A reforma não terminou com Lutero, como muitos supõem. Ela haverá de prosseguir até a conclusão da história terrestre. Lutero tinha uma grande obra a fazer, em refletir a outros a luz que Deus permitiu brilhasse sobre ele; todavia, não recebeu toda a luz que devia ser dada ao mundo. Desde aquele tempo, nova luz tem continuamente resplandecido sobre as Escrituras, e novas verdades têm sido constantemente reveladas.
Lutero e seus colaboradores executaram um nobre trabalho para Deus; mas, tendo vindo eles da Igreja de Roma, e tendo eles próprios crido e defendido suas doutrinas, não seria de esperar que pudessem discernir todos os seus enganos. Seu trabalho foi quebrar os grilhões de Roma e dar a Bíblia ao mundo, embora houvesse importantes verdades que deixassem de descobrir, e graves erros, a que não renunciaram. A maioria deles continuou a observar o domingo e outras festas papais. Na verdade, eles não o consideravam como tendo autoridade divina, mas criam que devia ser observado como dia de culto, geralmente aceito. Havia alguns dentre eles, entretanto, que honravam o sábado do quarto mandamento. Entre os reformadores da igreja, um lugar honroso deve ser dado a todos aqueles que foram firmes em reivindicar uma verdade geralmente ignorada,
mesmo pelos protestantes - aqueles que mantinham a validade do quarto mandamento e a obrigação do sábado bíblico. Quando a Reforma varreu as trevas que pairavam em toda a cristandade, os guardadores do sábado foram postos em foco em muitas terras.
Os que receberam as grandes bênçãos da Reforma não foram avante na trilha tão nobremente aberta por Lutero. Poucos homens fiéis levantaram-se, de tempos em tempos, para proclamar novas verdades e expor erros longamente acariciados, mas a maioria, como os judeus nos dias de Cristo, ou os papistas no tempo de Lutero, estava satisfeita em crer como creram seus pais e viver como eles viveram. Dessa maneira, novamente a religião degenerou em formalismo; e erros e superstições que teriam sido postos de lado, tivesse a igreja continuado a andar na luz da Palavra de Deus, foram retidos e acalentados. Assim, o espírito inspirado pela Reforma gradualmente morreu, até que houve quase tão grande necessidade de reforma nas igrejas protestantes, como na Igreja de Roma, no tempo de Lutero. Havia o mesmo estupor espiritual, o mesmo respeito pelas opiniões humanas, o mesmo espírito de mundanismo, e a mesma substituição dos ensinamentos da Palavra de Deus por teorias humanas. O orgulho e a extravagância eram nutridos à guisa de religião. As igrejas tornaram-se corrompidas, através de suas alianças com o mundo. Assim, se degradaram os grandes princípios, pelos quais Lutero e seus fiéis colaboradores tanto fizeram e sofreram.
Quando Satanás viu que falhara em esmagar a verdade pela perseguição, de novo recorreu ao mesmo plano de comprometimento que havia conduzido à grande apostasia e à formação da Igreja de Roma. Induziu os cristãos a fazerem alianças, agora, não mais com pagãos, mas com
os que, por sua adoração ao deus deste mundo, provavam-se igualmente idólatras.
Satanás não podia mais retirar a Bíblia do povo; ela fora colocada ao alcance de todos. Porém, levou milhares a aceitarem falsas interpretações e teorias errôneas, sem examinarem as Escrituras, a fim de aprender a verdade por si mesmos. Ele havia corrompido as doutrinas da Bíblia, e as tradições que iam arruinar milhões de pessoas estavam aprofundando as raízes. A igreja estava encorajando e defendendo estas tradições, em vez de contender pela fé que uma vez foi entregue aos santos. E enquanto inteiramente inconscientes de sua condição e perigo, a igreja e o mundo aproximavam-se rapidamente do mais solene e momentoso período da história do mundo - o período da revelação do Filho do homem.