"E procureis... trabalhar com vossas próprias mãos."
I Tess. 4:11.
Na criação, o trabalho foi designado como uma bênção. Significava desenvolvimento, poder, felicidade. A mudada condição da Terra em virtude da maldição do pecado, acarretou uma mudança nas condições de trabalho; contudo, apesar de efetuado hoje com ansiedade, cansaço e dor, é ainda uma fonte de felicidade e desenvolvimento. Outrossim, é uma salvaguarda contra a tentação. Sua disciplina opõe uma barreira à condescendência própria, e promove indústria, pureza e firmeza. Assim, torna-se parte do grande plano de Deus para que sejamos recuperados da queda.
A juventude deve ser levada a ver a verdadeira dignidade do trabalho. Mostrai-lhe que Deus é um obreiro constante. Todas as coisas na Natureza fazem o trabalho que lhes foi designado. A atividade penetra por toda a criação, e a fim de que cumpramos a nossa missão devemos também ser ativos.
Em nosso trabalho devemos ser coobreiros de Deus. Ele nos dá a terra e seus tesouros; nós, porém, devemos adaptá-los a nosso uso e conforto. Ele faz com que as árvores cresçam, mas nós preparamos a madeira e construímos a casa. Ele ocultou na terra o ouro e a prata, o ferro e o carvão; todavia, é mediante o trabalho, apenas, que os podemos obter.
Mostrai-lhes que, ao mesmo tempo em que Deus criou todas as coisas e constantemente as dirige, dotou-nos Ele de um poder não totalmente diferente do Seu.
Foi-nos dado até certo ponto o domínio sobre as forças da Natureza. Assim como Deus do caos evocou a Terra em sua beleza, também nós podemos da confusão produzir ordem e beleza. E posto que todas as coisas estejam hoje desfiguradas pelo mal, contudo em nossos trabalhos acabados sentimos uma alegria idêntica à dEle, quando, olhando para o lindo mundo, o pronunciou "muito bom". Gên. 1:31.
Em regra, o exercício mais proveitoso aos jovens será encontrado nas ocupações úteis. A criancinha encontra no brinquedo tanto distração como desenvolvimento; e seus folguedos devem ser tais que promovam não somente o crescimento físico, mas também o mental e espiritual. Ao adquirir força e inteligência, encontrar-se-á o melhor recreio para ela em alguma espécie de esforços que sejam úteis. Aquilo que treina as mãos para a utilidade, e ensina o jovem a encarar com a sua participação nos encargos da vida, é o mais eficaz na promoção do crescimento do espírito e do caráter.
Aos jovens precisa ser ensinado que a vida significa trabalho diligente, responsabilidade, cuidados. Precisam de um preparo que os torne práticos, a saber, homens e mulheres que possam fazer face às emergências. Deve ensinar-se-lhes que a disciplina do trabalho sistemático, bem regulado, é essencial, não unicamente como salvaguarda contra as vicissitudes da vida, mas também como auxílio para o desenvolvimento completo.
Apesar de tudo quanto se tem dito ou escrito acerca da dignidade do trabalho, prevalece a idéia de que ele é degradante. Os jovens estão ansiosos por se tornarem professores, escriturários, negociantes, médicos, advogados, ou ocupar alguma outra posição que não exija o trabalho físico. As moças fogem do trabalho doméstico, e procuram uma educação em outros ramos. Necessitam aprender que nenhum homem ou mulher se degrada pelo trabalho honesto. O que degrada é a ociosidade e egoísta dependência. A ociosidade favorece a condescendência
própria, e o resultado é uma vida vazia e estéril, ou seja, um campo a convidar o crescimento de todo o mal. "A terra que embebe a chuva que muitas vezes cai sobre ela e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada recebe a bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos é reprovada e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada." Heb. 6:7 e 8.
Muitos ramos de estudo que consomem o tempo do estudante, não são essenciais à utilidade ou felicidade; entretanto é essencial a toda jovem familiarizar-se completamente com os deveres de cada dia. Sendo necessário, uma jovem pode dispensar os conhecimentos de francês ou álgebra, ou mesmo de piano; mas é indispensável que aprenda a preparar bom pão, confeccionar vestidos graciosamente adaptados, e executar cabalmente os muitos deveres atinentes ao lar.
Nada é de maior importância para a saúde e felicidade da família toda do que habilidade e inteligência por parte de quem cozinha. Pelo alimento mal preparado e insalubre, pode-se impedir e mesmo arruinar não somente a utilidade dos adultos como também o desenvolvimento das crianças. Provendo, porém, alimento adaptado às necessidades do corpo, e ao mesmo tempo apetitoso e saboroso, poderá fazer tanto no sentido bom, quanto faria em direção errada, agindo contrariamente. Assim, de muitas maneiras, a felicidade da vida liga-se à fidelidade para com os deveres comuns.
Visto como os homens bem como as mulheres têm parte na constituição do lar, tanto os rapazes como as moças devem obter conhecimento dos deveres domésticos. Fazer a cama e arranjar o quarto, lavar a louça, preparar a comida, lavar e consertar sua própria roupa, são conhecimentos que não tornarão um rapaz menos varonil; torná-lo-ão mais feliz e útil. E se, do outro lado, as moças pudessem aprender a arrear, cavalgar, usar a
serra e o martelo, assim como o ancinho e a enxada, estariam melhor adaptadas a enfrentar as emergências da vida.
Aprendam as crianças e jovens pela Bíblia como Deus tem honrado a lida do trabalhador. Leiam acerca dos "filhos dos profetas", estudantes em uma escola, os quais estavam construindo uma casa para si, e para quem foi operado um milagre a fim de se salvar da perda o machado que fora tomado emprestado. (II Reis 6:1-7.) Leiam acerca de Jesus, carpinteiro, e Paulo fabricante de tendas, que ao trabalho de seu ofício ligaram o mais elevado ministério, humano e divino. Leiam acerca daquele rapaz, cujos cinco pães foram usados pelo Salvador, naquele maravilhoso milagre de alimentar a multidão; acerca de Dorcas, a costureira, ressuscitada para que pudesse continuar a fazer roupas para os pobres; acerca da mulher sábia descrita no livro dos Provérbios, a qual "busca lã e linho e trabalha de boa vontade com as suas mãos, ... dá mantimento à sua casa e a tarefa às suas servas, ... planta uma vinha, ... e fortalece os braços, abre a mão ao aflito, ... ao necessitado estende as mãos, olha pelo governo de sua casa e não come o pão da preguiça". Prov. 31:13, 15-17, 20 e 27.
Diz Deus a respeito de tal mulher: "Essa será louvada. Dai-lhe do fruto das suas mãos, e louvem-na nas portas as suas obras." Prov. 31:30 e 31.
Para toda criança, a primeira escola industrial deve ser o lar. E, tanto quanto possível, deve haver, em conexão com cada escola, facilidades para a educação manual. Em grande parte, tal ensino manual deve ocupar o lugar do salão de ginástica, com o benefício adicional de proporcionar valiosa disciplina.
O ensino manual merece muito mais atenção do que tem recebido. Devem-se estabelecer escolas que, em acréscimo à mais elevada cultura intelectual e moral, provejam as melhores possibilidades para o desenvolvimento físico e educação industrial. Deve-se ministrar instrução em agricultura, manufaturas, abrangendo tantos dos seus mais úteis ramos quanto possível; bem como em economia doméstica, arte culinária saudável, costura, confecção de roupas saudáveis, tratamento de doentes, e coisas correlatas. Devem ser providas hortas, oficinas, salas de tratamentos, e o trabalho em todo o ramo cumpre estar sob a orientação de instrutores hábeis.
Importa que o trabalho tenha um objetivo definido, e seja completo. Conquanto cada pessoa precise de alguns conhecimentos em ocupações diferentes, é indispensável que se torne perita em ao menos uma delas. Todo jovem, ao deixar a escola, deve ter adquirido conhecimento em algum ofício ou ocupação com que, se for necessário, possa ganhar sua subsistência.
A objeção que mais freqüentemente se faz contra a educação industrial nas escolas, é a grande despesa que isso envolveria. O objetivo a ser atingido é, porém, digno de seu custo. Nenhuma outra obra a nós confiada é tão importante como a educação da juventude, e todo o desembolso exigido para a sua perfeita realização representa meios bem-aplicados.
Mesmo sob o ponto de vista dos resultados financeiros, os gastos exigidos para a educação manual demonstrar-se-iam a mais verdadeira economia. Multidões de nossos rapazes seriam assim preservados de perambular pelas ruas e freqüentar bares; os gastos com hortas, oficinas, e instalações para banhos seriam mais do que correspondidos pelas economias nas despesas com hospitais e escolas disciplinares. E quanto aos próprios jovens, instruídos em hábitos de trabalho, e habilitados em atividades úteis e produtivas,
quem poderia calcular seu valor para a sociedade e para a nação?
Como descanso ao estudo, ocupações ao ar livre que proporcionem exercício ao corpo todo, são as mais benéficas. Nenhum ramo do trabalho manual é mais valioso do que a agricultura. Um esforço maior deve fazer-se a fim de criar e incentivar interesse nos trabalhos da agricultura. Chame o professor a atenção para o que diz a Bíblia sobre a agricultura: que cultivar a terra era o plano de Deus para com o homem; que ao primeiro homem, o governador do mundo inteiro, foi dado um jardim a cultivar; e que muitos dos maiores vultos do mundo, a verdadeira nobreza deste, foram cultivadores do solo. Mostrai as oportunidades de uma vida tal. Diz o sábio: "Até o rei se serve do campo." Ecl. 5:9. A Bíblia declara acerca daquele que cultiva o solo: "O seu Deus o ensina e o instrui acerca do que há de fazer." Isa. 28:26. Diz mais: "O que guarda a figueira comerá do seu fruto." Prov. 27:18. Aquele que ganha a sua vida pela agricultura escapa de muitas tentações e desfruta inúmeros privilégios e bênçãos negados àqueles cujo trabalho é nas grandes cidades. E nestes dias dos colossais monopólios e rivalidade comercial, poucos há que desfrutem de uma independência tão real e de tão grande certeza de bons rendimentos de seu labor, como o cultivador do solo.
No estudo da agricultura, dê-se aos alunos não somente a teoria mas também a prática. Enquanto aprendem o que a ciência pode ensinar em relação à natureza e preparo do solo, o valor dos diferentes produtos, e os melhores métodos de produção, ponham eles em prática seus conhecimentos. Participem os professores do trabalho com os estudantes e mostrem quais os resultados que se podem alcançar com o esforço hábil e inteligente. Assim pode despertar-se genuíno interesse, aspiração
por fazer o trabalho da melhor maneira possível. Tal ambição, juntamente com o efeito revigorador do exercício, luz solar, ar puro, criarão pelo trabalho agrícola um amor que determinará em muitos jovens sua escolha de ocupação. Poder-se-iam assim despertar influências que muito fariam em mudar a onda migratória que ora tão fortemente se encaminha para as cidades.
Assim também nossas escolas poderiam eficazmente auxiliar na colocação de multidões destituídas de emprego. Milhares de seres desamparados e famintos, cujo número diariamente engrossa as fileiras dos criminosos, poderiam obter a manutenção própria em uma vida feliz, saudável, independente, se fossem guiados em trabalho hábil e diligente no cultivo da terra.
Do benefício da educação manual necessitam também as classes profissionais. Pode o homem possuir espírito brilhante; pode ser rápido em adquirir idéias; seus conhecimentos e habilidades podem garantir-lhe a admissão à ocupação de sua escolha; contudo, poderá ainda estar longe de possuir adaptação aos seus deveres. A educação tirada principalmente dos livros conduz a uma maneira superficial de pensar. O trabalho prático provoca a observação minuciosa e pensamento independente. Efetuado convenientemente, tende a desenvolver aquela sabedoria prática a que chamamos senso comum. Desenvolve habilidade para planejar e executar, fortalece o ânimo e a perseverança, e exige o exercício do tato e destreza.
O médico que lançou os alicerces para os seus conhecimentos profissionais por meio de real trabalho no quarto dos enfermos, terá uma intuição rápida, uma noção geral, e habilidade nas emergências a fim de prestar o necessário serviço - qualificações essenciais que unicamente um ensino prático pode transmitir.
O pastor, o missionário, o professor, aumentarão grandemente sua influência entre o povo, quando se manifesta possuírem eles o conhecimento e habilidade exigidos para os deveres práticos da vida diária. E muitas vezes o êxito, e talvez a própria vida do missionário, depende de seus conhecimentos de coisas práticas. A habilidade de preparar o alimento, de providenciar nos casos de acidentes e emergência, tratar as doenças, construir casas ou igrejas, sendo necessário, são coisas que muitas vezes constituem toda a diferença entre o êxito e o fracasso nos seus trabalhos.
Ao adquirir sua educação, muitos estudantes obteriam uma valiosíssima habilitação, se quisessem tornar-se aptos a se manterem por si sós. Em vez de contrair dívidas, ou depender da abnegação de seus pais, dependam os rapazes e as moças de si mesmos. Aprenderão assim a avaliar o dinheiro, o tempo, a força e oportunidade, e estarão muito menos sob a tentação de condescender com hábitos de ociosidade e prodigalidade. As lições de economia, indústria, abnegação, administração prática de negócios e firmeza de propósitos, dominadas desta maneira, revelar-se-iam parte importantíssima de seu aparelhamento para a batalha da vida. E a lição do auxílio de si mesmo aprendida pelo estudante, muito faria no sentido de preservar as instituições de ensino do peso das dívidas sob o qual tantas escolas têm lutado, e que tanto tem feito para prejudicar sua utilidade.
Grave-se nos jovens o pensamento de que a educação não consiste em ensinar-lhes como escapar das ocupações desagradáveis e fardos pesados da vida; mas que seu propósito é suavizar o trabalho, ensinando melhores métodos e objetivos mais elevados. Ensinem-lhes que o verdadeiro alvo da vida não é adquirir o maior ganho possível para si, mas honrar ao seu Criador,
cumprindo sua parte no trabalho do mundo, e estendendo mão auxiliadora aos mais fracos e mais ignorantes.
Uma grande razão por que o trabalho físico é menosprezado, é a maneira desleixada e precipitada como é muitas vezes realizado. É feito por necessidade e não porque haja sido escolhido. O trabalhador não o leva a sério, não conserva o respeito de si mesmo nem conquista o de outrem. O ensino manual deve corrigir este erro. Deve desenvolver hábitos de exatidão e perfeição. Os estudantes devem aprender o tato e o método em seus afazeres; aprender a economizar tempo, e a fazer cada movimento de maneira que seja aproveitado. Não somente lhes devem ser ensinados os melhores métodos, mas cumpre sejam inspirados pela ambição de sempre se aperfeiçoarem. Seja o seu alvo fazer o seu trabalho o mais perfeito que o cérebro e as mãos humanas possam conseguir.
Tal ensino fará com que os jovens sejam senhores e não escravos do trabalho. Aliviará a sorte daquele que trabalha muito, e enobrecerá até a mais humilde ocupação. Aquele que considera o trabalho simplesmente coisa enfadonha, e a ele se entrega com uma ignorância complacente, sem fazer esforço por aperfeiçoar-se, terá verdadeiramente nele um fardo. Aqueles, porém, que reconhecem ciência no mais humilde trabalho, nele verão nobreza e beleza, e terão prazer em realizá-lo com fidelidade e eficiência.
Um jovem educado desta maneira, qualquer que seja a sua missão na vida, contanto que seja honesto, há de fazer de seu cargo uma posição de utilidade e honra.