História da Redenção

CAPÍTULO 3

Conseqüências da Rebelião

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No meio do jardim, perto da árvore da vida, estava a árvore do conhecimento do bem e do mal. Esta árvore fora especialmente designada por Deus para ser a garantia de sua obediência, fé e amor a Ele. O Senhor ordenou a nossos primeiros pais que não comessem desta árvore nem tocassem nela, senão morreriam. Disse que podiam comer livremente de todas as árvores do jardim, exceto daquela, pois se dela comessem certamente morreriam.

Quando Adão e Eva foram colocados no belo jardim, tinham para sua felicidade tudo que pudessem desejar. Mas Deus determinou, em Seu plano onisciente, testar sua lealdade, antes que eles pudessem ser considerados eternamente fora de perigo. Teriam Seu favor, Ele conversaria com eles e eles com Ele. Contudo, Ele não colocou o mal fora do seu alcance. A Satanás foi permitido tentá-los. Se resistissem às tentações, haveriam de estar no eterno favor de Deus e dos anjos celestiais.

Satanás estava espantado ante sua nova condição. Sua felicidade acabara. Olhava para os anjos que, com ele, outrora foram tão felizes, mas que tinham sido expulsos do Céu em sua companhia. Antes de sua queda nenhuma sombra de descontentamento tinha turbado sua perfeita alegria. Agora, tudo parecia mudado. As faces que tinham refletido a imagem de seu Criador estavam melancólicas


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e em desespero. Conflito, discórdia e ásperas recriminações existiam entre eles. Antes de sua rebelião, esses acontecimentos eram desconhecidos no Céu. Satanás agora observava os terríveis resultados de sua rebelião. Ele estremecia e temia encarar o futuro e contemplar o fim dessas coisas.

A hora dos alegres e felizes cânticos de louvor a Deus e Seu amado Filho chegara. Satanás tinha dirigido o coro celestial. Tinha ferido a primeira nota; então todo o exército angelical havia-se unido a ele, e gloriosos acordes musicais haviam ressoado através do Céu em honra a Deus e Seu amado Filho. Mas agora, em vez de suaves notas musicais, palavras de discórdia e ira caíam aos ouvidos do grande líder rebelde. Onde estava? Não era isso tudo um horrível sonho? Fora lançado fora do Céu? Os portais do Céu nunca mais se abririam para admiti-lo? Aproximava-se a hora de adoração, quando brilhantes e santos anjos se prostravam diante do Pai. Não mais se uniria em cântico celestial. Não mais se curvaria em reverência e santo temor ante a presença do eterno Deus.

Pudesse ele voltar a ser como quando era puro, verdadeiro, leal, e alegremente abandonaria sua pretensão de autoridade. Mas, estava perdido, fora da possibilidade de redenção, por sua presunçosa rebeldia! E isto não era tudo; tinha guiado outros à rebelião e à sua própria condição perdida - anjos que nunca pensaram questionar a vontade do Céu ou recusar obedecer à lei de Deus, até que ele colocasse isso em sua mente, argumentando diante deles que podiam desfrutar um bem maior, uma elevada e mais gloriosa liberdade. Tinha sido esse o sofisma pelo qual os enganara. Uma responsabilidade agora repousava sobre ele, à qual, de bom grado, teria renunciado.

Estes espíritos tinham-se tornado turbulentos com suas esperanças desapontadas. Ao invés de bem maior, estavam


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experimentando os maus resultados da desobediência e desrespeito à lei. Nunca mais poderiam esses seres infelizes ser influenciados pela suave guia de Jesus Cristo. Nunca mais poderiam esses espíritos ser estimulados pelo profundo e fervoroso amor, paz e alegria que Sua presença tinha sempre inspirado neles, para retornarem a Ele em jubilosa obediência e reverente honra.

Satanás Procura Reintegração

Satanás treme ao contemplar sua obra. Ele está sozinho, meditando sobre o passado, o presente e o futuro de seus planos. Sua poderosa estrutura vacila como numa tempestade. Um anjo do Céu está passando. Ele o chama e suplica uma entrevista com Cristo. Isto lhe é concedido. Então, relata ao Filho de Deus que está arrependido de sua rebelião e deseja voltar ao favor divino. Está disposto a tomar o lugar que previamente Deus lhe designara e sujeitar-se a Seu sábio comando. Cristo chorou ante o infortúnio de Satanás mas disse-lhe, como pensamento de Deus, que ele jamais poderia ser recebido no Céu. O Céu não devia ser colocado em perigo. Se fosse recebido de volta, todo o Céu seria manchado pelo pecado e rebelião originados com ele. As sementes da rebelião ainda estavam nele. Não tivera, em sua rebelião, nenhum motivo para seu procedimento, e arruinara irremediavelmente não só a si mesmo mas a multidão de anjos, que teria sido feliz no Céu, tivesse ele permanecido firme. A lei de Deus podia condenar mas não podia perdoar.

Ele não se arrependeu de sua rebelião porque visse a bondade de Deus, da qual havia abusado. Não era possível que seu amor por Deus tivesse aumentado tanto desde a queda, que o levasse a uma alegre submissão e feliz obediência à Sua lei, por ele desprezada. A desgraça que experimentara em perder a doce luz


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do Céu, o senso de culpa que o oprimia, o desapontamento que sentiu em não ver realizadas suas esperanças, foram a causa de sua dor. Ser comandante fora do Céu era vastamente diferente de ser assim honrado no Céu. A perda que sofreu de todos os privilégios celestiais parecia demais para suportar. Desejava recuperá-los.

Esta grande mudança de posição não tinha aumentado seu amor por Deus, nem por Sua sábia e justa lei. Quando Satanás se tornou plenamente convencido de que não havia possibilidade de ser reintegrado no favor de Deus, manifestou sua maldade com aumentado ódio e feroz veemência.

Deus sabia que tão determinada rebelião não permaneceria inativa. Satanás inventaria meios para importunar os anjos celestiais e mostrar desdém por Sua autoridade. Como não podia ser admitido no interior dos portais celestes, aguardaria mesmo à entrada, para escarnecer dos anjos e procurar contender com eles ao passarem. Procuraria destruir a felicidade de Adão e Eva. Esforçar-se-ia por incitá-los à rebelião, sabendo que isto causaria tristeza no Céu.

A Conspiração Contra a Família Humana

Seus seguidores foram procurá-lo, e ele, erguendo-se e assumindo um ar de desafio, informou-os de seus planos para arrebatar de Deus o nobre Adão e sua companheira Eva. Se pudesse, de alguma forma, induzi-los à desobediência, Deus faria alguma provisão pela qual pudessem ser perdoados, e então, ele e todos os anjos caídos obteriam um provável meio de partilhar com eles a misericórdia de Deus. Se isto falhasse, podiam unir-se com Adão e Eva, pois, se


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esses viessem a transgredir a lei divina ficariam sujeitos à ira de Deus, como eles próprios estavam. Sua transgressão os colocaria, também, num estado de rebelião, e eles podiam unir-se a Adão e Eva, tomar posse do Éden, e conservá-lo como seu lar. E se pudessem ter acesso à árvore da vida no meio do jardim, sua força seria, pensavam, igual à dos santos anjos, e nem mesmo o próprio Deus poderia expulsá-los.

Satanás manteve uma consulta com seus anjos ímpios. Eles não estavam todos prontamente unidos para se engajar neste perigoso e terrível trabalho. Declarou que não confiava em ninguém para cumprir esta obra, pois pensava que apenas ele era suficientemente sábio para levar avante um empreendimento tão importante. Desejava que considerassem o assunto, enquanto os deixaria e procuraria um retiro para consolidar seus planos. Procurou impressioná-los com o fato de que esta era sua final e única esperança. Se falhassem aqui, toda perspectiva de recuperação e controle do Céu ou de alguma parte da criação de Deus era sem esperança.

Satanás ficou sozinho para considerar seus planos de modo que fosse absolutamente certa a queda de Adão e Eva. Temia que seus propósitos pudessem ser derrotados. E mais, mesmo que tivesse sucesso em levar Adão e Eva a desobedecerem aos mandamentos de Deus, e assim se tornassem transgressores de Sua lei, e nenhum bem viesse a ele, seu próprio caso não seria melhorado; somente sua culpa seria aumentada.

Estremeceu ao pensar em submergir o santo e feliz par na miséria e remorso que ele próprio sofria. Parecia indeciso: a um tempo, firme e determinado, em seguida, hesitando e vacilando. Seus anjos o procuraram a ele, seu líder, para dar-lhe a conhecer sua decisão. Estavam dispostos a unir-se


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a Satanás em seus planos, e com ele assumir a responsabilidade e partilhar as conseqüências.

Satanás lançou fora seus sentimentos de desespero e fraqueza e, como líder deles, fortaleceu-se para enfrentar o problema e fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para desafiar a autoridade de Deus e Seu Filho. Informou-os de seus planos. Se fosse audaciosamente ter com Adão e Eva para queixar-se do Filho de Deus, eles não o ouviriam por um momento, pois deviam estar preparados para tal ataque. Mesmo que procurasse intimidá-los com seu poder, até recentemente um anjo de elevada autoridade, nada poderia conseguir. Decidiu que a astúcia e o engano fariam o que a força ou o poder não lograriam.

Adão e Eva Advertidos

Deus reuniu o exército angelical para tomar medidas e impedir o perigo ameaçador. Ficou decidido no concílio celestial que anjos deviam visitar o Éden e advertir Adão de que ele estava em perigo pela presença de um adversário. Dois anjos apressaram-se a visitar nossos primeiros pais. O santo par recebeu-os com inocente alegria, expressando gratidão a seu Criador por assim havê-los rodeado com tal profusão de Sua bondade. Todas as coisas amáveis e atrativas eram para sua alegria e tudo parecia sabiamente adaptado às suas necessidades; e o que estimavam acima de todas as outras bênçãos, era a associação com o Filho de Deus e com os anjos celestiais, pois tinham muito a relatar-lhes a cada visita, sobre suas novas descobertas das belezas naturais de seu lar edênico, e tinham muitas perguntas a fazer relativas a muita coisa que só podiam compreender indistintamente.

Os anjos benévola e amorosamente deram a informação que desejavam. Também contaram a triste história da rebelião


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e queda de Satanás. Então, claramente informaram-nos de que a árvore do conhecimento fora colocada no jardim para ser um penhor de sua obediência e amor a Deus; que a elevada e feliz condição de santos anjos seria conservada sob a condição de obediência; que eles estavam numa situação similar; que podiam obedecer à lei de Deus e ser inexprimivelmente felizes, ou desobedecer e perder sua elevada condição e serem mergulhados num desespero irremediável.

Contaram a Adão e Eva que Deus não os compelia a obedecer - que Ele não removera deles o poder de contrariar Sua vontade; que eles eram agentes morais, livres para obedecer ou desobedecer. Havia apenas uma proibição que Deus considerara próprio impor-lhes. Se transgredissem a vontade de Deus, certamente morreriam. Contaram a Adão e Eva que o mais exaltado anjo, imediato a Cristo, recusara obedecer à lei de Deus, a qual tinha Ele ordenado para governar os seres celestiais; que esta rebelião causara guerra no Céu, a qual resultara na expulsão dos rebeldes, de todos aqueles que se uniram a ele em pôr em dúvida a autoridade do grande Jeová; e que o rebelde caído era agora inimigo de tudo o que interessasse a Deus e Seu amado Filho.

Contaram-lhes que Satanás propusera-se fazer-lhes mal, e que era necessário estarem alerta, porque podiam entrar em contato com o inimigo caído; mas que não podia causar-lhes dano enquanto rendessem obediência aos mandamentos de Deus, e que, se necessário, todos os anjos do Céu viriam em seu auxílio, antes que ele pudesse de alguma forma prejudicá-los. Mas se desobedecessem ao mandamento de Deus, então Satanás teria poder para sempre molestá-los, confundi-los e causar-lhes dificuldades. Se permanecessem resolutos contra as primeiras insinuações


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de Satanás, estariam tão seguros quanto os anjos celestiais. Mas se cedessem ao tentador, Aquele que não poupou os exaltados anjos, não os pouparia. Deviam sofrer o castigo da sua transgressão, pois a lei de Deus é tão sagrada como Ele próprio, e Deus requer implícita obediência de todos no Céu e na Terra.

Os anjos preveniram Eva para que não se separasse do marido em suas ocupações, pois podia ser levada a um contato com esse inimigo caído. Separando-se um do outro, estariam em maior perigo do que se ficassem juntos. Os anjos insistiram que seguissem bem de perto as instruções dadas por Deus com referência à árvore do conhecimento, que na obediência perfeita estariam seguros, e que o inimigo não teria poder para enganá-los. Deus não permitiria que Satanás seguisse o santo par com contínuas tentações. Poderia ter acesso a eles apenas na árvore do conhecimento do bem e do mal.

Adão e Eva asseguraram aos anjos que nunca transgrediriam o expresso mandamento de Deus, pois era seu mais elevado prazer fazer a Sua vontade. Os anjos associaram-se a Adão e Eva em santos acordes de harmoniosa música, e como seus cânticos ressoassem cheios de alegria pelo Éden, Satanás ouviu o som de suas melodias de adoração ao Pai e ao Filho. E quando Satanás o ouviu, sua inveja, ódio e malignidade aumentaram, e expressou a seus seguidores a sua ansiedade por incitá-los (Adão e Eva) a desobedecer, atraindo assim sobre eles a ira de Deus e mudando os seus cânticos de louvor em ódio e maldições ao seu Criador.

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