À proporção que se avizinha o fim e há um contínuo crescimento da obra, que tem por objetivo transmitir ao mundo a última advertência, vai-se tornando mais importante para os que abraçaram a verdade, possuir uma compreensão clara tanto da natureza como da influência dos Testemunhos que Deus, em Sua providência, vinculou à obra da terceira mensagem angélica desde a sua origem. Nas páginas seguintes, serão apresentados trechos do que escrevi durante os últimos quarenta anos com relação à minha própria experiência dos primeiros tempos nesta obra especial, bem como os fatos que Deus me tem revelado, não só quanto à natureza e importância dos Testemunhos, como também em relação ao modo por que foram dados e o conceito em que devem ser tidos.
Minha primeira visão, foi-me dada não muito depois de 1844. Achava-me em visita a uma irmã em Cristo cujo coração estava cingido ao meu. Éramos cinco pessoas, todas mulheres, reverentemente curvadas ante o altar da família. Enquanto orávamos, o poder de Deus desceu sobre mim como antes não o experimentara ainda. Pareceu-me estar rodeada de luz, e ir-me elevando acima da Terra. Nessa ocasião tive uma visão da experiência dos crentes adventistas, da vinda de Cristo e do galardão destinado aos justos.
Numa segunda visão, que se seguiu logo à primeira, foram-me reveladas as provas por que teria de passar, e o dever que tinha de transmitir a outros o que Deus me revelara. Foi-me mostrado que a minha obra havia de defrontar grande oposição, e que o meu coração seria dilacerado por angústias, mas que a graça de Deus bastaria para sustentar-me em todos os momentos. A instrução recebida nessa visão afligiu-me sobremaneira,
porquanto me determinava o dever de ir para o meio do povo, a fim de apresentar-lhe a verdade.
O que sobremodo me afligia era o receio de que, se obedecesse aos ditames do dever e saísse a apresentar-me como alguém que fora favorecido pelo Altíssimo com visões e revelações para o Seu povo, poderia ser arrastada a uma exaltação pecaminosa e a pretender uma posição que me não era lícito ocupar, incorrendo assim no desagrado de Deus e perdendo a minha alma. Tinha diante dos olhos diversos exemplos do que aqui descrevo e minha alma recuava espavorida ante essa difícil prova.
Roguei então insistentemente a Deus que, se me fosse preciso relatar o que me havia revelado, Se dignasse preservar-me da exaltação própria. Disse-me então o anjo: "Tuas orações foram atendidas, e hão de cumprir-se. Quando te vires ameaçada do perigo que temes, a mão de Deus estará estendida para salvar-te: por meio de aflições te atrairá a Si, conservando-te humilde. Desempenha-te com fidelidade da incumbência. Persevera até o fim, e saborearás o fruto da árvore da vida e beberás da água da vida."
Por esse tempo o fanatismo se apoderara de alguns dentre os que tinham abraçado a primeira mensagem. Sustentavam-se graves erros de doutrina e de prática religiosa, e alguns estavam prontos a condenar fosse quem fosse que não partilhasse o seu modo de ver. Esses erros me foram revelados em visão, enviando-me o Senhor a esses filhos desviados para que lhos declarasse; no desempenho dessa missão, porém, defrontei dura oposição e rijas acusações.
Tornou-se-me uma pesada cruz contar a essas criaturas transviadas o que me fora mostrado com relação a elas. Causava-me profunda mágoa ver outros angustiados ou tristes; e, ao ser obrigada a transmitir uma mensagem, procurava muitas vezes suavizá-la e fazê-la aparecer aos indivíduos tão favorável quanto possível; depois me retraía para algum lugar escuso para desafogar em pranto o meu espírito agoniado. Considerava os que só tinham a cuidar de sua própria alma e dizia comigo mesma que, se estivesse nas condições deles, não murmuraria. Era duro transmitir os Testemunhos claros e incisivos que de Deus recebia.
Ansiosamente aguardava o resultado, e se as pessoas, a quem dizia respeito a correção, contra ela se revoltavam e posteriormente entravam a combater a verdade, me propunha mentalmente estas perguntas: Ter-me-ia eu desempenhado devidamente da mensagem? Não haveria absolutamente meio de salvá-las? E então me sobrevinha à alma uma angústia tamanha, que muitas vezes senti que a morte seria uma mensageira bem-vinda e a sepultura um descanso propício.
Eu não compreendia o perigo e o pecado que esse procedimento da minha parte envolvia, até que numa visão fui arrebatada à presença de Jesus. Olhou-me com desagrado. O terror e a agonia que experimentei é impossível descrever. Caí diante dEle sobre o meu rosto, mas senti-me incapaz de proferir uma palavra. Quanto eu desejava poder fugir e ocultar-me daquele rosto sério! Pude apreciar então até certo ponto os sentimentos dos que se perdem, quando vierem a exclamar: Montes e rochedos, "caí sobre nós, e escondei-nos do rosto dAquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro"! Apoc. 6:16.
Momentos depois um anjo ordenou-me que me erguesse, e então meus olhos contemplaram uma cena que é difícil descrever. Diante de mim estava uma multidão de pessoas de cabelos desgrenhados e vestidos rotos, tendo estampada no rosto a expressão do desespero e do terror. Vieram até bem perto de mim, roçando os seus vestidos pelos meus. Quando deitei um olhar às minhas vestes, notei que estavam manchadas de sangue. Tornei a cair como que fulminada aos pés do anjo que me acompanhava. Não tinha a alegar uma única desculpa sequer, e só desejava que estivesse longe desse lugar santo. Entretanto, o anjo ajudou-me a suster-me de pé, e disse: "Não é este o teu caso presentemente; mas esta cena foi desenrolada aos teus olhos para te fazer conhecer qual virá a ser a tua situação, se hesitares em declarar aos outros o que o Senhor te revelou." Com esta solene advertência presente ao espírito, saí para falar ao povo as palavras de reprovação e ensinamento que o Senhor me comunicara.
Testemunhos Individuais
As mensagens que me foram comunicadas para indivíduos, eu as tenho às vezes lançado sobre papel, fazendo-o quase sempre a insistente pedido das pessoas a quem diziam respeito. À medida que o meu trabalho se estendia, isto se tornou uma parte
considerável e laboriosa das minhas ocupações. Antes da publicação do Testemunho nº 15, numerosos pedidos me foram dirigidos por parte de pessoas que eu aconselhara e repreendera, para dar-lhes esses testemunhos por escrito; sentia-me, porém, de tal forma prostrada em virtude de trabalhos exaustivos, que recuei diante da tarefa, tanto mais que sabia que muitas dessas pessoas eram absolutamente indignas, e que pouca esperança havia de que as advertências recebidas operassem nelas uma mudança decisiva. Nesse tempo recebi grande animação do seguinte sonho que tive:
Alguém me trouxe uma peça de um tecido branco e me incumbiu de cortar dele vestidos para pessoas de todos os tamanhos, de todas as condições e de todos os feitios. Foi-me ordenado que os cortasse e os deixasse prontos para serem feitos, quando reclamados. Tive a impressão de que muitos daqueles para os quais fora incumbida de cortar vestidos, não os mereciam. Indaguei então se esta era a última peça de tecido que tinha a cortar, ao que me foi respondido que não; que tão depressa houvesse acabado essa, havia ainda outras para cortar. Senti-me desanimar ante o acúmulo de trabalho que vi diante de mim; verifiquei que estivera empenhada em talhar vestidos durante mais de vinte anos e que o meu trabalho não fora apreciado; também não podia ver que houvesse sido de grande benefício. Falei então à pessoa, que me trouxera os tecidos, aludindo particularmente a uma mulher, para a qual tinha sido incumbida de talhar um vestido. Observei-lhe que não saberia apreciar o vestido e que presenteá-la com o mesmo seria perder tempo e fazenda. Era muito pobre, de inteligência obtusa, desordenada nos hábitos, de sorte que havia de sujá-lo muito breve.
A pessoa a quem falava respondeu-me: "Corta o vestido. É este o teu dever. O prejuízo não é teu, senão meu. Deus não vê conforme os homens vêem. Ele distribui o trabalho que deseja ver feito, e não sabes qual deles prosperará, se este ou aquele. ...
Levantei então as mãos, calosas como estavam do longo manejo da tesoura, e ponderei-lhe que não podia reprimir um sentimento de contrariedade ante a idéia de ter de continuar esse gênero de trabalho. O meu interlocutor respondeu-me: "Corta os vestidos. Ainda não é tempo de seres disso dispensada."
Com uma sensação de invencível fadiga, levantei-me para reiniciar o trabalho. Diante de mim estava uma tesoura nova, perfeitamente afiada, com a qual me pus a trabalhar. Imediatamente senti desaparecer todo o cansaço e desalento; a tesoura parecia cortar sem que fosse necessário maior esforço da minha parte, e talhava vestidos e mais vestidos com relativa facilidade.
Há muitos sonhos que derivam dos fatos ordinários da vida, e com os quais o Espírito de Deus nada tem que ver. Há também sonhos falsos, como há falsas visões, que são inspirados pelo espírito de Satanás. Os sonhos do Senhor, porém, são classificados em Sua Palavra a par das visões, e são, como estas, o fruto do Espírito de Profecia. Esses sonhos, se se levar em conta as pessoas que os tiveram e as circunstâncias em que foram dados, trazem em si mesmos o cunho de sua autenticidade.
Visto as advertências e instruções ministradas por meio de testemunhos a casos individuais se aplicarem com igual propriedade a muitos outros que não foram neles especialmente mencionados, pareceu-me um dever publicar esses testemunhos individuais em benefício da igreja. No Testemunho nº 15, falando da necessidade de assim proceder, disse: "Não conheço melhor meio de apresentar o meu modo de ver acerca dos erros e perigos gerais, bem como acerca dos deveres dos que amam a Deus e guardam os Seus mandamentos, do que publicar estes testemunhos. Talvez não haja mesmo maneira mais direta e eficaz de expor o que o Senhor me tem mostrado."
Numa visão que tive a 12 de junho de 1868, foi-me revelado o que plenamente justificava o meu ato de dar à publicidade testemunhos individuais. Quando o Senhor discrimina casos particulares, especificando os seus erros, outros, que não foram mostrados em visão, freqüentemente os admitem como exatos, ou aproximadamente tais. Se alguém é repreendido por alguma falta especial, os irmãos e irmãs devem examinar-se cuidadosamente a si mesmos e indagar em que eles próprios têm faltado, e em que se têm feito culpados de idêntico pecado. Deviam manifestar um espírito de confissão humilde. Se alguém supõe estar correto, isto não decide seu caso. Deus
olha para o coração. Experimenta e prova deste modo as almas. Censurando as faltas de uns, visa corrigir outros. Se estes, porém, deixam de tomar para si a repreensão, lisonjeando-se de que Deus passa por alto os seus erros, simplesmente porque não os discrimina, enganam sua própria alma e se afundam em trevas, sendo abandonados aos seus próprios caminhos para seguirem a imaginação de seu coração.
Muitos não usam de sinceridade consigo mesmos e estão laborando em grande erro quanto à sua legítima condição diante de Deus. Deus Se serve de caminhos e meios que melhor satisfazem o Seu propósito, para provar o que há no coração de Seus servos professos. Torna patentes as faltas de uns, para que os outros se dêem por avisados e temam, procurando evitá-las. Pelo exame de si mesmos, podem ver que estão fazendo as mesmas coisas que Deus condena em outros. Se desejam realmente servi-Lo e temem ofendê-Lo, não hão de esperar que primeiro lhes sejam especificados os seus pecados antes que os confessem, mas tornar-se-ão ao Senhor, humildemente arrependidos. Renunciarão às coisas que Lhe desagradam, de conformidade com a luz que outros receberam. Se, pelo contrário, os que estão em falta, vêem que são culpados dos mesmos pecados reprovados em outros, contudo continuam a não manifestar nenhum arrependimento, simplesmente porque esses pecados não lhes foram especialmente notificados, fazem correr perigo a sua alma, sendo subjugados por Satanás à vontade dele.
Foi-me mostrado que Deus, em Sua sabedoria, não revelará os pecados e erros de cada um particularmente. ... Todos os culpados são igualmente visados por esses testemunhos individuais, embora seu nome não esteja neles expressamente mencionado; e se tais indivíduos correm um véu sobre seus pecados pela simples razão de não estar ali o seu nome, Deus não os fará prosperar. Não poderão progredir na vida espiritual, mas entrarão cada vez mais nas trevas, até que a luz do Céu seja deles completamente retirada.
Numa visão que tive há uns vinte anos [1871], fui instruída a expor alguns princípios gerais, oralmente e por escrito,
especificando os perigos, erros e pecados de algumas pessoas, para que todos fossem avisados, advertidos e aconselhados. Vi que todos devem fazer um exame minucioso de consciência para saber se não têm cometido os mesmos erros pelos quais outros foram repreendidos, e se as admoestações feitas a outros não se aplicam também ao seu caso. Em caso afirmativo, devem sentir que esses conselhos e advertências têm que ver também com eles, e fazer deles uma aplicação tão prática como se tivessem sido dirigidos a eles pessoalmente. ... Deus intenta provar a fé de todos os que se constituem seguidores de Cristo. Provará a sinceridade das orações dos que dizem ser o seu sincero desejo conhecer o seu dever. Tornará claro o dever de cada um, dando a todos oportunidade de desenvolver o que está dentro de seu coração.
Objetivo dos Testemunhos
Nos tempos antigos, Deus falou aos homens pela boca de Seus profetas e apóstolos. Nestes dias Ele lhes fala por meio dos Testemunhos do Seu Espírito. Não houve ainda um tempo em que mais seriamente falasse ao Seu povo a respeito de Sua vontade e da conduta que este deve ter.
O Senhor houve por bem conceder-me uma visão das necessidades e erros de Seu povo. Por mais penoso que isto fosse para mim, eu fielmente expus aos ofensores as suas faltas e os meios de repará-las. ... É assim que o Espírito de Deus tem pronunciado advertências e juízos, sem contudo retrair a doce promessa da graça.
Os pecadores penitentes não têm motivo para desesperar por lhes serem lembrados os seus pecados e serem advertidos dos perigos que correm. Esses mesmos esforços feitos em seu favor, devem mostrar-lhes que Deus os ama e deseja salvá-los. Só têm de seguir os Seus conselhos e obedecer a Sua vontade, para herdarem a vida eterna. Deus põe os pecados do Seu povo diante de Seus olhos para que possam contemplá-los em toda a sua enormidade, à luz de Sua divina verdade. É de
seu dever renunciá-los então para sempre. Se o povo de Deus reconhecesse Seu procedimento para com ele e aceitasse Seus ensinamentos, encontraria caminho direito para os seus pés, e uma luz para guiá-los através das trevas e do desalento.
As advertências e reprovações não são dirigidas aos apostatados dentre o povo adventista porque sua conduta seja mais censurável que a dos cristãos professos das igrejas nominais, ou porque seu exemplo e atos sejam piores do que os dos adventistas que não rendem obediência às exigências da lei divina, mas porque possuem grande luz, e, pela sua profissão, se constituem no povo escolhido e particular de Deus, tendo a Sua lei escrita em seu coração. Testificam de sua lealdade ao Deus do Céu, tributando obediência às leis de Seu governo; são representantes de Deus na Terra. Qualquer pecado neles os separa de Deus, e, num sentido especial, desonra o Seu nome, dando ocasião aos inimigos de Sua lei, de infamar Sua causa e Seu povo, a quem escolheu como "a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz...". I Ped. 2:9.
O Senhor repreende e corrige o povo que professa guardar Sua lei. Aponta-lhes os pecados, e descobre a sua iniqüidade, porque deseja tê-los separados de toda a impiedade, para que se aperfeiçoem em santidade pelo Seu temor. ... Deus os repreende, argüi e corrige, para que sejam purificados, santificados, enobrecidos, e finalmente exaltados até o Seu trono.
Tenho revisto os Testemunhos dirigidos aos observadores do sábado, e pasmei da misericórdia de Deus e do Seu cuidado por Seu povo em dar-lhes tantas advertências, apontar-lhes tantos perigos e apresentar-lhes a posição elevada que deseja ver ocupada por eles. Se se conservassem no Seu amor, separando-se totalmente do mundo, faria repousar sobre eles a
Sua bênção particular, e Sua luz sobre eles incidiria. Sua influência para o bem se faria sentir em todos os ramos da obra, e em todos os campos de evangelização. Se, porém, deixarem de corresponder ao pensamento de Deus, se continuarem a ter uma compreensão tão acanhada do caráter elevado de Sua obra como tiveram no passado, sua influência e seu exemplo hão de provar-se uma terrível maldição. Farão mal e só mal. O sangue de almas preciosas será encontrado sobre suas vestes.
Testemunhos de advertência têm sido freqüentemente reiterados. Pela minha parte indago: Quem os tem observado? Quem tem sido zeloso em arrepender-se do seu pecado e idolatria, avançando fervorosamente para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus? ... Fiquei em ansiosa expectativa, esperando que Deus pusesse o Seu Espírito sobre alguns, servindo-Se deles como instrumentos de justiça para despertar e pôr em ordem a Sua igreja. Cheguei quase a desesperar, vendo como de ano em ano se acentuava nela o afastamento dessa simplicidade que Deus me mostrou dever caracterizar a vida de Seus seguidores. Tanto o interesse como o devotamento pela causa de Deus têm gradualmente diminuído. Pergunto agora: Até onde os que professam crer nos Testemunhos buscaram harmonizar sua vida com a luz que lhes foi dada? Em que consideração tiveram as advertências que lhes foram transmitidas? Até que ponto observaram as instruções recebidas?
Não Para Substituir a Bíblia
Que os Testemunhos não foram dados para substituir a Bíblia, se evidencia da seguinte porção de um Testemunho publicado em 1876:
"O irmão J. procura confundir os espíritos, esforçando-se por fazer parecer que a luz que Deus nos concedeu por meio dos Testemunhos constitui um acréscimo à Palavra de Deus, mas com isto apresenta os fatos sob uma luz falsa. Deus houve por bem chamar por este meio a atenção de Seu povo para a Sua Palavra, a fim de conceder-lhe uma compreensão
mais perfeita da mesma." Testimonies, vol. 4, pág. 246, 1876.
A Palavra de Deus é suficiente para iluminar o espírito mais obscurecido, e pode ser compreendida por todo o que sinceramente deseja entendê-la. Mas, não obstante isso, alguns que dizem fazer da Palavra de Deus o objeto de seus estudos, são encontrados vivendo em oposição direta a alguns de seus mais claros ensinos. Daí, para que tanto homens como mulheres fiquem sem escusa, Deus dá testemunhos claros e decisivos, a fim de reconduzi-los à Sua Palavra, que negligenciaram seguir. A Palavra de Deus está cheia de princípios gerais para a formação de hábitos corretos de vida, e os testemunhos, tanto gerais como individuais, visam chamar a sua atenção particularmente para esses princípios.
Em 3 de abril de 1871, esse assunto foi-me apresentado num sonho. Pareceu-me estar assistindo a uma importante reunião, a que havia concorrido grande número de pessoas. Muitos estavam inclinados diante de Deus em súplicas fervorosas, parecendo contritos. Insistiam com o Senhor por luz especial. Alguns pareciam estar com o espírito angustiado; seus sentimentos eram intensos e com lágrimas suplicavam em alta voz auxílio e luz. Os nossos mais preeminentes irmãos figuravam nessa impressionante cena. O irmão S. estava prostrado no chão, aparentemente muito atribulado. Sua mulher estava sentada no meio de um grupo de insensíveis escarnecedores. Tinha uns ares de quem dava a entender que votava ao desprezo os que assim se humilhavam.
Sonhei que o Espírito do Senhor pousou então sobre mim, e que me levantei em meio aos clamores e súplicas, e disse: O Espírito do Senhor veio sobre mim. Sinto-me impelida a dizer-vos que deveis começar a trabalhar individualmente por vós mesmos. Estais olhando para Deus, desejosos de que faça por vós a obra que vos deu para fazer. Se fizerdes o que sabeis ser o vosso dever, Deus vos ajudará quando precisardes de auxílio. Deixastes de cumprir o que Deus vos incumbiu de fazer.
Invocais a Deus para que faça o vosso trabalho. Se tivésseis seguido a luz que vos deu, então Ele faria com que maior luz resplandecesse sobre vós; mas já que negligenciais Seus conselhos, advertências e repreensões, que vos foram dados, como podeis pretender que vos dê mais abundante luz e bênçãos somente para negligenciardes e desprezardes estas também? Deus não é como o homem; dEle não se zomba.
Tomei a preciosa Bíblia, e agrupei em torno os diferentes Testemunhos dados para a igreja. Aqui, disse, se encontram os casos de quase todos. Os pecados que devem evitar estão neles apontados. Os conselhos que desejam, podem ser encontrados aqui, dados em outros casos que definem situações semelhantes às deles mesmos. Aprouve a Deus dar-vos regra sobre regra, preceito sobre preceito. Mas poucos entre vós sabem realmente o que está contido nos Testemunhos. Não estais familiarizados com as Escrituras. Se tivésseis feito da Palavra de Deus o objeto de vossos estudos, com o propósito de atingir o padrão bíblico e a perfeição cristã, não necessitaríeis os Testemunhos. É porque negligenciastes familiarizar-vos com o Livro inspirado de Deus, que Ele procurou chegar até vós por meio de testemunhos simples e diretos, chamando a vossa atenção para as palavras da inspiração às quais negligenciastes obedecer, e insistindo convosco para modelardes vossa vida de acordo com seus ensinamentos puros e elevados.
Não Para Proporcionar Nova Luz
Por meio dos testemunhos dados, o Senhor Se propõe advertir, repreender e aconselhar Seus filhos e impressionar-lhes o espírito com a importância da verdade de Sua Palavra. Os testemunhos escritos não se destinam a comunicar nova luz; e sim a gravar vividamente na alma as verdades da inspiração já reveladas. Os deveres do homem para com Deus e seu semelhante estão claramente discriminados na Palavra Divina, mas poucos de vós obedecem a essa luz. Não se trata de apresentar outras verdades; mas, pelos Testemunhos, Deus simplificou importantes verdades já reveladas, pondo-as diante de Seu
povo pelo meio que Ele próprio escolheu, a fim de despertar e impressionar com elas o seu espírito, para que todos fiquem sem desculpas.
Orgulho, amor-próprio, egoísmo, ódio, inveja e ciúme embotaram as vossas faculdades perceptivas, e a verdade que devia fazer-vos sábios para a salvação perdeu a virtude de deliciar e dirigir o vosso espírito. Os mais essenciais princípios da piedade não são compreendidos, porque não existe sede e fome de conhecimentos bíblicos, de pureza de coração e santidade. Os Testemunhos não têm por fim diminuir o valor da Palavra de Deus, e sim exaltá-la e atrair para ela os espíritos a fim de que a formosa singeleza da verdade a todos impressione.
Eu disse mais: Como a Palavra de Deus se acha rodeada por esses livros e folhetos, assim também Ele vos circundou com repreensões, conselhos, advertências e animações. Aí estais clamando a Deus com a alma angustiada, suplicando-Lhe mais luz. Estou autorizada a declarar-vos que nenhum raio mais dessa luz há de incidir sobre a vossa vereda através de Testemunhos, a menos que façais uso prático da luz que já recebestes. O Senhor vos circundou de luz; mas não a tendes apreciado, antes a desprezais. Enquanto uns a desprezaram, outros a negligenciaram ou a seguiram com indiferença. Poucos dispuseram o coração a obedecer à luz que Deus Se agradou dispensar-lhes.
Alguns que receberam advertências especiais por meio de testemunhos, esqueceram-se dentro de poucas semanas das admoestações que lhes foram feitas. A uns poucos deles os testemunhos foram algumas vezes repetidos; não os reputaram, porém, bastante importantes para tomá-los na devida consideração. Pareceram-lhes estes como contos frívolos. Se tivessem apreciado a luz recebida, teriam evitado prejuízos e provações que chegaram a reputar duros e severos. Só tinham a censurar a si próprios por isso. Colocaram sobre a própria cerviz um jugo que acharam penoso suportar. Não era esse o jugo que Cristo lhes impusera. A solicitude e o amor divinos tinham sido
exercidos em seu favor; mas sua alma egoísta, maldosa e incrédula, não lograra discernir Sua misericórdia e bondade. Prosseguiram agindo em sua própria sabedoria até que, assoberbados por provações, perplexos e confusos, foram enredados por Satanás. Se recolherdes os raios de luz que vos foram concedidos no passado, a luz divina ser-vos-á aumentada.
Remeti-os ao antigo Israel. Deus deu a este a Sua lei, mas recusaram andar nela. Depois lhes deu ritos e ordenanças para que, celebrando-os, guardassem a memória de Deus. Eram tão propensos a esquecê-Lo e às Suas reivindicações a respeito deles, que cumpria conservar ativa a sua mente de modo a se compenetrarem do dever que tinham de obedecer ao seu Criador e honrá-Lo. Se tivessem sido obedientes e se dispusessem a guardar os mandamentos de Deus, esta multidão de cerimoniais e ordenanças não teria sido necessária.
Se o povo que ora professa ser a propriedade particular de Deus, obedecesse às Suas reivindicações conforme discriminadas em Sua Palavra, não haveria necessidade de testemunhos especiais para despertar neles o sentimento do dever e fazer-lhes sentir a sua pecaminosidade e o temível risco que correm com negligenciar obedecer à Palavra de Deus. Embotaram-se as consciências, porque a luz foi posta de parte, sendo negligenciada e desprezada.
Alguém se pôs ao meu lado e disse: "Deus te suscitou e deu-te palavras para dizer ao povo e atingir-lhe o coração, como a nenhum outro foram dadas. Ele formulou teus testemunhos para resolver casos que pedem auxílio. Não deves deixar-te abater por zombaria, acusações e censuras. A fim de ser um instrumento especial nas mãos de Deus, importa não te apoiares em ninguém, senão somente nEle e, como a videira que cresce, enlaçares nEle as tuas gavinhas. Constituiu-te o meio de comunicar Sua luz ao povo. Cotidianamente deves buscar forças de Deus a fim de te fortaleceres, para que o teu ambiente não tolde ou eclipse a luz que fez refletir sobre o Seu povo por teu intermédio. É o intento particular
de Satanás evitar que essa luz atinja o povo de Deus, que tanto dela necessita em meio dos perigos que o rodeiam nestes últimos tempos.
"Teu êxito estará na tua simplicidade. Tão depressa dela te apartares, formulando teu testemunho de modo a acomodá-lo à índole das pessoas por ele visadas, o poder te abandonará. Quase tudo que oferece o século atual é fictício e irreal. O mundo está cheio de testemunhos que visam somente agradar e desvanecer momentaneamente e exaltar o próprio eu. Teu testemunho tem um cunho diferente. Deve abranger até os pormenores da vida, impedindo que se extinga a fé vacilante, e impressionar a alma dos crentes com a necessidade de fazer resplandecer a sua luz diante do mundo.
"Deus te tem dado teu testemunho para por ele expores aos apostatados e aos pecadores a sua verdadeira condição, bem como o imenso prejuízo que estão sofrendo com continuar uma vida de pecado. Deus imprimiu isto em teu espírito, apresentando-o aos teus olhos como o não fez a nenhum outro vivente, e te responsabilizará por isso, de acordo com a luz que te tem dado. "Não por força nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos." Zac. 4:6. "Levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados."" Isa. 58:1.
Mau Emprego dos Testemunhos
Alguns que acreditam nos Testemunhos têm errado em querer impô-los indevidamente a outros. Um testemunho a esse respeito: "Havia alguns em ______ que eram filhos de Deus, mas duvidavam das visões. Outros havia que não lhes faziam nenhuma oposição, contudo não ousavam assumir atitude definida a seu respeito. Alguns eram céticos e tinham suficientes motivos para isso. As falsas visões e práticas fanáticas, bem como as conseqüências desastrosas que delas decorreram, tiveram sobre a causa em ______ a influência de prevenir os espíritos contra tudo que se apresentasse com o nome de visões. Todas essas coisas cumpria tomar em
consideração, procedendo-se com sabedoria. Não se deviam tentar experiências ou esforços com os que nunca tinham visto um indivíduo receber visões, e não possuíam um conhecimento pessoal da sua influência. Essas pessoas não deviam ser privadas dos benefícios e privilégios de membros da igreja, se no demais a sua vida cristã se provara correta. ...
"Alguns, conforme vi, estão no caso de receber as visões publicadas, e de julgar a árvore pelos seus frutos. Outros são como o cético Tomé; não podem crer nos Testemunhos publicados, nem convencer-se deles pelo testemunho de outros, precisando ver e tirar a prova por si mesmos. Esses não devem por isso ser postos de lado, cumprindo tratá-los com paciência e caridade fraternal até que acertem na posição a tomar e tenham opinião definida contra ou a favor. Se, porém, começarem a combater as visões de que não têm conhecimento; se levarem a sua oposição ao ponto de opor-se àquilo de que não têm experiência. ... a igreja pode saber que não estão corretos." Testimonies, vol. 1, pág. 328, 1862.
Alguns de nossos irmãos possuem uma longa experiência da verdade, e há anos que têm conhecimento comigo e com o meu trabalho. Estes provaram a veracidade dos Testemunhos, e neles firmaram sua fé. Sentiram a influência poderosa do Espírito de Deus que os acompanha, testificando da sua veracidade. Foi-me mostrado que se estes, quando repreendidos pelos Testemunhos, viessem a rebelar-se contra os mesmos, entrando a trabalhar secretamente para minar a sua influência, deveriam ser tratados com cuidado, visto que a sua conduta prejudicaria os que têm falta de experiência.
Já o primeiro número dos Testemunhos publicados encerra uma advertência contra a maneira desavisada de usar a luz que Deus deste modo comunicou ao Seu povo. Afirmei que alguns não haviam procedido sabiamente. Quando falavam de sua fé aos descrentes e estes lhes exigiam a prova, citavam os meus escritos em vez de fornecer-lhes a prova da Bíblia. Foi-me
mostrado que tal procedimento é incoerente, tornando os incrédulos prevenidos contra a verdade. Os Testemunhos não têm nenhuma força de prova com os que lhes desconhecem o espírito. Não deveriam ser citados em tais casos.
Outras advertências relativas ao uso dos testemunhos têm sido dadas de tempos em tempos, como passarei a citar:
"Alguns pastores estão muito atrasados. Ao passo que professam crer nos Testemunhos, procedem mal tornando-os uma regra de ferro para os que nenhuma experiência têm em relação com eles, ao passo que eles próprios não vivem de conformidade com os mesmos. Repetidas vezes têm recebido testemunhos que absolutamente não tomaram em consideração. A conduta de tais pessoas é incoerente." Testimonies, vol. 1, pág. 369, 1863.
"Vi que muitos tiram partido daquilo que Deus revelou a propósito de faltas e pecados de outros. Tirando conclusões extremas do que foi manifestado pelas visões, insistem sobre as mesmas ao ponto de chegarem a ter a tendência de debilitar a fé de muitos no que Deus revelou e levarem o esmorecimento e o desânimo ao seio da igreja." Testimonies, vol. 1, pág. 166, 1857.
O inimigo se prevalecerá de tudo o que puder empregar para destruir almas. Testemunhos têm sido dados em favor de indivíduos que ocupavam posições de destaque. Estes começam bem, aliviando as cargas e desempenhando sua parte na obra de Deus. Satanás, porém, os persegue com suas tentações e finalmente os vence. Enquanto outros se põem a atentar no seu errado proceder, Satanás lhes sugere que devia ter havido engano nos testemunhos dados a essas pessoas, ou não se teriam provado indignas de desempenhar uma parte nessa obra.
Deste modo é suscitada a dúvida com relação à luz que Deus concedeu. O que pode ser dito de alguém, sob certas circunstâncias, não o poderá sob outras. Os homens são tão fracos, moralmente falando, tão excessivamente egoístas, tão cheios de si e tão facilmente se possuem de presunção, que
Deus não pode cooperar com eles, e são deixados a se conduzirem como cegos, e a manifestar tão grande fraqueza e estultícia que muitos se admiram de que essas pessoas tivessem sido jamais admitidas e reconhecidas idôneas para tomar parte na obra de Deus. Isto é justamente ao que Satanás deseja chegar. Foi esse o fim por ele visado desde o tempo que pela primeira vez os tentou no sentido de atingir a causa de Deus e lançar dúvida sobre os Testemunhos. Se se tivessem deixado ficar onde a sua influência sobre a causa de Deus não fosse tão sensível, Satanás não os teria assediado com tanta violência, porque não poderia realizar seus desígnios usando-os como instrumentos para efetuar uma obra especial.
Pelos Seus Frutos
Que os Testemunhos sejam julgados pelos seus frutos. Que espírito revelam seus ensinos? Qual tem sido o resultado de sua influência? Todos os que o desejam, podem conhecer de perto os frutos destas visões. Há dezessete anos, Deus houve por bem preservá-los e fortificá-los contra a oposição das forças de Satanás e a influência de instrumentos humanos que têm apoiado a obra do diabo.
Ou Deus está ensinando a Sua igreja, reprovando os seus erros e fortalecendo a sua fé, ou não está. Esta obra é de Deus ou não o é. Deus nada faz de parceria com Satanás. Minha obra... ou traz o cunho de Deus ou o cunho do maligno. Não há meio-termo neste caso. Ou os Testemunhos procedem do Espírito de Deus ou do diabo.
Desde que o Senhor Se tem manifestado pelo Espírito de Profecia, o passado, o presente e o futuro se desenrolaram diante de meus olhos. Foram-me mostrados rostos que eu nunca vira, e anos depois, vendo-os tornei a reconhecê-los. Tenho sido despertada do sono sob a viva impressão de assuntos que previamente foram sugeridos à minha mente; e, à meia-noite, punha-me a escrever cartas que atravessaram o continente,
chegando ao seu destino em momentos de crise e evitando à obra de Deus graves prejuízos. Isso tem sido o meu trabalho durante muitos anos. Uma virtude me impelia a reprovar e censurar faltas de que eu não tinha a menor noção. Seria essa minha obra dos últimos trinta e seis anos uma obra de cima ou da Terra?
Cristo advertiu os Seus discípulos: "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis." Mat. 7:15-20. Aqui está uma prova que todos podem aplicar à vontade. Os que realmente desejam conhecer a verdade, hão de encontrar provas suficientes em que apoiar sua fé.
Duvidando dos Testemunhos
É o plano de Satanás abalar a fé do povo de Deus nos Testemunhos. Satanás sabe como dirigir seus ataques. Começa por influir sobre os espíritos de modo a despertar neles ciúme e descontentamento em relação aos que têm a direção do trabalho. Discutem-se pois os dons, resultando daí serem eles amesquinhados, e acaba-se por desconsiderar as instruções dadas por meio de visões. Segue-se então o ceticismo com relação a pontos vitais de nossa fé, os sustentáculos de nossa posição; vem depois a dúvida sobre as Escrituras Sagradas, e, finalmente, a marcha definitiva para a perdição. Quando os Testemunhos, em que uma vez se acreditou, são postos em dúvida e rejeitados, Satanás sabe que os iludidos não se deixarão ficar por aí; e redobra de esforços até que os arraste a uma rebelião declarada, que se torne insanável e termine em
destruição. Com dar lugar a dúvida e incredulidade quanto à obra de Deus, e alimentar sentimentos de desconfiança e cruel ciúme, aparelham a si próprios o caminho para completo engano. Suscitam sentimentos amargos contra os que ousam falar-lhes dos seus erros e reprovar-lhes os pecados.
Um testemunho dirigido a alguns moços, e publicado pela primeira vez em 1880, refere-se a este ponto nos seguintes termos: "Continua aumentando constantemente o ceticismo em relação aos Testemunhos do Espírito de Deus; e estes jovens, em vez de abafarem as discussões e dúvidas a seu respeito, as suscitam, por desconhecerem o espírito, a virtude e a força dos Testemunhos."
Foi-me mostrado que muitos estão tão carecidos de espiritualidade, que não compreendem o valor dos Testemunhos ou o seu real objetivo. Conversam voluvelmente acerca dos Testemunhos dados por Deus em benefício de Seu povo, exercem o juízo sobre os mesmos, dando a sua opinião acerca deles e criticando ora isto ora aquilo, quando fariam melhor em por a mão sobre os lábios e prostrar-se no pó. Não conseguem apreciar o espírito dos Testemunhos por conhecerem muito pouco o Espírito de Deus. ...
Se perderdes a confiança nos Testemunhos, apartai-vos-eis das verdades bíblicas. Tenho estado temerosa de que muitos assumiriam uma posição de dúvida e incerteza, e na minha solicitude por vossas almas desejaria admoestar-vos. Quantos darão ouvidos à advertência? Segundo reputais agora os Testemunhos, sentir-vos-íeis em perfeita liberdade, caso fosse dado algum que cruzasse os vossos caminhos, corrigindo os vossos erros, de aceitá-lo ou rejeitá-lo no todo ou em parte? Aquilo, porém, que menos estiverdes inclinados a aceitar, é justamente o de que mais necessidade tendes.
Meus irmãos, guardai-vos de um coração mau e incrédulo. A Palavra de Deus é clara e escrupulosa nas suas restrições. Vai de encontro às vossas inclinações egoístas, por isso não lhe obedeceis. Os Testemunhos do Espírito dirigem a vossa
atenção às Escrituras, assinalam os vossos defeitos de caráter, e reprovam os vossos pecados; por isso não atentais neles. E para justificardes a vossa conduta carnal, amante do comodismo, começais a duvidar de que os Testemunhos sejam de Deus. Se obedecêsseis aos seus ensinos, adquiriríeis a certeza de sua divina origem. Lembrai-vos de que a vossa dúvida não afetará a sua veracidade. Se são de Deus, ficarão de pé.
Foi-me mostrado que a descrença nos testemunhos de advertência, animação e repreensão, afasta a luz do povo de Deus. A incredulidade cega-lhes a vista, pelo que ignoram qual seja a sua legítima condição. Imaginam que o testemunho do Espírito de Deus, que os repreende, é coisa descabida, ou que se não refere a eles. Tais indivíduos têm a maior necessidade de graça divina e discernimento espiritual para reconhecerem a deficiência de seu conhecimento espiritual.
Muitos que se desviaram da verdade, alegam como motivo de seu procedimento o fato de não crerem nos Testemunhos. ... Eis agora a pergunta: Porventura estão dispostos a renunciar o ídolo que Deus neles condena, ou continuarão no seu hábito de condescendência, rejeitando a luz que Deus lhes deu, e que reprova as mesmas coisas em que se comprazem? A dúvida para eles paira nisto: Devo eu renunciar-me a mim mesmo e aceitar como de Deus os Testemunhos que reprovam os meus pecados, ou devo rejeitar os Testemunhos porque os meus pecados são por eles censurados?
Em muitos casos os Testemunhos são aceitos integralmente, rompendo-se com o pecado e a condescendência, e iniciando-se desde logo uma reforma de conformidade com a luz de Deus recebida. Noutros, as condescendências pecaminosas são mantidas, os Testemunhos rejeitados, apresentando-se aos outros muitas falsas desculpas para justificar a recusa. O verdadeiro motivo não é revelado. É uma falta de coragem moral, de uma vontade fortalecida e dirigida pelo Espírito de Deus, para renunciar hábitos perniciosos.
Satanás tem habilidade em sugerir dúvidas e inventar objeções ao testemunho que Deus envia, e muitos consideram uma
virtude e indício de inteligência, o mostrar-se descrente, duvidar e argumentar. Os que querem duvidar têm suficiente oportunidade para isso. Deus não Se propõe fazer desaparecer toda ocasião para a incredulidade. Apresenta evidências que precisam ser cuidadosamente investigadas, com espírito humilde e susceptível ao ensino; e todos devem julgar pela força dessas mesmas evidências. Deus dá aos espíritos sinceros suficientes evidências para crer; o que, porém, voltar os olhos da força dessas provas, somente porque deparou algumas coisas que sua inteligência finita não apreende, será abandonado à atmosfera glacial da incredulidade e da dúvida, vindo a experimentar o naufrágio da fé. ...
Negligência dos Testemunhos
Não são só os que abertamente rejeitam os Testemunhos ou que alimentam dúvidas a seu respeito, que se encontram em terreno perigoso. Desconsiderar a luz equivale a rejeitá-la.
Alguns de vós admitem a repreensão com a boca, porém, não a aceitam de coração. Continuais como antes, apenas menos sensíveis à influência do Espírito de Deus, crescendo em cegueira e decrescendo em sabedoria, domínio próprio, virtude moral, zelo e pendor para exercícios religiosos; e, a menos que vos convertais, haveis finalmente de perder de todo o vosso apoio em Deus. Não realizastes uma mudança decisiva em vossa vida ao receber a correção, porque não reconhecestes nem compreendestes os defeitos de vosso caráter e o grande contraste entre a vossa vida e a de Cristo. Que valor terão as vossas orações, enquanto atenderdes à iniqüidade em vosso coração? A não ser que consintais numa mudança radical, haveis muito breve de cansar-vos das repreensões, como sucedeu aos filhos de Israel, e, como eles, vos apartareis de Deus.
Muitos estão agindo em oposição direta à luz que Deus deu ao Seu povo, porque não lêem os livros que contêm a luz e o conhecimento sob a forma de admoestações, repreensões e advertências. Os cuidados do mundo, o apego à moda e a falta de
piedade distraíram a sua atenção da luz que Deus misericordiosamente lhes concedeu, ao passo que os livros e periódicos cheios de mentiras se espalham por todo o país. O ceticismo e a incredulidade estão aumentando em toda parte. A luz tão preciosa, emanada do trono divino, é posta debaixo do alqueire. Deus tornará Seu povo responsável por essa negligência. Temos de dar conta de cada raio de luz que fez incidir em nossa vereda, quer tenha sido usado para nosso progresso nas coisas divinas, quer rejeitado porque fosse mais cômodo seguir as próprias inclinações.
Os livros do "Espírito de Profecia" e também os "Testemunhos", devem ser introduzidos em toda família observadora do sábado; e os irmãos devem conhecer-lhes o valor e ser impelidos a lê-los. Não foi o plano mais sábio reduzir tanto o preço desses livros, e ter em cada igreja somente uma coleção deles. Devem figurar na biblioteca de cada família, e ser lidos e relidos. Coloquem-se onde possam ser lidos por muitas pessoas.
Lembrem-se os pastores e o povo de que as verdades evangélicas, se não salvam, endurecem. A rejeição da luz torna os homens cativos, atados com cadeias de escuridão e incredulidade. A alma que dia a dia recusa dar ouvidos aos convites de misericórdia, pode em breve estar escutando os mais insistentes apelos sem experimentar a menor emoção. Como obreiros de Deus, necessitamos de maior piedade e menos exaltação própria. Quanto mais o eu for exaltado, tanto mais diminuirá a fé nos Testemunhos do Espírito de Deus. ... Os que têm a confiança posta em si mesmos, hão de reconhecer sempre menos a Deus nos Testemunhos dados pelo Seu Espírito.
Como Receber a Repreensão
Os que são repreendidos pelo Espírito de Deus não devem
insurgir-se contra o Seu humilde instrumento. É Deus, e não um falho mortal, quem fala para salvá-los da ruína. Não agrada à natureza humana ser alvo de uma repreensão, tampouco é possível ao coração humano, que não for iluminado pelo Espírito de Deus, reconhecer a necessidade dessa repreensão ou o benefício que está destinada a trazer-lhe. À medida que o homem cede à tentação e condescende com o pecado, seu espírito fica obscurecido. O senso moral se perverte. As razões da consciência são desatendidas, e gradualmente sua voz se extingue. Pouco a pouco o homem vai perdendo a faculdade de discernir entre o justo e o injusto, até que enfim deixa de ter a legítima noção de seu estado diante de Deus. Poderá observar as formas da religião, e defender zelosamente suas doutrinas, mas estará destituído do seu espírito. Sua condição é a descrita pela Fiel Testemunha: "Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu." Apoc. 3:17. Quando, pois, o Espírito de Deus, por meio de uma mensagem de correção, declara ser esse o seu estado, ele pode não reconhecer a sua veracidade. Mas deverá por isso rejeitar a advertência? - Não.
Deus deu suficientes evidências para que todos que o desejam se persuadam quanto ao caráter dos Testemunhos; e, uma vez que tiverem reconhecido serem de Deus, é seu dever aceitar a correção, ainda que não possam compreender a pecaminosidade de seus atos. Se conseguissem compreender perfeitamente sua condição, que necessidade teriam de uma correção? Por não a conhecerem é que Deus misericordiosamente a revela aos seus olhos, para que possam arrepender-se e emendar-se antes que seja tarde. Os que desprezam essa admoestação, serão abandonados à cegueira, tornando-se vítimas do engano próprio; os que, porém, a observarem e zelosamente tratarem de romper com seus pecados, a fim de alcançar a graça de que precisam, abrirão as portas de seu coração para que o Salvador venha habitar com eles. São os que mais estreitamente se acham ligados a Deus, que entendem Sua voz quando ela lhes fala. Os espirituais discernem as coisas espirituais.
Sentir-se-ão gratos por Se dignar Deus mostrar-lhes os seus pecados.
Davi alcançou sabedoria pela maneira em que Deus procedeu com ele, e curvou-se em humildade às correções do Altíssimo. A fiel descrição de seu estado, feita pelo profeta Natã, fez conhecer a Davi os seus pecados, ajudando-o a afastá-los. Com mansidão aceitou os conselhos que lhe foram dados, humilhando-se diante de Deus. "A lei do Senhor é perfeita", exclamou, "e refrigera a alma." Sal. 19:7.
"Se estais sem disciplina... sois então bastardos, e não filhos." Heb. 12:8. Disse o Senhor: "Eu repreendo e castigo a todos quantos amo." Apoc. 3:19. "Na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela." Heb. 12:11. Por amarga que seja essa disciplina, procede do terno amor do Pai, tendo por fim tornar-nos "participantes da Sua santidade".