Conselhos Sobre Educação

CAPÍTULO 14

Internatos Escolares

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Para cursarem nossos colégios, muitos jovens são separados das influências do círculo doméstico, próprias para abrandar e enternecer. Exatamente ao tempo em que necessitam de vigilante fiscalização, são retirados das restrições da influência paternal e de sua autoridade, sendo lançados no convívio de grande número de outros da mesma idade, de hábitos e caráter diversos. Alguns desses receberam em criança bem pouca disciplina, e são superficiais e frívolos; outros foram demasiado refreados e sentiram quando longe das mãos que lhes seguravam as rédeas do controle talvez um tanto apertadas demais, que eram livres para fazer como lhes aprouvesse. Desprezam só o pensar em restrição. Por essas associações, são demasiadamente acrescidos os perigos dos jovens.

Nossos internatos foram estabelecidos a fim de nossos jovens não serem levados a flutuar daqui para ali, e serem expostos às más influências que estão em toda parte; mas para que, o quanto possível, se proveja uma atmosfera doméstica em que sejam preservados de tentações à imoralidade, e sejam encaminhados a Jesus. A família do Céu representa aquilo que a terrena devia ser; e nossos internatos, onde se reúnem jovens em busca de preparo para o serviço de Deus, devem-se aproximar o quanto possível do modelo divino.

Os professores colocados à testa desses lares, assumem sérias responsabilidades; pois devem desempenhar o papel de pais e mães, mostrando interesse nos alunos, em cada um, da mesma maneira que os pais mostram nos filhos. Os variáveis elementos que compõem o caráter da juventude com quem são chamados a lidar, trazem sobre eles cuidado e pesadas responsabilidades, e requer-se grande tato bem como muita paciência para equilibrar na devida direção mentes


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torcidas por uma orientação errônea. Os professores precisam de grande capacidade administrativa; cumpre-lhes ser leais aos princípios, e todavia sábios e brandos, aliando o amor e a simpatia cristã com a disciplina. Devem ser homens e mulheres de fé, de sabedoria e oração. Não devem manifestar uma dignidade severa, inflexível, mas associarem-se com a juventude, identificando-se com eles em suas alegrias e dores, bem como em sua diária rotina de trabalho. A obediência prestada com alegria e amor, será em geral o fruto de tal esforço.

Deveres Domésticos

A educação que um rapaz ou uma moça que cursa nossos colégios devia receber na vida doméstica, é merecedora de especial atenção. É de grande importância na obra da formação do caráter, que alunos que estão em nossos colégios sejam ensinados a desempenhar-se do trabalho que lhes é designado, afastando toda tendência a ser negligentes. Eles precisam familiarizar-se com os deveres da vida diária. Devem ser ensinados a cumprir seus deveres domésticos cabalmente e bem, com o mínimo de ruído e confusão possível. Tudo deve ser feito decentemente e com ordem. A cozinha e todas as outras partes do edifício devem ser mantidas agradáveis e limpas. Os livros sejam colocados de lado até o tempo próprio, e não tomem mais estudos do que os que possam ser atendidos sem prejudicar os deveres domésticos. O estudo dos livros não deve absorver a mente a tal ponto que se negligenciem os deveres domésticos de que depende o conforto da família.

No cumprimento desses deveres, importa vencer os hábitos descuidados, negligentes e desordenados; pois a menos que sejam corrigidos, tais hábitos serão levados para todos os aspectos da vida, e esta será arruinada para a utilidade, para o verdadeiro trabalho missionário. A menos que sejam corrigidos com perseverança e resolução, eles vencerão o


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aluno para o tempo e a eternidade. Os jovens devem ser estimulados a formar hábitos corretos no vestir, de modo a que sua aparência seja alinhada e atrativa; ensine-se-lhes a conservar as roupas limpas e bem consertadas. Todos os seus hábitos devem ser de molde a torná-los um auxílio e um conforto aos outros.

Foram dadas orientações especiais às tribos dos filhos de Israel para que, ao redor de suas tendas, tudo estivesse limpo e em ordem para que o anjo do Senhor não passasse pelo meio do acampamento e visse desasseio. Seria o Senhor tão exigente que notasse essas coisas? Seria; pois é declarado que, vendo Ele a imundícia do povo não poderia sair com seus exércitos a batalhar contra os inimigos deles. De igual modo todas as nossas ações são notadas por Deus. Aquele Deus que requeria que os filhos de Israel crescessem com hábitos de limpeza, não sancionará qualquer impureza no lar hoje.

Deus confiou aos pais e professores a obra de educar as crianças e os jovens nessas direções, e em todos os atos de sua vida podem ser-lhes ensinadas lições espirituais. Enquanto são exercitados em hábitos de asseio, devemos ensinar-lhes que Deus deseja que sejam limpos de coração, da mesma maneira que de corpo. Enquanto varrem um aposento, podem aprender como o Senhor purifica o coração. Eles não fechariam portas e janelas e deixariam no aposento alguma substância purificadora, mas abririam as portas e as janelas de par em par, expelindo o pó com toda a diligência. Assim as janelas do impulso e sentimento se devem abrir em direção ao Céu, e o pó do egoísmo e atitudes mundanas deve ser expelido. A graça de Deus precisa varrer as câmaras da mente, e todo elemento da natureza ser purificado e vivificado pelo Espírito de Deus. A desordem e falta de higiene nos deveres diários levarão ao esquecimento de Deus e a manter uma forma


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de piedade numa profissão de fé, havendo perdido a realidade. Cumpre-nos vigiar e orar, do contrário andaremos num mundo imaginário e perderemos o real.

Uma fé viva, qual fios de ouro, deve entretecer-se na experiência diária, no cumprimento dos pequeninos deveres. Então os alunos serão levados a compreender os puros princípios que Deus designa que impulsionem todos os atos de sua vida. Então todo o trabalho diário será de tal natureza que promova o desenvolvimento cristão. Os princípios vitais da fé, da confiança e amor para com Jesus penetrarão os mínimos pormenores da vida diária. Os olhos estarão fixados em Jesus, e o amor para com Ele será o motivo constante, dando força vital a todo dever empreendido. Haverá esforço na perseguição da justiça, uma esperança que não envergonha. Tudo quanto for feito, sê-lo-á para a glória de Deus.

A todo aluno no lar, desejo dizer: Sede fiéis aos deveres domésticos. Sede fiéis no desempenho das pequenas responsabilidades. Sede um cristão verdadeiramente vivo no lar. Deixai que os princípios cristãos vos governem o coração e rejam a conduta. Dai ouvidos a toda sugestão feita pelo professor, mas não deixeis que se torne uma necessidade que vos digam sempre o que deveis fazer. Discerni por vós mesmos. Observai por vós mesmos se tudo em vosso quarto está impecavelmente limpo e em ordem, de modo que coisa alguma aí seja ofensiva a Deus, mas que, ao passarem os santos anjos por vosso aposento, sejam atraídos a se demorar, atraídos pelo asseio e a ordem que aí reinam. Cumprindo pronta, esmerada e fielmente vossos deveres, sois missionários. Sois testemunha de Cristo. Mostrais que a religião de Cristo não vos torna, seja em princípio, seja na prática, desalinhados, vulgares, desrespeitosos para com vossos professores, pouco atenciosos para com seus conselhos e instruções. A religião bíblica, quando praticada, tornar-vos-á bondosos, considerados, fiéis. Não negligenciareis as pequeninas coisas que devem ser feitas. Adotai como lema


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as palavras de Cristo: "Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito." Luc. 16:10.

Sociabilidade e Cortesia Cristã

A sociabilidade cristã é na verdade bem pouco cultivada pelo povo de Deus. Este ramo de educação não deve ser negligenciado ou perdido de vista em nossas escolas.

Aos alunos deve ser ensinado que eles não são átomos independentes, mas que cada um é um fio que se deve unir a outros fios na composição de um tecido. Em nenhum departamento pode essa instrução ser ministrada com mais eficácia, do que na escola doméstica. Aí se acham os alunos diariamente circundados de oportunidades que, se forem aproveitadas, ajudarão grandemente no desenvolvimento dos traços de caráter a formarem. Está no poder deles próprios aproveitarem de tal maneira seu tempo e oportunidades que formem um caráter que os torne úteis e felizes. Os que se encerram em si mesmos, que são avessos a se desdobrarem para beneficiar os outros mediante amigável convívio, perdem muitas bênçãos; pois mediante o contato mútuo os espíritos são polidos e refinados; por meio do intercâmbio social formam-se relações e amizades que dão em resultado certa unidade de coração e uma atmosfera de amor que agradam ao Céu.

Os que provaram o amor de Cristo, em especial, devem desenvolver aptidões sociais, pois dessa maneira podem ganhar almas para o Salvador. Cristo não deve ficar oculto no coração deles, encerrado como cobiçado tesouro, sagrado e aprazível, a ser desfrutado apenas por eles próprios; tampouco deve o amor de Cristo ser manifestado unicamente para com aqueles que lhes agradam à fantasia. Cumpre ensinar os estudantes a cultivar o traço cristão de um bondoso interesse, uma disposição sociável para com aqueles que se encontram em mais necessidade, embora não sejam os companheiros de sua preferência. Em todo tempo e lugar, Jesus manifestava amorável interesse pela humanidade, irradiando em torno de


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Si a luz da piedade bem disposta. Ensinem-se os alunos a Lhe seguirem os passos. A mostrarem interesse cristão, simpatia e amor por seus jovens companheiros, e buscar atraí-los para Jesus; qual fonte de água que salta para a vida eterna, deve Cristo estar no coração deles, refrigerando a todos com quem chegarem em contato.

É este pronto e amorável ministério pelos outros em tempos de necessidade, que é considerado precioso aos olhos de Deus. Assim, mesmo enquanto cursam a escola, podem os alunos, uma vez que sejam fiéis a sua profissão de fé, ser missionários vivos de Deus. Tudo isso requer tempo; mas o tempo assim empregado não é perdido, pois dessa forma está o aluno aprendendo a maneira de apresentar o cristianismo ao mundo.

Cristo não Se recusava a associar-Se aos outros em amistoso intercâmbio. Quando convidado a uma festa por um fariseu ou publicano, aceitava o convite. Nessas ocasiões, toda palavra por Ele emitida era um cheiro de vida para vida a Seus ouvintes; pois tornava a hora da refeição ocasião de comunicar muitas lições preciosas adequadas à necessidade deles. Assim ensinava Cristo a Seus discípulos a maneira de se conduzirem quando em companhia dos não religiosos, da mesma maneira que ao estar com os que o eram. Pelo próprio exemplo ensinava-lhes que, ao assistirem a qualquer reunião pública, sua conversação não precisava ser do caráter daquela a que geralmente se entregavam as pessoas em tais ocasiões.

Quando os alunos se sentam à mesa, uma vez que Cristo lhes habite na alma, do tesouro do coração brotarão palavras puras e de molde a elevar; caso Ele aí não Se encontre, acharão prazer na frivolidade, em gracejos e zombarias, o que constitui entrave ao desenvolvimento espiritual e será causa de desgosto aos anjos de Deus. A língua é um membro irrefreado, mas assim não deve ser. Precisa converter-se; pois o talento da linguagem é um talento muito precioso.


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Cristo sempre está pronto a doar Suas riquezas, e devemos juntar as jóias que dEle provêm a fim de que, ao falarmos, essas jóias nos possam cair dos lábios.

O temperamento, as peculiaridades individuais, os hábitos de que se desenvolve o caráter - tudo quanto é praticado no lar, revelar-se-á em todos os intercâmbios da vida. As inclinações seguidas, manifestar-se-ão em pensamentos, palavras e ações da mesma natureza. Se todos os alunos que compõem a família escolar fizessem um esforço para refrear toda palavra descortês ou desagradável, falando a todos de maneira respeitosa; se conservassem em mente que se estão preparando para tornar-se membros da família celeste; se sua influência fosse como que guardada por fiéis sentinelas para que não se exercesse no sentido de afastar de Cristo; se se esforçassem para que todo ato de sua vida manifestasse os louvores dAquele que os chamou das trevas para Sua maravilhosa luz, que influência reformadora sairia de cada internato!

Exercícios Religiosos

De todos os aspectos da educação a ser dada em nossos internatos são os exercícios religiosos os mais importantes. Cumpre tratá-los com a máxima solenidade e reverência, ao mesmo tempo que devem ser transformados na experiência mais agradável. Não devemos prolongá-los de maneira a torná-los enfadonhos, pois a impressão assim causada na mente dos jovens fará com que associem a religião com tudo quanto é árido e desinteressante; e muitos serão levados a pôr sua influência do lado do inimigo, ao passo que, se fossem devidamente ensinados, tornar-se-iam uma bênção ao mundo e à igreja. As reuniões de sábado, os cultos matutinos e vespertinos no lar e na capela, a menos que sejam bem orientados e tenham a vivificação do Espírito de Deus, podem-se


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tornar por demais formais, desinteressantes e sem atrativo, sendo para a juventude os mais tediosos dos exercícios escolares. As reuniões de oração e todos os demais cultos religiosos, devem ser planejados e dirigidos de maneira que, não somente sejam proveitosos, mas tão agradáveis que exerçam positiva atração. O orar juntos, ligará os corações a Deus em laços perduráveis; o confessar a Cristo franca e valorosamente, manifestar em nosso caráter Sua mansidão, humildade e amor, fará com que outros fiquem encantados com a beleza da santidade.

Em todas essas ocasiões Cristo deve ser apresentado como o primeiro "entre dez mil", Aquele que é "totalmente desejável". Cant. 5:10 e 16. Seja Ele destacado como a Fonte de todo verdadeiro prazer e satisfação, o Doador de toda dádiva perfeita, o Autor de toda bênção, Aquele em quem se concentram todas as nossas esperanças de vida eterna. Em todo exercício religioso, apareçam em sua real beleza o amor de Deus e a alegria da vida cristã. Apresentai o Salvador como o restaurador de todo efeito do pecado.

Para chegar a esse resultado, é preciso evitar toda estreiteza. É necessária uma devoção sincera, fervorosa, do íntimo do coração. Será essencial nos professores a piedade ativa e ardente. Mas haverá poder para nós, se a possuirmos. Haverá graça, se a apreciarmos. O Espírito Santo aguarda nossa solicitação, uma vez que a façamos com intensidade de propósito proporcional ao valor do objeto que buscamos. Os anjos do Céu estão tomando nota de toda a nossa obra, e procuram ver como poderão ministrar a cada um de maneira que ele reflita a semelhança de Cristo no caráter, e se transforme à imagem divina. Quando os que se acham à testa de nossos internatos apreciarem as oportunidades e privilégios colocados ao seu alcance, realizarão para Deus uma obra aprovada pelo Céu.

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