O erro de Jacó em receber as bênçãos de seu irmão Esaú pela fraude voltou-lhe vivamente ao espírito e ele temia que Deus permitisse a Esaú tirar-lhe a vida. Em sua angústia clamou a Deus toda a noite. Foi-me mostrado um anjo como estando na presença de Jacó, apresentando-lhe o verdadeiro caráter de seu engano. Quando o anjo quis deixá-lo, Jacó agarrou-se a ele, não o deixando partir. Fez súplicas com lágrimas. Clamou que se tinha arrependido profundamente de seus pecados e enganos contra seu irmão, os quais tinham sido o meio de sua separação da casa de seus pais por vinte anos. Aventurou-se a alegar as promessas de Deus e os sinais de Seu favor a ele de tempos a tempos, quando ausente da casa de seus pais.
Toda a noite Jacó lutou com o anjo, suplicando sua bênção. O anjo parecia resistir a sua oração, trazendo-lhe continuamente à lembrança os seus pecados, ao mesmo tempo em que se esforçava para ausentar-se dele. Jacó estava determinado a reter o anjo, não pela força física, mas pelo poder da fé viva. Em sua angústia, Jacó mencionou o seu arrependimento e a profunda humilhação que tinha sentido por seus erros. O anjo considerou sua oração com aparente indiferença, fazendo contínuos esforços para libertar-se
do domínio de Jacó. Ele poderia ter exercido seu poder sobrenatural e libertar-se, mas preferiu não fazer isto.
Quando viu que não prevaleceria contra Jacó, para convencê-lo de seu poder sobrenatural, tocou-lhe a coxa, que ficou imediatamente deslocada. Mas Jacó não abandonou seu fervoroso esforço por causa da dor física. Seu objetivo era obter uma bênção, e a dor do corpo não era suficiente para desviar-lhe a mente deste objetivo. Sua determinação era mais forte nos derradeiros momentos do conflito, do que no início. Sua fé tornou-se mais intensa e perseverou até o último momento, até o nascer do dia. Não deixaria ir o anjo antes que o abençoasse. "E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te deixarei ir, se me não abençoares." Gên. 32:26. O anjo então perguntou: "Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó. Então disse: Não se chamará mais o teu nome Jacó, mas Israel: pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste." Gên. 32:27 e 28.
Fé Prevalecente
A perseverante fé de Jacó prevaleceu. Ele segurou firme o anjo, até obter a bênção que desejava e a certeza do perdão de seus pecados. Seu nome foi então mudado de Jacó, o enganador, para Israel, que significa príncipe de Deus. "E Jacó lhe perguntou, e disse: Dá-me, peço-Te, a saber o Teu nome. E disse: Por que perguntas pelo Meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva." Gên. 32:29 e 30. Foi Cristo que esteve com Jacó durante a noite, com quem ele porfiou, e a quem ele perseverantemente reteve até que o abençoasse.
O Senhor ouviu as súplicas de Jacó, e mudou os propósitos do coração de Esaú. Ele não sancionou nenhuma conduta errada seguida por Jacó. Antes de sua fervorosa luta com o anjo, e da evidência que obteve de que Deus lhe perdoara os pecados, sua vida fora de dúvida, perplexidade e remorso por causa do pecado.
"Lutou com o anjo, e prevaleceu; chorou, e lhe suplicou: em Betel o achou, e ali falou conosco; sim, com o Senhor, o Deus dos Exércitos: o Senhor é o Seu memorial." Osé. 12:4 e 5.
Esaú estava marchando contra Jacó com um exército, com o propósito de assassinar seu irmão. Mas, enquanto Jacó estava lutando com o anjo nessa noite, outro anjo foi enviado para mudar o coração de Esaú enquanto ele dormia. Em sonho ele viu Jacó exilado da casa de seu pai por vinte anos, porque temia por sua vida. Notou-lhe o sofrimento por achar a mãe morta. Viu em sonho a humildade de Jacó e anjos de Deus ao redor dele. Sonhou que quando se encontraram não tinha em mente fazer-lhe mal. Quando despertou Esaú, relatou o sonho aos seus quatrocentos homens e ordenou que não fizessem mal a Jacó, pois o Deus de seu pai estava com ele. E quando encontrassem Jacó, nenhum deles deveria fazer-lhe mal.
"E levantou Jacó os seus olhos e olhou, e eis que vinha Esaú, e quatrocentos homens com ele. ... E ele mesmo passou adiante deles, e inclinou-se à terra sete vezes, até que chegou a seu irmão. Então Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram." Gên. 33:1, 3 e 4. Jacó rogou a Esaú que aceitasse uma oferta de paz, que Esaú recusou, mas Jacó insistiu:
"Toma, peço-te, a minha bênção, que te foi trazida; porque Deus graciosamente ma tem dado; e porque tenho de tudo. E instou com ele, até que a tomou." Gên. 33:11.
Uma Lição Objetiva
Jacó e Esaú representam duas classes: Jacó, os justos, e Esaú, os ímpios. A angústia de Jacó, quando compreendeu que Esaú estava marchando contra ele com quatrocentos homens, representa a angústia dos justos ante o decreto que os condena à morte, exatamente antes da vinda do Senhor. Com os ímpios unidos contra eles, serão tomados de angústia, pois como Jacó, não podem ver escape para sua vida. O anjo colocou-se diante de Jacó, e este o segurou e reteve e lutou com ele durante toda a noite. Assim também farão os justos no seu tempo de provação e angústia, lutando em oração com Deus, como Jacó lutou com o anjo. Jacó, em sua aflição, orou toda a noite por livramento das mãos de seu irmão. Os justos, em sua angústia mental, haverão de clamar a Deus dia e noite por livramento das mãos dos ímpios que os rodeiam.
Jacó confessou sua indignidade: "Não sou digno do mínimo de todas as misericórdias e de toda a verdade, que Tu tens mostrado a Teu servo." Os justos, em sua angústia, terão um profundo senso de sua indignidade e com muitas lágrimas reconhecerão sua completa indignidade. Como Jacó, pleitearão as promessas de Deus por meio de Cristo, feitas para tais dependentes, desamparados e arrependidos pecadores.
Jacó agarrou firmemente o anjo em sua aflição e não o deixou ir. Ao suplicar com lágrimas, o anjo relembrou-lhe os erros passados e esforçou-se para escapar de Jacó, para testá-lo e
prová-lo. Assim os justos, no dia da sua angústia, serão testados, provados e experimentados, para manifestar sua firmeza de fé, sua perseverança e inabalável confiança no poder de Deus para livrá-los.
Jacó não recuou. Sabia que Deus era misericordioso, e apelou para Sua misericórdia. Referiu-se a sua passada tristeza por causa de seus erros, o arrependimento deles, e insistiu em sua petição por livramento das mãos de Esaú. Dessa forma, sua importunação continuou toda a noite. Ao relembrar seus erros passados, foi levado quase ao desespero. Mas sabia que devia ter a ajuda de Deus, ou perecer. Segurou o anjo e insistiu em seu pedido com agonia e ferventes clamores até que prevaleceu.
Assim será com os justos. Ao reverem os fatos de sua vida passada, sua esperança quase submergirá. Mas ao compreenderem que esse é um caso de vida ou morte fervorosamente, clamarão a Deus apelando em consideração a sua tristeza passada e, humildemente arrependidos de seus muitos pecados, farão referência a Sua promessa: "Ou que se apodere da Minha força, e faça paz comigo: sim, que faça paz comigo." Isa. 27:5. Assim serão suas fervorosas preces oferecidas a Deus dia e noite. Deus não teria ouvido a oração de Jacó e misericordiosamente salvo sua vida se ele não tivesse previamente se arrependido de seus erros em obter a bênção pela fraude.
Os justos, como Jacó, manifestarão fé inflexível e fervorosa determinação, que não será desmentida. Haverão de sentir sua indignidade, mas não terão pecados ocultos a revelar. Se tivessem pecados, não confessados e sem arrependimento, a aparecerem diante deles, enquanto torturados pelo temor e angústia, com vivo senso de toda a sua indignidade, seriam esmagados. O desespero fragilizaria sua fervente
fé, e não teriam confiança para pleitear tão fervorosamente com Deus por livramento. Seus preciosos momentos seriam gastos em confessar pecados ocultos e em deplorar sua desesperada condição.
O tempo de graça é o período concedido a todos a fim de se prepararem para o dia de Deus. Se alguém negligenciar a preparação e não levar a sério as fiéis advertências dadas, ficará sem escusas. A luta fervorosa, perseverante, de Jacó com o anjo deve ser um exemplo para os cristãos: Jacó prevaleceu porque foi perseverante e determinado.
Todos os que desejarem a bênção de Deus, como Jacó, e se apegarem às promessas, como ele o fez, e forem tão fervorosos e perseverantes como ele foi, terão o mesmo êxito que ele teve. Há tão pouco exercício da verdadeira fé e tão pouco peso de verdade em muitos professos crentes porque são indolentes nas coisas espirituais. Não estão dispostos a se esforçar, negar a si mesmos, angustiar-se diante de Deus, orar longa e fervorosamente pelas bênçãos e, por isso, não as obtêm. Essa fé pela qual viverão através do tempo de tribulação deve ser diariamente exercitada agora. Aqueles que não fizerem vigoroso esforço agora para exercer perseverante fé, estarão inteiramente despreparados para exercer a fé que os capacitará a estar em pé no dia da provação.