Os filhos de Israel viajaram pelo deserto e, por três dias, não puderam achar boa água para beber. Sofrendo com a sede "o povo murmurou contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber? E ele clamou ao Senhor, e o Senhor mostrou-lhe um lenho que lançou nas águas, e as águas se tornaram doces: ali lhes deu estatutos e uma ordenação, e ali os provou. E disse: Se ouvires atento a voz do Senhor teu Deus, e obrares o que é reto diante de Seus olhos, e inclinares os teus ouvidos aos Seus mandamentos, e guardares todos os Seus estatutos, nenhuma das enfermidade porei sobre ti, que pus sobre o Egito; porque Eu sou o Senhor que te sara." Êxo. 15:24-26.
Os filhos de Israel mostraram possuir um mau coração de incredulidade. Não estavam dispostos a suportar as durezas do deserto. Quando deparavam com dificuldades no caminho, consideravam-nas como impossibilidades. Sua confiança em Deus falhava, e eles não viam ante si coisa alguma senão a morte. "Toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e Aarão no deserto. E os filhos de Israel disseram-lhes: Quem dera que nós morrêssemos por mão do Senhor na terra do Egito,
quando estávamos sentados junto às panelas da carne, quando comíamos pão até fartar! porque nos tendes tirado para este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão." Êxo. 16:2 e 3.
Na verdade, eles não tinham sofrido a agonia da fome. Tinham alimento para o presente, mas estavam temerosos pelo futuro. Não viam como as multidões de Israel subsistiriam, em sua longa jornada através do deserto, com o simples alimento que então possuíam, e na sua descrença viam seus filhos a perecer de fome. O Senhor permitiu que escasseasse o suprimento de alimentos e que as dificuldades os rodeassem, para que seu coração se voltasse Àquele que até ali os ajudara, e nEle cressem. Estava pronto para ser-lhes um auxílio presente. Se em sua necessidade O invocassem, Ele lhes manifestaria sinais de Seu amor e contínuo cuidado.
Entretanto pareciam não dispostos a continuar confiando no Senhor, a não ser que pudessem testemunhar diante de seus olhos a contínua evidência de Seu poder. Se tivessem possuído verdadeira fé e firme confiança em Deus, inconveniências, obstáculos e mesmo sofrimentos reais teriam sido alegremente suportados, visto que o Senhor operara de modo tão maravilhoso para seu livramento da servidão. Além disso, o Senhor prometeu que, se fossem obedientes aos Seus mandamentos, nenhuma enfermidade viria sobre eles, pois disse: "Eu sou o Senhor que te sara." Êxo. 15:26.
Depois desta segura promessa de Deus era pecaminosa incredulidade de sua parte temer antecipadamente que eles e seus filhos pudessem morrer à fome. Tinham sofrido grandemente no Egito, sobrecarregados de trabalho. Seus filhos tinham sido condenados à morte e, em resposta a suas orações de angústia, Deus misericordiosamente os livrara. Prometera ser o seu Deus, tomá-los para
Si como um povo, e guiá-los a uma terra larga e boa.
Mas, eles estavam prontos a desfalecer a cada sofrimento que tivessem de suportar no caminho para aquela terra. Tinham suportado muito mais em serviço aos egípcios, porém agora não podiam suportar o sofrimento em serviço a Deus. Estavam prontos a ceder a suas sombrias dúvidas e a mergulhar no desencorajamento quando fossem tentados. Murmuraram contra o devoto servo de Deus, Moisés, e o responsabilizaram por todo o seu sofrimento. Expressaram ainda o desejo ímpio de permanecer no Egito, onde se podiam assentar junto às panelas de carne e comer pão a fartar.
Lição Para Nosso Tempo
A incredulidade e a murmuração dos filhos de Israel ilustra o povo de Deus hoje sobre a Terra. Muitos olham para o Israel do passado e se maravilham de sua descrença e contínua murmuração, depois de o Senhor ter feito tanto por eles, dando-lhes repetidas evidências de Seu amor e cuidado. Acham que não se deviam ter mostrado ingratos. Mas alguns que assim pensam, murmuram e se queixam ante coisas de pequena conseqüência. Não se conhecem a si mesmos. Deus os experimenta com freqüência, e prova sua fé com pequenas aflições; e eles não suportam a prova melhor do que fez o antigo Israel.
Muitos têm suas necessidades presentes supridas; mesmo assim não confiam no Senhor para o futuro. Manifestam incredulidade e caem no abatimento, no desânimo, em face de necessidades antecipadas. Alguns vivem em contínua preocupação, com medo de que venham a ter necessidade e que seus filhos sofram. Quando surgem dificuldades ou são postos em aperto - quando sua fé e amor a Deus são provados - recuam do sofrimento e murmuram do meio
escolhido por Deus para purificá-los. Seu amor não se prova puro e perfeito para suportar tudo.
A fé do povo do Deus do Céu deve ser forte, ativa e perseverante - a prova das coisas que se esperam. Então a sua linguagem será: "Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o Seu santo nome" (Sal. 103:1), pois Ele me tem tratado generosamente.
A abnegação é considerada por muitos como sendo real sofrimento. Os apetites depravados são tolerados. E uma restrição ao apetite não saudável levaria até muitos professos cristãos a iniciar agora um retorno, como se a inanição fosse a conseqüência de um regime simples. E, à semelhança dos filhos de Israel, prefeririam a escravidão, corpos doentios, e mesmo a morte, a serem privados das panelas de carne. Pão e água é tudo o que foi prometido aos remanescentes no tempo de angústia.
O Maná
"E, alçando-se o orvalho caído, eis que sobre a face do deserto estava uma coisa miúda, redonda; miúda como a geada sobre a terra. E, vendo-a os filhos de Israel, disseram uns aos outros: Que é isto? porque não sabiam o que era. Disse-lhes pois Moisés: Este é o pão que o Senhor vos deu para comer. Esta é a palavra que o Senhor tem mandado: Colhei dele cada um conforme ao que pode comer, um gômer por cada cabeça, segundo o número das vossas almas; cada um tomará para os que se acharem na sua tenda." Êxo. 16:14-16.
"E os filhos de Israel fizeram assim; e colheram, uns mais e outros menos. Porém, medindo-o com o gômer, não sobejava ao que colhera muito, nem faltava ao que colhera pouco: cada um colheu tanto quanto podia comer. E disse-lhes Moisés:
Ninguém dele deixe para amanhã. Eles, porém, não deram ouvidos a Moisés, antes alguns deles deixaram dele para o dia seguinte; e aquele criou bichos, e cheirava mal; por isso indignou-se Moisés contra eles. Eles pois o colhiam cada manhã, cada um, conforme ao que podia comer; porque, aquecendo o sol, derretia-se." Êxo. 16:17-21.
"E aconteceu que ao sexto dia colheram pão em dobro, dois gômeres para cada um: e todos os príncipes da congregação vieram, e contaram-no a Moisés. E ele disse-lhes: Isto é o que o Senhor tem dito: Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor: o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobejar, ponde em guarda para vós até amanhã. E guardaram-no até amanhã, como Moisés tinha ordenado: e não cheirou mal, nem nele houve algum bicho. Então disse Moisés: Comei-o hoje, porquanto hoje é o sábado do Senhor: hoje não o achareis no campo. Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele não haverá." Êxo. 16:22-26.
O Senhor não é agora menos minucioso com respeito ao sábado do que quando deu essas especiais direções aos filhos de Israel. Determinou-lhes que, no sexto dia, assassem o que quisessem assar, e cozessem o que quisessem cozer, em preparo para o repouso do sábado.
Deus manifestou Seu grande cuidado e amor por Seu povo enviando-lhe pão do céu. "Comeram pão dos anjos"; isto é, alimento provido para eles pelos anjos. O triplo milagre do maná - dupla porção no sexto dia, nenhuma no sétimo, e sua conservação através do sábado, quando nos outros dias se tornava impróprio para o uso -
foi designado para impressioná-los quanto à solenidade do sábado.
Depois de terem sido abundantemente supridos de alimento, ficaram envergonhados de sua descrença e murmurações, e prometeram confiar no Senhor para o futuro. Logo, porém, esqueceram a promessa e falharam na primeira prova de fé.
Água da Rocha
Viajaram do deserto de Sim, e acamparam em Refidim, onde não havia água para o povo beber. "Contendeu o povo com Moisés, e disseram: Dá-nos água para beber. E Moisés lhes disse: Por que contendeis comigo? por que tentais ao Senhor? Tendo pois ali o povo sede de água, o povo murmurou contra Moisés, e disse: Por que nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós e a nossos filhos, e ao nosso gado? E clamou Moisés ao Senhor, dizendo: Que farei a este povo? daqui a pouco me apedrejarão." Êxo. 17:2-4.
"Disse o Senhor a Moisés: Passa diante do povo, e toma contigo alguns dos anciãos de Israel: e toma na tua mão a tua vara, com que feriste o rio: vai. Eis que Eu estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe, e tu ferirás a rocha, e dela sairão águas, e o povo beberá. E Moisés assim o fez, na presença dos olhos dos anciãos de Israel. E chamou o nome daquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao Senhor, dizendo: Está o Senhor no meio de nós, ou não?" Êxo. 17:5-7.
Deus guiou os filhos de Israel para acamparem nesse lugar, onde não havia água, para prová-los, a fim de ver se
eles O buscariam em seu desespero, ou murmurariam como já tinham feito anteriormente. À vista do que Deus tinha feito por eles em seu maravilhoso livramento, deviam ter crido nEle em seu infortúnio. Deviam ter compreendido que não permitiria perecer de sede aqueles a quem havia prometido tomar para Si como Seu povo. Mas, em vez de humildemente suplicarem do Senhor a provisão para suas necessidades, murmuraram contra Moisés, e dele exigiram água.
Deus tinha estado manifestando de contínuo Seu poder de forma maravilhosa diante deles, para fazê-los entender que todos os benefícios que recebiam vinham dEle; que os podia dar ou remover, de acordo com a Sua própria vontade. Algumas vezes tiveram um perfeito entendimento disso, e humilharam-se grandemente diante do Senhor; mas quando sedentos ou famintos, lançaram tudo sobre Moisés, como se tivesse deixado o Egito para agradar-lhe. Moisés contristou-se com suas cruéis murmurações. Indagou do Senhor o que devia fazer, pois o povo estava pronto para apedrejá-lo. O Senhor mandou que ferisse a rocha com a vara de Deus. A nuvem da Sua glória repousava diante da rocha. "Fendeu as penhas no deserto; e deu-lhes de beber como de grandes abismos. Fez sair fontes da rocha, e fez correr as águas como rios." Sal. 78:15 e 16.
Moisés feriu a rocha, mas era Cristo que estava com ele e fazia a água correr da pederneira. O povo tentou o Senhor em sua sede, e disse: Se Deus nos trouxe aqui, por que não nos dá água assim como pão? A incredulidade assim demonstrada era criminosa, e fez com que Moisés receasse que o Senhor os punisse por suas ímpias murmurações. O Senhor provou a fé de Seu povo, mas este
não suportou a prova. Murmurou por alimento e por água e acusou a Moisés. Por causa de sua incredulidade, o Senhor permitiu que seus inimigos fizessem guerra contra ele, para manifestar a Seu povo de onde vinha a sua força.
Livramento de Amaleque
"Então veio Amaleque, e pelejou contra Israel em Refidim. Pelo que disse Moisés a Josué: Escolhe-nos homens, e sai, peleja contra Amaleque: amanhã eu estarei sobre o cume do outeiro, e a vara de Deus estará na minha mão. E fez Josué como Moisés lhe dissera, pelejando contra Amaleque: mas Moisés, Aarão, e Hur subiram ao cume do outeiro. E acontecia que, quando Moisés levantava a sua mão, Israel prevalecia: mas quando ele abaixava a sua mão, Amaleque prevalecia. Porém as mãos de Moisés eram pesadas, por isso tomaram uma pedra, e a puseram debaixo dele, para assentar-se sobre ela: e Aarão e Hur sustentaram as suas mãos, um duma banda, e o outro da outra; assim ficaram as suas mãos firmes até que o sol se pôs." Êxo. 17:8-12.
Moisés ergueu as mãos na direção do Céu, com a vara de Deus na mão direita, suplicando a ajuda de Deus. Então Israel prevaleceu e afugentou seus inimigos. Quando Moisés baixou as mãos, viu-se que Israel logo perdeu tudo que havia ganho, e estava sendo vencido pelo inimigo. Moisés de novo ergueu as mãos na direção do Céu, e Israel prevaleceu, fazendo o inimigo recuar.
Esse ato de Moisés, estendendo as mãos para Deus, devia ensinar a Israel que, enquanto pusessem em Deus sua confiança, se apegassem a Sua força e exaltassem o Seu trono, Ele lutaria por eles e subjugaria seus inimigos. Contudo, quando
perdessem a confiança em Seu poder e confiassem em sua própria força, seriam mesmo mais fracos do que seus inimigos, que não tinham o conhecimento de Deus, e estes haviam de prevalecer sobre eles. Então "Josué desfez a Amaleque, e a seu povo, ao fio de espada". Êxo. 17:13.
"Então disse o Senhor a Moisés: Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos ouvidos de Josué; que Eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus. E Moisés edificou um altar, e chamou o seu nome, o Senhor é minha bandeira. E disse: Porquanto jurou o Senhor, haverá guerra do Senhor contra Amaleque de geração em geração." Êxo. 17:14-16. Se os filhos de Israel não tivessem murmurado contra o Senhor, Ele não teria permitido que seus inimigos fizessem guerra com eles.
A Visita de Jetro
Antes de Moisés deixar o Egito, levou de volta sua esposa e filhos ao seu sogro. E depois que Jetro ouviu do maravilhoso livramento dos israelitas do Egito, visitou a Moisés no deserto, trazendo-lhe sua esposa e filhos. "Então saiu Moisés ao encontro de seu sogro, e inclinou-se, e beijou-o, e perguntaram um ao outro como estavam, e entraram na tenda. E Moisés contou a seu sogro todas as coisas que o Senhor tinha feito a Faraó e aos egípcios por amor de Israel, e todo o trabalho que passaram no caminho, e como o Senhor os livrara." Êxo. 18:7 e 8.
"Alegrou-se Jetro de todo o bem que o Senhor tinha feito a Israel, livrando-o da mão dos egípcios. E Jetro disse: Bendito seja o Senhor, que vos livrou das mãos dos egípcios e da mão de
Faraó; que livrou a este povo de debaixo da mão dos egípcios. Agora sei que o Senhor é maior que todos os deuses; porque na coisa em que se ensoberbeceram, os sobrepujou. Então tomou Jetro, o sogro de Moisés, holocausto e sacrifícios para Deus; e veio Aarão, e todos os anciãos de Israel, para comerem pão com o sogro de Moisés diante de Deus." Êxo. 18:9-12.
O olho experimentado de Jetro logo viu que os encargos sobre Moisés eram muito grandes, pois o povo trazia a ele todas as questões difíceis e ele os instruía com relação aos estatutos e à lei de Deus. Disse a Moisés: "Ouve agora a minha voz; eu te aconselharei, e Deus será contigo: Sê tu pelo povo diante de Deus, e leva tu as coisas a Deus; e declara-lhes os estatutos e as leis, e faze-lhes saber o caminho em que devem andar, e a obra que devem fazer. E tu dentre todo o povo procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de cem, maiorais de cinqüenta, e maiorais de dez; para que julguem este povo em todo o tempo, e seja que todo o negócio grave tragam a ti, mas todo o negócio pequeno eles o julguem; assim a ti mesmo te aliviarás da carga, e eles a levarão contigo. Se isto fizeres, e Deus to mandar, poderás então subsistir: assim também todo este povo em paz virá ao seu lugar." Êxo. 18:19-23.
"E Moisés deu ouvidos à voz de seu sogro e fez tudo quanto tinha dito; e escolheu Moisés homens capazes, de todo o Israel, e os pôs por cabeças sobre o povo: maiorais de mil e maiorais de cem, maiorais de cinqüenta, e maiorais de dez. E eles julgaram
o povo em todo o tempo; o negócio árduo trouxeram a Moisés, e todo o negócio pequeno julgaram eles. Então despediu Moisés o seu sogro, o qual se foi à sua terra." Êxo. 18:24-27.
Moisés não se julgava diminuído ao receber instrução de seu sogro. Deus o exaltara grandemente e operara maravilhas por sua mão. Contudo, Moisés não arrazoou que Deus o escolhera para instruir outros e que cumprira coisas maravilhosas por sua mão, e que por isso não necessitava ser instruído. Alegremente ouviu as sugestões de seu sogro, e adotou seu plano como uma sábia providência.