Mensagens Escolhidas - Volume 3

CAPÍTULO 21

Ellen G. White Dá Informações Sobre a Assembléia de Mineápolis

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Uma Declaração Apresentando os Antecedentes Históricos

Este capítulo apresenta uma declaração de Ellen White preparada algumas semanas após o término da Sessão da Associação Geral de 1888. Ela recorda o episódio e descreve o que ocorreu. As reuniões em Mineápolis tiveram melhor perspectiva à medida que os meses foram passando, e a declaração de Ellen White é muito esclarecedora e significativa. Uma breve resenha do panorama histórico é oportuna.

A Assembléia da Associação Geral em Mineápolis foi notável pelos estudos bíblicos e considerações sobre a lei em Gálatas e sobre a justiça de Cristo recebida pela fé.

Essa assembléia, freqüentada por noventa e um delegados, foi realizada de 17 de outubro a 4 de novembro, em Mineápolis, Minnesota, em nossa igreja construída recentemente. Como é costumeiro, diversos adventistas do sétimo dia que não eram delegados também se achavam presentes. A assembléia foi precedida por um concílio ministerial de sete dias, isto é, de 10 a 16 de outubro. Os estudos bíblicos iniciados no concílio nalguns casos prosseguiram na sessão da Associação Geral, ocupando a hora do Estudo Bíblico.

Ellen White esteve presente, e participou tanto do concílio como da assembléia de dezenove dias de duração. Esta última foi bastante rotineira, mas construtiva. Houve relatórios e reuniões de


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várias associações, tais como a Escola Sabatina, Saúde e Temperança, e Folhetos e Obra Missionária. Campos de trabalho foram atribuídos aos pastores, elaboraram-se planos para o avanço da Causa, elegeram-se oficiais e nomearam-se comissões.

Uma resenha in loco das realizações e dos sentimentos nos é proporcionada pela pena de G. C. White, o qual, dois dias antes do término da sessão, escreveu para um colega no ministério que labutava nos Estados do Sul:

"Estamos perto do fim de outra assembléia da Associação Geral, e dentro de alguns dias os delegados se espalharão por seus respectivos campos, e começará outro ano de trabalho.

"Esta tem sido uma assembléia muito interessante, e, embora não acompanhada com toda aquela paz e harmonia que às vezes tem sido manifestada, talvez seja uma reunião tão proveitosa como as que já foram realizadas, pois foram salientados muitos princípios importantes, e chegou-se a algumas conclusões que serão de grande valor, porque poderão influenciar nossa obra no futuro. Muitos partirão desta reunião resolvidos a estudar a Bíblia como nunca dantes, e isto resultará em pregações mais claras.

"Como você deve ter notado no Bulletin, foram tomadas muitas medidas avançadas a respeito de nossas missões no estrangeiro, bem como boas providências para o progresso da obra no Sul." Carta de G. C. White a Smith Sharp, escrita de Mineápolis, Minnesota, em 2 de novembro de 1888.

Cumpre notar que juntamente com o seu relato de progresso, o Pastor White fez menção da falta de "paz e harmonia que às vezes têm sido manifestadas" em nossas sessões da Associação Geral. Com isso ele estava se referindo às discussões teológicas que tornaram a assembléia de 1888 diferente de qualquer outra sessão da Associação Geral na história adventista.

Essas discussões começaram no concílio ministerial de uma semana de duração, quando, de acordo com a agenda, seriam considerados tais assuntos como os dez reinos, a divindade de Cristo, a cura da ferida mortal e a justificação pela fé. A discussão sobre os dez reinos tornou-se acirrada e consumiu uma quantidade de tempo desproporcionada. Alguns assuntos programados tiveram de ser omitidos. Perto do fim do concílio,


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o Pastor E. J. Waggoner, redator associado da revista Signs of the Times, iniciou uma série de estudos sobre a lei em Gálatas, que se incorporaram à sua apresentação da fé do cristão e da justiça de Cristo. Tais estudos prosseguiram na primeira semana da Assembléia da Associação Geral.

Foi essa série de estudos, especialmente os que tratavam do assunto controvertido da lei em Gálatas, que suscitou a controvérsia que se seguiu. Não houve nenhuma transcrição das discussões, mas as anotações incompletas de um ou dois delegados, os relatos de Ellen White, e as reminiscências de muitos que estiveram presentes, revelam quão acirrada foi a controvérsia e os funestos resultados da atitude negativa de diversos e eminentes dirigentes de igreja.

Antes mesmo que os delegados se reunissem em Mineápolis, durante vários anos tinha havido divergências sobre importantes assuntos teológicos. No coração de alguns também se formava uma atitude de resistência e rejeição das mensagens de advertência e repreensão de Ellen White. Ela logo notou que lhe era manifestada uma atitude estranha e hostil por alguns dos principais pastores.

Quando E. J. Waggoner passou a fazer uma análise da lei em Gálatas e da salvação pela fé, um espírito de debate dominou a alguns nas discussões. Isto perturbou grandemente a Ellen White. Conquanto ela não estivesse disposta a concordar com o Pastor Waggoner em todos os admiráveis pontos de suas apresentações sobre a lei em Gálatas, seu coração se alegrou com a clara enunciação dos princípios da justificação pela fé e da justiça obtida pela fé em Cristo. Ela falou vinte vezes em Mineápolis, e, especialmente nas reuniões dos pastores de manhã cedo, recomendou o estudo da Bíblia com espírito despreconcebido. Ela mesma não falou sobre o assunto da justiça pela fé.

As reações à ênfase sobre essa verdade vital foram variadas. Na Assembléia da Associação Geral em 1893, A. T. Jones, falando da recepção das verdades expostas em Mineápolis, declarou: "Sei que alguns a aceitaram ali; outros a rejeitaram completamente. Sabeis a mesma coisa. Outros procuraram


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manter uma posição intermediária e conduzir-se dessa maneira." General Conference Bulletin, 1893, pág. 185.

As discussões por vezes eram acaloradas. Alguns, temendo que a nova ênfase debilitasse a vigorosa posição da Igreja para com a lei de Deus, especialmente a verdade do sábado, se opuseram fortemente à mensagem da justiça pela fé. Não foi tomado nenhum voto da assembléia sobre esse ponto ou sobre qualquer outro ponto realçado nos estudos bíblicos.

Ellen White relatou numa carta escrita no dia do encerramento da assembléia (esta carta aparece nesta seção): "Minha coragem e fé têm sido boas", a despeito da quase "incompreensível luta pela supremacia" travada por eles, e ela expressou a convicção, como alguém que acompanhou tudo de perto, que a "reunião resultará em grande bem". Carta 82, 1888. Algumas semanas mais tarde, fazendo um retrospecto da Assembléia da Associação Geral de Mineápolis, ela fez a declaração que em grande parte foi incluída nesta seção.

Nas semanas e nos meses que decorreram após a assembléia, um pertinaz centro de oposição se desenvolveu em Battle Creek, a sede da Igreja e de três de suas principais instituições. Ellen White freqüentemente se ausentava de Battle Creek, indo ao campo, a fim de transmitir a mensagem às igrejas. Às vezes ela trabalhava com os Pastores Jones e Waggoner, empenhando-se os três na apresentação das preciosas verdades do evangelho. Ela dirigiu uma importante e bem-sucedida reunião de nossos pastores em janeiro de 1889, em South Lancaster, onde muitos foram "grandemente abençoados". O relato é incluído neste capítulo.

Os arquivos de Ellen G. White contêm uma poderosa palestra sobre os princípios fundamentais da salvação pela fé, da maneira como foram transmitidos na reunião campal em Ottawa, Kansas, em 11 de maio de 1889. Essa palestra e o seu relato da reação aparecem no livro de E. G. White, Fé e Obras, págs. 54-74.

Houve vitória em Chicago e em Denver, Colorado, onde, na reunião campal realizada em setembro de 1889, ela falou aos obreiros sobre a necessidade de verdadeira compreensão da justiça pela fé. A palestra proferida em Denver aparece nesta seção.


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Enquanto assistia à Assembléia da Associação Geral em 1889, realizada exatamente um ano depois da reunião de Mineápolis, ela relatou:

"Temos tido reuniões excelentes. O espírito que prevaleceu na reunião de Mineápolis não está aqui. Tudo se faz em harmonia. Há grande assistência de delegados. Nossa reunião das cinco horas da manhã é bem freqüentada, e as reuniões são boas. Todos os testemunhos que tenho ouvido têm sido de caráter edificante. Dizem que o ano passado foi o melhor de sua vida; a luz a resplandecer da Palavra de Deus foi clara e distinta - a justificação pela fé, Cristo justiça nossa. As experiências têm sido muito interessantes." Manuscrito 10, 1889 (publicado em Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 361).

Em 3 de fevereiro de 1890, falando aos pastores reunidos em Battle Creek para um concílio ministerial, ela rememorou suas experiências no campo durante 1889. Sua declaração constitui uma parte apropriada desta introdução:

"Viajamos diretamente aos diferentes lugares das reuniões para que eu pudesse estar lado a lado com os mensageiros de Deus que eu sabia serem Seus mensageiros - que eu sabia terem uma mensagem para Seu povo. Transmiti minha mensagem com eles exatamente em harmonia com a própria mensagem que eles estavam apresentando. E o que vimos?

"Vimos um poder acompanhando a mensagem. Em todo lugar em que trabalhamos - e alguns sabem quão arduamente nós labutamos - penso que foi uma semana inteira, desde cedo até tarde, em Chicago, a fim de que pudéssemos introduzir estas idéias na mente dos irmãos.

"O diabo trabalhou por um ano para obliterar essas idéias - todas elas. E requer penoso esforço modificar as antigas opiniões deles; pois pensam que precisam confiar em sua própria justiça, e em suas próprias obras, e continuar olhando para si mesmos, e não apropriar-se da justiça de Cristo, nem introduzi-la em sua vida e em seu caráter. E trabalhamos ali durante uma semana. ... Passou uma semana até que houve uma brecha, e o poder de Deus, como uma onda gigantesca, se


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estendeu sobre aquela congregação. Digo-vos que foi para libertar os homens; foi para indicar-lhes o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo.

"E lá em South Lancaster, as poderosas atuações do Espírito de Deus se fizeram sentir. Há alguns aqui que estiveram naquela reunião. Deus revelou Sua glória, e todos os estudantes do colégio foram conduzidos ali à porta, em confissão; e as atuações do Espírito de Deus se fizeram sentir.

"E assim [foi] de lugar em lugar. Em toda parte aonde fomos, vimos as atuações do Espírito de Deus.

"Pensais que, como os nove leprosos, hei de ficar calada, não erguendo a voz para enaltecer a justiça de Deus, e para louvá-Lo e glorificá-Lo? Procuro apresentar isto a vós, para que vejais as provas que eu vi; parece, porém, que as palavras como que penetram no vácuo; e até quando será assim? Até quando as pessoas no coração da obra resistirão a Deus? Até quando os homens aqui os apoiarão ao fazerem isso? Saí do caminho, irmãos. Tirai a mão da arca de Deus, e permiti que o Espírito de Deus entre e opere com grande poder." Manuscrito 9, 1890.

Notai o sentimento do último parágrafo que acabamos de citar. Ao passo que a recepção da mensagem da salvação pela fé sofreu a oposição de alguns na Assembléia da Associação Geral em Mineápolis e foi aceita por outros nos dias que se seguiram, a resistência se avolumou rapidamente no centro da obra. A recepção entre os membros de igreja no Campo, segundo o relato de Ellen White, foi bem diferente. A obstinada resistência da parte de "alguns" (ver Testemunhos Para Ministros, pág. 363) na própria sede da Igreja retardou consideravelmente a obra que o Senhor tencionava fosse realizada.

Ellen White escreveu a esse respeito perto do fim do ano 1890:

"Os preconceitos e opiniões que prevaleciam em Mineápolis de modo algum estão mortos; as sementes ali semeadas em alguns corações estão prestes a saltar para a vida e produzir idêntica colheita." Testemunhos Para Ministros, pág. 467.

Ela escreveu também em relação com isso: "Alguns têm


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fracassado ao distinguir entre o ouro puro e o mero brilho." - Testemunhos Para Ministros, pág. 467. E acrescentou: "A verdadeira religião, a única religião da Bíblia, que ensina o perdão somente pelos méritos de um Salvador crucificado e ressurreto, que advoga a justiça pela fé no Filho de Deus, tem sido desprezada, contra ela se tem falado, tem sido ridicularizada e rejeitada." Testemunhos Para Ministros, pág. 468.

Em seu livro Through Crisis to Victory, o Pastor A. V. Olson conta a história e documenta a mudança gradual para melhor que sucedeu nos cinco ou seis anos depois de Mineápolis.

Contudo, houve um trágico recuo no avanço da Causa de Deus. Ellen White reconheceu isso e às vezes o mencionou, geralmente em declarações casuais. Em nenhuma ocasião, porém, ela insinuou ou declarou que houve uma rejeição oficial, pelos dirigentes da Igreja, da preciosa mensagem submetida à consideração da Assembléia da Associação Geral em 1888. Antes, em 19 de dezembro de 1892, apenas quatro anos depois dessa notável assembléia, numa carta dirigida aos "Prezados Irmãos da Associação Geral", ela declarou triunfantemente:

"Ao recapitular a nossa história passada, havendo percorrido todos os passos de nosso progresso até ao nosso estado atual, posso dizer: Louvado seja Deus! Quando vejo o que Deus tem executado, encho-me de admiração e de confiança na liderança de Cristo. Nada temos que recear quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos ministrou no passado. Somos agora um povo forte, se pusermos nossa confiança no Senhor; pois estamos lidando com as poderosas verdades da Palavra de Deus. Tudo temos a agradecer." General Conference Bulletin, 1893, pág. 24 (ver Life Sketches, pág. 196; Testemunhos Para Ministros, pág. 31).

Ela escreveu também em 1907: "A Igreja deve aumentar em atividade e ampliar seus limites. ... Ao passo que tem havido renhidas lutas no esforço de manter nosso cunho distintivo, temos todavia como cristãos bíblicos estado sempre em terreno conquistado." Carta 170, 1907 (Mensagens Escolhidas, vol. 2, págs. 396 e 397).


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Com estes antecedentes apresentamos o capítulo histórico desta seção.

Preciosas Promessas Contra Quadros Sombrios

Foi pela fé que me aventurei a transpor as Montanhas Rochosas com o objetivo de assistir à Assembléia da Associação Geral realizada em Mineápolis. ...

Em Mineápolis encontramos uma grande delegação de pastores. Discerni, bem no começo da reunião, um espírito que me preocupou. Foram proferidos discursos que não deram ao povo o alimento que ele tanto necessitava. Foi-lhes apresentado o lado escuro e sombrio do quadro a ser pendurado na galeria da memória. Isso não traria luz e liberdade espiritual, mas desalento.

Fui profundamente influenciada pelo Espírito do Senhor, no sábado à tarde [13 de outubro de 1888], a chamar a atenção dos presentes para o amor que Deus manifesta para Seu povo. Não se deve permitir que a mente se demore nos aspectos mais desagradáveis de nossa fé. Na Palavra de Deus, que pode ser comparada a um jardim cheio de rosas, lírios e cravos, podemos colher pela fé as preciosas promessas de Deus, destiná-las a nosso próprio coração e ter bom ânimo - sim, ser alegres em Deus - ou podemos concentrar nossa atenção nos espinhos e cardos, ferir-nos gravemente, e lamentar nossa situação adversa.

Não agrada a Deus que Seu povo pendure quadros sombrios e dolorosos na galeria da memória. Ele quer que toda alma colha as rosas, os lírios e os cravos, enchendo a memória com as preciosas promessas de Deus que florescem em toda a parte de Seu jardim. Ele quer que nos demoremos nelas, com os sentidos bem aguçados e atentos, captando-lhes toda a preciosidade, e falando da alegria que nos é proporcionada. Ele quer que vivamos no mundo, mas não sejamos dele, estando nossos pensamentos concentrados nas coisas eternas. Deus quer que falemos do que Ele tem preparado para aqueles que O amam. Isto enlevará nosso espírito, avivará nossas esperanças e expectativas e fortalecerá nossa alma para suportar os conflitos e as provações


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desta vida. Ao nos demorarmos nestas cenas, o Senhor estimulará nossa fé e confiança. Ele afastará o véu e nos dará vislumbres da herança dos santos.

Enquanto eu apresentava a bondade, o amor, a terna compaixão de nosso Pai celestial, senti que o Espírito do Senhor repousava não somente sobre mim, mas também sobre o povo. Luz, e liberdade e bênção vieram aos ouvintes, e houve calorosa reação às palavras proferidas. A reunião de testemunhos que se seguiu evidenciou que a Palavra encontrara guarida no coração dos ouvintes. Muitos testificaram que esse dia era o mais feliz de sua vida, e foi realmente um precioso período, pois sabíamos que a presença do Senhor Jesus estava nessa reunião, e isso para abençoar. Eu sabia que a revelação especial do Espírito de Deus tinha o propósito de reprimir as dúvidas e dissipar a onda da descrença que penetrara em corações e mentes, no tocante à irmã White e à obra que o Senhor lhe dera para fazer.

Muitos Reanimados, mas não Todos

Essa foi uma ocasião de refrigério para muitas almas, mas não perdurou em alguns. Assim que eles viram que a irmã White não concordava com todas as suas idéias e não se harmonizava com as propostas e resoluções que seriam votadas nessa assembléia, as evidências que eles haviam recebido tiveram tão pouca influência sobre alguns como as palavras proferidas por Cristo na sinagoga, aos nazarenos. Os corações [dos ouvintes em Nazaré] foram tocados pelo Espírito de Deus. Por assim dizer, ouviram Deus falando a eles por intermédio de Seu Filho. Viram e sentiram a divina influência do Espírito de Deus, e todos davam testemunho das palavras de graça que Lhe saíam dos lábios. Satanás estava, porém, ao lado deles com sua descrença, e eles acolheram as objeções e dúvidas, e seguiu-se a incredulidade. O Espírito de Deus foi abafado. Em seu furor, eles teriam arremessado a Jesus do alto do precipício se Deus não O houvesse protegido, para que em sua fúria não Lhe causassem dano. Quando Satanás assume o domínio da mente, ele faz loucos e demônios daqueles que eram considerados excelentes pessoas. Preconceito, orgulho e obstinação constituem terríveis elementos quando se


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apoderam da mente humana.

Ellen White Consulta Alguns Dirigentes

Recebi uma longa carta do Pastor Butler, a qual eu li atentamente. Fiquei surpresa com o seu conteúdo. Eu não sabia o que fazer com essa carta; porém, como os mesmos sentimentos nela expressos pareciam atuar em meus irmãos no ministério, e dominá-los, reuni alguns deles no andar de cima e li essa carta para eles. Nenhum deles demonstrou ter ficado surpreso com o seu conteúdo, e vários disseram que sabiam ser essa a opinião do Pastor Butler, pois ouviram-no declarar essas mesmas coisas.

Expliquei então muitas coisas. Expus o que eu sabia ser o procedimento correto e justo a ser seguido: irmão com irmão, examinando as Escrituras. Eu sabia que o grupo à minha frente não encarava todas as coisas de maneira correta, portanto declarei muitas coisas. Todas as minhas declarações expuseram princípios corretos para orientar a maneira de proceder, mas receei que minhas palavras não causassem nenhuma impressão sobre eles. Compreendiam as coisas à sua maneira, e a luz que eu lhes disse que me foi dada, era para eles como conversas infundadas.

Apelos nas Reuniões Matinais

Fiquei com o coração muito aflito por causa das condições vigentes. Fiz mui fervorosos apelos a meus irmãos e irmãs nas reuniões matinais, e solicitei que fizéssemos dessa ocasião um período proveitoso, examinando juntos as Escrituras com humildade de coração. Recomendei que não houvesse tanta liberdade para falar sobre aquilo de que eles tinham pouco conhecimento.

Todos necessitavam aprender algo na escola de Cristo. Jesus convidou: "Vinde a Mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo


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é suave e o Meu fardo é leve." Mat. 11:28-30. Se aprendermos diariamente as lições de mansidão e humildade de coração, não haverá os sentimentos que existiram nesta reunião.

Há diferenças de opinião em alguns assuntos; é isso, porém, uma razão para sentimentos cruéis e hostis? Inveja, ruins suspeitas e imaginações, desconfianças, ódio e ciúmes hão de entronizar-se no coração? Todas essas coisas são más, completamente más. Nosso auxílio só está em Deus. Passemos muito tempo em oração e examinando o coração com o devido espírito - ansiosos de aprender e dispostos a ser corrigidos ou esclarecidos nalgum ponto em que talvez estejamos errados. Se Jesus estiver em nosso meio e se nosso coração for enternecido por Seu amor, teremos uma das melhores assembléias a que já assistimos.

Uma Sessão Movimentada e Importante

Havia muita coisa para ser realizada. A obra se ampliara. Tinham sido abertas novas missões e organizadas novas igrejas. Todos deviam estar livremente em harmonia para aconselhar-se juntos como irmãos em atividade no grande campo da colheita, todos labutando interessadamente nos diversos ramos da obra e considerando altruistamente como a obra do Senhor podia ser efetuada com o máximo proveito. Se já houve um tempo em que, como associação, necessitávamos de especial graça e iluminação do Espírito de Deus, isso foi nessa assembléia. Um poder de baixo estava incitando certas instrumentalidades a ocasionarem uma mudança na constituição e nas leis de nossa nação, a qual constrangeria a consciência de todos os que observam o sábado bíblico, claramente especificado no quarto mandamento como o sétimo dia.

Chegou o tempo em que cada pessoa deve empenhar-se ao máximo para cumprir o seu dever de apoiar e vindicar a lei de Deus perante nosso próprio povo e o mundo, fazendo o maior uso possível de suas capacidades e dos talentos que lhe foram confiados. Muitos são cegados e iludidos por homens que pretendem ser ministros do evangelho e levam muitos a considerar que estão fazendo uma boa obra para Deus, quando na realidade é a obra de Satanás.


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A Estratégia de Satanás Para Causar Divisão

Ora, Satanás deliberou como podia tolher a pena e silenciar a voz dos adventistas do sétimo dia. Se tão-somente pudesse absorver a atenção deles e desviar suas energias numa direção que os debilitasse e dividisse, sua perspectiva seria risonha.

Satanás tem realizado sua obra com algum êxito. Tem havido divergência de opiniões e divisão. Tem havido muita rivalidade e ruins suspeitas. Tem havido muitos discursos, insinuações e comentários não santificados. A mente dos homens que deviam dedicar-se de corpo e alma à obra, achando-se preparados para realizar grandes proezas para Deus neste próprio tempo, está absorta em questões de pouca importância. Visto que as idéias de alguns não se acham exatamente de acordo com as deles em todo ponto de doutrina que envolve pequenas idéias e teorias que não são questões vitais, a questão da liberdade religiosa do país, que agora abrange tanta coisa, para muitos é um assunto de somenos importância.

Satanás tem conseguido o que ele quer; mas o Senhor suscitou homens e lhes deu uma solene mensagem para Seu povo, a fim de despertar os poderosos e prepará-los para a batalha, no dia da preparação de Deus. Satanás procurou invalidar essa mensagem, e quando toda voz e toda pena deviam estar intensamente ocupadas em deter as atuações e os poderes de Satanás, houve uma debandada; houve divergências de opinião. Esta não era, absolutamente, a vontade do Senhor.

A Lei em Gálatas, um Ponto de Divergência

Nessa reunião foi apresentado aos pastores o assunto da lei em Gálatas. Este assunto fora exposto à assembléia três anos antes. ...

Sabemos que se todos se aproximassem das Escrituras com o coração suavizado e dominado pela influência do Espírito de Deus, elas seriam examinadas com uma mente tranqüila, livre de preconceitos e orgulho de opinião. A luz do Senhor incidiria sobre Sua Palavra, e seria revelada a verdade. Mas devia haver devoto e diligente esforço, e muita paciência, para responder à


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oração de Cristo, que Seus discípulos fossem um, assim como Ele é Um com o Pai. A fervorosa e sincera oração será ouvida, e o Senhor responderá. O Espírito Santo avivará as faculdades mentais e haverá uma compreensão harmoniosa. "A revelação das Tuas palavras esclarece, e dá entendimento aos simples." Sal. 119:130.

São Apresentadas a Justificação e a Justiça de Cristo

O Pastor E. J. Waggoner teve o privilégio de falar claramente, e de apresentar seus pontos de vista sobre a justificação pela fé e a justiça de Cristo em relação com a lei. Isso não era nova luz, mas velha luz colocada onde devia estar na mensagem do terceiro anjo. ... Qual é o teor dessa mensagem? João vê um povo. Ele diz: "Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus." Apoc. 14:12. João contempla esse povo um pouco antes de ver o Filho do homem "tendo na cabeça uma coroa de ouro, e na mão uma foice afiada" Apoc. 14:14.

A fé de Jesus tem sido passada por alto e tratada de modo indiferente e descuidado. Ela não tem ocupado a posição proeminente em que foi revelada a João. A fé em Cristo como a única esperança do pecador em grande parte tem sido omitida, não somente nos sermões proferidos, mas também na experiência religiosa de muitos que professam crer na mensagem do terceiro anjo.

Verdades que Ellen White Havia Apresentado Desde 1844

Nessa reunião, eu dei testemunho de que a mais preciosa luz irrompera das Escrituras na apresentação do grande assunto da justiça de Cristo relacionada com a lei, que constantemente devia ser mantido diante do pecador, como sua única esperança de salvação. Isso não era nova luz para mim, pois me adviera de uma autoridade mais elevada, durante os últimos quarenta e quatro anos, e eu a apresentei a nosso povo pela pena e pela voz, nos testemunhos de Seu Espírito. Mas bem poucos tinham correspondido, a não ser por assentimento, aos testemunhos dados sobre este assunto. Na realidade, muito pouco foi dito e escrito sobre esta importante questão. Os sermões de alguns


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podem ser corretamente retratados como semelhantes à oferta de Caim - destituídos de Cristo.

O Mistério da Piedade

A norma para avaliar o caráter é a lei real. A lei é o denunciador do pecado. Pela lei vem o conhecimento do pecado. O pecador é, porém, constantemente atraído para Jesus pela maravilhosa manifestação de Seu amor em humilhar-Se a Si mesmo até a ignominiosa morte na cruz. Que tema para estudo é este! Os anjos têm procurado e anelado fervorosamente devassar esse admirável mistério. É um estudo que pode pôr à prova a mais alta inteligência humana, que o homem, caído, enganado por Satanás, tomando o partido deste último, possa ser moldado à imagem do Filho do Deus infinito. Que o homem seja semelhante a Ele, e que, devido à justiça de Cristo concedida ao homem, Deus amará o homem - caído mas resgatado - assim como Ele amou a Seu Filho. Lede-o diretamente dos vivos oráculos.

Este é o mistério da piedade. É do mais alto valor que esse quadro seja colocado em todo sermão, pendurado na galeria da memória, proferido por lábios humanos, traçado por seres humanos que provaram e viram que o Senhor é bom, meditado, e constitua a base de todo discurso. Têm sido apresentadas áridas teorias, e almas preciosas estão definhando por falta do pão da vida. Essa não é a pregação que é requerida ou que será aceita pelo Deus do Céu, pois é destituída de Cristo. O divino quadro de Cristo deve ser mantido diante das pessoas. Ele é aquele Anjo posto em pé no sol do céu. Ele não lança nenhuma sombra. Revestido dos atributos da divindade, envolto nas glórias da divindade, e na semelhança do Deus infinito, Ele deve ser exaltado diante dos homens. Quando isto é mantido perante as pessoas, o mérito da criatura se reduz a uma insignificância. Quanto mais o olhar se detém sobre Ele, quanto mais Sua vida, Suas lições, Sua perfeição de caráter são estudadas, tanto mais nefando e detestável será o pecado.

Ao contemplá-Lo, o homem não pode deixar de admirá-Lo e ser mais atraído para Ele, tornar-se mais encantado e mais desejoso de ser semelhante a Jesus até refletir Sua imagem e ter


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a mente de Cristo. Como Enoque, ele anda com Deus. Sua mente está repleta de pensamentos de Jesus. Ele é o seu melhor Amigo. ...

Estudar a Jesus, o Nosso Modelo

"Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerar atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus. Heb. 3:1. Estudai a Cristo. Estudai Seu caráter, aspecto após aspecto. Ele é o nosso Modelo que nos é requerido imitar em nossa vida e em nosso caráter, senão deixaremos de representar a Jesus, e apresentaremos ao mundo um modelo falso. Não imiteis a homem algum, pois os homens são imperfeitos nos hábitos, na linguagem, nas maneiras, no caráter. Eu vos apresento o Homem Cristo Jesus. Precisais conhecê-Lo individualmente como vosso Salvador, antes que possais estudá-Lo como vosso modelo e exemplo.

Paulo disse: "Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé. ... Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou." Rom. 1:16-19.

Agradecidos Porque as Mentes Foram

Despertadas Pelo Espírito de Deus

Nós nos sentimos profunda e solenemente agradecidos a Deus porque as mentes foram despertadas pelo Espírito de Deus para ver a Cristo nos vivos oráculos e para representá-Lo ante o mundo, mas não meramente em palavras. Elas vêem os requisitos das Escrituras de que todos quantos afirmam ser seguidores de Cristo têm o dever de andar em Suas pegadas, ser imbuídos de Seu Espírito e apresentar assim Jesus Cristo ao mundo, o qual veio ao nosso mundo para representar o Pai.

Ao representar a Cristo representamos a Deus ao nosso mundo. "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle." Rom. 8:9. Perguntemos: Estamos refletindo o caráter de Jesus Cristo na igreja e perante o mundo? É requerido de nós um estudo muito mais profundo ao examinar as Escrituras. Colocar a


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justiça de Cristo na lei revela distintamente a Deus em Seu verdadeiro caráter, e revela a lei como santa, justa e boa, e realmente gloriosa, quando vista em seu verdadeiro caráter.

Se todos os nossos irmãos empenhados na obra ministerial se aproximassem juntos de suas Bíblias, com o espírito de Cristo, respeitando uns aos outros, e com verdadeira cortesia cristã, o Senhor seria seu Instrutor. Mas Ele não tem nenhuma oportunidade para impressionar as mentes sobre as quais Satanás exerce tão grande poder. Tudo que não se harmoniza com sua opinião e seu critério humano parece estar coberto de trevas e ter aspectos sombrios. ...

O Espírito de Muitos Preocupava a Ellen White

Minha preocupação durante a reunião era apresentar a Jesus e Seu amor perante meus irmãos, pois eu via claras evidências de que muitos não tinham o espírito de Cristo. Minha mente se manteve em paz, firmada em Deus, e fiquei triste ao ver que um espírito diferente penetrara na experiência de nossos irmãos no ministério e que ele estava impregnando o arraial. Eu estava ciente de que havia notável cegueira na mente de muitos, para que não discernissem onde estava o Espírito de Deus e o que constituía verdadeira experiência cristã. E considerar que esses eram aqueles que tinham a tutela do rebanho de Deus era doloroso. A falta de genuína fé, as mãos frouxas, porque não eram erguidas em sincera oração!

Alguns não sentiam necessidade de oração. Seu próprio critério, achavam eles, era suficiente, e não percebiam que o inimigo de todo o bem estava dirigindo o critério deles. Eram como soldados que iam para a batalha desarmados e sem armadura. É de admirar que os discursos não tivessem animação, que a vivificante água da vida recusasse fluir através de canais obstruídos e que a luz do Céu não pudesse atravessar o denso nevoeiro da mornidão e pecaminosidade?

Só consegui dormir algumas horas. Escrevi durante todas as horas da manhã, levantando-me freqüentemente às duas e às três horas da madrugada e aliviando a mente ao escrever sobre os assuntos que me eram apresentados. Meu coração ficou aflito ao ver o espírito que controlava alguns de nossos irmãos


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na obra ministerial, e esse espírito parecia ser contagioso. Havia muito falatório.

Uma Apresentação da Verdade que ela Pôde Apoiar

Quando declarei perante meus irmãos que eu ouvira pela primeira vez as idéias do Pastor E. J. Waggoner, alguns não acreditaram em mim. Afirmei que eu ouvira preciosas verdades proferidas a que podia corresponder de todo o meu coração, pois essas grandes e gloriosas verdades: a justiça de Cristo e o sacrifício completo feito em favor do homem, não tinham sido indelevelmente gravadas em minha mente pelo Espírito de Deus? Este assunto não foi apresentado reiteradas vezes nos testemunhos? Quando o Senhor deu a meus irmãos o encargo de proclamar esta mensagem, senti-me inexprimivelmente agradecida a Deus, pois eu sabia que era a mensagem para este tempo.

A mensagem do terceiro anjo é a proclamação dos mandamentos de Deus e da fé de Jesus Cristo. Os mandamentos de Deus têm sido proclamados, mas a fé de Jesus Cristo não tem sido proclamada pelos adventistas do sétimo dia como de igual importância, a lei e o evangelho andando de mãos dadas. Não encontro palavras para expressar estes assuntos em sua plenitude.

"A fé de Jesus." Ela é debatida, mas não compreendida. Que constitui a fé de Jesus, que faz parte da mensagem do terceiro anjo? O ato de Jesus tornar-Se o Portador de nossos pecados para que pudesse tornar-Se o Salvador que perdoa os nossos pecados. Ele foi tratado como nós merecemos ser tratados. Veio ao nosso mundo e levou os nossos pecados para que pudéssemos levar Sua justiça. E a fé na capacidade de Cristo para salvar-nos ampla, completa e totalmente, é a fé de Jesus.

A única segurança para os israelitas era o sangue nas ombreiras das portas. Deus disse: "Quando Eu vir o sangue, passarei por vós." Êxo. 12:13. Todos os outros dispositivos de segurança seriam inúteis. Nada, a não ser o sangue nas ombreiras das portas, vedaria a entrada do anjo da morte. Só há salvação para o pecador no sangue de Jesus Cristo, o qual nos purifica de todo pecado. O homem com o intelecto bem desenvolvido pode ter grande reserva de conhecimento, empenhar-se em especulações teológicas,


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ser grande e honrado pelos homens, e ser considerado o repositório do conhecimento; a menos que tenha, porém, salutar conhecimento de Cristo crucificado por ele, e pela fé se apodere da justiça de Cristo, estará perdido. Cristo "foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados". Isa. 53:5. "Salvos pelo sangue de Jesus Cristo" será nossa única esperança para o tempo presente e nosso cântico por toda a eternidade.

Combatendo o Preconceito e Falsas Acusações

Quando eu expressei claramente a minha fé, houve muitos que não me compreenderam, e eles disseram que a irmã White havia mudado; a irmã White tinha sido influenciada por seu filho G. C. White e pelo Pastor A. T. Jones. Naturalmente, tal declaração procedente dos lábios daqueles que me conheciam há vários anos, que haviam crescido com a mensagem do terceiro anjo e tinham sido honrados com a confiança e fé de nosso povo, devia ter alguma influência.

Tornei-me objeto de comentários e críticas, mas nenhum de nossos irmãos veio ter comigo, fazendo perguntas ou procurando alguma explicação de mim. Tentamos mui diligentemente fazer com que todos os nossos irmãos na obra ministerial, que estavam hospedados naquela casa, se reunissem num aposento desocupado, para orarmos juntos, mas só o conseguimos duas ou três vezes. Eles preferiam ir a seus quartos e ter suas conversas e orações por si mesmos. Não parecia haver nenhuma oportunidade para desfazer o preconceito que era tão firme e decidido, nenhum ensejo para remover a má compreensão a meu respeito, e a respeito de meu filho e de E. J. Waggoner e A. T. Jones.

Procurei fazer outra tentativa. Na madrugada daquele dia eu escrevera um assunto para ser apresentado a nossos irmãos, pois assim minhas palavras não seriam deturpadas. Um bom número de nossos principais homens de responsabilidade se achava presente, e senti profundamente que um número muito maior não fora levado para essa reunião, pois eu sabia que alguns dos presentes começaram a ver as coisas sob um aspecto diferente, e muitos outros teriam sido beneficiados se houvessem tido a oportunidade de ouvir o que eu tinha para dizer. Mas


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eles não sabiam, e não foram beneficiados com minhas explicações e com o claro "Assim diz o Senhor", que eu lhes dei.

Foram feitas algumas perguntas nessa ocasião. "Irmã White, a senhora pensa que o Senhor tem alguma luz nova e mais intensa para nós como um povo?" Respondi: "Com toda a certeza. Não somente penso assim, mas posso falar com conhecimento de causa. Sei que há preciosa verdade a ser desdobrada para nós, se somos o povo que deve permanecer em pé no dia da preparação de Deus."

Ellen White Incentiva o Estudo com Espírito Despreconcebido

Então foi feita a pergunta se eu achava que era melhor que o assunto ficasse onde estava, depois que o irmão Waggoner expusera seus pontos de vista da lei em Gálatas. Eu disse: "De modo algum. Queremos tudo sobre ambos os lados da questão." Declarei, porém, que o espírito que eu vira ser manifestado na reunião era desarrazoado. Eu devia insistir que fosse manifestado o devido espírito, um espírito semelhante ao de Cristo, como o que o Pastor E. J. Waggoner revelara durante toda a apresentação de suas idéias; e que esse assunto não fosse tratado em forma de debate. A razão para eu recomendar que esse assunto fosse tratado com um espírito semelhante ao de Cristo era que não devia haver ataques contra seus irmãos que diferissem deles. Visto que o Pastor E. J. Waggoner se portara como um cavalheiro cristão, eles deviam fazer a mesma coisa, apresentando os argumentos de seu lado da questão de maneira direta. ...

A Questão da Lei em Gálatas não é Vital

Foi feita a observação: "Se nossas idéias a respeito de Gálatas não são corretas, não temos a mensagem do terceiro anjo e nossa posição é infundada; não há nada de importante em nossa fé."

Eu disse: "Irmãos, aqui está precisamente o que tenho declarado. Essa afirmação não é correta. É uma afirmação extravagante e exagerada. Se ela for feita ao ser considerada essa questão, terei o dever de expor este assunto perante todos os que estiverem reunidos, e, quer ouçam ou deixem de ouvir, dizer-lhes que a afirmação é incorreta. A questão debatida não é


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uma questão vital, e não deve ser tratada como tal. A maravilhosa importância e magnitude desse assunto tem sido exagerada, e por esta razão - por meio de concepções errôneas e idéias deturpadas - vemos o espírito que prevalece nesta reunião, o qual é contrário ao espírito de Cristo, e jamais devia ser manifestado entre irmãos. Apareceu um espírito de farisaísmo entre nós contra o qual erguerei minha voz onde quer que seja revelado." ...

Pude ver grande falta de sábia discriminação e de bom senso. O mal dessas coisas muitas vezes me foi apresentado. A diferença de opinião tornou-se evidente tanto aos crentes como aos descrentes. Essas coisas causaram tal impressão em minha mente que achei que meus irmãos tinham sofrido uma grande modificação. Este assunto me foi apresentado enquanto eu me encontrava na Europa, em figuras e símbolos, mas a explicação me foi dada posteriormente, de modo que não fiquei em trevas quanto ao estado de nossas igrejas e de nossos irmãos na obra ministerial. ...

Voltei para meu quarto perguntando qual seria o melhor procedimento a ser adotado por mim. Aquela noite, muitas horas foram passadas em oração a respeito da lei em Gálatas. Isto era uma simples partícula de pó. Qualquer que fosse o ponto de acordo com um "Assim diz o Senhor", minha alma diria: Amém e amém! Mas o espírito que dominava nossos irmãos era tão diferente do espírito de Jesus, tão contrário ao espírito que devia ser manifestado de uns para com os outros, que minha alma se encheu de angústia.

Na reunião para os pastores, na manhã seguinte, eu tinha algumas coisas claras para dizer a meus irmãos, que não ousei reter. O sal perdera o sabor, o ouro refinado se escurecera. Havia trevas espirituais sobre o povo, e muitos evidenciavam que eram impelidos por um poder de baixo, pois o resultado era exatamente como seria o caso se não estivessem sob a iluminação do Espírito de Deus.

Que páginas da história estavam sendo feitas pelo anjo registrador! O fermento realmente efetuara sua amarga obra, e


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quase levedara a massa. Tive uma mensagem de repreensão e advertência para meus irmãos, eu o sabia. Minha alma foi oprimida pela angústia. Dizer essas coisas para meus irmãos me causa muito maior angústia do que elas causaram àqueles aos quais foram dirigidas. Pela graça de Cristo experimentei um divino poder coercivo para pôr-me em pé diante de meus irmãos na obra ministerial, em nome do Senhor, esperando e orando que o Senhor abrisse os olhos cegos. Fui fortalecida para dizer as palavras que minha secretária taquigrafou. Manuscrito 24, 1888.

Mineápolis - um Ponto de Prova

O Senhor estava examinando e provando Seu povo que tivera grande luz, para ver se andariam nela, ou se afastariam sob a tentação, pois bem poucos sabem de que espécie de espírito são eles até que as circunstâncias sejam de molde a provar o espírito que impele à ação. Em muitos o coração natural é o poder controlador, e, no entanto, eles não imaginam que o orgulho e o preconceito são acolhidos como hóspedes honrados, e influem nas palavras e ações, contra a luz e a verdade. Nossos irmãos que têm ocupado posições de liderança na obra e na causa de Deus deviam estar tão intimamente ligados com a Fonte de toda a luz que não chamassem a luz de trevas, e as trevas de luz. ...

A Justiça Pela Fé não Rebaixa a Lei

Enaltecer a Cristo como nossa única fonte de poder, apresentar Seu incomparável amor ao lançar a culpa dos pecados dos homens em Sua conta e imputar-lhes Sua própria justiça, não anula a lei de forma alguma, nem diminui sua dignidade. Antes, coloca-a onde a luz correta incide sobre ela, e a glorifica. Isto só é efetuado pela luz refletida da cruz do Calvário. A lei só é completa e perfeita no grande plano da salvação quando é apresentada na luz que dimana do Salvador crucificado e ressurreto. Isto só pode ser discernido espiritualmente. O fato de que Cristo é sua justiça, ateia no coração do espectador ardente fé, esperança e alegria. Esta alegria só é para aqueles que amam e guardam as


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palavras de Jesus, que são as palavras de Deus.

Se meus irmãos estivessem na luz, as palavras que o Senhor me deu para eles encontrariam uma resposta no coração daqueles pelos quais eu labutava. Quando vi que os corações com que eu almejava estar em harmonia se achavam fechados pelo preconceito e descrença, pensei ser melhor que eu os deixasse. Meu propósito era partir de Mineápolis no primeiro dia da semana. ...

Eu desejava meditar e orar, [para que soubesse] de que maneira devíamos agir para apresentar ao povo o assunto do pecado e da expiação à luz da Bíblia. Eles necessitavam grandemente tal espécie de instrução para que pudessem transmitir a luz a outros e ter o bendito privilégio de ser cooperadores de Deus em reunir e trazer de volta as ovelhas de Seu aprisco. Que poder precisamos ter, da parte de Deus, para que corações gelados, possuindo apenas uma religião legal, vejam as coisas melhores providas para eles - Cristo e Sua justiça! Era necessária uma mensagem vivificante para dar vida aos ossos secos. Manuscrito 24, 1888.

Avaliação Feita por Ellen White no Dia do Encerramento

(Escrito para um membro de sua família, em 4 de novembro de 1888)

Nossa reunião [a Assembléia da Associação Geral em Mineápolis] terminou. No sábado passado proferi meu último sermão. Pela primeira vez parecia haver considerável sensibilidade na congregação. Eu pedi que eles viessem à frente, para algumas orações, embora a igreja estivesse completamente cheia. Um bom número de pessoas veio à frente. O Senhor me deu o espírito de súplica e Sua bênção desceu sobre mim. Não fui à reunião esta manhã. Esta foi uma assembléia muito laboriosa para Willie, e tive de estar atenta em todo o sentido, para que não se tomassem medidas e resoluções que fossem prejudiciais à obra no futuro.

Falei cerca de vinte vezes, com grande liberdade, e cremos que esta assembléia resultará em grande bem. Não conhecemos o


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futuro, mas achamos que Jesus está ao leme, e não iremos naufragar. Minha coragem e fé têm sido boas, e não me faltaram, embora experimentássemos a mais penosa e incompreensível luta que já houve entre nosso povo. A questão não pode ser explicada pela pena, a menos que eu escrevesse muitas e muitas páginas; portanto é melhor que eu não empreenda essa tarefa.

O Pastor Olsen será o presidente da Associação Geral, e o irmão Dan Jones, de Kansas, irá auxiliá-lo. O Pastor Haskell desempenhará o cargo até que o irmão Olsen venha da Europa. Não sei dizer o que acontecerá no futuro, mas permaneceremos umas quatro semanas em Battle Creek e elaboraremos um testemunho que deve ser publicado imediatamente, sem demora. Então poderemos ver como andarão as coisas no grande centro da obra. Estamos resolvidos a fazer tudo que estiver ao nosso alcance, no temor de Deus, para ajudar nosso povo nesta emergência.

A mente de um homem enfermo exerceu um poder controlador sobre a Comissão da Associação Geral, e os pastores têm sido a sombra e o eco do Pastor Butler durante quase tanto tempo como seria salutar e benéfico para a Causa. Inveja, más suspeitas, rivalidades atuaram como fermento até que toda a massa parecia estar levedada. ...

Hoje, domingo, não assisti à reunião, mas tive de palestrar consideravelmente. Sou grata a Deus pela força, liberdade e poder de Seu Espírito ao dar meu testemunho, embora causasse menor impressão sobre muitas mentes do que em qualquer período anterior de minha história. Satanás parecia ter poder para estorvar consideravelmente minha obra, mas tremo ao pensar que teria sucedido nesta assembléia se não estivéssemos aqui. Deus teria agido de algum modo para impedir que esse espírito trazido para a assembléia assumisse o controle. Mas não estamos nem um pouco desalentados. Confiamos no Senhor Deus de Israel. A verdade triunfará e queremos


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triunfar com ela.

Pensamos em todos vocês lá em casa, e seria um prazer estar com vocês, mas nossos desejos não devem ser consultados. O Senhor é o nosso Dirigente; seja Ele quem nos mostre o caminho, e seguiremos aonde Ele nos guiar. Carta 82, 1888.

Dois Trechos de Sermões Pregados em Mineápolis

Agora, o que desejamos apresentar é: Como podeis avançar na vida divina. Ouvimos muitas desculpas: Não posso viver de acordo com isto ou aquilo.

Que quereis dizer com "isto ou aquilo"? Quereis dizer que foi efetuado um sacrifício imperfeito para a raça caída, no Calvário; que não nos é concedido suficiente graça e poder para que possamos desvencilhar-nos de nossos próprios defeitos e tendências naturais; que não nos foi dado um Salvador perfeito?

Ou quereis acusar a Deus? Bom, vós dizeis: Foi o pecado de Adão. Dizeis também: Não sou culpado disso, e não sou responsável por sua culpa e queda. Há todas estas tendências naturais em mim, e não mereço ser censurado se procedo de acordo com estas tendências naturais. Quem merece ser culpado? É Deus?

Por que Deus permitiu que Satanás tivesse tal poder sobre a natureza humana? Estas são acusações contra o Deus do Céu, e Ele vos dará uma oportunidade, se o desejardes, de finalmente apresentardes vossas acusações contra Ele. Então Ele apresentará Suas acusações contra vós quando fordes conduzidos ao Seu tribunal. Manuscrito 8, 1888.

Se Deus pudesse modificar Sua lei para ir ao encontro do homem em sua condição decaída, Cristo não precisaria ter vindo a este mundo. Visto que a lei era imutável e inalterável, Deus enviou Seu Filho unigênito para morrer pela raça caída. Será, porém, que o Salvador tomou sobre Si a culpa dos seres


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humanos e imputou-lhes Sua justiça para que continuassem a violar os preceitos de Jeová? Não, não! Cristo veio porque não havia nenhuma possibilidade de o homem guardar a lei em sua própria força. Veio trazer-lhe força para obedecer aos preceitos da lei. E o pecador, arrependendo-se de sua transgressão, pode aproximar-se de Deus e dizer: "Ó Pai, suplico perdão pelos méritos do Salvador crucificado e ressurreto." Deus aceitará a todos os que se dirigirem a Ele no nome de Jesus. Manuscrito 16, 1888. Domingo, 21 de outubro de 1888.

Três Meses Depois de Mineápolis

Quando Fazemos o que Está ao Nosso Alcance

Graças a Deus, não é demasiado tarde para que os erros sejam corrigidos. Cristo olha ao espírito com que fazemos as coisas, e quando nos vê levando nossa carga com fé, Sua santidade perfeita faz expiação por nossas faltas. Quando fazemos o melhor possível, Ele Se torna nossa justiça. Requer todo raio de luz que Deus nos envia, o tornar-nos a luz do mundo. Carta 22, 1889. (Publicada em Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 368.)

O Acolhimento no Campo da Mensagem da Justiça Pela Fé

Reuniões especiais começaram em South Lancaster na sexta-feira, 11 de janeiro [de 1889]. Ficamos contentes por encontrar a igreja bem repleta com os que vieram para tirar proveito das reuniões. ... Havia representantes do Maine, Connecticut, Massachusetts e outros Estados. Percebemos que havia uma obra a ser feita, para endireitar as coisas, que os melhores esforços humanos não podiam realizar sem a ajuda de Deus. Nosso coração se enlevou em fervorosas súplicas a Deus para que Ele operasse em nosso favor. ...

Sentimos grande solicitude pelos que estavam levando a


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mensagem da verdade a outros, para que não fechassem o coração a alguns dos preciosos raios da luz celestial que Deus lhes tem enviado. Jesus exultou quando Seus seguidores receberam Suas mensagens sobre a verdade. ...

No sábado à tarde, muitos corações foram tocados, e muitas almas foram alimentadas com o pão que desce do Céu. Depois do sermão tivemos uma preciosa reunião de testemunhos. O Senhor Se achava bem perto, e convenceu as almas da grande necessidade de Sua graça e amor. Sentimos a necessidade de apresentar a Cristo como o Salvador que não estava longe, mas bem perto. Quando o Espírito de Deus começa a operar no coração das pessoas, o fruto é visto na confissão do pecado e na reparação de injustiças. Durante todas as reuniões, à medida que as pessoas buscavam chegar mais perto de Deus, elas produziam obras dignas do arrependimento confessando uns aos outros aquilo em que os haviam prejudicado ou ofendido em palavras ou ações. ...

Houve muitos, mesmo entre os pastores, que viram a verdade como é em Jesus numa luz em que nunca a haviam considerado anteriormente. Viram o Salvador como Alguém que perdoa os pecados, e a verdade como o santificador da alma. "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.". ...

Muitos Mantêm Idéias Errôneas

Há muitos que parecem sentir que têm de fazer uma grande obra por si mesmos antes de poderem ir a Cristo em busca de Sua salvação. Parecem pensar que Cristo aparecerá bem no fim de sua luta, e lhes prestará ajuda dando o toque final à obra de sua vida. Parece ser-lhes difícil compreender que Cristo é um Salvador perfeito e que pode salvar totalmente os que por Ele se chegam a Deus. Perdem de vista o fato de que Cristo mesmo é "o caminho, e a verdade, e a vida". Quando individualmente nos apoiamos em Cristo, com plena certeza de fé, confiando unicamente na eficácia de Seu sangue para purificar de todo pecado, teremos paz em crer que Deus é poderoso para cumprir o que Ele prometeu. ...

Foi Apresentada a Mensagem Exata

Quando nossos irmãos e irmãs abriram o coração para a luz,


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eles obtiveram melhor conhecimento do que constitui a fé. O Senhor foi muito precioso; Ele estava disposto a fortalecer Seu povo. As reuniões continuaram uma semana além do tempo estipulado a princípio. As aulas na escola foram dispensadas, e todos se empenharam diligentemente em buscar ao Senhor. O Pastor Jones veio de Boston e labutou com muito fervor pelas pessoas, falando duas e até três vezes por dia. O rebanho de Deus foi alimentado com nutritivo alimento espiritual. A mensagem exata que o Senhor enviou para o povo deste tempo foi apresentada nos sermões. Havia reuniões em andamento de manhã cedo à noite, e os resultados foram muito satisfatórios.

Tanto os alunos como os professores têm participado amplamente das bênçãos de Deus. As profundas atuações do Espírito de Deus foram sentidas em quase todo coração. O testemunho dado em geral pelos que assistiram à reunião era que eles obtiveram uma experiência que superou a tudo quanto haviam conhecido anteriormente. Expressaram sua alegria de que Cristo lhes perdoara os pecados. Tinham o coração cheio de gratidão e louvor a Deus. Havia doce paz em sua alma. Amavam a todos, e sentiam que podiam descansar no amor de Deus.

Nunca vi uma obra de avivamento avançar com tal eficácia, permanecendo, porém, tão livre de todo excitamento indevido.

Muitos testificaram que, ao serem apresentadas as penetrantes verdades, foram convencidos, à luz da lei, de que eram transgressores. Tinham confiado em sua própria justiça. Agora eles a consideravam como trapos de imundícia, em comparação com a justiça de Cristo, a qual é a única aceitável a Deus.

Embora não fossem transgressores declarados, viam que eram depravados e degradados de coração. Haviam colocado outros deuses em lugar de seu Pai celestial. Tinham lutado para abster-se do pecado, mas haviam confiado em sua própria força. Devemos ir a Jesus assim como estamos, confessar nossos pecados e lançar nossa alma desamparada sobre o nosso compassivo


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Redentor. Review and Herald, 5 de março de 1889.

Necessidade de Correta Noção da Justiça Pela Fé

A convite, fiz algumas observações aos ministros, na tenda dos pastores. Conversamos um pouco a respeito dos melhores planos a serem feitos para instruir o povo, aqui neste próprio local, no tocante à religião no lar.

Muitas pessoas parecem desconhecer o que constitui a fé. Muitos se queixam de trevas e desalento. Perguntei: "Tendes a face voltada para Jesus? Estais contemplando a Ele, o Sol da Justiça? Precisais definir claramente para as igrejas a questão da fé e inteira confiança na justiça de Cristo. Em vossas palestras e orações tem sido dado tão pouca ênfase a Cristo, a Seu incomparável amor, a Seu grande sacrifício feito em nosso favor, que Satanás quase obliterou as noções que devemos e precisamos ter de Jesus Cristo. Precisamos confiar menos em seres humanos para ajuda espiritual, e mais, muito mais, ao nos aproximarmos de Jesus Cristo como nosso Redentor. Podemos demorar-nos com firme propósito nos atributos celestiais de Jesus Cristo; podemos falar sobre Seu amor, podemos relatar e cantar Suas misericórdias, podemos torná-Lo nosso próprio Salvador pessoal. Então somos um com Cristo. Amamos o que Cristo amava, e odiamos o pecado, o qual era odiado por Cristo. Precisamos falar e alongar-nos sobre estas coisas.

Dirijo-me aos pastores. Conduzi o povo passo a passo para a frente, demorando-vos na eficiência de Cristo, até que, por viva fé, eles vejam a Jesus como Ele é - vejam-nO em Sua plenitude, como Salvador que perdoa os pecados, como Aquele que pode perdoar todas as nossas transgressões. É contemplando que somos transformados à Sua semelhança. Esta é a verdade presente. Temos falado sobre a lei. Isto é correto. Só temos, porém, enaltecido casualmente a Cristo como o Salvador que perdoa os pecados.

Devemos conservar diante da mente o Salvador que perdoa


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os pecados. Mas devemos apresentá-Lo em Sua verdadeira posição - vindo morrer para engrandecer a lei de Deus e torná-la gloriosa, e também para justificar o pecador que confia inteiramente nos méritos do sangue do Salvador crucificado e ressurreto. Isto não é explicado.

A mensagem para salvação da alma, a mensagem do terceiro anjo, é a mensagem que deve ser transmitida ao mundo. Tanto os mandamentos de Deus como a fé de Jesus são importantes, imensamente importantes, e devem ser transmitidos com a mesma força e poder. Tem sido salientada principalmente a primeira parte da mensagem, e a última parte apenas casualmente. A fé de Jesus não é compreendida. Precisamos falar sobre ela, vivê-la, orar a seu respeito, e ensinar o povo a introduzir esta parte da mensagem em sua vida familiar. "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus." Filip. 2:5.

Há Necessidade de Sermões Repletos de Cristo

Tem havido sermões inteiros, secos e destituídos de Cristo, nos quais Jesus quase não é mencionado. O coração do orador não é subjugado e enternecido pelo amor de Jesus. Ele se alonga sobre áridas teorias. Não é causada grande impressão. O orador não tem a unção divina, e como poderá comover o coração das pessoas? Precisamos arrepender-nos e converter-nos - sim, o pregador precisa converter-se. Jesus deve ser exaltado perante as pessoas, e deve-se instar com elas para que "olhem e vivam".

Por que são os nossos lábios tão silenciosos a respeito do assunto da justiça de Cristo e Seu amor pelo mundo? Por que não damos às pessoas aquilo que as avivará e despertará para uma nova vida? O apóstolo Paulo estava cheio de enlevo e adoração ao declarar: "Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória." I Tim. 3:16.

"Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele, subsistindo em forma de Deus não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-Se em


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semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a Si mesmo Se humilhou, tornando-Se obediente até à morte, e morte de cruz. ... Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos Céus, na Terra e debaixo da Terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai." Filip. 2:5-11.

"No qual temos a redenção [pelo Seu sangue], a remissão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois nEle foram criadas todas as coisas, nos Céus e sobre a Terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas. NEle tudo subsiste." Col. 1:14-17.

Este é o grandioso assunto celestial que em grande parte tem sido omitido dos sermões porque Cristo não é formado na mente humana. E Satanás tem conseguido que seja assim, para que Cristo não seja o assunto de contemplação e adoração. Este nome, tão poderoso, tão essencial, deve estar em toda língua.

"Da qual [a Igreja] me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus: O mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos Seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a Sua eficácia que opera eficientemente em mim." Col. 1:25-29.

Eis aí a obra dos ministros de Cristo. Visto que esta obra não tem sido realizada, visto que Jesus e Seu caráter, Suas palavras e Sua obra não têm sido apresentados ao povo, a situação religiosa


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das igrejas testifica contra seus mestres. As igrejas estão prestes a morrer porque é apresentada pouca coisa de Cristo. Elas não têm vida espiritual e discernimento espiritual.

Receio da Mensagem da Justiça Pela Fé

Os próprios mestres do povo não se tornaram familiarizados, por viva experiência, com a Fonte de sua confiança e de sua força. E quando o Senhor suscita homens e os envia com a exata mensagem para este tempo, a fim de que seja transmitida ao povo - uma mensagem que não é uma nova verdade, mas exatamente a mesma que Paulo ensinou, que o próprio Cristo ensinou - ela é para eles uma doutrina estranha. Começam a advertir as pessoas - que estão prestes a morrer por não terem sido fortalecidas pela exaltação de Cristo diante delas - dizendo: "Não sejais muito apressadas. Convém esperar e não envolver-vos nessa questão até que estejais melhor informados a seu respeito." E os pastores pregam as mesmas teorias insípidas, quando o povo necessita de novo maná.

O caráter de Cristo é um caráter infinitamente perfeito, e Ele precisa ser exaltado, precisa ser realçado proeminentemente, pois é o poder, a força, a santificação e a justiça de todos os que crêem nEle. Os homens que têm tido um espírito farisaico pensam que se eles se apegarem às agradáveis teorias antigas e não tomarem parte na mensagem enviada por Deus a Seu povo, estarão em boa e segura posição. Assim pensavam os fariseus de tempos antigos, e seu exemplo devia ser uma advertência para que os pastores se afastem desse terreno de enfatuação pessoal.

Apresentar Assuntos Inspiradores, do Evangelho

Necessitamos de um poder que desça sobre nós, agora, e nos estimule à diligência e a intensa fé. Então, batizados com o Espírito Santo, teremos Cristo formado em nós, a esperança da glória. Manifestaremos então a Cristo como o divino objeto de nossa fé e de nosso amor. Falaremos de Cristo, oraremos a Cristo e a respeito de Cristo. Louvaremos o Seu santo nome. Apresentaremos ao povo Seus milagres, Sua abnegação, o sacrifício de Si mesmo, Seus sofrimentos e Sua crucifixão, Sua ressurreição e triunfante ascensão. Estes constituem os inspiradores assuntos


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do evangelho, para despertarem amor e intenso fervor em todo coração. Eis aí os tesouros da sabedoria e do conhecimento, uma fonte inesgotável. Quanto mais buscardes desta experiência, tanto maior será o valor de vossa vida.

A água viva pode ser extraída da fonte, mas não haverá uma diminuição do suprimento. Os ministros do evangelho seriam homens poderosos se pusessem sempre o Senhor diante de si e dedicassem seu tempo ao estudo de Seu admirável caráter. Se fizessem isto, não haveria apostasias, ninguém seria separado da associação por haver, pelas suas práticas licenciosas, desonrado a causa de Deus e exposto Jesus ao vitupério. As faculdades de todo ministro do evangelho devem ser empregadas para ensinar as igrejas que crêem a receber a Cristo pela fé como seu Salvador pessoal, a introduzi-Lo em sua própria vida e torná-Lo seu Modelo, para aprender de Jesus, crer em Jesus e exaltar a Jesus. O pastor deve, ele mesmo, demorar-se no caráter de Cristo. Deve ponderar a verdade e meditar sobre os mistérios da redenção, especialmente a obra mediadora de Cristo para este tempo.

Demorar-se Mais na Encarnação e na Expiação

Se Cristo é tudo e em todos para cada um de nós, por que Sua encarnação e Seu sacrifício expiatório não são mais realçados nas igrejas? Por que o coração e a língua não são empregados para louvar o Redentor? Esta será a aplicação das faculdades dos remidos pelos intermináveis séculos da eternidade.

Nós mesmos precisamos ter viva ligação com Deus, a fim de ensinar a Jesus. Então podemos dar o vivo testemunho pessoal do que Cristo é para nós por experiência e fé. Recebemos a Cristo e, com divino fervor, podemos contar aquilo que constitui permanente poder em nós. As pessoas precisam ser atraídas para Cristo. Deve-se dar ênfase a Sua eficácia para salvar.

Os verdadeiros discípulos, sentando-se aos pés de Cristo, descobrem as preciosas gemas da verdade proferidas por nosso Salvador, e discernirão seu significado e apreciarão seu valor. E cada vez mais, ao tornarem-se humildes e dóceis, sua


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compreensão será aberta para descobrir maravilhosas coisas de Sua lei, pois Cristo as apresentou de modo claro e distinto.

A doutrina da graça e salvação por meio de Jesus Cristo é um mistério para uma grande parte daqueles cujos nomes se encontram nos livros da igreja. Se Cristo estivesse na Terra, falando a Seu povo, Ele os censuraria por sua morosidade de compreensão. Diria para os vagarosos e incompreensivos: "Deixei em vosso poder verdades que têm que ver com a vossa salvação, cujo valor não podeis imaginar."

Oxalá pudesse ser dito dos pastores que estão pregando ao povo e às igrejas: "Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras"! Luc. 24:45. Digo-vos no temor de Deus que, até agora, as verdades bíblicas relacionadas com o grande plano da redenção são compreendidas apenas indistintamente. A verdade estará continuamente se desdobrando, expandindo e desenvolvendo, pois é divina, como seu Autor.

Como Jesus Ensinava o Povo

Jesus não fazia amplos comentários ou constantes sermões sobre doutrinas, mas freqüentemente proferia frases curtas, como alguém que semeasse os grãos celestiais das doutrinas como pérolas que precisam ser apanhadas pelo trabalhador perspicaz. As doutrinas da fé e da graça são expostas em toda a parte em que Ele ensinou. Oh! por que os pastores não dão às igrejas o próprio alimento que lhes proporcionará saúde e vigor espirituais? O resultado será uma rica experiência em obediência prática à Palavra de Deus. Por que os pastores não consolidam o resto que estava para morrer?

Quando estava prestes a deixar Seus discípulos, Cristo buscou o maior conforto que podia dar-lhes. Prometeu-lhes o Espírito Santo - o Consolador - para juntar-Se ao esforço humano. Que promessa é menos experimentada, menos cumprida à Igreja, do que a promessa do Espírito Santo? Quando esta bênção, que traria todas as outras bênçãos em sua esteira, é omitida, o infalível resultado é aridez espiritual. Este é o opróbrio que


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recai sobre o pregador. A Igreja precisa levantar-se, e não contentar-se mais com o escasso orvalho.

Nossa Necessidade do Espírito Santo

Oh! por que os membros de nossa Igreja não alcançam seus privilégios? Eles não são pessoalmente sensíveis à necessidade da influência do Espírito de Deus. A Igreja pode dizer como Maria: "Levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram." João 20:13.

Os pastores que pregam a verdade presente admitem a necessidade da influência do Espírito de Deus na convicção do pecado e na conversão de almas, e esta influência precisa acompanhar a pregação da Palavra, mas eles não sentem suficientemente sua importância para ter profundo e prático conhecimento da mesma. A escassez da graça e poder da divina influência da verdade sobre seu próprio coração impede que discirnam as coisas espirituais e que apresentem à Igreja sua evidente necessidade. E assim eles vão claudicando, diminuídos no crescimento religioso, porque em seu ministério há uma religião legal. O poder da graça de Deus não é considerado como viva e real necessidade, como princípio permanente.

Oxalá todos pudessem ver isto e abraçar a mensagem que lhes foi dada por Deus! Ele despertou Seus servos para apresentarem a verdade que, devido a abranger o ato de erguer a cruz, tem sido perdida de vista e sepultada sob o entulho da formalidade. Ela precisa ser libertada e recolocada na estrutura da verdade presente. Suas reivindicações precisam ser defendidas, e deve ter sua posição assegurada na terceira mensagem angélica.

Promulguem os muitos ministros de Cristo um santo jejum, proclamem uma assembléia solene, e busquem a Deus enquanto Se pode achar. Invocai-O enquanto vos achais agora aos pés da cruz do Calvário. Despojai-vos de todo orgulho e, como representantes e defensores das igrejas, chorai entre o pórtico e o altar, clamando: "Poupa o Teu povo, ó Senhor, e não entregues a Tua herança ao opróbrio. Tira de nós o que quiseres, mas não retém Teu Santo Espírito de nós, Teu povo." Orai, oh! orai pelo derramamento do Espírito de Deus! Manuscrito 27, 1889.

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