Ao passo que o mundo necessita simpatia, orações e assistência do povo de Deus, ao passo que precisa ver a Cristo na vida de Seus seguidores, o povo de Deus se acha em igual necessidade de ocasiões de exercer simpatia, de dar eficácia a suas orações e desenvolver neles um caráter segundo o modelo divino.
É para proporcionar essas oportunidades que Deus colocou entre nós os pobres, os desafortunados, os doentes e sofredores. São o legado de Cristo a Sua igreja, e devem ser cuidados como Ele o faria. Assim tira Deus a escória e purifica o ouro, dando-nos aquela cultura de coração e de caráter que nos é necessária.
O Senhor poderia levar avante Sua obra sem nossa cooperação. Não depende de nós quanto a dinheiro, tempo ou trabalho. Mas a igreja é muito preciosa a Seus olhos. É o tesouro que encerra Suas jóias, o redil que Lhe abriga as ovelhas, e anela vê-la sem mácula nem ruga ou coisa semelhante. Anseia por ela com inexprimível amor. Eis porque nos tem dado oportunidades de trabalhar para Ele, e aceita-nos os serviços como testemunhos de amor e lealdade.
Ao colocar os pobres e sofredores entre nós, o Senhor está-nos provando a fim de revelar-nos o que está em nosso coração. Não podemos, sem incorrer em risco, esquivar-nos aos princípios. Não podemos violar a justiça, não podemos negligenciar a misericórdia. Ao vermos um irmão em decadência, não devemos passar de largo, mas fazer decididos e imediatos esforços para cumprir a Palavra de Deus, ajudando-o. Não podemos trabalhar em contrário às especiais direções de Deus, sem que o resultado de nossa obra se reflita sobre nós. Importa que fique firmemente
assente, arraigado e cimentado na consciência que não nos será benéfico qualquer coisa, em nossa conduta, que desonre a Deus.
Deve ser escrito na consciência, como com pena de ferro sobre a rocha, que aquele que despreza a misericórdia, a compaixão e a justiça, o que negligencia o pobre, que passa por alto as necessidades da humanidade sofredora, que não é bondoso e cortês, está-se conduzindo de maneira que Deus não pode cooperar com ele no desenvolvimento do caráter. O cultivo do espírito e do coração opera-se mais facilmente quando sentimos tão terna compaixão pelos outros, que oferecemos nossos benefícios e privilégios a fim de suprir-lhes as necessidades. Adquirir e segurar tudo quanto nos é possível para nós mesmos, tende a empobrecer a alma. Mas todos os atributos de Cristo aguardam a recepção dos que fazem a própria obra que Deus lhes designou, trabalhando à maneira de Cristo.
Nosso Redentor envia Seus mensageiros a darem testemunho perante Seu povo. Ele diz: "Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo." Apoc. 3:20. Muitos, porém, recusam recebê-Lo. O Espírito Santo espera para abrandar e submeter o coração; porém eles não estão dispostos a abrir a porta e deixar o Salvador entrar, por temor de que Ele lhes exija alguma coisa. E assim Jesus de Nazaré passa. Anseia conceder-lhes as ricas bênçãos de Sua graça, mas recusam aceitá-las. Que terrível coisa é excluir a Cristo de Seu próprio templo! Que prejuízo para a igreja!
Representar a Cristo
As boas obras nos custam sacrifícios, mas é no próprio sacrifício que elas provêem a disciplina. Essas obrigações nos põem em conflito com os sentimentos e propensões naturais, e em cumpri-las obtemos vitória após vitória sobre os traços objetáveis de nosso caráter. A luta prossegue, e assim crescemos na
graça. Assim refletimos a imagem de Cristo, e nos preparamos para um lugar entre os bem-aventurados no reino de Deus.
Aos que transmitem aos necessitados o que recebem do Mestre, acompanharão bênçãos, tanto temporais, como espirituais. Jesus operou um milagre a fim de alimentar os cinco mil, uma multidão fatigada e faminta. Procurou um lugar aprazível para acomodá-los, e mandou-os sentar. Tomou, então, os cinco pães e os dois peixinhos. Sem dúvida foram feitas muitas observações quanto à impossibilidade de satisfazer cinco mil homens famintos, além de mulheres e crianças, com aquela escassa provisão. Mas Jesus deu graças, e pôs a comida nas mãos dos discípulos para ser distribuída. Eles deram à multidão a comida que lhes aumentava nas mãos. E quando ela havia comido, os próprios discípulos sentaram-se e comeram com Cristo da provisão fornecida pelo Céu. Isto é uma preciosa lição para cada seguidor de Cristo.
A religião pura e imaculada é "visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo". Tia. 1:27. Os membros de nossa igreja acham-se em grande necessidade de conhecimento da piedade prática. Precisam praticar a abnegação e o sacrifício. Precisam dar provas ao mundo de que se assemelham a Cristo. Portanto, a obra que Cristo exige deles não é para ser feita por procuração, colocando em alguma comissão ou instituição o encargo que eles próprios devem assumir. Cumpre-lhes tornar-se semelhantes a Cristo no caráter mediante o dar de seus meios e tempo, sua simpatia e esforço pessoal, o ajudar o enfermo, o confortar o contristado, aliviar o pobre, animar o abatido, esclarecer as almas em trevas, encaminhar os pecadores a Cristo, impressionar os corações com a obrigação de observar a lei Deus.
O povo está observando e pesando os que pretendem crer
nas verdades especiais para este tempo. Estão observando a ver em que sua vida e conduta representam a Cristo. Empenhando-se humilde e zelosamente na obra de fazer bem a todos, o povo de Deus exercerá uma influência que testificará em toda vila e cidade em que a verdade penetrar. Se todos quantos conhecem a verdade se apoderarem dessa obra segundo se apresentarem as oportunidades, praticando dia a dia pequenos atos de amor na vizinhança, onde moram, Cristo será manifesto aos seus vizinhos. O evangelho revelar-se-á um poder vivo, e não fábulas artificialmente compostas ou ociosas especulações. Revelar-se-á como uma realidade, não o resultado da imaginação ou do entusiasmo. Isto será de mais conseqüência do que sermões ou profissões de credo.
Satanás está jogando com toda alma a partida da vida. Sabe que a simpatia prática é uma prova de pureza e desprendimento do coração, e fará todo esforço possível para fechar-nos o coração às necessidades dos outros, para que fiquemos afinal impassíveis à vista do sofrimento. Ele introduzirá muitas coisas a fim de impedir a expressão de amor e simpatia. Foi assim que ele arruinou Judas. Este cuidava continuamente de beneficiar-se a si mesmo. Nisto representa vasta classe de professos cristãos de hoje. Precisamos, portanto, refletir sobre seu caso. Achamo-nos tão perto de Cristo como ele estava. Todavia se, como aconteceu com Judas, a associação com Cristo não nos torna um com Ele, se isso não cultiva em nosso coração sincera simpatia por aqueles por quem Cristo deu a vida, encontramo-nos no mesmo perigo em que estava Judas de ficar separados de Cristo, joguetes das tentações de Satanás.
Cumpre-nos guardar-nos do primeiro desvio da justiça; pois uma transgressão, uma negligência em manifestar o espírito de Cristo, abre caminho para outra e outra ainda, até que a mente é dominada pelos princípios do inimigo. Caso seja cultivado, o espírito de egoísmo se torna uma paixão devoradora, que coisa alguma senão o poder de Cristo pode subjugar.
A Mensagem de Isaías 58
Não posso ser demasiado veemente em insistir com todos os membros de nossas igrejas, todos quantos são verdadeiros missionários, todos quantos crêem na terceira mensagem angélica, todos quantos desviam o pé do sábado, para considerarem a mensagem do capítulo cinqüenta e oito de Isaías. A obra de beneficência recomendada nesse capítulo, é a obra que Deus requer de Seu povo neste tempo. É uma obra indicada por Ele próprio. Não somos deixados em dúvida quanto ao lugar da mensagem, e ao tempo de seu assinalado cumprimento, pois lemos: "E os que de ti procederem edificarão os lugares antigamente assolados; e levantarás os fundamentos de geração em geração; e chamar-te-ão reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar." Isa. 58:12. O memorial de Deus, o sábado do sétimo dia, o sinal de Sua obra em criar o mundo, foi removido pelo homem do pecado. O povo de Deus tem uma obra especial a fazer em reparar as brechas feitas em Sua lei; e quanto mais nos aproximamos do fim, tanto mais urgente se torna essa obra. Todos quantos amam a Deus mostrarão que Lhe trazem o sinal pela guarda de Seus mandamentos. Eles são os restauradores de veredas para morar. Diz o Senhor: "Se desviares o teu pé do sábado, e de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso, ... então te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da Terra, e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó." Isa. 58:13 e 14. Assim o genuíno trabalho médico-missionário acha-se inseparavelmente ligado à observância dos mandamentos de Deus, dos quais o sábado é especialmente mencionado, uma vez que é o grande memorial da obra criadora de Deus. Sua observância está ligada com a obra de restaurar a imagem moral de Deus no homem. Este é o ministério que o povo de Deus deve levar avante neste tempo. Este ministério, quando devidamente cumprido, trará ricas bênçãos à igreja.
Necessitamos, como crentes em Cristo, de uma fé maior. Importa que sejamos mais fervorosos na oração. Muitos cogitam por que suas orações são tão sem vida, tão fraca e vacilante
a sua fé, sua vida cristã tão sombria e incerta. Não temos nós jejuado, dizem, e andado "de luto diante do Senhor dos Exércitos?" No capítulo cinqüenta e oito de Isaías, Cristo mostrou como se podem mudar essas condições. Diz Ele: "Porventura não é este o jejum que escolhi? que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo? e que deixes livres os quebrantados, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desterrados? e, vendo o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?" Isa. 58:6 e 7. Eis a receita prescrita por Cristo para a alma desfalecida, duvidosa, tremente. Que os tristes, que andam lamentosamente na presença de Deus, levantem-se e ajudem alguém que está em necessidade.
Cooperar com Deus
Toda igreja se acha necessitada do poder regedor do Espírito Santo, e é agora o tempo de orar por ele. Mas em todo o trabalho de Deus pelo homem, Seus desígnios são que este coopere com Ele. Para isto, o Senhor roga à igreja que tenha maior piedade, mais justo senso de dever, mais clara compreensão de suas obrigações para com seu Criador. Roga-lhes que sejam um povo puro, santificado, ativo. E a obra de auxílio cristão é um dos meios de operar isto, pois o Espírito comunica com todos os que estão fazendo o serviço de Deus.
Aos que se acham empenhados nesta obra, eu quero dizer: Continuai a trabalhar com tato e habilidade. Despertai vossos companheiros para trabalhar sob algum nome com o qual se organizem para cooperar em ação harmônica. Mobilizai os rapazes e as moças das igrejas para trabalhar. Aliai a obra médico-missionária com a proclamação da terceira mensagem angélica. Fazei esforços regulares, organizados, para erguer os membros da igreja acima da atmosfera morta em que se têm achado por anos. Enviai às igrejas obreiros que vivam os princípios da reforma da saúde. Sejam enviadas pessoas que sintam a necessidade de abnegação no apetite, do contrário
serão um laço para a igreja. Vede então se um sopro de vida não se apoderará de nossas igrejas. Importa introduzir na obra um novo elemento. O povo de Deus precisa compreender sua grande necessidade e perigo, e lançar mãos à obra que lhes fica mais perto.
O Salvador está sempre presente com os que se empenham nesta obra, dizendo uma palavra a tempo e fora de tempo, ajudando os necessitados, falando-lhes do maravilhoso amor de Cristo por eles, e impressiona o coração dos pobres e miseráveis e infelizes. Quando a igreja aceita a obra que lhe é dada por Deus, tem a promessa: "Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda." Isa. 58:8. Cristo é nossa justiça; vai adiante de nós nesta obra, e a glória do Senhor o acompanha.
Tudo quanto o Céu contém está à espera para ser sacado por toda alma que trabalhe com Cristo. Quando os membros de nossa igreja iniciarem individualmente o trabalho que lhes é indicado, serão circundados por uma atmosfera totalmente diversa. Seus labores serão acompanhados de bênção e poder. Experimentarão mais elevado cultivo de espírito e coração. O egoísmo que lhes atava a alma será vencido. Sua fé será um princípio vivo. Serão mais fervorosas as orações. A vivificante e santificadora influência do Espírito Santo será derramada sobre eles, e serão levados mais perto do reino de Deus.
O Salvador desconhece tanto classe social como posição, tanto as honras mundanas como as riquezas. Caráter e dedicação de propósito são de alto valor para Ele. Não toma partido ao lado dos fortes e dos favorecidos pelo mundo. Ele, o Filho do Deus vivo, inclina-Se para erguer os caídos. Por meio de promessas e palavras de segurança, busca atrair a Si a alma perdida e prestes a perecer. Os anjos de Deus estão observando a
ver quais de Seus seguidores exercerão terna compaixão e simpatia. Observam a ver quais dentre o povo de Deus manifestarão o amor de Jesus.
Os que avaliam a miséria do pecado, e a divina compaixão de Cristo em Seu infinito sacrifício pelo homem caído, terão comunhão com Cristo. Seu coração estará cheio de benignidade; a expressão da fisionomia e o tom da voz manifestarão simpatia, seus esforços caracterizar-se-ão por sincera solicitude, amor e energia, e ajudados por Deus, serão uma força em ganhar almas para Cristo.
Todos nós precisamos semear uma colheita de paciência, compaixão e amor. Ceifaremos aquilo que estamos semeando. Nosso caráter está-se formando agora para a eternidade. Estamo-nos exercitando aqui na Terra para o Céu. Tudo devemos à graça, abundante graça, graça soberana. A graça no concerto ordenou nossa adoção. A graça no Salvador, efetuou nossa redenção, regeneração e adoção a co-herdeiros de Cristo. Manifeste-se aos outros esta mesma graça.