Mensagens Escolhidas - Volume 3

CAPÍTULO 54

O Caso Mackin

ME3 - Pag. 363  

Na quinta-feira de manhã, 12 de novembro de 1908, Ellen White se encontrava no seu lar em Elmshaven, ocupando-se em escrever no aposento reservado para isso. Seu filho, G. C. White, foi até lá e lhe disse que havia duas pessoas na sala de estar, embaixo, que desejavam falar com ela. Acompanhando-o, ela desceu as escadas para encontrar-se com Ralph Mackin e esposa. Deparou com um casal bem vestido e aparentemente muito sincero, em seus trinta e cinco anos de idade. A Sra. White logo ficou sabendo que os seus visitantes eram diligentes estudantes da Bíblia e dos Testemunhos, e tinham vindo de Ohio para a Califórnia com o especial propósito de saber se a sua extraordinária experiência de alguns meses atrás contava com a aprovação do Senhor.

A conversa com os Mackins foi registrada estenograficamente, durante a entrevista, por Clarence C. Crisler, o principal secretário de Ellen G. White.

Relatório da Entrevista

O irmão e a irmã Mackin declararam que se sentiram impressionados pelo Espírito Santo a fazer uma viagem especial ao Oeste para entrevistar a irmã White a respeito de algumas experiências incomuns pelas quais haviam passado. Durante a Semana de Oração, quase três anos antes, eles se uniram com


ME3 - Pag. 364  

sua pequena igreja em Findlay, Ohio, num período especial para buscar a Deus e pedir o derramamento do Espírito Santo.

Ralph Mackin: Nas leituras da Semana de Oração para aquele ano, todo artigo recomendava que as pessoas buscassem o Espírito Santo. Em nossa pequena igreja, reservamos três dias para jejum e oração, e jejuamos e oramos por três dias - isto é, não constantemente juntos, mas sentimos a necessidade de uma obra mais profunda e de possuir mais do Espírito de Deus. Desse tempo em diante começamos a estudar a obra do Espírito Santo, pela Bíblia e pelos Testemunhos, especialmente pelo volume 8 e pelo volume 7, e Primeiros Escritos e também o livrete composto de uma coleção de folhetos intitulado Special Testimonies to Ministers and Workers ("Testemunhos Especiais Para Ministros e Obreiros"). Achamos que este era um preciosíssimo volume para nós. Ele mostra como em tempos passados foram tratados os homens chamados por Deus, etc.

A mensagem que o Senhor me deu particularmente era seguir a vida dos apóstolos. ...

Foram então lidas diversas passagens bíblicas, incluindo Lucas 24 até o fim do capítulo, terminando com estas palavras: "E, adorando-O eles, tornaram com grande júbilo. E estavam sempre no templo, louvando e bendizendo a Deus. Amém."

Pois bem, eu ensino que esta bênção é a bênção da santificação que eles receberam, que Ele lhes conferiu; e quando buscamos a Deus - se somos pecadores, até nos convertermos; se somos convertidos, fazemos a oração pelo poder da santificação para levar uma vida pura e íntegra. Não que isto seja a obra de um momento; não "uma vez santificado, santificado para sempre"; isto não é verdade. Mas devemos fazer nossa petição de modo tão firme e fervoroso que recebamos a bênção. Ela tem o mesmo efeito fisiológico sobre nós - oh! apenas queremos louvar a Jesus, e isto nos torna tão amorosos, gentis e bondosos! Notamos, porém, que os discípulos ainda não estavam preparados para sair com essa bênção a fim de trabalhar para o Mestre. Ele recomendou que esperassem até que do alto fossem revestidos de poder.


ME3 - Pag. 365  

Então fazemos nossa petição e persistimos pela fé, e o que nos estimulou a fazer isto foi o capítulo intitulado "A Sacudidura", em Primeiros Escritos - perseveramos pela fé, até que grandes gotas de suor se acumulavam em nossa fronte. Crendo que o mesmo poder que os discípulos tinham era para nós hoje em dia, fomos estimulados a prosseguir.

Repetição da Experiência Relatada em Atos 2

Quando essa bênção prometida veio sobre nós, enquanto fazíamos nossas petições a Deus, tivemos a mesma experiência relatada aqui em Atos 2, no tocante aos apóstolos. Quando esse poder prometido veio sobre nós, falamos em outras línguas, conforme o Espírito nos concedia que falássemos.

Em Toledo, quando estávamos transmitindo nossa mensagem na rua, um homem que era católico polonês se encontrava na rua quando a Sra. Mackin estava falando; e quando o Espírito de Deus veio sobre ela, e lhes falou por seu intermédio em outra língua que ela não podia compreender, esse cavalheiro polonês exclamou: "Sei o que aquela senhora está falando. Ela está falando em minha própria língua de uma calamidade que logo cairá sobre esta cidade."

Pretensa Língua Estranha

Noutras ocasiões, quando alguém participa dessa bênção de falar em línguas, o Senhor pode dar-me a mesma língua, e mantemos uma conversação no idioma em que o Espírito de Deus possibilita que falemos. Até três ou quatro podem tomar parte na conversação, mas é uma língua estranha para eles, e um espera pelo outro até que este tenha terminado; e tudo é feito com ordem. Esta é a experiência que recebemos, de acordo com a bênção prometida. ...

Se labutamos em erro, nós o fazemos sinceramente. Mas, se isto provém do Espírito de Deus, desejamos segui-lo. ...

Este Espírito recomenda que examinemos a Palavra, e que sejamos fervorosos; e recomenda que sejamos cuidadosos com a nossa alimentação; nos recomenda exatamente o que a senhora tem dito.

Afirmavam Ter o Dom de Profecia

A respeito de minha esposa: O Espírito opera por meio dela, e cremos que isto é o dom de profecia que deve ser derramado sobre toda a carne. Este


ME3 - Pag. 366  

Espírito nos conduz a bondade e pureza de vida, e não podemos compreendê-lo - senão que, segundo diz a Palavra de Deus, estas experiências constituem o resultado de receber a bênção do Espírito de Deus. ...

A Experiência da Reunião Campal

Antes de irmos ao local do acampamento - nós só fomos na sexta-feira - minha esposa e duas outras senhoras (minha mãe e uma outra senhora, a irmã Edwards, cunhada do presidente da Associação) - antes de irmos para o local do acampamento este último ano, as três buscaram o Senhor. Eu fui ao centro da cidade, a serviço; e o Espírito de Deus disse à Sra. Mackin que ela fosse ao local do acampamento, e cantasse ali; e lá Ele lhe diria o que devia cantar.

E ela chorou como uma criança, e parecia mesmo que não conseguiria suportá-lo, porque o Senhor lhe mostrou a condição de nosso povo - logo cairiam as pragas, e eles não estavam preparados. Não havia nenhuma reunião em andamento, e o Espírito do Senhor desceu sobre ela quando chegou ao local do acampamento, e (voltando-se para a Sra. Mackin) você pode dizer-lhe quais as palavras que cantou.

Sra. Mackin: O Senhor colocou este encargo sobre mim. Eu não pude resistir-lhe. Eu queria tanto contá-lo, e cantar tanto aquele cântico! E não pude livrar-me disso até que eu o fiz. "Oh! ore", disse eu para a irmã Edwards; e assim eu me levantei no local do acampamento e cantei exatamente o que o Senhor me deu. O Senhor - isto é o que eu cantei:

"Ele vem vindo; Ele vem vindo; Preparai-vos; preparai-vos."

E então aquela declaração em Primeiros Escritos:

"Quantos vi chegarem ao cair das pragas sem um abrigo! Recebei o Espírito Santo." São estas as palavras que eu cantei. Eu as cantei reiteradas vezes. Eles as ouviram em todas as partes do local do acampamento, e se reuniram; antes disso, porém, o Senhor mostrou-me como eles torceriam as mãos quando as pragas estivessem caindo. O Senhor pode mostrar alguma coisa num momento apenas, melhor do que se o contasse para nós. E assim Ele me mostrou como eles torceriam as mãos, e isso colocou sobre mim um fardo maior do que


ME3 - Pag. 367  

qualquer outro. Bom, foi então que eles nos prenderam. ...

É quando o canto é improvisado - ditado pelo Espírito - que ele é mais admirável.

Se a senhora tem alguma luz para nós. ...

Ellen G. White: Não sei se tenho alguma coisa especial que eu possa dizer. Haverá coisas que acontecerão bem no fim da história terrestre, segundo me foi apresentado, semelhantes a algumas coisas que vocês apresentaram; mas não posso dizer algo sobre esses pontos agora.

R. Mackin: Há alguma pergunta, irmão White, ou alguma outra coisa agora?

G. C. White: Não sei se há outra coisa senão orar para que o Senhor dê a Mamãe alguma informação, e então reservar tempo para que as coisas se desenvolvam. É melhor, ao apresentar alguma coisa para ela, expor o assunto de maneira sucinta e com clareza, e então ter, talvez, outra entrevista com ela mais tarde.

R. Mackin: Estamos jejuando e orando. Se nos encontramos numa ilusão, desejamos sabê-lo, bem como se estamos certos.

Sra. Mackin: Nossos irmãos certamente pensam que estamos numa ilusão.

Ellen G. White: Que lugar foi esse em que ocorreu o canto de que vocês falaram?

R. Mackin: Mansfield, Ohio, na reunião campal.

Ellen G. White: Nosso povo - pessoas que observam o sábado?

R. Mackin: Sim, nosso próprio povo.

G. C. White: Aquele verso que a Sra. Mackin cantou ontem à noite era improvisado, ou um hino conhecido? [Na reunião de oração, na capela do sanatório, o irmão Mackin dera o seu testemunho nos momentos de louvor, sendo seguido pela Sra. Mackin, a qual cantou.]

Sra. R. Mackin: Oh! aquele era um de nossos hinos publicados. Encontra-se no novo hinário Christ in Song.

R. Mackin: Ao ouvir aquilo quase não se pode ter uma idéia de como é o seu canto quando as palavras lhe são dadas pelo


ME3 - Pag. 368  

Espírito Santo. É a coisa mais maravilhosa quando ela canta: "Glória!" Ela diz que, ao cantá-lo, parece estar na presença de Jesus, com os anjos. Repete diversas vezes a palavra "Glória!" Ela foi testada com o piano, e os músicos dizem que é uma anomalia - os graves e os agudos que ela alcança. Só pode fazê-lo quando ora no Espírito e é dotada de poder especial.

Sra. Mackin: Nós não temos este poder; só quando buscamos a Jesus.

Expulsando Demônios

R. Mackin: O Senhor nos deu poder, irmã White, para expulsar demônios. Muitas pessoas estão possessas de demônios. Lembro-me de uma declaração que a senhora escreveu alguns anos atrás, dizendo que muitos estavam tão verdadeiramente possessos de demônios como nos dias de Cristo. Quando estamos numa reunião, e esses demônios se acham ali, eles podem levar as pessoas a fazer coisas estranhas. Eu notei na Bíblia que quando Jesus estava no Templo os demônios saíam imediatamente. "Cale-se, e saia dele!" O Senhor nos manda deitar as pessoas, para que os demônios não as lancem no chão quando eles saem. Verificamos no princípio que quando começamos a repreender esses demônios, eles muitas vezes fecham os olhos dessas pessoas, e às vezes as induzem a latir como um cão, e lhes mostram a língua; mas, quando continuamos a repreendê-los, os olhos se abrem e elas se acalmam, e os demônios...

Pois bem, é pelo dom do Espírito que o Senhor nos diz quando os demônios saíram, e que todos eles se retiraram. Uma senhora, em especial, tinha seis demônios, e ela disse que percebeu exatamente quando eles saíram - isso parecia repuxá-la em todas as partes do corpo.

Nossos irmãos afirmam, porém, que não podem estar nos últimos dias; mas notamos que isso coincide exatamente com o que o Senhor disse no último capítulo de Marcos, na grande comissão: "E estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em Meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas" (Mar. 16:17); e assim por diante.

Sra. Mackin: Nós também não recebemos tudo isto imediatamente.


ME3 - Pag. 369  

R. Mackin: Leia os versos restantes de Marcos: "Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em Meu nome expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados. De fato o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no Céu, e assentou-se à destra de Deus. E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiram. [Amém.]" Mar. 16:17-20. Nossa experiência, pelo que somos capazes de discernir, está de acordo com a Bíblia. Eis aqui alguma coisa que eu gostaria de ler [neste ponto o irmão Mackin leu trechos, incluindo o que segue, de um artigo da irmã White na Review and Herald, publicado no número de 11 de abril de 1899 e intitulado: "A Reunião Campal de Newcastle"]:

"Durante a noite do primeiro sábado da reunião de Newcastle, eu parecia estar numa reunião, apresentando a necessidade e a importância de recebermos o Espírito. Esta era a idéia central de meu trabalho - a abertura de nosso coração ao Espírito Santo."

[O estenógrafo não mencionou o lugar exato em que o irmão Mackin começou a ler o artigo, e onde ele parou; mas foi lida pelo menos uma parte considerável.]

Qual é a Evidência?

R. Mackin: Há uma pergunta em conexão com o recebimento do poder do alto que me parece ser tão apropriada presentemente como nos dias dos apóstolos. Qual é a evidência? Se nós O recebermos, Ele não terá o mesmo efeito fisiológico sobre nós que teve naquele tempo? Pode-se esperar que falemos como o Espírito nos concede que falemos.

Ellen G. White: No futuro teremos provas especiais da influência do Espírito de Deus - especialmente nas ocasiões em que nossos inimigos forem mais fortes contra nós. Chegará o tempo em que veremos algumas coisas estranhas; mas, exatamente de que maneira - se de modo análogo a algumas das experiências dos discípulos depois que eles receberam o Espírito


ME3 - Pag. 370  

Santo após a ascensão de Cristo - não posso afirmar.

R. Mackin: Oraremos continuamente ao Senhor sobre isso, pedindo que Ele lhe dê luz a esse respeito. Assim, deixo-lhe o nosso endereço, e se a senhora tiver alguma coisa para nós depois disto, teremos prazer em recebê-lo.

G. C. White: Passareis provavelmente alguns dias aqui, não é mesmo?

R. Mackin: Se o Espírito Santo nos disser que nossa obra está terminada agora, iremos embora; se disser que esperemos, nós esperaremos. Ele nos guia. Quando apresentei esta mensagem a diversas congregações, o Espírito de Deus testemunhou em seu favor; muitos choraram e disseram: "Oh! necessitamos de poder, necessitamos de ajuda, e este é o poder prometido; busquemos a Deus."

Sra. Mackin: A verdadeira prova é o amor - I Coríntios 13.

R. Mackin: Satanás quer impedir esta obra. Somos selados pelo Espírito Santo da promessa. Eu o apresento segundo está em Primeiros Escritos. Quando os anjos estão prestes a soltar os quatro ventos, Jesus olha com piedade para o remanescente, e, com as mãos erguidas, exclama: "Meu sangue, Pai, Meu sangue, Meu sangue, Meu sangue!" Ele o repete quatro vezes; pois o Seu povo ainda não está selado. Encarrega um anjo de voar rapidamente até os quatro anjos que seguram os quatro ventos, com a mensagem: "Segurai! Segurai! Segurai! Segurai! até que os servos de Deus sejam selados em suas frontes." E, quando apresento estas coisas à congregação, são principalmente os mais fervorosos e devotos que parecem ser influenciados por elas.

Ellen White Relata Experiências Antigas

A irmã White começou então a falar, e continuou durante cerca de meia hora. Ela contou um incidente após o outro relacionado com os seus primeiros trabalhos pouco depois da passagem do tempo em 1844. Suas experiências com formas incomuns de erro naqueles dias e em anos posteriores fizeram com que tivesse receio de qualquer coisa que se assemelhasse a um espírito de fanatismo.

À medida que foi prosseguindo, a irmã White falou de alguns que tinham estranhos movimentos do corpo e de outros que eram governados, em grande parte, por suas próprias impressões. Alguns pensavam que era errado trabalhar. Outros criam que os


ME3 - Pag. 371  

justos mortos haviam sido ressuscitados para a vida eterna. Alguns procuravam cultivar um espírito de humildade rastejando no chão como criancinhas. Outros dançavam e cantavam: "Glória, glória, glória, glória, glória, glória", repetidas vezes. De vez em quando uma pessoa pulava para cima e para baixo sobre o soalho, com as mãos erguidas, louvando a Deus; e isso durava cerca de meia hora de uma vez.

Entre os que tomavam parte nessas extraordinárias formas de fanatismo havia alguns que outrora tinham sido fiéis - irmãos e irmãs tementes a Deus. Os estranhos movimentos do corpo e espírito eram levados a tais extremos que nalguns lugares os juízes se viram obrigados a restringi-los, lançando-os na prisão. A Causa de Deus incorreu assim em descrédito, e levou anos para superar a influência que essas exibições de fanatismo tiveram sobre o público em geral.

A irmã White contou também como teve reiteradas vezes de enfrentar esse fanatismo de maneira direta e repreendê-lo severamente no nome do Senhor. Salientou o fato de que temos uma grande obra para fazer no mundo, e que nossa força sobre o povo está no poder que acompanha a clara apresentação da Palavra do Deus vivo. A lei de Jeová deve ser exaltada e tornar-se honrosa; e os diversos aspectos da mensagem do terceiro anjo devem ser delineados com clareza diante das pessoas, para que todos tenham oportunidade de ouvir a verdade para este tempo e decidir antes obedecer a Deus do que aos homens.

Se nós como uma Igreja déssemos lugar a qualquer forma de fanatismo, a mente dos descrentes seria desviada da Palavra viva para as realizações de homens mortais, e apareceria mais do humano do que do divino. Além disso, muitos seriam repelidos por aquilo que para o seu entendimento parece ser antinatural e toca as raias do que é fanático. Assim a proclamação da mensagem para este tempo seria consideravelmente prejudicada. O Espírito Santo age de um modo que apela para o bom senso das pessoas.


ME3 - Pag. 372  

Uma Proposta Interessante

No meio do relato da irmã White de suas primeiras experiências com o fanatismo, o irmão Mackin fez a seguinte proposta:

R. Mackin: Se tivéssemos agora o espírito de oração, e esse poder viesse sobre minha esposa, a senhora seria capaz de discernir se isso é do Senhor, ou não?

Ellen G. White: Eu não poderia dizer coisa alguma sobre isso. Mas estou-lhes contando estas experiências para que saibam o que passamos. Procuramos de toda maneira possível livrar a Igreja desse mal. Declaramos no nome do Senhor Deus de Israel que Deus não age por meio de Seus filhos de um modo que traga desonra para a verdade e que ocasione desnecessariamente profundo preconceito e cruel oposição. Em nosso trabalho devemos adotar uma atitude direta e procurar alcançar as pessoas onde elas se encontram.

Repreendendo o Fanatismo

R. Mackin: Recordo ter lido muita coisa a esse respeito no volume 1 de Testimonies for the Church ("Testemunhos Para a Igreja") - sua experiência em repreender o fanatismo, e da causa no Leste quando eles marcaram o tempo, creio que em 1855.

Ellen G. White: Alguns dançavam para cima e para baixo, cantando: "Glória, glória, glória, glória, glória." Por vezes eu ficava sentada quieta, até que eles terminassem, e então eu me levantava e dizia: Esta não é a maneira por que o Senhor opera. Ele não causa impressões assim. Precisamos dirigir a mente do povo à Palavra como o fundamento de nossa fé.

Eu era apenas uma criança naquele tempo; e todavia tinha de dar repetidamente meu testemunho contra essa estranha operação. E sempre, desde então, tenho procurado ser muito, muito cuidadosa para que alguma coisa dessa espécie não entrasse outra vez entre o nosso povo. Toda manifestação de fanatismo desvia a mente da evidência da verdade - a própria Palavra.

Vocês talvez tomassem uma atitude coerente, mas aqueles a quem influenciassem poderiam tomar uma atitude muito incoerente, e em resultado, teríamos dentro em breve as mãos


ME3 - Pag. 373  

cheias de alguma coisa que tornaria quase impossível dar aos incrédulos a justa impressão de nossa mensagem e de nossa obra. Precisamos ir ao povo com a sólida Palavra de Deus; e quando eles receberem essa Palavra, o Espírito Santo poderá vir, mas Ele vem sempre, como declarei antes, por uma maneira que se recomenda ao discernimento das pessoas. Em nosso falar, nosso canto, e em todos os nossos cultos espirituais, devemos revelar a calma, a dignidade e o piedoso temor que atua em todo verdadeiro filho de Deus.

Perigos que Agora Ameaçam

Há constante perigo de permitir entrar em nosso meio alguma coisa que consideremos como operação do Espírito Santo, mas que na realidade é fruto de um espírito de fanatismo. Enquanto permitirmos que o inimigo da verdade nos conduza a um caminho errôneo, não podemos esperar chegar aos sinceros de coração com a terceira mensagem angélica. Devemos ser santificados mediante a obediência à verdade.

Temo que qualquer coisa que tenha a tendência de desviar a mente das sólidas provas da verdade tal como se revela na Palavra de Deus. Temo isto; temo isto. Precisamos pôr nossa mente dentro dos limites da razão, não seja que o inimigo penetre de maneira a pôr tudo em desordem. Há pessoas de temperamento agitado, facilmente induzidas ao fanatismo; e permitíssemos nós que penetrasse em nossas igrejas qualquer coisa que levasse tais pessoas ao erro, veríamos pronto esses erros levados a extremos; e então, devido à atitude desses elementos desordenados, viria um estigma a todo o corpo dos Adventistas do Sétimo Dia.

Tenho estado estudando a maneira de fazer publicar novamente algumas dessas experiências antigas, para que mais pessoas dentre nosso povo sejam informadas; pois de há muito tenho conhecimento de que o fanatismo se manifestará outra vez, em diferentes maneiras. Devemos fortalecer nossa posição demorando a mente na Palavra, e evitando todas as esquisitices e cultos religiosos estranhos que alguns seriam muito prontos em pregar e praticar. Caso permitíssemos que a confusão penetrasse em nossas fileiras,


ME3 - Pag. 374  

não poderíamos libertar disso nossa obra como devíamos fazer. Estamos procurando libertá-la agora, de toda maneira possível.

Pensei que devia relatar-lhes estas coisas.

R. Mackin: Bom, agora, aquilo que a senhora declarou não corresponde com a nossa experiência. Temos sido muito cautelosos nesta questão e achamos que a experiência pela qual passamos e que procuramos delinear-lhe sucintamente esta manhã condiz exatamente com a experiência dos servos de Deus na antiguidade, segundo é apresentada na Palavra.

Ellen G. White: Durante os anos do ministério de Cristo na Terra, piedosas mulheres auxiliavam na obra que o Salvador e Seus discípulos estavam levando avante. Se os que se estavam opondo a essa obra houvessem encontrado qualquer coisa fora de lugar na conduta dessas mulheres, isso teria encerrado a obra imediatamente. Mas ao passo que mulheres labutassem com Cristo e os apóstolos, todo o trabalho era dirigido num plano tão elevado que se achava acima da sombra de qualquer suspeita. Não podia ser encontrado nenhum motivo de acusação. A mente de todos era encaminhada para as Escrituras, não aos indivíduos. A verdade era proclamada inteligentemente, e com tanta clareza que todos podiam compreender.

Agora temo que alguma coisa de natureza fanática seja introduzida entre nosso povo. Há muitos, muitos que precisam ser santificados; mas devem sê-lo mediante a obediência à mensagem da verdade. Estou escrevendo sobre este assunto hoje. Nesta mensagem há uma bela coerência que apela ao raciocínio. Não podemos permitir que elementos excitáveis entre nós se exibam de um modo que destrua nossa influência sobre aqueles que desejamos atingir com a verdade. Levou anos para superarmos a impressão desfavorável que os incrédulos tiveram dos adventistas por haverem chegado ao seu conhecimento as manifestações estranhas e ímpias de fanáticos entre nós durante os primeiros tempos de nossa existência como um povo separado.

Sejam Cautelosos

R. Mackin: Bom, agora, isso que a senhora nos está dando, deve ser considerado como testemunho


ME3 - Pag. 375  

sob o Espírito, ou é simplesmente um conselho - em relação com a sua experiência?

Ellen G. White: Eu estou-lhes apresentando história.

R. Mackin: Mas não dirá que isso se aplica ao nosso caso agora, até que tenha mais luz a esse respeito?

Ellen G. White: Não posso dizer; mas parece ser dessa índole, segundo receio. Parece ser da índole daquilo que enfrentei reiteradas vezes.

G. C. White: São doze horas agora. Gostariam de descansar antes do almoço?

Ellen G. White: Bom, eu não podia deixar que fossem embora antes que eu dissesse o que disse. Afirmo: Sejam cautelosos. Não permitam que apareça qualquer coisa que tenha laivos de fanatismo e que outros iriam praticar. Há alguns que são ansiosos por exibir-se, e eles praticarão tudo que vocês fizerem - quer seja do mesmo teor, ou não. Tenho tido muito cuidado para não suscitar alguma coisa de índole estranha entre o nosso povo.

R. Mackin: Mas é verdade que quando vier o Espírito Santo, segundo é declarado em suas obras, muitos se volverão contra isso, declarando que é fanatismo?

Ellen G. White: É claro que farão isso; e por esta razão devemos ser muito cautelosos. É por meio da Palavra - não de sentimentos ou de exaltação - que precisamos influenciar as pessoas a obedecer à verdade. Podemos permanecer em segurança sobre a plataforma da Palavra de Deus. A Palavra viva está repleta de evidências, e maravilhoso poder acompanha sua proclamação em nosso mundo.

R. Mackin: Bom, não queremos cansá-la.

Sra. Mackin: Louvado seja o Senhor!

Ellen G. White (levantando-se e trocando apertos de mãos): Desejo que o Espírito do Senhor esteja com os irmãos, com vocês e comigo. Devemos ser como criancinhas de Deus. O poder de Sua graça não deve ser malcompreendido. Devemos recebê-lo com toda a mansidão e humildade de espírito, para que Deus mesmo cause a impressão na mente das pessoas. Espero que o Senhor os abençoe e lhes dê um sólido fundamento, um fundamento que é a Palavra do Deus vivo. Manuscrito 115, 1908.


ME3 - Pag. 376  

A Luz Dada Pelo Senhor

Sr. e Sra. Ralph Mackin:

Prezados Irmão e Irmã: Recentemente, em visões da noite [10 de dezembro], foram-me reveladas algumas questões que vos preciso comunicar. Foi-me mostrado que estais cometendo alguns lamentáveis erros. Em vosso estudo das Escrituras e dos Testemunhos, chegastes a conclusões errôneas. A obra do Senhor seria grandemente malcompreendida se continuásseis a trabalhar como começastes. Dais falsa interpretação à Palavra de Deus e aos Testemunhos publicados; e então buscais levar adiante uma obra estranha em harmonia com vossa concepção de seu sentido. Supondes que tudo o que fazeis é para a glória de Deus, mas estais enganando a vós mesmos e enganando a outros.

No falar, cantar e em exibições estranhas, que não estão em harmonia com a obra genuína do Espírito Santo, sua mulher está ajudando a introduzir um aspecto de fanatismo que causaria grande dano à Causa de Deus, caso lhe fosse permitido qualquer lugar em nossas igrejas.

Sobre Expulsar Demônios

Supusestes até que vos é dado poder para expulsar demônios. Por vossa influência sobre mentes humanas, homens e mulheres são levados a crer que estão possessos de demônios, e que o Senhor vos designou como instrumentos Seus para expulsar esses espíritos maus.

Foi-me mostrado que precisamente tais aspectos do erro que fui compelida a enfrentar entre os crentes do Advento após o passar do tempo em 1844 se repetirão nestes últimos dias. Em nossa antiga experiência, eu tive de ir de lugar a lugar e transmitir uma mensagem após a outra a grupos de crentes desapontados. As evidências que acompanhavam minhas mensagens eram tão grandes que os sinceros de coração receberam como verdade as palavras proferidas. O poder de Deus foi revelado de maneira acentuada, e homens e mulheres foram libertos da perniciosa influência do fanatismo e da desordem, e conduzidos à unidade da fé. Manuscrito 115, 1908. (Publicado em Review and Herald, 10, 17 e 24 de agosto de 1972.)


ME3 - Pag. 377  

"Detende-vos"

Meu irmão e minha irmã, tenho uma mensagem para vós: Estais baseados numa falsa suposição. Há muito do próprio eu entretecido em vossas exibições. Satanás entrará com fascinante poder através dessas exibições. É mais que tempo de vos deterdes. Caso Deus vos houvesse dado especial mensagem para Seu povo, andaríeis e trabalharíeis em toda humildade - não como se estivésseis no palco de um teatro, mas na mansidão de um seguidor do humilde Jesus de Nazaré. Exerceríeis uma influência de todo diversa da que tendes estado a exercer. Estaríeis ancorados na Rocha, Cristo Jesus.

Meus queridos e jovens amigos, vossa alma é preciosa à vista do Céu. Cristo vos comprou com o Seu precioso sangue, e não quero que acalenteis uma falsa esperança, trabalhando em linhas falsas. Certamente estais num trilho falso agora, e rogo-vos, por amor a vossa alma, que não arrisqueis mais a causa da verdade para estes últimos dias. Por amor a vossa própria alma, considerai que o modo em que estais trabalhando não é a maneira pela qual deve ser promovida a Causa de Deus. O sincero desejo de fazer bem a outros levará o obreiro cristão a afastar todo pensamento de introduzir na mensagem da verdade presente quaisquer ensinos que conduzam homens e mulheres ao fanatismo. Neste período da história do mundo precisamos exercer o maior cuidado a este respeito.

Alguns dos aspectos da experiência por que estais passando põem em perigo não somente vossa própria alma, mas a de muitos outros, porque apelais às preciosas palavras de Cristo segundo registradas nas Escrituras, e aos Testemunhos, para atestar a genuinidade de vossa mensagem. Estais enganados em supor que a preciosa Palavra, que é realidade e verdade, e os Testemunhos que o Senhor deu para Seu povo, são vossa autoridade. Sois movidos por impulsos errôneos, e estais vos apoiando com declarações que desencaminham. Tentais fazer com que a verdade de Deus sustente sentimentos falsos e ações incorretas que são incoerentes e fanáticas. Isso torna dez vezes, ou melhor, vinte vezes


ME3 - Pag. 378  

mais difícil a obra da Igreja no relacionar o povo com a verdade da mensagem do terceiro anjo. Carta 358a, 1908. (Publicada em parte em Mensagens Escolhidas, vol. 2, págs. 44-46.)

Outra Referência à Possessão de Demônios

Foram-me dadas à noite passada instruções para nosso povo. Parecia-me estar numa reunião em que se faziam apresentações da obra estranha do irmão Mackin e sua mulher. Fui instruída de que era uma obra semelhante à que fora conduzida em Orrington, no Estado do Maine, e em vários outros lugares depois da passagem do tempo de 1844. Foi-me mandado falar decididamente contra essa obra fanática.

Foi-me mostrado que não era o Espírito do Senhor que estava inspirando o irmão e a irmã Mackin, mas o mesmo espírito de fanatismo que sempre busca entrada na Igreja remanescente. Sua aplicação da Escritura a seus movimentos singulares, é má aplicação escriturística. A obra de declarar pessoas possessas do diabo, e depois orar com elas e pretender expulsar os maus espíritos, é fanatismo que trará descrédito a qualquer igreja que sancione tal obra.

Foi-me mostrado que importa não encorajar tais demonstrações, mas guardar o povo com um decidido testemunho contra aquilo que traria uma mancha ao nome dos adventistas do sétimo dia, e destruiria a confiança do povo na mensagem de verdade que precisam dar ao mundo. Pacific Union Recorder, 31 de dezembro de 1908. (Publicado em Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 46.)


ME3 - Pag. 380  

XI. Acontecimentos dos Últimos Dias

Com a ênfase do adventismo à volta de Cristo, os culminantes acontecimentos dos últimos dias relacionados com a Sua segunda vinda sempre foram um assunto de grande interesse para os Adventistas do Sétimo Dia. Não podia ser diferente, pois os Adventistas do Sétimo Dia procederam de um meio religioso, o Movimento Milerita, o qual salientava os acontecimentos escatológicos - a ressurreição, o julgamento final, a punição do pecado e dos pecadores.

As visões dadas a Ellen White no começo de sua missão realçaram consideravelmente a importância do sábado do sétimo dia como a verdade probante, que nos últimos dias dividirá os habitantes da Terra em duas classes - os que obedecem a Deus e serão salvos eternamente, e os que rejeitam Sua lei e estarão eternamente perdidos. A atitude das pessoas para com o sábado do sétimo dia será o fator decisivo.

Os acontecimentos finais da história terrestre deram realce à pequena obra de 219 páginas - O Grande Conflito - publicada em 1858, e foram a questão crucial e culminante das descrições do grande conflito nos livros com esse título publicados em 1884, 1888 e 1911.

Quão atentamente os adventistas têm estudado os capítulos finais desse livro, e como têm vibrado com a descrição inspirada do que está diante da Igreja e do mundo! Com crescente interesse eles têm examinado todos os escritos de Ellen G. White que já foram publicados, em busca de declarações análogas que lancem alguma luz adicional sobre os acontecimentos vindouros. Nesta seção apresentamos pela primeira vez uma porção de declarações escatológicas que até agora não haviam sido publicadas e que ajudam a completar o quadro dos acontecimentos finais da história terrestre.

À medida que se intensificaram as questões da lei dominical no fim do século dezenove, e aumentou a agitação de uma lei dominical nacional nos Estados Unidos, Ellen White escreveu perceptivamente sobre "O Conflito Impendente" em Testimonies, vol. 5, págs. 711-718 (Testemunhos Seletos, vol. 2, págs. 318-325), considerando o significado das questões que então eram enfrentadas pelos Adventistas do Sétimo Dia, declarando que a Igreja não estava preparada para isso e conjeturando que Deus, "em resposta às orações de Seu povo, mantenha em xeque as operações dos que anulam Sua lei". Testimonies, vol. 5, pág. 714.

Quando as leis que requeriam a observância do domingo foram impostas nalguns dos Estados sulinos e alguns adventistas foram presos, encarcerados e obrigados a trabalhar em grupos acorrentados por não observar essas leis, a questão do sábado e do domingo tomou maior significação e recebeu diligente estudo na assembléia da Associação Geral de 1889. Examinando cuidadosamente os princípios envolvidos, Ellen White recomendou cautela em toda resolução que fosse tomada pelos delegados.

A agitação da legislação dominical decresceu gradualmente, mas nos anos seguintes Ellen White manteve as questões do conflito final perante os dirigentes da Igreja. Os tempos podiam ter mudado, pelo que dizia respeito a verdadeira perseguição por causa da observância do sábado, mas as questões e os princípios envolvidos continuavam sendo os mesmos. Desde a morte de Ellen White ocorreram outras modificações, mas acreditamos que os mesmos princípios e as mesmas questões serão avivadas no conflito que se aproxima, embora as aparências atuais indiquem o contrário.

A maior parte desta seção abrange declarações escatológicas que freqüentemente correspondem à apresentação feita em O Grande Conflito, mas que provêem igualmente novos pormenores e novos vislumbres. Estes materiais foram divididos em três partes principais, a saber:

1. Lições da maneira como foi enfrentada a crise da lei dominical no fim da década de 1880 e no começo da década de 1890.

2. Conselhos gerais apropriados para um povo que se aproxima do fim.

3. Aspectos da "última grande luta", com a questão do sábado e do domingo como o fator decisivo.

O leitor notará que, embora Ellen White chame nossa atenção para probantes experiências no futuro que certamente incluirão martírios, e prediga apostasias em nossas fileiras, ela também prevê grandes adesões à Igreja e dá animadora certeza da mantenedora graça do Céu ao leal povo de Deus. (Depositários do Patrimônio Literário White.)

<< Capítulo Anterior Próximo Capítulo >>