História da Redenção

CAPÍTULO 10

Abraão e a Semente Prometida

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O Senhor escolheu Abraão para cumprir a Sua vontade. Ele foi instruído a deixar sua nação idólatra e separar-se de seus parentes. O Senhor tinha-Se revelado a Abraão na sua juventude, dando-lhe entendimento e preservando-o da idolatria. Propunha-Se fazer dele um exemplo de fé e verdadeira devoção a Seu povo, que posteriormente vivesse sobre a Terra. Seu caráter era marcado pela integridade, generosidade e hospitalidade. Ele impunha respeito como um poderoso príncipe entre o povo. Sua reverência e amor por Deus, e sua estrita obediência no cumprimento de Sua vontade, granjearam-lhe o respeito de seus servos e vizinhos. Seu piedoso exemplo e vida justa, unidos com suas fiéis instruções aos servos e toda a sua família, levou-os a temer, amar e reverenciar o Deus de Abraão.

O Senhor apareceu a Abraão e prometeu-lhe que sua semente seria numerosa como as estrelas do céu. Fez-lhe também saber, mediante a figura do pavor de grandes trevas que lhe sobrevieram, a longa e servil escravidão de seus descendentes no Egito.

No começo, Deus deu a Adão uma só esposa, desta forma mostrando Sua norma. Nunca designou que o homem tivesse pluralidade de esposas. Lameque foi o primeiro que se


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desviou deste sábio plano de Deus. Tinha duas esposas, que criaram discórdia em sua família. A inveja e o ciúme de ambas fizeram Lameque infeliz. Quando os homens começaram a se multiplicar sobre a face da Terra e lhes nasceram filhas, tomaram para si esposas de todas que escolheram. Este era um dos grandes pecados dos habitantes do velho mundo, que atraiu a ira de Deus sobre eles. Esse costume foi praticado depois do dilúvio, e tornou-se tão comum que mesmo os homens justos caíram nessa prática e tiveram pluralidade de esposas. Todavia não foi menor o pecado, visto que se tornaram corruptos e se afastaram neste ponto da ordem de Deus.

O Senhor disse de Noé e sua família, os que foram salvos na arca: "Porque te hei visto justo diante de Mim nesta geração." Gên. 7:1. Noé tinha apenas uma esposa e a disciplina que ambos ministravam à família foi abençoada por Deus. Porque os filhos de Noé eram justos, foram preservados na arca com seu justo pai. Deus não sancionou a poligamia num único exemplo sequer. Ela é contrária a Sua vontade. Ele sabia que a felicidade do homem seria destruída por ela. A paz de Abraão foi grandemente turbada por seu infeliz casamento com Hagar.

Vacilando nas Promessas de Deus

Depois da separação de Abraão e Ló o Senhor disse-lhe: "Levanta agora os teus olhos, e olha desde o lugar onde estás, para a banda do Norte, e do Sul, e do Oriente, e do Ocidente; porque toda esta terra que vês, eu hei de dar a ti, e à tua semente, para sempre. E farei a tua semente como o pó da terra; de maneira que se alguém puder contar o pó da terra, também a tua semente será contada." Gên. 13:14-16. "Depois destas coisas veio a palavra do Senhor a Abrão em visão, e dizendo: Não temas, Abrão, Eu sou o teu escudo, e teu grandíssimo galardão." Gên. 15:1.


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"Disse mais Abrão: Eis que me não tens dado semente, e eis que um nascido na minha casa será o meu herdeiro." Gên. 15:3.

Como Abraão não tivesse filhos, a princípio pensava que seu fiel servo, Eliezer, devesse tornar-se filho por adoção e herdeiro. Mas Deus informou Abraão que seu servo não devia ser seu filho e herdeiro, mas que ele realmente teria um filho. "Então o levou fora, e disse: Olha para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua semente." Gên. 15:5.

Se Abraão e Sara tivessem esperado em confiante fé no cumprimento da promessa de que teriam um filho, muita infelicidade teria sido evitada. Eles criam que seria tal como Deus havia prometido, mas não podiam crer que Sara, em sua idade avançada, pudesse ter um filho. Sara sugeriu um plano pelo qual pensava que a promessa de Deus pudesse ser cumprida. Ela suplicou a Abraão para tomar Hagar como esposa. Nisto ambos mostraram falta de fé e de perfeita confiança no poder de Deus. Por ter ouvido a voz de Sara e tomado Hagar como esposa, Abraão falhou em resistir à prova de sua fé no ilimitado poder de Deus, e atraiu sobre si e sobre Sara muita infelicidade. O Senhor intentava provar a firme fé e confiança de Abraão nas promessas que lhe fizera.

Arrogância de Hagar

Hagar era orgulhosa e jactanciosa, e se conduzia arrogantemente perante Sara. Vangloriava-se de que ia ser a mãe de uma grande nação, que Deus tinha prometido fazer de Abraão. E Abraão era compelido a ouvir as queixas de Sara em relação à


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conduta de Hagar, acusando Abraão de erro nesse assunto. Abraão sentiu-se afligido e disse a Sara que Hagar era sua serva, e que ela podia tê-la sob controle, mas recusou mandá-la embora, pois ela seria a mãe de seu filho, mediante quem pensava que a promessa seria cumprida. Informou a Sara que não teria tomado Hagar para esposa, se isto não tivesse sido seu pedido especial.

Abraão era também forçado a ouvir as queixas de Hagar quanto a abusos da parte de Sara. Abraão ficou perplexo. Se procurasse desagravar os erros de Hagar aumentaria o ciúme e infelicidade de Sara, sua primeira e bem-amada esposa. Hagar fugiu da face de Sara. Um anjo de Deus a encontrou e confortou, reprovando-a por sua conduta arrogante, ordenando o retorno a sua senhora e submissão sob suas mãos.

Depois do nascimento de Ismael, o Senhor manifestou-Se outra vez a Abraão e disse: "Estabelecerei o Meu concerto entre Mim e a tua semente depois de ti em suas gerações, por concerto perpétuo." Gên. 17:7. De novo o Senhor repetiu pelo Seu anjo a promessa de dar a Sara um filho, e que ela seria mãe de muitas nações. Abraão ainda não compreendeu a promessa de Deus. Seu pensamento imediatamente recaiu sobre Ismael, pois pensava que através dele viriam as muitas nações prometidas, e exclamou em sua afeição por seu filho: "Oxalá que viva Ismael diante de Teu rosto!" Gên. 17:18.

Outra vez a promessa foi definitivamente repetida a Abraão: "Na verdade, Sara tua mulher te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque, e com ele estabelecerei o Meu concerto, por concerto com ele a Minha aliança, aliança perpétuo para a sua semente." Gên. 17:19. Os anjos foram enviados pela segunda vez a Abraão, ao passarem


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para destruir Sodoma, e repetiram mais distintamente a promessa de que Sara teria um filho.

O Filho Prometido

Depois do nascimento de Isaque, a grande alegria manifestada por Abraão e Sara causou grande ciúme em Hagar. Ismael tinha sido instruído por sua mãe, que seria especialmente abençoado por Deus, como filho de Abraão, e que seria o herdeiro do que lhe fora prometido. Ismael participou dos sentimentos de sua mãe e irou-se por causa do contentamento manifestado pelo nascimento de Isaque. Ele desprezava Isaque, pois imaginava que seria preferido a ele. Sara viu a disposição manifestada por Ismael contra seu filho Isaque, e ficou grandemente chocada. Relatou a Abraão a desrespeitosa conduta de Ismael para com ela e seu filho Isaque, dizendo: "Deita fora esta serva e o seu filho; porque o filho desta serva não herdará com meu filho, com Isaque." Gên. 21:10.

Abraão ficou grandemente angustiado. Ismael era seu filho, ele o amava. Como poderia mandá-lo embora? Orou a Deus em sua perplexidade, pois não sabia que caminho tomar. O Senhor informou a Abraão mediante os anjos, que escutasse a voz de Sara sua esposa, e que não deixasse que sua afeição pelo filho ou por Hagar o impedisse de concordar com os desejos dela. Este era o único meio que ele podia seguir para restaurar a harmonia e felicidade de sua família. Abraão teve a consoladora promessa do anjo, de que Ismael, embora separado da casa de seu pai, não morreria nem seria desamparado por Deus, que ele seria preservado por ser filho de Abraão. Deus também prometeu fazer de Ismael uma grande nação.


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Abraão era de nobre e benevolente disposição, manifesta em seu fervoroso apelo pelo povo de Sodoma. Seu vigoroso espírito sofria muito. Estava curvado pela dor, e seus sentimentos paternos foram profundamente tocados quando despediu Hagar e seu filho Ismael para vaguear como estrangeiros numa terra estranha.

Se Deus tivesse sancionado a poligamia, Ele não teria levado Abraão a despedir Hagar e seu filho. Nisto Ele queria ensinar a todos a lição de que os direitos e felicidade de uma relação matrimonial devem ser sempre respeitados e guardados, mesmo com grande sacrifício. Sara era a primeira e única verdadeira esposa de Abraão. Ela estava habilitada, como esposa e mãe, a direitos que nenhuma outra podia ter na família. Ela reverenciava o marido, chamando-o senhor, mas tinha ciúme de que suas afeições fossem divididas com Hagar. Deus não a censurou pela conduta que estava seguindo. Abraão foi reprovado pelos anjos por duvidar do poder de Deus, o que o levou a tomar Hagar como sua esposa, pensando que mediante ela a promessa seria cumprida.

A Suprema Prova da Fé

Novamente o Senhor houve por bem provar a fé de Abraão mediante um teste terrível. Tivesse ele suportado a primeira prova e pacientemente esperado que a promessa fosse cumprida em Sara, e não tivesse tomado Hagar como esposa, não teria sido sujeito à mais rigorosa prova jamais requerida de um homem. O Senhor ordenou a Abraão: "Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que Eu te direi." Gên. 22:2.

Abraão não descreu de Deus nem hesitou, mas


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cedo de manhã tomou dois de seus servos e Isaque, seu filho, e lenha para o holocausto e seguiu para o lugar de que Deus lhe falara. Não revelou a verdadeira natureza da viagem a Sara, sabendo que sua afeição por Isaque a levaria a duvidar de Deus e reter o filho. Abraão não permitiu que os sentimentos paternos o controlassem e levassem a rebelar-se contra Deus. A ordem de Deus tinha o fim de agitar o âmago de sua alma. "Toma agora o teu filho." Então, como para provar o coração um pouco mais profundamente, acrescentou: "O teu único filho, Isaque, a quem amas"; isto é, o único filho da promessa, e "oferece-o ali em holocausto." Gên. 22:2.

Três dias o pai viajou com o filho, tendo tempo suficiente para raciocinar e duvidar de Deus, se estivesse disposto a duvidar. Mas não duvidou de Deus. Agora, não raciocinava que a promessa seria cumprida mediante Ismael, pois Deus claramente lhe dissera que mediante Isaque a promessa devia ser cumprida.

Abraão cria que Isaque era o filho da promessa. Também cria que Deus queria dizer exatamente o que disse quando ordenou que oferecesse o filho em holocausto. Não vacilou ante a promessa de Deus mas creu que Aquele que tinha dado a Sara um filho na velhice, e que tinha requerido dele que tomasse a vida do filho, podia também dar-lhe vida outra vez e ressuscitá-lo dos mortos.

Abraão deixou os servos no caminho e propôs ir só com seu filho para adorar a alguma distância deles. Não podia permitir que seus servos os acompanhassem, pois seu amor por Isaque poderia impedir que executasse o que Deus lhe ordenara fazer. Tomou a lenha das mãos de seus servos e colocou-a sobre os ombros do filho. Também tomou o fogo e o cutelo. Estava


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preparado para executar a terrível missão que Deus lhe dera. Pai e filho caminhavam juntos.

"Então falou Isaque a Abraão seu pai e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui meu filho! E ele disse: Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto? E disse Abraão: Deus proverá para Si o cordeiro para o holocausto, meu filho. Assim caminharam ambos juntos." Gên. 22:7 e 8. O severo, amante e sofredor pai caminhava firmemente ao lado de seu filho. Ao chegarem ao lugar que Deus havia determinado a Abraão, edificou ali um altar e colocou em ordem a lenha, pronta para o sacrifício, e então informou a Isaque a ordem de Deus de oferecê-lo em holocausto. Repetiu-lhe a promessa que Deus fizera várias vezes, que mediante Isaque ele se tornaria uma grande nação, e que mesmo executando a ordem de Deus de matá-lo, Deus cumpriria Sua promessa, pois era capaz de ressuscitá-lo da morte.

A Mensagem do Anjo

Isaque cria em Deus. Tinha sido ensinado a obedecer implicitamente ao pai, e amava e reverenciava ao Deus de Abraão. Poderia ter resistido a seu pai se assim escolhesse fazer. Depois, porém, de abraçá-lo afetuosamente, submeteu-se a ser amarrado e deposto sobre a lenha. Quando as mãos do pai se elevaram para matar o filho, o Anjo de Deus, que tinha vigiado toda a fidelidade de Abraão no caminho de Moriá, chamou-o desde o Céu e disse: "Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não Me negaste o teu filho, o teu único." Gên. 22:11 e 12.


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"Então levantou Abraão os seus olhos, e olhou; e eis um carneiro detrás dele, travado pelas suas pontas num mato; e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho." Gên. 22:13.

Abraão tinha agora suportado completa e nobremente a prova, e pela sua fidelidade redimido sua falta de perfeita confiança em Deus, a qual o levara a tomar Hagar por esposa. Depois dessa exibição da fé e confiança de Abraão, Deus renovou-lhe a promessa. "Então o anjo do Senhor bradou a Abraão pela segunda vez desde os céus, e disse: Por Mim mesmo, jurei, diz o Senhor: Porquanto fizeste esta ação, e não Me negaste o teu filho, o teu único. Que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua semente como as estrelas dos céus, e como a areia na praia do mar; e a tua semente possuirá a porta dos seus inimigos. E em tua semente serão benditas todas as nações da Terra; porquanto obedeceste à Minha voz." Gên. 22:15-18.

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