"Uma coisa faço." Filip. 3:13.
O êxito em qualquer coisa que empreendamos exige um objetivo definido. Aquele que desejar alcançar o verdadeiro êxito na vida deve conservar firmemente em vista o alvo digno de seus esforços. Tal alvo acha-se posto diante da juventude de hoje. O propósito, indicado por Deus, de dar o evangelho ao mundo nesta geração, é o mais nobre que possa apelar para qualquer ser humano. Abre um campo aos esforços de todo aquele cujo coração foi tocado por Cristo.
O propósito de Deus para com os filhos que crescem em nossos lares, é mais amplo, mais profundo, mais elevado, do que o tem compreendido a nossa visão restrita. Aqueles em quem Ele viu fidelidade, têm sido, no passado, chamados dentre as mais humildes posições na vida, a fim de testificarem dEle nos mais elevados lugares do mundo. E muitos jovens de hoje, que crescem como Daniel no seu lar judaico, estudando a Palavra e as obras de Deus, e aprendendo as lições do serviço fiel, ainda se levantarão nas assembléias legislativas, nas cortes de justiça, ou nos palácios reais, como testemunhas do Rei dos reis. Multidões serão chamadas para um ministério mais amplo. O mundo todo se está abrindo para o evangelho. A Etiópia está estendendo as mãos a Deus. Do Japão, China e Índia, das terras ainda obscuras do nosso próprio continente, de toda parte deste nosso mundo, vem o clamor de corações feridos em seu anelo de conhecimento
do Deus de amor. Milhões e milhões jamais sequer ouviram falar em Deus ou Seu amor revelado em Cristo. Eles têm direito de receber este conhecimento. Igual direito ao nosso têm eles à misericórdia do Salvador. Recai sobre nós, os que recebemos este conhecimento, e sobre nossos filhos, a quem o podemos comunicar, atender ao seu clamor. A toda casa e escola, a todo pai, professor e criança sobre quem resplandeceu a luz do evangelho, impõe-se, neste momento crítico, a pergunta feita à rainha Ester naquela momentosa crise da história de Israel: "Quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?" Est. 4:14.
Os que pensam no resultado de apressar o evangelho, ou impedi-lo, pensam isto em relação a si mesmos e ao mundo. Poucos o pensam em relação a Deus. Poucos tomam em consideração o sofrimento que o pecado causou a nosso Criador. Todo o Céu sofreu com a agonia de Cristo; mas esse sofrimento não começou nem terminou com Sua manifestação em humanidade. A cruz é uma revelação, aos nossos sentidos embotados, da dor que o pecado, desde o seu início, acarretou ao coração de Deus. Cada desvio do que é justo, cada ação de crueldade, cada fracasso da natureza humana para atingir o seu ideal, traz-Lhe pesar. Quando sobrevieram a Israel as calamidades que eram o resultado certo da separação de Deus - subjugação por seus inimigos, crueldade e morte - refere-se que "se angustiou a Sua alma por causa da desgraça de Israel". Juí. 10:16. "Em toda a angústia deles foi Ele angustiado; ... e os tomou, e os conduziu todos os dias da antiguidade." Isa. 63:9.
Seu "Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis". Rom. 8:26. Enquanto "toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora" (Rom. 8:22), o coração do Pai infinito condói-se, em simpatia.
Nosso mundo é um vasto hospital, ou seja, um cenário de miséria em que não ousamos permitir mesmo que os nossos pensamentos se demorem. Compreendêssemos nós o que ele é na realidade, e o peso que sobre nós sentiríamos seria terribilíssimo. No entanto, Deus o sente todo. A fim de destruir o pecado e seus resultados, Ele deu Seu mui dileto Filho, e pôs ao nosso alcance, mediante a cooperação com Ele, levar esta cena de miséria a termo. "Este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim." Mat. 24:14.
"Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" (Mar. 16:15) - é a ordem de Cristo a Seus seguidores. Não que todos sejam chamados para serem pastores ou missionários no sentido comum do termo; mas todos podem ser coobreiros de Cristo, dando as "boas novas" a seus semelhantes. A todos, grandes ou pequenos, doutos ou ignorantes, idosos ou jovens, é dada a ordem.
À vista deste mandado, poderemos educar nossos filhos e filhas para uma vida de respeitáveis formalidades, uma vida que se professe cristã, mas a que falte aquele sacrifício próprio como o de Jesus, uma vida, enfim, sobre a qual o veredicto dAquele que é a verdade, deverá ser: "Não vos conheço"? Mat. 25:12.
Milhares estão fazendo assim. Julgam assegurar a seus filhos os benefícios do evangelho, enquanto negam o espírito do mesmo. Mas isto não pode ser. Os que rejeitam o privilégio da associação com Cristo no serviço cristão, rejeitam o único ensino que lhes dá habilitação para participar com Ele de Sua glória. Rejeitam o ensino que nesta vida concede força e nobreza de caráter. Muitos pais e mães, negando os filhos à cruz de Cristo, viram demasiado tarde que os estavam assim entregando ao inimigo de Deus e do homem. Selaram a sua ruína, não somente para o futuro, mas para a vida presente. A tentação
venceu-os. Cresceram como uma maldição ao mundo, uma tristeza e uma vergonha aos que lhes deram o ser.
Mesmo ao procurar preparar-se para o serviço de Deus, muitos se corrompem pelos maus métodos de educação. A vida é por demais considerada como constituída de dois períodos distintos: o período da aprendizagem e o da vida prática - o preparo e a realização. No preparo para a vida de serviço os jovens são mandados para a escola, a fim de adquirirem conhecimentos pelo estudo dos livros. Separados das responsabilidades da vida diária, absorvem-se no estudo, e muitas vezes perdem de vista o propósito deste. Morre o ardor de sua primeira consagração, e muitos assumem alguma ambição pessoal e egoísta. Ao formar-se, milhares se acham fora do contato da vida. Tanto tempo lidaram com coisas abstratas e teóricas que, quando o ser todo deveria levantar-se para enfrentar os ásperos debates da vida real, não se encontram preparados. Em vez do nobre trabalho que se tinham proposto, absorvem as energias na luta pela mera subsistência. Depois de repetidas decepções, desesperados até de ganhar uma subsistência honesta, muitos se atiram a práticas discutíveis e criminosas. O mundo fica despojado do serviço que poderia ter recebido, e Deus é separado dos perdidos que anelava erguer, enobrecer e honrar como representantes Seus.
Muitos pais erram em fazer distinção entre seus filhos na questão de sua educação. Fazem quase todo o sacrifício para conseguir as melhores vantagens para um que é inteligente e apto. Mas não julgam que estas oportunidades são uma necessidade àqueles que são menos promissores. Imaginam que pouca educação seja necessária para o cumprimento dos deveres comuns da vida.
Mas quem é capaz de escolher dentre os filhos de
uma família aqueles sobre quem repousarão as mais importantes responsabilidades? Quantas vezes se tem verificado estar o discernimento humano em erro neste ponto! Lembrai-vos da experiência de Samuel quando foi mandado a ungir dentre os filhos de Jessé um para ser o rei sobre Israel. Sete jovens de nobre parecer passaram diante dele. Quando olhou ao primeiro, de traços bonitos, de formas bem-desenvolvidas e porte principesco, o profeta exclamou: "Certamente, está perante o Senhor o Seu ungido." Mas Deus disse: "Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração." I Sam. 16:6 e 7. Assim, quanto a todos os sete, o testemunho foi: "O Senhor não tem escolhido estes." I Sam. 16:10. E não foi permitido ao profeta cumprir sua missão antes que Davi fosse chamado do rebanho.
Os irmãos mais velhos, dentre os quais Samuel teria feito a escolha, não possuíam as qualidades que Deus via serem essenciais para um governador de Seu povo. Orgulhosos, cheios de si, pretensiosos, foram deixados de lado em vantagem daquele que mal merecia a sua consideração, aquele que havia preservado a simplicidade e sinceridade de sua juventude, e que, conquanto pequeno à sua própria vista, poderia ser educado por Deus para assumir as responsabilidades do reino. Assim hoje, em muita criança cujos pais passariam por alto, Deus vê capacidades muito acima das que são reveladas por outros que se supõem sejam bastante promissores.
E no que respeita às possibilidades da vida, quem seria capaz de decidir o que é grande e o que é pequeno? Quanto trabalhador tem havido, nas humildes posições da vida, que, movimentando influências para a bênção do mundo, tem conseguido resultados que reis poderiam invejar!
Que toda criança, portanto, receba uma educação para os
mais elevados serviços. "Pela manhã, semeia a tua semente e, à tarde, não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará; se esta, se aquela." Ecl. 11:6.
O lugar específico que nos é designado na vida, é determinado por nossas capacidades. Nem todos atingem o mesmo desenvolvimento ou fazem com igual eficiência o mesmo trabalho. Deus não espera que o hissopo atinja as proporções do cedro, ou a oliveira a altura da majestosa palmeira. Mas cada qual deve ter o objetivo de atingir tão alto quanto a união do poder humano com o divino lhe torne possível.
Muitos não se tornam aquilo que poderiam ser, pois não empregam o poder que neles está. Não lançam mão da força divina, como poderiam fazer. Muitos se desviam da linha em que poderiam alcançar o mais verdadeiro êxito. À procura de maior honra, ou de um trabalho mais agradável, tentam algo para que não são talhados. Nutrem a ambição de entrar para alguma profissão, muitos homens cujos talentos são adaptados a alguma outra vocação; e os que poderiam ter sido bem-sucedidos como fazendeiros, artífices, enfermeiros, ocupam impropriamente os cargos de pastores, advogados ou médicos. Outros há também que poderiam ocupar uma posição de responsabilidade, mas que por falta de energia, diligência e perseverança, se contentam com um cargo mais fácil.
Precisamos seguir mais de perto o plano de Deus relativo à vida. Fazer o melhor que pudermos no trabalho que se acha mais perto, entregar nossos caminhos a Deus, e observar as indicações de Sua providência - eis as regras que asseguram orientação certa na escolha de uma ocupação.
Aquele que do Céu veio para ser nosso exemplo, despendeu quase trinta anos de Sua vida no trabalho comum e mecânico; durante esse tempo, porém, Ele esteve a estudar a Palavra e as obras de Deus, a prestar auxílios e ensinar a todos os que Sua influência podia
atingir. Ao iniciar-se o Seu ministério público, saiu Ele a curar os doentes, consolar os tristes, pregar o evangelho aos pobres. Esta é a obra de todos os Seus seguidores.
"O maior entre vós", disse Ele, "seja como o menor; e quem governa, como quem serve. Pois... entre vós, sou como aquele que serve." Luc. 22:26 e 27.
O amor e lealdade para com Cristo são a fonte de todo verdadeiro serviço. No coração tocado por Seu amor, será gerado o desejo de trabalhar por Ele. Que este desejo seja alimentado e bem-dirigido. Quer no lar, quer na vizinhança ou na escola, a presença dos pobres, aflitos, ignorantes ou infelizes, deve ser considerada não como uma desgraça, senão como uma preciosa oportunidade para o serviço que se nos oferece.
Nesta obra, como em qualquer outra, adquire-se a habilidade no próprio trabalho. É pelo ensino obtido nos deveres comuns da vida e no auxílio aos necessitados e sofredores, que se nos assegura a eficiência. Sem isto, os mais bem-intencionados esforços são muitas vezes inúteis e mesmo prejudiciais. É na água e não na terra que os homens aprendem a nadar.
Outra obrigação, muitas vezes considerada levianamente - a qual precisa ser explicada aos jovens que estão despertos àquilo que Cristo exige - é a sua obrigação para com a igreja.
Muito íntima e sagrada é a relação entre Cristo e Sua igreja: Ele é o noivo e a igreja a noiva; Ele a cabeça, e a igreja o corpo. A conexão com Cristo, portanto, envolve a conexão com Sua igreja.
A igreja foi organizada para o serviço; e numa vida de serviço dedicado a Cristo, a conexão com a igreja é um dos
primeiros passos. A lealdade para com Cristo exige o fiel cumprimento dos deveres da igreja. Isto é parte importante da educação de qualquer pessoa; e, numa igreja impregnada da vida do Mestre, levará diretamente ao esforço em favor do mundo lá fora.
Há muitos ramos em que os jovens podem aplicar seus esforços em favor de outrem. Organizem-se eles em grupos para o serviço cristão, e verificar-se-á ser a cooperação um auxílio e encorajamento. Pais e professores, tomando interesse na obra dos jovens, poderão dar-lhe os benefício da sua própria experiência mais ampla e auxiliá-los a tornar eficazes seus esforços em favor do bem.
É a familiaridade que desperta a simpatia, e esta é a originadora da prestatividade eficaz. Para despertar nas crianças e nos jovens simpatia e espírito de sacrifício pelos milhões que sofrem nas regiões distantes, familiarizem-se eles com esses países e povos. Neste sentido muito se poderia realizar em nossas escolas. Em vez de se demorarem nas façanhas de Alexandre ou Napoleão, a que se refere a História, estudem os alunos a vida de homens tais como o apóstolo Paulo e Martinho Lutero, Moffat e Livingstone, Carey, e a atual história de esforço missionário a desdobrar-se diariamente. Em vez de carregarem sua memória com uma série de nomes e teorias que nenhuma influência têm sobre sua vida, e em que uma vez fora da escola raramente pensam, estudem eles todos os países à luz do esforço missionário e familiarizem-se com os povos e suas necessidades.
Nessa obra finalizadora do evangelho haverá um vasto campo a ser ocupado; e mais do que nunca a obra deve arregimentar dentre o povo comum, elementos para auxiliar. Tanto jovens como os de maior idade, serão
chamados dos campos, das vinhas, das oficinas, e enviados pelo Mestre a dar Sua mensagem. Muitos deles tiveram pouca oportunidade de se educar; Cristo, porém, vê neles qualificações que os habilitam a cumprir o Seu propósito. Se puserem o coração nessa obra e continuarem a aprender, aparelhá-los-á para trabalhar por Ele.
Aquele que conhece a profundidade das misérias e desespero do mundo, sabe por que meio trazer-lhe alívio. De todos os lados vê Ele almas em trevas, curvadas sob o peso do pecado, tristeza e dor. Mas também vê suas possibilidades; vê a altura a que poderiam atingir. Posto que os seres humanos hajam abusado das misericórdias de que foram objeto, dissipado seus talentos e perdido a dignidade da divina varonilidade, o Criador deverá ser glorificado em sua redenção.
O encargo de trabalhar por esses necessitados nos lugares escabrosos da Terra, Cristo põe sobre os que se compadecem dos ignorantes e dos que se acham perdidos. Ele estará presente para auxiliar aqueles cujo coração é susceptível de piedade, ainda que suas mãos possam ser toscas e inábeis. Ele operará por meio daqueles que vêem na miséria oportunidade para a misericórdia, e na perda, para o ganho. Quando a Luz do mundo passa, discerne-se privilégio nas dificuldades, ordem na confusão, êxito no aparente fracasso. Vêem-se as calamidades como bênçãos disfarçadas, as desgraças como favores. Obreiros dentre o povo comum participando das tristezas de seus semelhantes, como participava seu Mestre das de todo o gênero humano, vê-Lo-ão pela fé a operar com eles.
"O grande dia do Senhor está perto, está perto, e se apressa muito." Sof. 1:14. E há um mundo a ser avisado.
Com o preparo que puderem obter, milhares e milhares
de jovens e outros de mais idade devem consagrar-se a esta obra. Já muitos corações estão a atender à chamada do Obreiro por excelência, e o número deles crescerá. Mostre todo o educador cristão simpatia e cooperação para com tais obreiros. Anime e auxilie a juventude sob seu cuidado a obter preparo para unir-se às fileiras.
Não há outro ramo de trabalho em que seja possível aos jovens receber maior benefício. Todos os que se empenham em servir são a mão auxiliadora de Deus. São coobreiros dos anjos; ou antes, são o poder humano por meio do qual os anjos cumprem a sua missão. Os anjos falam pela sua voz e agem por suas mãos. E os obreiros humanos, cooperando com os seres celestiais, recebem o benefício da educação e experiência deles. E, como meio de educação, que curso universitário poderá igualar a este?
Com tal exército de obreiros como o que poderia fornecer a nossa juventude devidamente preparada, quão depressa a mensagem de um Salvador crucificado, ressuscitado e prestes a vir poderia ser levada ao mundo todo! Quão depressa poderia vir o fim - o fim do sofrimento, tristeza e pecado! Quão depressa, em lugar desta possessão aqui, com sua mancha de pecado e dor, poderiam nossos filhos receber a sua herança onde "os justos herdarão a Terra e habitarão nela para sempre" (Sal. 37:29); onde "morador nenhum dirá: Enfermo estou" (Isa. 33:24), e "nunca mais se ouvirá nela voz de choro"! Isa. 65:19.