História da Redenção

CAPÍTULO 32

O Pentecoste s

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O Pentecoste

Quando Jesus abriu o entendimento dos discípulos para o significado das profecias concernentes a Ele próprio, assegurou-lhes de que todo o poder Lhe era dado nos Céus e na Terra, e enviou-os a pregar o evangelho a toda a criatura. Os discípulos, com o súbito reavivamento da antiga esperança de que Jesus haveria de tomar Seu lugar sobre o trono de Davi em Jerusalém, indagaram: "Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?" Atos 1:6. O Salvador, em referência ao assunto, pôs a incerteza em suas mentes replicando que não lhes competia "saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo Seu próprio poder". Atos 1:7.

Os discípulos começaram a esperar que o maravilhoso derramamento do Espírito Santo influenciasse o povo judeu a aceitar a Jesus. O Salvador absteve-Se de explanar mais alguma coisa, pois sabia que quando o Espírito fosse derramado sobre eles em medida completa, suas mentes seriam iluminadas e haveriam de compreender inteiramente o seu trabalho e retomá-lo onde Ele o havia deixado.

Os discípulos reuniram-se num aposento superior, unindo-se em orações às mulheres crentes, com Maria, mãe de Jesus e Seus irmãos. Estes irmãos, que tinham sido descrentes, estavam agora


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plenamente firmados na fé pelas cenas que acompanharam a crucifixão e pela ressurreição e ascensão do Senhor. O número de pessoas reunidas era cerca de cento e vinte.

O Derramamento do Espírito Santo

"E cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que, de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem." Atos 2:1-4. O Espírito Santo, assumindo a forma de línguas de fogo, repousou sobre a assembléia, como um emblema do dom outorgado aos discípulos de falarem com fluência várias línguas diferentes, com as quais nunca tinham tomado contato anteriormente. A aparência de fogo significava o zelo fervente com que os apóstolos trabalhariam, e o poder que assistiria suas palavras.

Sob esta celestial iluminação, as passagens da Escritura que Cristo tinha explanado aos discípulos apresentavam-se a suas mentes com o brilho e a beleza de clara e poderosa verdade. O véu que os impedira de ver o fim daquilo que era abolido foi agora removido, e o objetivo da missão de Cristo e a natureza de Seu reino foram compreendidos com perfeita clareza.

No Poder do Pentecoste

Os judeus tinham sido dispersados por quase todos os países, e falavam vários idiomas. Tinham vindo de longas distâncias a Jerusalém, e temporariamente fixaram


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residência ali, para permanecer durante as festas religiosas então em andamento e para observar seus reclamos. Quando reunidos, eram de todas as línguas conhecidas. Esta diversidade de linguagem era um grande obstáculo para o trabalho dos servos de Deus em anunciar a doutrina de Cristo nas partes mais afastadas da Terra. Ter Deus suprido a deficiência dos apóstolos de maneira milagrosa, foi para o povo a mais perfeita confirmação do testemunho desses mensageiros de Cristo. O Espírito Santo fez por eles o que não poderiam ter feito por si mesmos em toda uma vida; de modo que eles podiam agora espalhar a verdade do evangelho no estrangeiro, falando com perfeição a língua daqueles por quem estavam trabalhando. Este miraculoso dom era a maior evidência que poderiam apresentar ao mundo de que sua comissão levava o sinete do Céu.

"E em Jerusalém estavam habitando judeus, varões religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu. E, correndo aquela voz, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando? Como pois os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?" Atos 2:5-8.

Os sacerdotes e principais ficaram grandemente irados com esta maravilhosa manifestação, que era mencionada através de toda a Jerusalém e cercanias, mas não ousaram demonstrar sua má disposição, por temor de se exporem ao ódio do povo. Tinham levado o Mestre à morte, porém aqui estavam os Seus servos, iletrados homens da Galiléia, mostrando o maravilhoso cumprimento da profecia e ensinando a doutrina de Jesus em todas as línguas então faladas. Eles falavam com poder das


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maravilhosas obras do Salvador, e desdobravam aos seus ouvintes o plano da salvação na misericórdia e sacrifício do Filho de Deus. Suas palavras convenciam e convertiam milhares que as ouviam. As tradições e superstição inculcadas pelos sacerdotes foram varridas de suas mentes e eles aceitaram os puros ensinamentos da Palavra de Deus.

O Sermão de Pedro

Pedro mostrou-lhes que esta manifestação era o cumprimento direto da profecia de Joel, na qual vaticinou que este poder seria derramado sobre homens de Deus, a fim de capacitá-los para um trabalho especial.

Pedro traçou a linhagem de Jesus em linha direta à nobre casa de Davi. Não usou nenhum dos ensinamentos de Jesus para provar sua verdadeira posição, pois sabia que seus preconceitos eram tão grandes que isto não teria nenhum efeito. Referiu-se, porém, a Davi, a quem os judeus consideravam um venerável patriarca de sua nação. Disse Pedro:

"Porque dEle disse Davi: Sempre via diante de mim o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja comovido; por isso se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; e ainda a minha carne há de repousar em esperança. Pois não deixarás a minha alma no Hades, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção." Atos 2:25-27.

Pedro aqui mostra que Davi não podia estar falando em referência própria, mas definidamente de Jesus Cristo. Davi morreu a morte natural como outros homens; sua sepultura, com o venerável pó que continha, preservada com grande cuidado até aquele tempo. Davi, como rei de Israel, e também como profeta, tinha sido especialmente honrado por Deus. Em profética visão foi-lhe mostrada a vida futura e o ministério de Cristo. Viu Sua


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rejeição, julgamento, crucifixão, sepultamento, ressurreição e ascensão.

Davi testificou que a alma de Cristo não seria deixada no inferno (a sepultura), nem Sua carne veria corrupção. Pedro mostrou o cumprimento desta profecia em Jesus de Nazaré. Deus efetivamente O havia ressuscitado do sepulcro antes que Seu corpo visse corrupção. E agora era o Ser exaltado no Céu dos céus.

Nessa memorável ocasião, grande número dos que até aqui ridicularizavam a idéia de pessoa tão despretensiosa como Jesus ser o Filho de Deus, tornaram-se completamente convencidos da verdade e O reconheceram como seu Salvador. Três mil almas foram acrescentadas à igreja. Os apóstolos falavam pelo poder do Espírito Santo; e suas palavras não podiam ser controvertidas, pois eram confirmadas por poderosos milagres, operados mediante o derramamento do Espírito de Deus. Os próprios discípulos estavam atônitos ante o resultado desta visitação, e com a rápida e abundante colheita de almas. Todo o povo estava cheio de assombro. Aqueles que não abandonavam o preconceito e fanatismo estavam tão intimidados que não ousavam nem pela voz nem pela violência tentar deter esse poderoso trabalho, e, por este tempo, sua oposição cessou.

Somente os argumentos dos apóstolos, embora claros e convincentes, não teriam removido o preconceito dos judeus, que resistira a tantas evidências. Mas o Espírito Santo enviou tais argumentos com divino poder a seus corações. Eles eram como afiadas setas do Todo-poderoso, convencendo-os de sua terrível culpa em haverem rejeitado e crucificado o Senhor da glória. "Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, varões irmãos?


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E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo." Atos 2:37 e 38.

Pedro levou ao íntimo do povo convicto o fato de que haviam rejeitado a Cristo por terem sido enganados pelos sacerdotes e príncipes; e que se eles continuassem a buscar conselho desses homens, e esperassem que esses líderes reconhecessem a Cristo, em vez de ousar fazê-lo por si mesmos, jamais O aceitariam. Esses homens poderosos, embora fizessem profissão de piedade, eram ambiciosos e zelosos por riquezas e glórias terrenas. Jamais viriam a Cristo para receber iluminação. Jesus havia predito a terrível retribuição que viria sobre o povo por sua obstinada incredulidade, não obstante as mais poderosas evidências dadas a eles de que Jesus era o Filho de Deus.

Desse tempo em diante, a linguagem dos discípulos era pura, simples e correta em palavra e dicção, falassem eles sua língua nativa ou uma língua estrangeira. Esses homens humildes, que nunca tinham aprendido na escola dos profetas, apresentavam verdades tão elevadas e puras que maravilhavam os que as ouviam. Eles não podiam ir pessoalmente aos lugares mais afastados da Terra; mas estavam ali para a festa, homens de todos os quadrantes do mundo, e as verdades recebidas por eles foram levadas para seus vários lares e anunciadas entre seu povo, ganhando almas para Cristo.

Uma Lição Para Nossos Dias

Este testemunho com respeito ao estabelecimento da igreja cristã é-nos dado não apenas como uma parte importante da história sagrada, mas também como uma lição. Todos os que professam o nome de Cristo devem aguardar, vigiar e orar com um só coração. Toda diferença


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deve ser posta de lado, e a unidade e terno amor de uns para com os outros permear o todo. Então nossas orações poderão subir juntas ao nosso Pai celestial com vigorosa, fervorosa fé. Então poderemos aguardar com paciência e esperança o cumprimento da promessa.

A resposta pode vir com súbita velocidade e sobrepujante poder, ou pode demorar dias e semanas, e nossa fé receber uma prova. Deus, porém, sabe como e quando responder à nossa oração. É nossa parte do trabalho colocarmo-nos a nós mesmos em associação com o divino canal. Deus é responsável por Sua parte do trabalho. Ele é fiel ao que prometeu. A grande e importante questão conosco é ser um só coração e uma só mente, colocando de lado toda a inveja e maldade e, como humildes suplicantes, vigiarmos e aguardarmos. Jesus, nosso Representante e Cabeça, está pronto para fazer por nós o que fez pelos suplicantes e vigilantes no dia de Pentecoste.

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