Os Espiões e seu Relatório
O Senhor ordenou que Moisés enviasse homens a espionar a terra de Canaã, que daria aos filhos de Israel. Um representante de cada tribo devia ser selecionado para esse propósito. Foram e, depois de quarenta dias, retornaram de sua investigação. Vieram, então, diante de Moisés e Arão e de toda a congregação de Israel, e mostraram-lhes o fruto da terra. Todos concordaram que era uma boa terra, e exibiram o rico fruto que haviam trazido como prova. Um cacho de uvas era tão grande que dois homens o carregavam numa vara. Também trouxeram figos e romãs, que ali cresciam em abundância.
Depois de falarem da fertilidade da terra, todos, menos dois, falaram desencorajadamente de sua capacidade de possuí-la. Disseram que era mui forte o povo que habitava a terra, e que as cidades eram rodeadas de grandes e altos muros; e, além do mais, viram lá os filhos do gigante Enaque. Então descreveram como o povo estava situado ao redor de Canaã, e a impossibilidade de possuí-la.
Ao ouvir o povo este relatório, deu vazão ao seu desapontamento, com amargas reprovações e lamentos. Não esperaram, nem refletiram ou arrazoaram que Deus,
que os havia trazido até ali, podia certamente dar-lhes a terra. Cederam de uma vez ao desencorajamento. Limitaram o poder do Altíssimo e não confiaram em Deus, que até então os conduzira. Acusaram a Moisés e em murmuração disseram uns para os outros: isto, então, é o fim de todas as nossas esperanças. Esta é a terra, por cuja obtenção viajamos do Egito.
Calebe e Josué procuraram ser ouvidos, porém o povo estava tão agitado que não podia dominar-se para prestar atenção a esses dois homens. Depois que se acalmaram um pouco, Calebe se aventurou a falar. Disse ao povo: "Subamos animosamente, e possuamo-la em herança: porque certamente prevaleceremos contra ela." Núm. 13:30. Mas os homens que com ele subiram, disseram: "Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós." Núm. 13:31. E continuaram a repetir seu mau relatório, e a declarar que todos os homens eram de grande estatura. "Também vimos ali gigantes, filhos de Enaque, descendentes dos gigantes: e éramos aos nossos olhos como gafanhotos, assim também éramos aos seus olhos." Núm. 13:33.
Israel Murmura Outra Vez
"Então levantou-se toda a congregação, e alçaram a sua voz: e o povo chorou naquela mesma noite. E todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Aarão; e toda a congregação lhe disse: Ah! se morrêramos na terra do Egito! ou, ah! se morrêramos neste deserto! E por que nos traz o Senhor a esta terra, para cairmos à espada, e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito? E diziam uns aos outros: Levantemos um capitão, e voltemos ao Egito. Então Moisés e Aarão caíram sobre
os seus rostos perante todo o ajuntamento dos filhos de Israel." Núm. 14:1-5.
Os israelitas não somente deram vazão às suas queixas contra Moisés, mas acusaram o próprio Deus de portar-Se enganosamente com eles, prometendo-lhes uma terra que eram incapazes de possuir. Seu espírito rebelde, aqui, subiu tão alto, que, esquecidos do braço forte da Onipotência, que os havia trazido da terra do Egito e conduzido por uma série de milagres, resolveram escolher um capitão para levá-los de volta ao Egito, onde tinham sido escravos e sofrido tanta opressão. Chegaram a designar um capitão, descartando-se assim de Moisés, seu paciente e tolerante líder; e murmuraram amargamente contra Deus.
Moisés e Arão caíram sobre seus rostos diante do Senhor, na presença de toda congregação, para implorar a misericórdia de Deus em favor do povo rebelde. Mas sua tristeza e pesar eram demasiado grandes para serem expressos. Permaneceram prostrados em completo silêncio. Calebe e Josué rasgaram suas vestes como expressão da mais profunda tristeza. "E falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra muito boa. Se o Senhor Se agradar de nós, então nos porá nesta terra, e no-la dará: terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor, e não temais o povo desta terra, porquanto são eles nosso pão: retirou-se deles o Seu amparo, e o Senhor é conosco; não os temais." Núm. 14:7-9.
"Retirou-se deles o Seu amparo." Núm. 14:9. Isto é, os cananeus tinham enchido a medida de sua iniqüidade, a divina proteção foi retirada deles, e eles se sentiam perfeitamente seguros e estavam
despreparados para a batalha; e, pelo concerto de Deus, a terra nos está assegurada. Em vez de estas palavras produzirem o efeito desejado sobre o povo, elas incrementaram sua obstinada rebelião. Ficaram irados e clamaram alto e em fúria que Calebe e Josué deviam ser apedrejados; isso teria sido feito, não tivesse o Senhor Se interposto mediante uma mui assinalada exibição de Sua terrível glória no tabernáculo da congregação, diante de todos os filhos de Israel.
Prevalece o Apelo de Moisés
Moisés foi ao tabernáculo a fim de comunicar-se com Deus. "Disse o Senhor a Moisés: Até quando Me provocará este povo? e até quando me não crerão por todos os sinais que fiz no meio deles? Com pestilência o ferirei, e o rejeitarei: e farei de ti povo maior e mais forte do que este. E disse Moisés ao Senhor: Assim os egípcios o ouvirão; porquanto com a Tua força fizeste subir este povo do meio deles. E o dirão aos moradores desta terra, que ouviram que Tu, ó Senhor, estás no meio deste povo, que de cara a cara, ó Senhor, lhes apareces, que Tua nuvem está sobre eles, e que vais adiante deles numa coluna de nuvem de dia, e numa coluna de fogo de noite. E se matares este povo como a um só homem, as gentes pois, que ouviram a Tua fama, falarão, dizendo: Porquanto o Senhor não podia pôr este povo na terra que lhes tinha jurado; por isso os matou no deserto." Núm. 14:11-16.
Moisés de novo recusa admitir que Israel seja destruído, e ele próprio se torne uma nação mais poderosa que Israel. Este favorecido servo de Deus manifesta seu amor por Israel e mostra seu zelo pela glória de seu Criador e
pela honra de seu povo: como tens perdoado este povo desde o Egito até agora, tens sido longânimo e misericordioso até aqui com este povo ingrato; indigno como possa ser, Tua misericórdia é a mesma. Ele suplica: portanto, não os pouparias desta vez, dando mais um exemplo de divina paciência aos muitos que já tens dado?
"E disse o Senhor: Conforme à tua palavra lhe perdoei. Porém tão certamente como Eu vivo, que a glória do Senhor encherá toda a terra. E que todos os homens que viram a Minha glória e os Meus sinais, que fiz no Egito e no deserto, e Me tentaram estas dez vezes, e não obedeceram à Minha voz, não verão a terra de que a seus pais jurei, e até nenhum daqueles que Me provocaram a verá. Porém o Meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito, e perseverou em seguir-Me, Eu o levarei à terra em que entrou, e a sua semente a possuirá em herança." Núm. 14:20-24.
Volta ao Deserto
O Senhor ordenou que os hebreus retornassem para o deserto, pelo caminho do Mar Vermelho. Estavam muito perto da boa terra, porém, por sua ímpia rebelião, perderam a proteção de Deus. Tivessem eles recebido o relatório de Calebe e Josué, e avançado imediatamente, Deus lhes teria dado a terra de Canaã. Mas foram incrédulos e mostraram tão insolente espírito contra Deus que trouxeram sobre si mesmos o aviso de que jamais entrariam na Terra Prometida. Foi por piedade e misericórdia que Deus os enviou de volta pelo Mar Vermelho, pois os amalequitas e cananeus, enquanto eles demoravam e murmuravam, ouviram a respeito dos espiões e se prepararam
para fazer guerra contra os filhos de Israel.
"Depois falou o Senhor a Moisés e a Aarão, dizendo: Até quando sofrerei esta má congregação, que murmura contra Mim? Tenho ouvido as murmurações dos filhos de Israel, com que murmuram contra Mim." Núm. 14:26 e 27. O Senhor ordenou a Moisés e Arão que dissessem ao povo que Ele faria como eles haviam falado. Eles haviam dito: "Ah! se morrêramos na terra do Egito! ou, ah! se morrêramos neste deserto!" Núm. 14:2. Agora Deus os tomaria em sua palavra. Mandou Seus servos dizer-lhes que morreriam no deserto, os de vinte anos para cima, por causa de sua rebeldia e murmuração contra o Senhor. Apenas Calebe e Josué, entrariam na terra de Canaã. "Mas os vossos filhos, de que dizeis: Por presa serão, meterei nela; e eles saberão da terra que vós desprezastes." Núm. 14:31.
O Senhor declarou que os filhos dos hebreus deviam vaguear no deserto quarenta anos, contados do tempo em que deixaram o Egito, devido à rebelião de seus pais, até que os pais estivessem todos mortos. Assim deviam eles suportar e sofrer as conseqüências de suas iniqüidades quarenta anos, de acordo com o número de dias em que espionaram a terra, um dia para cada ano. "E tereis experiência do Meu desagrado." Núm. 14:34. Eles deviam compreender plenamente que era a punição por sua idolatria e rebeldes murmurações, que tinham obrigado o Senhor a mudar Seu propósito concernente a eles. A Calebe e Josué foi prometida uma recompensa em primazia a toda multidão de Israel, porque estes tinham perdido todo o direito de pedir o favor e proteção de Deus.