"E, como eles se não importaram de ter
conhecimento de Deus, ... o seu coração insensato se obscureceu." Rom. 1:28 e 21.
Posto que fossem criados inocentes e santos, nossos primeiros pais não foram colocados fora da possibilidade de fazer o mal. Deus poderia tê-los criado sem a faculdade de transgredir Suas ordens, mas em tal caso não poderia haver desenvolvimento de caráter; serviriam a Deus não voluntariamente, mas constrangidos. Portanto Ele lhes deu o poder da escolha, a saber, o poder de prestar ou não obediência. E antes que pudessem receber, em sua plenitude, as bênçãos que Ele lhes desejava transmitir, seu amor e fidelidade deveriam ser provados.
No Jardim do Éden estava "a árvore da ciência do bem e do mal. ... E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás". Gên. 2:9, 16 e 17. Era a vontade de Deus que Adão e Eva não conhecessem o mal. A ciência do bem lhes havia sido dada livremente; mas o conhecimento do mal - o pecado e seus resultados, o trabalho fatigante, os cuidados, as decepções e a aflição, a dor e a morte - foi-lhes amorosamente vedado.
Enquanto Deus procurava o bem do homem, Satanás procurava a sua ruína. Quando Eva, desatendendo ao aviso do
Senhor relativo à árvore proibida, se arriscou a aproximar-se dela, entrou em contato com seu adversário. Tendo-se despertado seu interesse e curiosidade, Satanás prosseguiu negando a Palavra de Deus e insinuando a desconfiança em Sua sabedoria e bondade. À declaração da mulher relativa à árvore da ciência - "Disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais" - replicou o tentador: "Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal." Gên. 3:3-5.
Satanás queria fazer parecer como se este conhecimento do bem de mistura com o mal fosse uma bênção, e que, proibindo-lhes tomar do fruto da árvore, Deus os estivesse impedindo de um grande benefício. Ele insistia em que fora por causa de suas maravilhosas propriedades para comunicar sabedoria e poder, que Deus lhes havia proibido prová-lo; que Ele estava assim procurando impedi-los de atingir um desenvolvimento mais nobre e encontrar maior felicidade. Declarou que ele mesmo havia comido do fruto proibido, e como resultado adquirira o poder da fala; e que se dele comessem também, alcançariam uma esfera de existência mais elevada e entrariam em um campo mais vasto de conhecimentos.
Conquanto declarasse Satanás ter recebido grande benefício, comendo da árvore proibida, não deixou transparecer que pela transgressão tinha sido ele expulso do Céu. Ali se encontrava a falsidade, tão oculta sob a capa da verdade aparente que Eva, absorta, lisonjeada, iludida, não percebeu o engano. Cobiçou o que Deus havia proibido; desconfiou de Sua sabedoria. Repeliu a fé, a chave do saber.
Quando Eva viu "que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu". Gên. 3:6. Era agradável ao paladar, e enquanto comia, pareceu-lhe sentir um poder vivificador, e imaginou-se entrando em uma superior condição de existência. Havendo já transgredido, tornou-se tentadora a seu marido, e "ele comeu". Gên. 3:6.
"Abrirão os vossos olhos", disse o inimigo, "e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal." Gên. 3:5. Abriram-se-lhes em verdade os olhos, mas quão triste foi! O conhecimento do mal, a maldição do pecado, foi tudo o que ganharam os transgressores. O fruto nada tinha propriamente de venenoso, e o pecado não consistiu meramente em ceder ao apetite. Foi a desconfiança da bondade de Deus, descrença em Sua palavra, e a rejeição de Sua autoridade que tornaram nossos primeiros pais transgressores, e que trouxeram a este mundo o conhecimento do mal. Foi isto que abriu a porta para todas as espécies de falsidades e erros.
O homem perdeu tudo porque preferira ouvir ao enganador em vez de Àquele que é a verdade, que unicamente tem o entendimento. Por misturar o mal com o bem, sua mente se tornou confusa, e entorpecidas suas faculdades mentais e espirituais. Não mais poderia apreciar o bem que Deus tão livremente havia concedido.
Adão e Eva tinham escolhido a ciência do mal; e se em algum tempo recuperassem o lugar que haviam perdido, deveriam fazê-lo sob as condições desfavoráveis que sobre si tinham acarretado. Não mais deveriam habitar o Éden, pois em sua perfeição não lhes poderia ensinar as lições cuja aprendizagem agora lhes era essencial. Com indizível tristeza despediram-se daquele belo
ambiente, e saíram para habitar na terra onde repousava a maldição do pecado.
A Adão disse Deus: "Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás." Gên. 3:17-19.
Se bem que a terra estivesse maculada pela maldição, a Natureza devia ainda ser o guia do homem. Não poderia agora representar apenas bondade; pois o mal se achava presente em toda parte, manchando a terra, o mar e o ar, com seu contato corruptor. Onde se encontrara escrito apenas o caráter de Deus, o conhecimento do bem, agora se achava também escrito o caráter de Satanás, a ciência do mal. Pela Natureza, que agora revelava o conhecimento do bem e do mal, devia o homem ser continuamente advertido quanto aos resultados do pecado.
No tombar da flor e no cair da folha, Adão e sua companheira testemunhavam os primeiros sinais da decadência. Vinha-lhes à mente, de maneira vívida, o fato cruel de que todas as criaturas vivas deveriam morrer. Mesmo o ar, de que dependia a sua vida, continha os microorganismos da morte.
Continuamente se lembravam também de seu domínio perdido. Entre os seres inferiores, Adão se achara como rei, e enquanto permaneceu fiel a Deus, toda a Natureza reconheceu o seu governo; mas, transgredindo ele, foi despojado deste domínio. O espírito de rebelião a que ele próprio havia dado entrada, estendeu-se por toda a criação animal. Assim, não somente a vida do homem,
mas a natureza dos animais, as árvores da floresta, a relva do campo, o próprio ar que ele respirava, tudo apresentava a triste lição da ciência do mal.
Entretanto o homem não ficou abandonado aos resultados do mal que havia escolhido. Na sentença pronunciada sobre Satanás era já sugerida uma redenção. "Porei inimizade entre ti e a mulher", disse Deus, "e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." Gên. 3:15. Esta sentença proferida aos ouvidos de nossos primeiros pais, era-lhes uma promessa. Antes de ouvirem acerca dos espinhos e cardos, de trabalhos e tristezas que deveriam ser o seu quinhão, ou do pó a que deveriam voltar, ouviram palavras que não poderiam deixar de lhes dar esperança. Tudo que se havia perdido, rendendo-se a Satanás, poderia ser recuperado por meio de Cristo.
O mesmo nos é sugerido também pela Natureza. Apesar de maculada pelo pecado, ela fala não somente da criação mas também da redenção. Posto que a terra testifique da maldição, com sinais evidentes de decadência, é ainda rica e bela nos indícios de um poder que confere vida. As árvores lançam suas folhas apenas para se vestirem de folhagem mais vicejante; as flores morrem, para brotar com nova beleza; e em cada manifestação do poder criador existe a segurança de que podemos de novo ser criados em "justiça e santidade". Efés. 4:24. Assim as próprias coisas e operações da Natureza que tão vividamente nos trazem ao espírito nossa grande perda, tornam-se mensageiros da esperança.
Até onde se estenda o mal, é ouvida a voz de nosso Pai ordenando a Seus filhos que vejam nos resultados daquele a natureza do pecado, admoestando-os a esquecer o mal, e convidando-os a receber o bem.