Mensagens Escolhidas - Volume 3

CAPÍTULO 19

A Encarnação

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A Plenitude da Humanidade de Cristo

Não podemos compreender como Cristo Se tornou um pequeno e indefeso bebê. Ele poderia ter vindo à Terra com tal beleza que teria sido diferente dos filhos dos homens. Sua face poderia ter sido resplandecente de luz, e Sua forma poderia ter sido alta e bela. Poderia ter vindo de tal maneira que encantasse os que olhassem para Ele; esta não era, porém, a maneira planejada por Deus para que Ele viesse entre os filhos dos homens.

Ele devia ser semelhante aos que pertenciam à família humana e à raça judaica. Suas feições deviam ser como as dos outros seres humanos, e não devia ter tal beleza pessoal que o povo O assinalasse como diferente dos outros. Devia vir como alguém da família humana e colocar-Se como homem perante o Céu e a Terra. Veio para tomar o lugar do homem, empenhar-Se em seu favor, pagar o débito que os pecadores deviam. Levaria uma vida pura sobre a Terra e mostraria que Satanás proferira uma falsidade quando ele alegou que a família humana lhe pertencia para sempre, e que Deus não poderia arrebatar os homens de suas mãos.

Os homens contemplaram pela primeira vez a Cristo como um bebê, como uma criancinha. ...


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Quanto mais pensamos sobre o ato de Cristo tornar-Se um bebê aqui na Terra, tanto mais admirável isso parece ser. Como pode suceder que a indefesa criancinha na manjedoura de Belém ainda é o divino Filho de Deus? Conquanto não possamos compreendê-lo, podemos crer que Aquele que criou os mundos, por nossa causa tornou-Se um indefeso bebê. Embora fosse mais elevado do que qualquer dos anjos, embora fosse tão grande como o Pai sobre o trono do Céu, Ele tornou-Se um conosco. NEle Deus e o homem passaram a ser um, e é neste fato que encontramos a esperança de nossa raça decaída. Olhando para Cristo na carne, olhamos para Deus na humanidade, e vemos nEle o resplendor da glória divina, a expressa imagem de Deus, o Pai. Signs of the Times, 21 de novembro de 1895.

Cristo Desceu ao Nível da Humanidade Decaída

Cristo fez um sacrifício infinito. Deu Sua própria vida por nós. Tomou sobre Sua alma divina o resultado da transgressão da lei de Deus. Pondo de lado Sua coroa real, dignou-Se a descer, passo a passo, até o nível da humanidade decaída.

Do Jordão, foi Jesus conduzido ao deserto da tentação. "E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. Então, o tentador, aproximando-se, Lhe disse: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães." Mat. 4:2 e 3.

Cristo estava sofrendo as mais fortes ânsias da fome, e essa tentação foi muito severa. Ele precisava começar, porém, a obra da redenção exatamente onde começara a ruína. Adão falhara no tocante ao apetite, e Cristo precisava vencer nesse sentido. O poder que repousou sobre Ele veio diretamente do Pai, e não devia exercê-lo em Seu próprio benefício. Com esse longo jejum inseriu-se em Sua experiência uma força e poder que só Deus podia dar. Ele enfrentou e repeliu o inimigo na força de um "Assim diz o Senhor". "Não só de pão viverá o homem - disse Ele - mas de toda palavra que procede da boca de Deus." Mat. 4:4.

É o privilégio de todos os tentados da Terra ter essa força.


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A experiência de Cristo é para nosso benefício. Seu exemplo em vencer o apetite indica como podem ver vitoriosos aqueles que querem ser Seus seguidores.

Cristo estava sofrendo como os membros da família humana sofrem sob a tentação; mas não era a vontade de Deus que Ele exercesse Seu poder divino em Seu próprio favor. Se Ele não fosse nosso representante, a inocência de Cristo ter-lhe-ia poupado toda essa angústia; foi, porém, devido a Sua inocência que Ele sentiu tão intensamente os ataques de Satanás. Todo o sofrimento que constitui o resultado do pecado foi lançado no seio do inocente Filho de Deus. Satanás estava ferindo o calcanhar de Cristo, mas toda aflição suportada por Cristo, todo pesar, toda ansiedade, estava cumprindo o grande plano da redenção do homem. Todo golpe desferido pelo inimigo voltava-se contra ele mesmo. Cristo estava esmagando a cabeça da serpente. The Youth"s Instructor, 21 de dezembro de 1899.

Cristo Era Suscetível de Ceder à Tentação?

Em sua carta acerca das tentações de Cristo, você diz: "Se Ele era Um com Deus, não poderia cair." ... O ponto que você me pergunta é: Na grande cena do conflito de nosso Senhor no deserto, aparentemente sob o poder de Satanás e seus anjos, era Ele suscetível, em Sua natureza humana, de ceder a essas tentações?

Procurarei responder a essa importante pergunta: Como Deus, Ele não podia ser tentado; mas, como homem, podia sê-lo, e isso fortemente, e podia ceder às tentações. Sua natureza humana teria de passar pela mesma prova e provação que Adão e Eva. Sua natureza humana foi criada; ela nem sequer possuía os poderes angélicos. Era humana, idêntica à nossa. Ele estava transpondo o terreno em que Adão caiu. Achava-se agora no ponto em que, se resistisse à prova e provação em favor da raça decaída, redimiria o ignominioso fracasso e queda de Adão, em nossa própria humanidade.

Cristo Tinha Corpo Humano e Mente Humana

Seu corpo e Sua mente eram humanos. Ele era osso dos nossos


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ossos e carne da nossa carne. Esteve sujeito à pobreza desde Sua primeira entrada no mundo. Esteve sujeito a decepções e provas em Seu próprio lar, entre Seus próprios irmãos. Não Se achava rodeado, como nas cortes celestiais, de seres puros e belos. Estava cercado de dificuldades. Veio ao nosso mundo para manter um caráter puro e sem pecado, e para refutar a mentira de Satanás de que não era possível aos seres humanos guardar a lei de Deus. Cristo veio viver a lei em Seu caráter humano exatamente na maneira pela qual todos podem viver a lei na natureza humana se procederem como Cristo procedeu. Ele inspirou santos homens do passado a escreverem para benefício do homem: "Que se apoderem da Minha força, e façam paz comigo; sim, que façam paz comigo." Isa. 27:5.

Foram tomadas amplas providências para que o homem finito e decaído possa estar tão ligado com Deus que, por meio da mesma Fonte pela qual Cristo venceu em Sua natureza humana, ele consiga resistir firmemente a todas as tentações, como Cristo o fez. Ele esteve sujeito às desvantagens a que está sujeita a natureza humana. Respirou o ar do mesmo mundo que nós respiramos. Permaneceu e viajou no mesmo mundo em que habitamos, o qual, segundo as provas concretas que temos, não era mais adequado à graça e à justiça do que é hoje.

Seus Atributos Podem Ser Nossos

É nosso privilégio possuir os mais altos atributos de Seu Ser, se por meio das providências tomadas por Ele nos apropriarmos dessas bênçãos e diligentemente cultivarmos o bem em lugar do mal. Temos razão, consciência, memória, vontade, afeições - todos os atributos que um ser humano pode possuir. Mediante a providência tomada quando Deus e o Filho de Deus fizeram um concerto para libertar o homem da escravidão de Satanás, foram providos todos os meios para que a natureza humana se unisse com a Sua natureza divina. Nessa natureza é que nosso Senhor foi tentado. Ele poderia ter cedido às enganosas sugestões de Satanás, como Adão o fez, mas devemos adorar e glorificar o Cordeiro de Deus por não haver


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cedido um i ou um til em nenhum ponto.

Duas Naturezas Unidas em Cristo

Sendo participantes da natureza divina podemos permanecer puros, e santos e incontaminados. A Divindade não Se tornou humana, e o humano não foi deificado pela fusão das duas naturezas. Cristo não possuía a mesma deslealdade pecaminosa, corrupta e decaída que nós possuímos, pois então Ele não poderia ser um sacrifício perfeito. Manuscrito 94, 1893.

A Realidade das Tentações de Cristo

Quando enfrenta provas e perplexidades, o seguidor de Cristo não deve ficar desalentado. Não deve abandonar a sua confiança se não conseguir realizar todas as suas expectativas. Quando for fustigado pelo inimigo, deve lembrar-se da vida de provação e desalento do Salvador. Seres celestiais serviram a Cristo em Sua necessidade; isso não fez, porém, com que a vida do Salvador fosse isenta de conflitos e tentações. Ele foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Se o Seu povo seguir este exemplo, eles serão imbuídos de Seu Espírito, e anjos celestiais os servirão. ...

As tentações às quais Cristo foi submetido eram uma terrível realidade. Como livre agente moral, Ele foi posto à prova, com liberdade para ceder às tentações de Satanás e agir em oposição à vontade de Deus. Se assim não fora, se não fosse possível que Ele caísse, não poderia ter sido tentado em todos os pontos como a família humana é tentada.

As tentações de Cristo e Seus sofrimentos diante delas eram proporcionais a Seu elevado caráter sem pecado. Mas em todo momento de aflição Cristo volvia-Se para Seu Pai. Ele "resistiu até ao sangue" naquela hora em que o temor do fracasso moral era como o temor da morte. Quando Ele Se prostrou no Getsêmani, na agonia de Sua alma, gotas de sangue caíram-Lhe dos poros e umedeceram os torrões de terra. Orou com fortes clamores e lágrimas, e foi ouvido naquilo que temia. Deus O fortaleceu, como fortalecerá a todos os que se humilharem, lançando-se de alma, corpo e espírito nas mãos de um Deus que guarda o concerto.


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Sobre a cruz Cristo conheceu, como nenhuma outra pessoa pode conhecer, o terrível poder das tentações de Satanás, e Seu coração transbordou de compaixão e perdão pelo ladrão moribundo, que havia sido enganado pelo inimigo. The Youth"s Instructor, 26 de outubro de 1899.

O coração de Cristo foi lancinado por uma dor muito mais pungente do que a dor causada pelos pregos que Lhe foram cravados nas mãos e nos pés. Estava levando os pecados do mundo inteiro, suportando nossa punição - a ira de Deus contra a transgressão. Sua aflição abrangeu a atroz tentação de pensar que fora abandonado por Deus. Sua alma foi afligida pela pressão de grande treva, temendo que Ele Se desviasse de Sua retidão durante a terrível provação.

A menos que haja a possibilidade de ceder, a tentação não é tentação. Ela é resistida quando o homem é fortemente influenciado a cometer uma má ação; e, sabendo que pode praticá-la, resiste, pela fé, com firme apego ao poder divino. Foi esta a provação pela qual Cristo passou. The Youth"s Instructor, 20 de julho de 1899.

Podemos Vencer Como Cristo Venceu

O amor e a justiça de Deus, e também a imutabilidade de Sua lei, são manifestados pela vida do Salvador, não menos que por Sua morte. Ele assumiu a natureza humana, com suas debilidades, com suas deficiências, com suas tentações. ... Foi "tentado em todas as coisas, à nossa semelhança". Heb. 4:15. Não exerceu em Seu próprio benefício nenhum poder que o homem não possa exercer. Enfrentou a tentação como homem, e venceu na força que Lhe foi concedida por Deus. Ele nos dá um exemplo de perfeita obediência. Tomou providências para que nos tornemos participantes da natureza divina, e nos assegura que podemos vencer como Ele venceu. Sua vida testificou que com a ajuda do mesmo poder divino que Cristo recebeu, é possível ao homem obedecer à lei de Deus. Manuscrito 141, 1901.

Deus Enviou um Ser sem Pecado a Este Mundo

Deus fez por nós o melhor de tudo que Ele podia fazer quando enviou do Céu um Ser sem pecado, para manifestar a este mundo de pecado o que aqueles que são salvos precisam ser no


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caráter - puros, santos e imaculados, tendo Cristo formado no íntimo. Ele enviou Seu ideal em Seu Filho, e ordenou que os homens edifiquem caráter em harmonia com esse ideal. Carta 58, 1906.

O Homem Foi Criado com Natureza Moral sem Pecado

Nos concílios do Céu, Deus disse: "Façamos o homem à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança. ... Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou." Gên. 1:26 e 27. O Senhor criou as faculdades morais do homem e suas faculdades físicas. Tudo era uma reprodução sem pecado de Sua própria Pessoa. Deus dotou o homem de santos atributos e colocou-o num jardim feito especialmente para ele. Só o pecado podia arruinar os seres criados pela mão do Onipotente. The Youth"s Instructor, 20 de julho de 1899.

As Enfermidades dos Outros Levadas Vicariamente

Só Cristo era capaz de levar as angústias de toda a família humana. "Em toda a angústia deles foi Ele angustiado." Ele nunca teve alguma doença em Sua própria carne, mas levou as enfermidades dos outros. Quando a humanidade sofredora se acotovelava ao Seu redor, Aquele que estava em perfeita varonilidade como que era afligido com eles. ...

Em Sua vida na Terra, Cristo desenvolveu um caráter perfeito; Ele prestou perfeita obediência aos mandamentos de Seu Pai. Ao vir ao mundo em forma humana, ao ficar sujeito à lei, ao revelar aos homens que Ele levava suas enfermidades, suas tristezas, suas culpas, não Se tornou um pecador. Podia dizer diante dos fariseus: "Quem dentre vós Me convence de pecado?" Não houve nEle nenhuma mancha de pecado. Postou-Se diante do mundo como o imaculado Cordeiro de Deus. The Youth"s Instructor, 29 de dezembro de 1898.

A Não-Pecaminosidade de Cristo Perturbava a Satanás

Cristo, o Redentor do mundo, não estava situado onde as influências que O cercavam eram as mais apropriadas para preservar


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uma vida de pureza e moral imaculada; contudo, Ele não foi contaminado. Não esteve livre de tentações. Satanás foi diligente e perseverante em seus esforços para enganar e vencer o Filho de Deus com seus ardis.

Cristo foi a única pessoa que andou sobre a Terra em quem não havia nenhuma mancha de pecado. Ele era puro, imaculado e irrepreensível. Que houvesse sobre a Terra Alguém sem a contaminação do pecado perturbava grandemente o autor do pecado, e ele não deixou de usar nenhum meio para vencer a Cristo com o seu poder ardiloso e enganador. Mas nosso Salvador recorria a Seu Pai celestial em busca de sabedoria e força para resistir ao tentador e vencê-lo. O Espírito de Seu Pai celeste animava e regia Sua vida. Ele era sem pecado. A virtude e a pureza caracterizavam Sua vida. The Youth"s Instructor, fevereiro de 1873.

Nossa Decaída Natureza Humana Ligada com a Divindade de Cristo

Embora não houvesse nenhuma mancha de pecado em Seu caráter, Ele condescendeu em ligar nossa decaída natureza humana com a Sua divindade. Tomando assim a natureza humana, Ele honrou a humanidade. Tendo assumido nossa natureza decaída, Ele demonstrou o que ela poderia tornar-se pela aceitação da ampla provisão que fizera para ela e tornando-se participante da natureza divina. Carta 81, 1896.

Tentado Como as Crianças Atuais

Talvez alguém pense que Cristo, em virtude de ser o Filho de Deus, não tinha tentações como as crianças têm agora. As Escrituras dizem que Ele foi tentado em todos os pontos como nós somos tentados. The Youth"s Instructor, abril de 1873.

O que é Efetuado Pela Encarnação

O Senhor não fez o homem para ser resgatado, e, sim, para apresentar Sua imagem. Mas, devido ao pecado, o homem perdeu a imagem de Deus. É unicamente pela redenção do homem que Deus pode realizar Seu desígnio de torná-lo filho de Deus.

"A todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem


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feitos filhos de Deus; a saber: aos que crêem no Seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do unigênito do Pai. ... Porque todos nós temos recebido da Sua plenitude e graça sobre graça." João 1:12-16.

Devido ao resgate pago por ele, o homem, por sua própria escolha, pela obediência, pode cumprir o desígnio de Deus, e, mediante a graça concedida por Deus, levar a imagem que a princípio foi impressa sobre ele e depois se perdeu devido à queda. ...

A Obediência de Cristo não é Completamente Diferente da Nossa

O grande Mestre veio a nosso mundo, não somente para fazer expiação pelo pecado, mas também para ser um mestre tanto por preceito como pelo exemplo. Veio mostrar ao homem como guardar a lei na humanidade, de modo que ele não tivesse nenhuma desculpa para seguir seu próprio critério imperfeito. Vemos a obediência de Cristo. Sua vida era sem pecado. A obediência durante toda a Sua vida é uma censura à humanidade desobediente. A obediência de Cristo não deve ser posta de lado como se fosse completamente diferente da obediência que Ele requer de nós individualmente. Cristo nos mostrou que é possível para toda a humanidade obedecer às leis de Deus. ...

O trabalho de Cristo não foi um serviço de coração dividido. Cristo veio, não para fazer Sua própria vontade, e, sim, a vontade dAquele que O enviou. Jesus declara: "Andai nas pegadas de Minha qualidade de Filho, em toda a obediência. Eu obedeço como sócio da grande firma. Deveis obedecer como em sociedade com o Filho de Deus. Muitas vezes não vereis claramente o caminho; rogai, então, a Deus, e Ele vos dará sabedoria e coragem e fé para avançar, deixando todas as questões com Ele." Precisamos compreender, na medida do possível, a verdadeira natureza humana de nosso Senhor. O divino e o humano foram unidos em Cristo, e ambos eram completos.

Nosso Salvador assumiu a verdadeira relação de um ser humano como o Filho de Deus. Somos filhos e filhas de Deus. A fim


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de saber como portar-nos circunspectamente, precisamos seguir aonde Cristo nos conduz. Durante trinta anos Ele levou a vida de um homem perfeito, cumprindo a mais elevada norma de perfeição. Portanto, embora imperfeito, espere o homem em Deus, não dizendo: "Se eu tivesse um temperamento diferente, serviria a Deus", mas dedique-se a Ele em verdadeiro serviço. ... Aquela natureza foi redimida por Mim. "A todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber, aos que crêem no Seu nome" (João 1:12) - não sois degradados, mas elevados, enobrecidos e aprimorados por Mim. Podeis encontrar refúgio em Minha Pessoa. Podeis alcançar vitória e ser mais que vencedores em Meu nome. Carta 69, 1897.

Satanás Declarou que o Homem não Podia Guardar a Lei de Deus

O Redentor do mundo passou pelo terreno em que Adão caiu porque desobedeceu à explícita lei de Jeová; e o unigênito Filho de Deus veio ao nosso mundo como homem, para revelar ao mundo que os homens podem guardar a lei de Deus. Satanás, o anjo caído, declarara que nenhum homem podia guardar a lei de Deus depois da desobediência de Adão. Ele alegava que toda a raça humana estava sob o seu domínio.

O Filho de Deus colocou-Se em lugar do pecador, e passou pelo terreno em que Adão caiu, e suportou a tentação no deserto, a qual era cem vezes mais forte do que aquilo que já incidiu ou virá a incidir sobre a raça humana. Jesus resistiu às tentações de Satanás do mesmo modo que toda alma tentada pode resistir: chamando-lhe a atenção para o relato inspirado e dizendo: "Está escrito."

A Humanidade Pode Guardar a Lei de Deus Pelo Poder Divino

Cristo venceu as tentações de Satanás como homem. Toda pessoa pode vencer como Cristo venceu. Ele humilhou-Se por causa de nós. Foi tentado em todas as coisas à nossa semelhança. Remiu o ignominioso fracasso e queda de Adão, e foi vitorioso, demonstrando assim a todos os mundos não caídos, e à humanidade decaída, que o homem podia guardar os mandamentos de Deus pelo poder divino que lhe é concedido pelo Céu. Jesus, o


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Filho de Deus, humilhou-Se por causa de nós, suportou a tentação por nós, venceu em nosso favor para mostrar-nos como podemos ser vitoriosos. Ele ligou assim os Seus interesses com a humanidade pelos laços mais íntimos e deu a positiva certeza de que não seremos tentados além das nossas forças, pois juntamente com a tentação proverá livramento.

O Espírito Santo nos Habilita a Ser Vitoriosos

O Espírito Santo foi prometido para estar com os que lutassem pela vitória, em demonstração de todo o poder, dotando o instrumento humano de forças sobrenaturais e instruindo os ignorantes nos mistérios do reino de Deus. Que o Espírito Santo seria o grande Ajudador é uma maravilhosa promessa. Qual teria sido a utilidade para nós que o Filho unigênito de Deus Se humilhasse a Si mesmo, suportasse as tentações do astuto inimigo e lutasse com ele durante toda a Sua vida na Terra, e morresse o justo pelos injustos para que a humanidade não perecesse, se o Espírito não fosse dado como constante e atuante agente regenerador para tornar eficaz, em nossos casos, o que foi realizado pelo Redentor do mundo?

A comunicação do Espírito Santo habilitou os Seus discípulos, os apóstolos, a resistir firmemente a toda espécie de idolatria, e a exaltar o Senhor, e só a Ele. Quem, a não ser Jesus Cristo por Seu Espírito e divino poder, guiou a pena dos historiadores sagrados para que fosse apresentado ao mundo o precioso relato das palavras e obras de Jesus Cristo?

O prometido Espírito Santo, ao qual Ele enviaria depois que ascendesse ao Pai, está constantemente em atividade a fim de chamar a atenção para o grande sacrifício oficial na cruz do Calvário e revelar ao mundo o amor de Deus pelo homem, e patentear à alma convicta as preciosas coisas contidas nas Escrituras, e franquear a mentes obscurecidas os brilhantes raios do Sol da justiça; as verdades que lhes fazem arder o coração com a avivada compreensão das realidades da eternidade.

Quem, a não ser o Espírito Santo, apresenta à mente a norma


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moral de justiça e convence do pecado, produzindo tristeza segundo Deus, a qual ocasiona arrependimento do qual ninguém precisa arrepender-se, e inspira o uso da fé nAquele que é o único que pode salvar de todo pecado?

Quem, a não ser o Espírito Santo, pode trabalhar com mentes humanas para transformar o caráter, tirando as afeições daquilo que é temporal e perecível, e imbuindo a alma de ardente desejo por apresentar a herança incorruptível, a eterna substância que é imperecível, e recria, refina e santifica os instrumentos humanos para que se tornem membros da família real, filhos do celeste Rei? ...

Cristo Venceu o Pecado Como Homem

A queda de nossos primeiros pais quebrou a áurea corrente da implícita obediência da vontade humana à vontade divina. A obediência não tem sido mais considerada uma absoluta necessidade. Os instrumentos humanos seguem sua própria imaginação, a qual, disse o Senhor dos habitantes do mundo antigo, era continuamente má. O Senhor Jesus declara: "Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai." Como? Como homem. "Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a Tua vontade." Ele resistiu às acusações dos judeus em Seu caráter puro, virtuoso e santo, e desafiou-os: "Quem dentre vós Me convence de pecado?"

Nosso Exemplo e Sacrifício Pelo Pecado

O Redentor do mundo veio não somente para ser um sacrifício pelo pecado, mas também para ser um exemplo ao homem em todas as coisas, um santo caráter humano. Ele era um Mestre, tal educador como o mundo nunca viu nem ouviu antes disso. Falava como quem tem autoridade, e, contudo, atrai a confiança de todos. "Vinde a Mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve." Mat. 11:28-30.

O Filho unigênito do Deus infinito deixou-nos, por Suas palavras e por Seu exemplo prático, um claro modelo que devemos imitar. Por Suas palavras, ensinou-nos a obedecer a Deus, e por Seu próprio exemplo mostrou-nos como podemos obedecer a Deus.


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Cristo não somente deu regras explícitas mostrando como, podemos tornar-nos filhos obedientes, mas também nos mostrou em Sua própria vida e caráter como fazer exatamente aquilo que é correto e aceitável para Deus, de modo que não haja desculpa para não realizarmos as coisas que são agradáveis a Sua vista.

Ele Refutou a Acusação de Satanás

Sempre devemos ser gratos porque Jesus provou para nós, por fatos concretos, que o homem pode guardar os mandamentos de Deus, contradizendo a falsidade de Satanás de que o homem não pode guardá-los. O Grande Mestre veio ao nosso mundo para estar à frente da humanidade, para assim elevar e santificar a humanidade por Sua santa obediência a todos os requisitos de Deus, mostrando que é possível obedecer a todos os mandamentos de Deus. Ele demonstrou que é possível uma obediência que dure toda a vida. Portanto Ele dá ao mundo homens escolhidos e representativos, como o Pai deu o Filho, para exemplificarem em sua vida a vida de Jesus Cristo.

Ele Resistiu à Prova Como Verdadeiro Ser Humano

Não precisamos classificar a obediência de Cristo, por si mesma, como alguma coisa para a qual Ele Se achava particularmente adaptado, por Sua especial natureza divina, pois Ele Se encontrava diante de Deus como o representante do homem e foi tentado como substituto e fiador do homem. Se Cristo possuísse um poder especial que o homem não tem o privilégio de possuir, Satanás ter-se-ia aproveitado desse fato. A obra de Cristo era tirar das reivindicações de Satanás o seu domínio sobre o homem, e só podia fazê-lo da maneira como Ele veio - como homem, tentado como homem e prestando a obediência de um homem. ...

Tende em mente que a vitória e a obediência de Cristo são as de um verdadeiro ser humano. Em nossas conclusões, cometemos muitos erros devido a nossas idéias errôneas acerca da natureza humana de nosso Senhor. Quando atribuímos a Sua natureza humana um poder que não é possível que o homem tenha em seus conflitos com Satanás, destruímos a inteireza de Sua humanidade. Ele concede Sua graça e poder imputados a todos os que O aceitam pela fé. A obediência de Cristo a Seu Pai era a mesma


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obediência que é requerida do homem.

O homem não pode vencer as tentações de Satanás sem combinar o poder divino com a sua instrumentalidade. Assim foi com Jesus Cristo: Ele podia lançar mão do poder divino. Ele não veio ao nosso mundo para prestar a obediência de um Deus inferior a um superior, mas como homem, para obedecer à Santa Lei de Deus, e desta maneira Ele é nosso exemplo.

Jesus Mostrou o que o Homem Podia Fazer

O Senhor Jesus veio ao nosso mundo, não para revelar o que Deus podia fazer, e, sim, o que o homem podia realizar, mediante a fé no poder de Deus para ajudar em toda emergência. O homem deve, pela fé, ser participante da natureza divina e vencer toda tentação com que é assaltado. O Senhor requer agora que todo filho e filha de Adão, pela fé em Jesus Cristo, O sirva na natureza humana que temos atualmente.

O Senhor Jesus pôs uma ponte sobre o abismo causado pelo pecado. Ele ligou a Terra com o Céu, e o homem finito com o Deus infinito. Jesus, o Redentor do mundo, só podia guardar os mandamentos de Deus da mesma maneira que a humanidade pode guardá-los. "Pelas quais nos têm sido doadas as Suas preciosas e mui grandes promessas para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo." II Ped. 1:4.

Precisamos seguir o exemplo de Cristo, tendo em mente Sua qualidade de Filho e Sua humanidade. Não foi como Deus que foi tentado no deserto, nem devia como Deus suportar as contradições dos pecadores contra Si mesmo. Foi a Majestade do Céu que Se tornou homem - humilhou-Se até nossa natureza humana.

Como Devemos Servir a Deus

Não devemos servir a Deus como se não fôssemos humanos, mas servi-Lo na natureza que temos, a qual foi redimida pelo Filho de Deus; por meio da justiça de Cristo estaremos perdoados diante de Deus, e como se nunca houvéssemos pecado. Nunca obteremos força considerando o que poderíamos fazer se fôssemos anjos. Devemos volver-nos a Jesus Cristo pela fé, e manifestar nosso amor a Deus pela


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obediência a Seus preceitos. Jesus "foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado". Ele diz: "Segue-me." "Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-Me." Manuscrito 1, 1892.

O Verdadeiro Significado da Encarnação

Cristo tomou sobre Si a natureza humana e depôs Sua vida como sacrifício, para que o homem, tornando-se participante da natureza divina, pudesse ter vida eterna. Cristo não somente era o Sacrifício, mas também o Sacerdote que ofereceu o sacrifício. "O pão que Eu darei pela vida do mundo - disse Ele - é a Minha carne." João 6:51. Ele era inocente de toda culpa. Deu-Se a Si mesmo em troca das pessoas que se haviam vendido a Satanás pela transgressão da lei de Deus - Sua vida pela vida da família humana, a qual se tornou assim Sua propriedade adquirida.

"Por isso o Pai Me ama - disse Cristo - porque Eu dou a Minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, Eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de Meu Pai." João 10:17 e 18.

"O salário do pecado é a morte." Rom. 6:23. Antes da queda de Adão, disse-lhe o Senhor: "No dia em que dela comeres, certamente morrerás." Gên. 2:17. "Se transgredires Minha lei, a morte certamente será tua punição." Desobedecendo à ordem de Deus, ele perdeu sua vida.

Antes de sua queda, Adão estava livre dos resultados da maldição. Quando foi assaltado pelo tentador, não pesava sobre ele nenhum dos efeitos do pecado. Foi criado perfeito no pensamento e na ação. Mas cedeu ao pecado e caiu de sua elevada e santa posição.

Em Semelhança de Carne Pecaminosa

Cristo, o segundo Adão, veio em semelhança de carne pecaminosa. Em benefício do homem, tornou-Se sujeito à tristeza, ao cansaço, à fome e à


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sede. Era sujeito à tentação, mas não cedeu ao pecado. NEle não havia nenhuma mancha de pecado. Jesus declarou: "Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai" [em Minha vida terrestre]. João 15:10. Tinha infinito poder só porque era perfeitamente obediente à vontade de Seu Pai. O segundo Adão resistiu ao embate da prova e tentação para que pudesse tornar-Se o Proprietário de toda a humanidade. Manuscrito 99, 1903.


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V. Princípios de Salvação

Os princípios fundamentais da salvação, de uma forma ou outra, são apresentados em quase cada um dos livros de Ellen G. White e inúmeros artigos nas revistas. Os estudos bíblicos e as considerações na Assembléia da Associação Geral de 1888 focalizaram os princípios da salvação unicamente pela fé em Cristo, a qual era uma verdade que em grande parte fora perdida de vista por muitos, tanto pastores como leigos. Mensagens Escolhidas, vol. 1, em sua seção de 51 páginas sobre "Cristo, Justiça Nossa", apresenta essa ênfase sob o aspecto de Mineápolis. Como Ellen White se regozijou quando a grande verdade básica da justificação pela fé foi destacada proeminentemente nessa assembléia e quando ela se empenhou com outros em transmitir a bendita mensagem às igrejas! Essa era, porém, uma verdade que fizera parte de seus sermões e escritos através dos anos, sempre apresentada de maneira equilibrada. Isto é confirmado pelas diversas apresentações que compõem o livro de Ellen G. White, Fé e Obras, o qual contém discursos e artigos de 1881-1902.

Esta seção reúne, em três capítulos, as verdades vitais relacionadas com a fé e as obras. O primeiro capítulo é dedicado a declarações típicas feitas por Ellen White de 1850 a 1888, mostrando sua posição bem definida numa apresentação equilibrada da justificação pela fé. O terceiro capítulo expõe suas declarações coerentes, mostrando uma unidade de ensino durante todo o seu ministério. São incluídas apenas algumas declarações características para lembrar-nos de sua obra em apresentar essa verdade vital, que constitui o próprio âmago do evangelho. O capítulo dois, de natureza histórica, apresenta sua resenha da experiência na assembléia da Associação Geral de Mineápolis e da obra de sua parte, relacionada com essa experiência, nos meses que decorreram depois dessa assembléia. Esse capítulo é apresentado por uma declaração mais ampla, dando os antecedentes para sua análise histórica. (Depositários do Patrimônio Literário White.)

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