos de arrependimento; e não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo. E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas Aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; Ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo. Em Sua mão tem a pá, e limpará a Sua eira, e recolherá no celeiro o Seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará." Mar. 3:7-12.
A voz de João erguia-se qual trombeta. Sua comissão era: "Anuncia a Meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados." Isa. 58:1. Ele não obtivera nenhuma cultura humana. Deus e a Natureza haviam sido seus mestres. Era, porém, necessário para preparar o caminho adiante de Cristo alguém que fosse bastante ousado para fazer sua voz ouvida como os profetas de outrora, chamando a nação degenerada ao arrependimento.
Ouvido por Todas as Classes
E todos iam ao deserto para ouvi-lo. Iletrados pescadores e camponeses vinham dos arredores e das regiões próximas e distantes. Os soldados romanos dos quartéis de Herodes vinham ouvir. Capitães vinham com suas espadas ao lado, para abafar qualquer coisa que tivesse visos de motim ou de rebelião. Os avarentos coletores de impostos vinham das regiões circunvizinhas; e do Sinédrio vinham os sacerdotes com suas filactérias. Ouviam todos, como estupefatos; e saíam todos, mesmo os fariseus e os saduceus, e os frios e impassíveis
zombadores do século, sem mais riso escarninho, pungidos até ao coração pelo senso de seus pecados. Não havia nada de longos argumentos, nem teorias belamente traçadas, elaboradamente expressas em seus "primeiramente", "em segundo lugar" e "em terceiro lugar". Mas era revelada pura e natural eloqüência nas sentenças breves, levando cada palavra em si a certeza e verdade das sérias advertências feitas.
A mensagem de advertência de João era no mesmo sentido daquela dada a Nínive: "Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida." Jon. 3:4. Nínive arrependeu-se, e clamou a Deus, e Ele os aceitou ao reconhecerem-no. Quarenta anos de graça lhes foram concedidos para manifestarem a genuinidade de seu arrependimento e se desviarem do pecado. Nínive, porém, volveu ao culto das imagens; sua iniqüidade tornou-se mais profunda e mais sem esperança que dantes, porque a luz viera e não a haviam atendido.
João chamava cada classe ao arrependimento. Aos fariseus e saduceus, disse ele: Fugi da ira futura. Vossas pretensões a Abraão como pai não têm o mínimo valor. Elas não vos comunicam princípios puros e santidade de caráter. Os sacrifícios cerimoniais não possuem valor algum a menos que lhes discirnais o objetivo, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Desviais-vos das reivindicações de Deus e seguis vossas próprias idéias pervertidas; e perdeis aquelas características que vos constituem filhos de Abraão.
E apontando às pedras em selvática desordem ao redor, Por entre as quais a corrente serpeava em seu curso, disse ele: "Mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão." Mat. 3:9.
João Batista enfrentava com franca reprovação, o pecado em homens de humilde posição e nos que ocupavam postos elevados. Declarava a verdade a reis e nobres, quer o ouvissem, quer o rejeitassem. Falava individual e incisivamente. Reprovava os fariseus do Sinédrio porque sua religião consistia em formas e não em justiça de obediência pura e voluntária. ... Falava a Herodes quanto a seu casamento com Herodias, dizendo: Não te é lícito
possuí-la. Falou-lhe da retribuição futura, quando Deus havia de julgar a cada um segundo as suas obras. ...
"E chegaram também uns publicamos, para serem batizados, e disseram: Mestre, que devemos fazer?" Luc. 3:12. Disse ele: Deixai as vossas taxas e a alfândega? Não, disse-lhes: "Não peçais mais do que o que vos está ordenado." Luc. 3:13. Se eles continuassem a ser cobradores de impostos, poderiam manter pesos justos e justas balanças de verdade nas mãos. Poder-se-iam reformar naqueles pontos em que havia traços de desonestidade e opressão.
"E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo." Luc. 3:14. ...
A Espada da Verdade em Ação
Cristo também falava diretamente a cada classe de homens. Ele reprovou aos que dominavam sobre seus semelhantes, aqueles cujas paixões e preconceitos davam lugar a que muitos errassem e compeliam muitos a blasfemar de Deus. A espada da verdade estava embotada por desculpas e suposições; mas Cristo chamava as coisas por seu justo nome. O machado estava posto à raiz da árvore. Ele mostrou que todas as formalidades do culto não podiam salvar a nação judaica, porque eles não contemplavam nem recebiam pela fé o Cordeiro de Deus como seu Salvador.
Obra e mensagem iguais às de João serão levadas avante nestes últimos dias. O Senhor tem estado a dar mensagens a Seu povo, mediante os instrumentos de Sua escolha, e quer que todos dêem atenção às admoestações e advertências que Ele envia.
A mensagem que precedeu o ministério público do Filho de Deus, foi: Arrependei-vos, publicamos; arrependei-vos, fariseus e saduceus, "porque é chegado o reino dos Céus". Mat. 3:2. Nossa mensagem não deve ser de "paz e segurança". I Tess. 5:3. Como um povo que acredita na próxima vinda de Cristo, temos uma obra a fazer, uma mensagem a apresentar "Prepara-te ... para te encontrares com o teu Deus". Amós 4:12. Devemos erguer o estandarte, e dar a terceira mensagem angélica - os mandamentos de Deus, e a fé de Jesus.
A Mensagem Para Hoje
A mensagem que damos deve ser tão direta quanto a de João. Ele censurou a reis por sua iniqüidade. Repreendeu o adultério de Herodes. Não obstante estar em risco a sua vida, não lhe esmoreceu nos lábios a verdade. E importa que nossa obra para este século seja feita com igual fidelidade. Os habitantes do mundo hoje são representados pelos que viviam na Terra ao tempo do dilúvio. A impiedade dos habitantes do velho mundo é positivamente declarada: "E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a Terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente." Gên. 6:5. Deus Se cansou dessa gente cujos pensamentos eram só de prazer e satisfação própria. Não buscavam o conselho do Deus que os criara, nem se importavam de fazer Sua vontade. A repreensão de Deus estava sobre eles por seguirem continuamente a imaginação de seus corações; e havia violência na Terra. "Então arrependeu-Se o Senhor de haver feito o homem sobre a Terra, e pesou-Lhe em Seu coração." "E viu Deus a Terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a Terra. Então disse Deus a Noé: O fim de toda a carne é vindo perante a Minha face, porque a Terra está cheia de violência; e eis que os desfarei com a Terra." Gên. 6:6, 12 e 13. ...
Há deveres especiais a serem cumpridos, especiais reprovações a serem feitas neste período da história terrestre. O Senhor não deixará Sua igreja sem reprovações e advertências. Os pecados tornaram-se moda; não são, porém, menos ofensivos aos olhos de Deus. Eles são favoravelmente explicados, paliados e desculpados; estende-se a destra da comunhão aos próprios homens que estão introduzindo falsas teorias e sentimentos, confundindo a mente do povo de Deus, amortecendo suas sensibilidades quanto ao que constitui os retos princípios. A consciência se tem assim tornado insensível aos conselhos e reprovações que têm sido dados. A luz comunicada, chamando ao arrependimento, tem-se extinguido nas nuvens da incredulidade e da oposição introduzidas por planos humanos e humanas invenções.
É vida fervorosa que Deus requer. Podem pastores ter pouco saber vindo dos livros; se, porém, fazem o melhor que lhes é possível com seus talentos, se trabalham segundo suas oportunidades, se revestem suas declarações da linguagem mais simples e clara, se são homens humildes que andam cuidadosa e humildemente, buscando sabedoria do Alto, trabalhando de coração para Deus, atuados por um motivo predominante - amor por Cristo e as almas por quem Ele morreu - serão escutados mesmo por homens de capacidade e talentos superiores. Haverá atrativo na simplicidade das verdades que eles apresentam. Cristo é o maior dos mestres que o mundo já conheceu.
João não aprendeu nas escolas dos rabis. Todavia reis e nobres, fariseus e saduceus, soldados romanos e oficiais exercitados em toda a etiqueta da corte, espertos e calculistas coletores de impostos e homens de renome mundial, deram ouvidos às suas palavras. Tinham confiança em suas declarações simples, e foram convencidos de pecado. Perguntavam-lhe: "Que faremos?" Luc. 3:14. ...
É Necessário Fervor
Neste século, justamente antes da segunda vinda de Cristo nas nuvens do céu, o Senhor chama homens que sejam fervorosos e preparem um povo que subsista no grande dia do Senhor. Os homens que passaram longos períodos em estudos dos livros, não estão manifestando em sua vida aquele zeloso ministério essencial para este último tempo. Não dão um testemunho simples, direto. Há necessidade, entre ministros e alunos, do derramamento do Espírito de Deus. Os fervorosos apelos apoiados de oração que partem do coração de um mensageiro que nisso põe toda a alma, cria convicções. Não são necessários homens letrados para isto fazerem; pois eles dependem mais de sua instrução livresca do que de seu conhecimento de Deus e de Jesus Cristo a quem Ele enviou. Todo aquele que conhece o único Deus vivo e verdadeiro conhecerá a Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, e pregará a Jesus Cristo, e Ele crucificado. ...
Supõe acaso alguém que as mensagens de advertência não vêm àqueles a quem Deus reprova? Os que são reprovados
podem erguer-se indignados e procurar fazer com que a lei caia sobre o mensageiro de Deus, mas assim fazendo, não estão fazendo com que ela caia sobre o mensageiro, mas sobre Cristo, que deu a repreensão e a advertência. Quando os homens põem em perigo a obra e a causa de Deus por sua maneira errada de agir, não ouvirão nenhuma voz de reprovação? Caso só o que procede mal fosse atingido, e a obra não alcançasse mais longe, ele somente receberia as palavras de advertência; quando, porém, sua maneira de agir está trazendo positivo dano à causa da verdade, e almas estão sendo postas em risco, Deus requer que a advertência seja tão ampla quanto o dano ocasionado. Os testemunhos não serão entravados. As palavras de repreensão e advertência, o positivo "Assim diz o Senhor", virá dos instrumentos designados por Deus; pois as palavras não se originam nos agentes humanos; elas vêm de Deus, que lhes designou sua obra. Se um processo é instaurado em tribunais terrestres, e Deus permite que venha a juízo, é que Seu nome pode ser glorificado. É, entretanto, proferido um ai sobre o homem que se entrega a essa obra. Deus lê os motivos, sejam eles quais forem. Oro para que o Senhor ensine nossos irmãos a serem corretos, e a não transigirem na questão. A causa de Deus tem sido contundida e ferida por quaisquer homens dessa espécie que a ela se achem ligados, e quanto mais depressa eles forem dela separados, melhor. ...
Deus pede homens de decidida fidelidade. Não há utilidade, para Ele, em uma emergência, para homens de duplicidade. Quer homens que ponham as mãos numa ação errada e digam: "Isto não está segundo a vontade de Deus." Carta 19 1/2, 1897.