Conselhos Professores, Pais e Estudantes

CAPÍTULO 37

A Dignidade do Trabalho

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VIII. Estudo e Trabalho

Os que reconhecem ciência no trabalho mais humilde verão nele nobreza e beleza, e terão prazer em fazê-lo com fidelidade e eficiência.

A Dignidade do Trabalho

Apesar de tudo que tem sido falado e escrito com relação à dignidade do trabalho manual, prevalece a impressão de que ele é degradante. A opinião popular, em muitas mentes, mudou a ordem das coisas, e os homens chegaram a pensar que não é próprio a um homem que faz trabalho braçal ter lugar entre cavalheiros. Os homens trabalham arduamente para obter dinheiro; e, havendo adquirido riqueza, supõem que seu dinheiro tornará a seus filhos cavalheiros. Muitos destes, porém, deixam de educar os filhos como eles próprios o foram, para o trabalho árduo, útil. Os filhos gastam o dinheiro ganho pelo trabalho de outrem, sem lhe compreender o valor. Assim empregam mal um talento que era desígnio do Senhor efetuasse muito benefício.

Os propósitos do Senhor não são os propósitos dos homens. Não foi Seu intuito que os homens vivessem na ociosidade. No princípio Ele criou o homem como um cavalheiro; mas, embora rico de tudo que o Possuidor do Universo poderia suprir, Adão não deveria estar ocioso. Apenas criado,


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foi-lhe conferido o seu trabalho. Deveria encontrar ocupação e felicidade cuidando das coisas que Deus criara; e como recompensa de seu esforço seriam suas necessidades abundantemente supridas pelos frutos do Jardim do Éden.

Enquanto nossos primeiros pais obedeceram a Deus, seu trabalho no jardim foi um prazer; e de sua abundância a terra produziu para satisfazer suas necessidades. Quando, porém, o homem se afastou da obediência, ficou condenado a lutar com as sementes lançadas por Satanás, e a ganhar o pão como suor do rosto. Desde então teve de lutar, nas labutas e dificuldades, contra o poder a que rendera sua vontade.

Foi propósito de Deus aliviar pelo trabalho o mal acarretado ao mundo pela desobediência do homem. Pelo trabalho as tentações de Satanás poderiam tornar-se ineficazes, e ser detida a onda do mal. E, embora acompanhado de ansiedade, cansaço e dor, é ainda o trabalho uma fonte de felicidade e desenvolvimento, e salvaguarda contra a tentação. Sua disciplina coloca um paradeiro à condescendência própria, e promove a operosidade, a pureza e a firmeza. Assim, torna-se parte do grande plano de Deus para nossa restauração da queda.

O Trabalho Manual e os Jogos

A opinião geral é que o trabalho manual seja degradante; todavia, os homens se exercitam tanto quanto lhes apraz no críquete, beisebol, ou em competições pugilísticas, sem serem olhados como pessoas que se degradam. Satanás deleita-se quando vê seres humanos empregando as faculdades físicas e mentais naquilo que não educa, não tem utilidade, não os ajuda a ser uma bênção aos que necessitam de seu auxílio. Enquanto a juventude se adestra em jogos destituídos de


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valor para eles e para os outros, Satanás joga a partida da vida por sua alma, tirando-lhes os talentos dados por Deus, e substituindo-os por seus próprios atributos maus. É seu empenho levar os homens a passarem por alto a Deus. Busca ocupar-lhes e absorver-lhes tão completamente o espírito, que o Senhor não encontre lugar em seus pensamentos. Não quer que o povo conheça a seu Criador, e fica bem satisfeito se pode pôr em funcionamento jogos e representações teatrais que por tal forma confundam o senso da juventude de que Deus e o Céu sejam esquecidos.

Uma das mais seguras salvaguardas contra o mal é a ocupação útil, ao passo que a ociosidade é uma das maiores maldições; pois o vício, o crime e a pobreza lhe seguem o rastro. Os que estão continuamente ocupados, que andam satisfeitos em suas lidas diárias, são os membros úteis da sociedade. No fiel desempenho dos vários deveres que lhes estão no caminho, tornam eles sua vida uma bênção para si mesmos e para os outros. O diligente trabalho os guarda de muitos dos laços daquele que "encontra sempre alguma maldade para ocupar as mãos ociosas".

Uma poça de água estagnada em breve se torna prejudicial; mas um riacho corrente esparge saúde e alegria sobre a terra. Uma é o símbolo do ocioso, o outro do trabalhador.

Atividades Manuais Entre os Israelitas

No plano de Deus para Israel, cada família tinha um lar no campo, com terreno suficiente para o cultivo. Assim eram providos tanto os meios como o incentivo para a vida útil, industriosa e independente. E nenhum expediente humano jamais suplantou aquele plano. Ao afastamento do mesmo


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por parte do mundo devem-se em grande parte a pobreza e miséria que existem hoje.

Pelos israelitas a atividade industrial era considerada um dever. De cada pai exigia-se que fizesse com que os filhos aprendessem algum ofício útil. Os maiores homens de Israel eram adestrados nas ocupações industriais. Um conhecimento dos deveres próprios à dona-de-casa era considerado essencial a toda mulher; e considerava-se a perícia em tais deveres como uma honra à mulher da mais elevada posição.

Vários trabalhos eram ensinados nas escolas dos profetas, e muitos estudantes mantinham-se pelo trabalho manual.

O Exemplo de Cristo

A senda do trabalho indicada aos habitantes da Terra talvez seja dura e fatigante, mas é honrada pelas pegadas do Redentor, e aquele que segue esse sagrado caminho está seguro. Por preceito e exemplo Cristo dignificou o trabalho útil. Desde Seus mais tenros anos, viveu uma vida de serviço. A maior parte de Sua existência terrestre passou-a em paciente trabalho na oficina de carpintaria de Nazaré. Nos trajes do operário comum, o Senhor da vida palmilhava as ruas da cidadezinha em que residia, indo e vindo em Seu humilde labutar; e anjos ministradores O seguiam enquanto Ele andava lado a lado com os camponeses e trabalhadores, sem ser reconhecido nem honrado.

Quando saía para contribuir para o sustento da família, mediante Seu trabalho diário, Ele possuía o mesmo poder que tinha quando nas praias de Galiléia alimentou cinco mil almas famintas com cinco pães e dois peixes. Não empregou, porém, Seu poder divino para diminuir Seus encargos ou


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aliviar a labuta. Tomou sobre Si a forma da humanidade, com todos os seus males inerentes, e não Se desviou de suas mais severas provas. Viveu num lar de aldeão; vestia-Se de roupas grosseiras; misturava-Se com os humildes; labutava diariamente com pacientes mãos. Seu exemplo nos mostra que é dever do homem ser diligente, e que o trabalho é honroso.

A Relação Entre o Cristianismo e o Esforço Humano

As coisas da Terra estão mais intimamente ligadas com o Céu, e acham-se mais diretamente sob a inspeção de Cristo, do que muitos compreendem. Todas as invenções úteis e melhoramentos têm sua fonte nAquele que é maravilhoso em conselho e grande em obra. O hábil tato da mão do médico, seu poder sobre os nervos e músculos e seu conhecimento acerca do delicado mecanismo do corpo são a sabedoria do poder divino, e devem ser usados em prol dos sofredores. A perícia com que o carpinteiro usa suas ferramentas e a força com que faz o ferreiro retinir a bigorna vêm de Deus. O que quer que façamos, onde quer que nos achemos colocados, Ele deseja dirigir a nossa mente para que possamos fazer trabalho perfeito.

O cristianismo e as ocupações, devidamente entendidos, não são duas coisas separadas; são uma. A religião da Bíblia deve ser entretecida em tudo que fazemos e dizemos. Os fatores humanos e divinos devem combinar tanto nas realizações temporais como nas espirituais. Devem estar unidos em todas as ocupações humanas, nos trabalhos mecânicos e agrícolas, nas empresas mercantis e científicas.

Há um remédio para a indolência: arremessar a pessoa de


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si a negligência como um pecado que conduz à perdição, e ir ao trabalho, fazendo com determinação e vigor uso da habilidade física que Deus deu. O único remédio para uma vida inútil e ineficiente é o esforço decidido e perseverante. A vida não nos é dada para ser gasta na ociosidade ou na satisfação própria; diante de nós estão postas grandes possibilidades. No capital da força foi confiado aos homens um talento precioso para o trabalho. Isso é de mais valor do que qualquer depósito no banco, e deve ser mais altamente avaliado; pois que, mediante as possibilidades que ele confere para habilitar os homens a levar uma vida útil e feliz, pode produzir juros, e juros compostos. É uma bênção que não se pode comprar com ouro nem prata, casas ou terras; e Deus exige que seja usada sabiamente. Ninguém tem o direito de sacrificar esse talento à influência corrosiva da inatividade. Todos são tão responsáveis pelo capital da força física como pelo capital dos meios.

A carreira nem sempre é dos ligeiros, nem dos valentes a peleja; e os que são diligentes nos negócios nem sempre hão de prosperar. É, porém, "a mão dos diligentes" que "enriquece". E, ao mesmo tempo em que a indolência e a sonolência entristecem ao Espírito Santo e destroem a verdadeira piedade, tendem também à pobreza e necessidade. "O que trabalha com mão enganosa empobrece." Prov. 10:4.

O trabalho árduo é um tônico para a humanidade. Torna o fraco vigoroso, rico o pobre, feliz o desgraçado. Satanás se encontra de emboscada, pronto a destruir aqueles cujo ócio lhe dá oportunidade de os abordar sob qualquer atrativo disfarce. Nunca é ele tão bem-sucedido como quando se aproxima dos homens em suas horas de lazer.


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A Lição do Trabalho Feito com Satisfação

Entre os males resultantes da opulência, um dos maiores é a idéia em voga, de que o trabalho é degradante. O profeta Ezequiel declara: "Eis que esta foi a maldade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca esforçou a mão do pobre e do necessitado." Ezeq. 16:49. Aqui nos são apresentados os terríveis resultados da ociosidade, a qual enfraquece a mente, degrada a alma e perverte o entendimento, tornando em maldição aquilo que foi dado como bênção. A pessoa que trabalha é a vê algo de grande e bom na vida, e está disposta a desempenhar suas responsabilidades com esperança e fé.

A lição essencial da operosidade, satisfeita nos necessários deveres da vida, tem ainda de ser aprendida por muitos dos seguidores de Cristo. Requer mais graça, mais severa disciplina de caráter trabalhar para Deus na qualidade de mecânico, negociante, advogado ou agricultor, introduzindo os preceitos do cristianismo nas ocupações comuns da vida, do que desempenhar as funções de reconhecimento missionário no campo de ação. Requer vigorosa fibra espiritual introduzir a religião na oficina de trabalho e no escritório dos negócios, santificando os pormenores da vida diária, e ordenando toda transação segundo a norma da Palavra de Deus. Mas é isso que o Senhor exige.

O apóstolo Paulo considerava a ociosidade como pecado. Aprendeu o ofício de fabricante de tendas em todos os ramos, mais e menos importantes, e durante seu ministério trabalhava muitas vezes nesse mister para manter a si e a outros.


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Paulo não considerava perdido o tempo assim empregado. Enquanto trabalhava, tinha o apóstolo acesso a uma classe de pessoas que não podia de outro modo atingir. Mostrava a seus companheiros que a habilidade nas artes comuns é um dom divino. Ensinava que mesmo no serviço de cada dia Deus deve ser honrado. Suas mãos calejadas no trabalho em nada diminuíam a força de seus comoventes apelos como ministro cristão.

É desígnio de Deus que todos sejam operosos. Os incansáveis animais de carga correspondem ao fim para que foram criados, melhor que o homem indolente. Deus é trabalhador constante. Os anjos são trabalhadores; são ministros de Deus para com os filhos dos homens. Os que aguardam um Céu de inatividade ficarão decepcionados; pois a ordem celeste não provê lugar algum para satisfação da indolência. É prometido, porém, repouso ao cansado e ao oprimido. É ao servo fiel que hão de ser dadas as boas-vindas, de seu trabalho para a exaltação de seu Senhor. Com satisfação despirá sua armadura, e esquecerá o fragor da batalha no glorioso descanso preparado para os que vencem mediante a cruz de Cristo.

Por toda parte estão os pais negligenciando instruir e adestrar seus filhos para o trabalho útil. Permite-se que os jovens cresçam na ignorância dos deveres simples e necessários. Os que assim foram infelizes devem despertar e tomar sobre si a responsabilidade do caso. Se esperam ser um dia bem-sucedidos na vida devem encontrar incentivos para o emprego útil de suas capacidades dadas por Deus.

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